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‘Nós vamos substituir o STF por um algoritmo?’, questiona Eugênio Bucci sobre impactos da IA


Escritor, jornalista e professor, que acaba de ingressar na Academia Paulista de Letras, fala em entrevista sobre a era digital e suas implicações

Por Marcela Paes
Atualização:

Recém-eleito para ocupar uma cadeira na Academia Paulista de Letras, Eugênio Bucci vê na nova empreitada mais uma oportunidade para o diálogo. Aliás, para o jornalista, professor, escritor e colunista – que no ano passado lançou um livro em que fala sobre o mundo digital – a falta de real diálogo é justamente um dos maiores problemas das redes sociais. “Nós estamos num diálogo quando nós temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece muito o que já foi muito falado, favorece a formação de bolhas”, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista.

O escritor, professor e colunista Eugênio Bucci Foto: Renato Parada
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Recentemente você lançou um livro que reflete sobre os avanços da tecnologia e os impactos disso. Você é otimista ou pessimista em relação ao assunto?

O otimismo é uma atitude diante da vida, não uma atitude em relação ao pensamento. Eu sou uma pessoa otimista com relação à humanidade, à vida futura, mas faço uma análise muito crítica com relação a alguns empregos da tecnologia hoje. Tecnologia não é um problema e tecnologia não é uma solução. O problema com as ferramentas digitais são as relações de propriedade que controlam essas ferramentas digitais. Essas relações de propriedade podem conduzir ao monopólio, e isso não é bom.

Na sua opinião, nós estamos avaliando com clareza os possíveis impactos negativos da inteligência artificial, por exemplo?

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É difícil dizer, porque nós estamos olhando para um fenômeno que avança numa velocidade maior do que a consolidação das leituras que nós temos. Temos que ver criticamente a inteligência artificial em relação à questão do poder. As decisões que as máquinas tomarão terão impacto sobre o atendimento dos nossos direitos? Até onde isso vai? Nós vamos substituir o Supremo Tribunal Federal por um algoritmo? Tecnologicamente já é possível substituir decisões judiciais por processos maquínicos. Vamos substituir a eleição por aferições construídas a partir das preferências conhecidas do público realizadas por máquinas? Essas questões precisam ser vistas com clareza.

Você acaba de entrar para a Academia Paulista de Letras. Como se sente com esse reconhecimento?

Fico tocado e comovido. A Academia Paulista de Letras é agente e herdeira da cultura do nosso estado. A Academia Paulista é integrada por pessoas de formações diversas, de gerações diversas, de inclinações e ideários diferentes, que têm em comum o amor pelas letras e pelo diálogo. De tal maneira, a Academia é uma prova de que nós podemos, com respeito e com transparência de propósitos, estabelecer entendimentos de grande qualidade e que perdurem no tempo.

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As redes sociais trouxeram a possibilidade de qualquer um dizer qualquer coisa e eventualmente aquela coisa chegar a muitas pessoas. Como você enxerga esse fenômeno?

As dinâmicas próprias de comunicação dessas plataformas ditas sociais, que muitas vezes nós devemos pensar como plataformas antissociais, uma expressão que já foi usada pela filósofa Márcia Tiburi, nivelam e estabelecem o sinal de igual entre uma pesquisa que tem envolvido centenas de cientistas com milhares de dados e a opinião de uma pessoa qualquer que fale que própolis cura covid, ou que não existe aquecimento global. Essa aparente horizontalização das comunicações é um achatamento. Isso nos trouxe a uma sociedade que inverteu uma máxima que sempre era repetida. Nós dizíamos que informação é poder, e hoje nós temos que aprender que a desinformação é poder. Estamos num tempo em que a ignorância pode ser fabricada, o que é outro desafio para nossa compreensão.

As novas gerações cresceram totalmente inseridas nesse novo paradigma de comunicação da internet.

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Muitas vezes a coisa tem a forma de um diálogo, mas ninguém está dialogando. Estamos num diálogo quando temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece a formação de bolhas. Evitar o contato precoce de crianças com tecnologias digitais, não é realmente uma solução, pode ser parte de um processo que talvez fique melhor assim. De outro lado, a gente vê um uso de tecnologias absolutamente governado pela técnica sem nenhuma dose de sensibilidade. Eu fico assustado quando vejo a estratégia desses jogos que agora viraram uma febre no Brasil, tentando alcançar crianças. Me pergunto, essas pessoas não se incomodam com a possibilidade de isso vir a causar algum dano? São coisas que assustam. Nós precisamos estimular empresas e investidores a levarem em conta alguns riscos que por não serem tão conhecidos pedem cautela.

Recém-eleito para ocupar uma cadeira na Academia Paulista de Letras, Eugênio Bucci vê na nova empreitada mais uma oportunidade para o diálogo. Aliás, para o jornalista, professor, escritor e colunista – que no ano passado lançou um livro em que fala sobre o mundo digital – a falta de real diálogo é justamente um dos maiores problemas das redes sociais. “Nós estamos num diálogo quando nós temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece muito o que já foi muito falado, favorece a formação de bolhas”, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista.

O escritor, professor e colunista Eugênio Bucci Foto: Renato Parada

Recentemente você lançou um livro que reflete sobre os avanços da tecnologia e os impactos disso. Você é otimista ou pessimista em relação ao assunto?

O otimismo é uma atitude diante da vida, não uma atitude em relação ao pensamento. Eu sou uma pessoa otimista com relação à humanidade, à vida futura, mas faço uma análise muito crítica com relação a alguns empregos da tecnologia hoje. Tecnologia não é um problema e tecnologia não é uma solução. O problema com as ferramentas digitais são as relações de propriedade que controlam essas ferramentas digitais. Essas relações de propriedade podem conduzir ao monopólio, e isso não é bom.

Na sua opinião, nós estamos avaliando com clareza os possíveis impactos negativos da inteligência artificial, por exemplo?

É difícil dizer, porque nós estamos olhando para um fenômeno que avança numa velocidade maior do que a consolidação das leituras que nós temos. Temos que ver criticamente a inteligência artificial em relação à questão do poder. As decisões que as máquinas tomarão terão impacto sobre o atendimento dos nossos direitos? Até onde isso vai? Nós vamos substituir o Supremo Tribunal Federal por um algoritmo? Tecnologicamente já é possível substituir decisões judiciais por processos maquínicos. Vamos substituir a eleição por aferições construídas a partir das preferências conhecidas do público realizadas por máquinas? Essas questões precisam ser vistas com clareza.

Você acaba de entrar para a Academia Paulista de Letras. Como se sente com esse reconhecimento?

Fico tocado e comovido. A Academia Paulista de Letras é agente e herdeira da cultura do nosso estado. A Academia Paulista é integrada por pessoas de formações diversas, de gerações diversas, de inclinações e ideários diferentes, que têm em comum o amor pelas letras e pelo diálogo. De tal maneira, a Academia é uma prova de que nós podemos, com respeito e com transparência de propósitos, estabelecer entendimentos de grande qualidade e que perdurem no tempo.

As redes sociais trouxeram a possibilidade de qualquer um dizer qualquer coisa e eventualmente aquela coisa chegar a muitas pessoas. Como você enxerga esse fenômeno?

As dinâmicas próprias de comunicação dessas plataformas ditas sociais, que muitas vezes nós devemos pensar como plataformas antissociais, uma expressão que já foi usada pela filósofa Márcia Tiburi, nivelam e estabelecem o sinal de igual entre uma pesquisa que tem envolvido centenas de cientistas com milhares de dados e a opinião de uma pessoa qualquer que fale que própolis cura covid, ou que não existe aquecimento global. Essa aparente horizontalização das comunicações é um achatamento. Isso nos trouxe a uma sociedade que inverteu uma máxima que sempre era repetida. Nós dizíamos que informação é poder, e hoje nós temos que aprender que a desinformação é poder. Estamos num tempo em que a ignorância pode ser fabricada, o que é outro desafio para nossa compreensão.

As novas gerações cresceram totalmente inseridas nesse novo paradigma de comunicação da internet.

Muitas vezes a coisa tem a forma de um diálogo, mas ninguém está dialogando. Estamos num diálogo quando temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece a formação de bolhas. Evitar o contato precoce de crianças com tecnologias digitais, não é realmente uma solução, pode ser parte de um processo que talvez fique melhor assim. De outro lado, a gente vê um uso de tecnologias absolutamente governado pela técnica sem nenhuma dose de sensibilidade. Eu fico assustado quando vejo a estratégia desses jogos que agora viraram uma febre no Brasil, tentando alcançar crianças. Me pergunto, essas pessoas não se incomodam com a possibilidade de isso vir a causar algum dano? São coisas que assustam. Nós precisamos estimular empresas e investidores a levarem em conta alguns riscos que por não serem tão conhecidos pedem cautela.

Recém-eleito para ocupar uma cadeira na Academia Paulista de Letras, Eugênio Bucci vê na nova empreitada mais uma oportunidade para o diálogo. Aliás, para o jornalista, professor, escritor e colunista – que no ano passado lançou um livro em que fala sobre o mundo digital – a falta de real diálogo é justamente um dos maiores problemas das redes sociais. “Nós estamos num diálogo quando nós temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece muito o que já foi muito falado, favorece a formação de bolhas”, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista.

O escritor, professor e colunista Eugênio Bucci Foto: Renato Parada

Recentemente você lançou um livro que reflete sobre os avanços da tecnologia e os impactos disso. Você é otimista ou pessimista em relação ao assunto?

O otimismo é uma atitude diante da vida, não uma atitude em relação ao pensamento. Eu sou uma pessoa otimista com relação à humanidade, à vida futura, mas faço uma análise muito crítica com relação a alguns empregos da tecnologia hoje. Tecnologia não é um problema e tecnologia não é uma solução. O problema com as ferramentas digitais são as relações de propriedade que controlam essas ferramentas digitais. Essas relações de propriedade podem conduzir ao monopólio, e isso não é bom.

Na sua opinião, nós estamos avaliando com clareza os possíveis impactos negativos da inteligência artificial, por exemplo?

É difícil dizer, porque nós estamos olhando para um fenômeno que avança numa velocidade maior do que a consolidação das leituras que nós temos. Temos que ver criticamente a inteligência artificial em relação à questão do poder. As decisões que as máquinas tomarão terão impacto sobre o atendimento dos nossos direitos? Até onde isso vai? Nós vamos substituir o Supremo Tribunal Federal por um algoritmo? Tecnologicamente já é possível substituir decisões judiciais por processos maquínicos. Vamos substituir a eleição por aferições construídas a partir das preferências conhecidas do público realizadas por máquinas? Essas questões precisam ser vistas com clareza.

Você acaba de entrar para a Academia Paulista de Letras. Como se sente com esse reconhecimento?

Fico tocado e comovido. A Academia Paulista de Letras é agente e herdeira da cultura do nosso estado. A Academia Paulista é integrada por pessoas de formações diversas, de gerações diversas, de inclinações e ideários diferentes, que têm em comum o amor pelas letras e pelo diálogo. De tal maneira, a Academia é uma prova de que nós podemos, com respeito e com transparência de propósitos, estabelecer entendimentos de grande qualidade e que perdurem no tempo.

As redes sociais trouxeram a possibilidade de qualquer um dizer qualquer coisa e eventualmente aquela coisa chegar a muitas pessoas. Como você enxerga esse fenômeno?

As dinâmicas próprias de comunicação dessas plataformas ditas sociais, que muitas vezes nós devemos pensar como plataformas antissociais, uma expressão que já foi usada pela filósofa Márcia Tiburi, nivelam e estabelecem o sinal de igual entre uma pesquisa que tem envolvido centenas de cientistas com milhares de dados e a opinião de uma pessoa qualquer que fale que própolis cura covid, ou que não existe aquecimento global. Essa aparente horizontalização das comunicações é um achatamento. Isso nos trouxe a uma sociedade que inverteu uma máxima que sempre era repetida. Nós dizíamos que informação é poder, e hoje nós temos que aprender que a desinformação é poder. Estamos num tempo em que a ignorância pode ser fabricada, o que é outro desafio para nossa compreensão.

As novas gerações cresceram totalmente inseridas nesse novo paradigma de comunicação da internet.

Muitas vezes a coisa tem a forma de um diálogo, mas ninguém está dialogando. Estamos num diálogo quando temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece a formação de bolhas. Evitar o contato precoce de crianças com tecnologias digitais, não é realmente uma solução, pode ser parte de um processo que talvez fique melhor assim. De outro lado, a gente vê um uso de tecnologias absolutamente governado pela técnica sem nenhuma dose de sensibilidade. Eu fico assustado quando vejo a estratégia desses jogos que agora viraram uma febre no Brasil, tentando alcançar crianças. Me pergunto, essas pessoas não se incomodam com a possibilidade de isso vir a causar algum dano? São coisas que assustam. Nós precisamos estimular empresas e investidores a levarem em conta alguns riscos que por não serem tão conhecidos pedem cautela.

Recém-eleito para ocupar uma cadeira na Academia Paulista de Letras, Eugênio Bucci vê na nova empreitada mais uma oportunidade para o diálogo. Aliás, para o jornalista, professor, escritor e colunista – que no ano passado lançou um livro em que fala sobre o mundo digital – a falta de real diálogo é justamente um dos maiores problemas das redes sociais. “Nós estamos num diálogo quando nós temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece muito o que já foi muito falado, favorece a formação de bolhas”, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista.

O escritor, professor e colunista Eugênio Bucci Foto: Renato Parada

Recentemente você lançou um livro que reflete sobre os avanços da tecnologia e os impactos disso. Você é otimista ou pessimista em relação ao assunto?

O otimismo é uma atitude diante da vida, não uma atitude em relação ao pensamento. Eu sou uma pessoa otimista com relação à humanidade, à vida futura, mas faço uma análise muito crítica com relação a alguns empregos da tecnologia hoje. Tecnologia não é um problema e tecnologia não é uma solução. O problema com as ferramentas digitais são as relações de propriedade que controlam essas ferramentas digitais. Essas relações de propriedade podem conduzir ao monopólio, e isso não é bom.

Na sua opinião, nós estamos avaliando com clareza os possíveis impactos negativos da inteligência artificial, por exemplo?

É difícil dizer, porque nós estamos olhando para um fenômeno que avança numa velocidade maior do que a consolidação das leituras que nós temos. Temos que ver criticamente a inteligência artificial em relação à questão do poder. As decisões que as máquinas tomarão terão impacto sobre o atendimento dos nossos direitos? Até onde isso vai? Nós vamos substituir o Supremo Tribunal Federal por um algoritmo? Tecnologicamente já é possível substituir decisões judiciais por processos maquínicos. Vamos substituir a eleição por aferições construídas a partir das preferências conhecidas do público realizadas por máquinas? Essas questões precisam ser vistas com clareza.

Você acaba de entrar para a Academia Paulista de Letras. Como se sente com esse reconhecimento?

Fico tocado e comovido. A Academia Paulista de Letras é agente e herdeira da cultura do nosso estado. A Academia Paulista é integrada por pessoas de formações diversas, de gerações diversas, de inclinações e ideários diferentes, que têm em comum o amor pelas letras e pelo diálogo. De tal maneira, a Academia é uma prova de que nós podemos, com respeito e com transparência de propósitos, estabelecer entendimentos de grande qualidade e que perdurem no tempo.

As redes sociais trouxeram a possibilidade de qualquer um dizer qualquer coisa e eventualmente aquela coisa chegar a muitas pessoas. Como você enxerga esse fenômeno?

As dinâmicas próprias de comunicação dessas plataformas ditas sociais, que muitas vezes nós devemos pensar como plataformas antissociais, uma expressão que já foi usada pela filósofa Márcia Tiburi, nivelam e estabelecem o sinal de igual entre uma pesquisa que tem envolvido centenas de cientistas com milhares de dados e a opinião de uma pessoa qualquer que fale que própolis cura covid, ou que não existe aquecimento global. Essa aparente horizontalização das comunicações é um achatamento. Isso nos trouxe a uma sociedade que inverteu uma máxima que sempre era repetida. Nós dizíamos que informação é poder, e hoje nós temos que aprender que a desinformação é poder. Estamos num tempo em que a ignorância pode ser fabricada, o que é outro desafio para nossa compreensão.

As novas gerações cresceram totalmente inseridas nesse novo paradigma de comunicação da internet.

Muitas vezes a coisa tem a forma de um diálogo, mas ninguém está dialogando. Estamos num diálogo quando temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece a formação de bolhas. Evitar o contato precoce de crianças com tecnologias digitais, não é realmente uma solução, pode ser parte de um processo que talvez fique melhor assim. De outro lado, a gente vê um uso de tecnologias absolutamente governado pela técnica sem nenhuma dose de sensibilidade. Eu fico assustado quando vejo a estratégia desses jogos que agora viraram uma febre no Brasil, tentando alcançar crianças. Me pergunto, essas pessoas não se incomodam com a possibilidade de isso vir a causar algum dano? São coisas que assustam. Nós precisamos estimular empresas e investidores a levarem em conta alguns riscos que por não serem tão conhecidos pedem cautela.

Recém-eleito para ocupar uma cadeira na Academia Paulista de Letras, Eugênio Bucci vê na nova empreitada mais uma oportunidade para o diálogo. Aliás, para o jornalista, professor, escritor e colunista – que no ano passado lançou um livro em que fala sobre o mundo digital – a falta de real diálogo é justamente um dos maiores problemas das redes sociais. “Nós estamos num diálogo quando nós temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece muito o que já foi muito falado, favorece a formação de bolhas”, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista.

O escritor, professor e colunista Eugênio Bucci Foto: Renato Parada

Recentemente você lançou um livro que reflete sobre os avanços da tecnologia e os impactos disso. Você é otimista ou pessimista em relação ao assunto?

O otimismo é uma atitude diante da vida, não uma atitude em relação ao pensamento. Eu sou uma pessoa otimista com relação à humanidade, à vida futura, mas faço uma análise muito crítica com relação a alguns empregos da tecnologia hoje. Tecnologia não é um problema e tecnologia não é uma solução. O problema com as ferramentas digitais são as relações de propriedade que controlam essas ferramentas digitais. Essas relações de propriedade podem conduzir ao monopólio, e isso não é bom.

Na sua opinião, nós estamos avaliando com clareza os possíveis impactos negativos da inteligência artificial, por exemplo?

É difícil dizer, porque nós estamos olhando para um fenômeno que avança numa velocidade maior do que a consolidação das leituras que nós temos. Temos que ver criticamente a inteligência artificial em relação à questão do poder. As decisões que as máquinas tomarão terão impacto sobre o atendimento dos nossos direitos? Até onde isso vai? Nós vamos substituir o Supremo Tribunal Federal por um algoritmo? Tecnologicamente já é possível substituir decisões judiciais por processos maquínicos. Vamos substituir a eleição por aferições construídas a partir das preferências conhecidas do público realizadas por máquinas? Essas questões precisam ser vistas com clareza.

Você acaba de entrar para a Academia Paulista de Letras. Como se sente com esse reconhecimento?

Fico tocado e comovido. A Academia Paulista de Letras é agente e herdeira da cultura do nosso estado. A Academia Paulista é integrada por pessoas de formações diversas, de gerações diversas, de inclinações e ideários diferentes, que têm em comum o amor pelas letras e pelo diálogo. De tal maneira, a Academia é uma prova de que nós podemos, com respeito e com transparência de propósitos, estabelecer entendimentos de grande qualidade e que perdurem no tempo.

As redes sociais trouxeram a possibilidade de qualquer um dizer qualquer coisa e eventualmente aquela coisa chegar a muitas pessoas. Como você enxerga esse fenômeno?

As dinâmicas próprias de comunicação dessas plataformas ditas sociais, que muitas vezes nós devemos pensar como plataformas antissociais, uma expressão que já foi usada pela filósofa Márcia Tiburi, nivelam e estabelecem o sinal de igual entre uma pesquisa que tem envolvido centenas de cientistas com milhares de dados e a opinião de uma pessoa qualquer que fale que própolis cura covid, ou que não existe aquecimento global. Essa aparente horizontalização das comunicações é um achatamento. Isso nos trouxe a uma sociedade que inverteu uma máxima que sempre era repetida. Nós dizíamos que informação é poder, e hoje nós temos que aprender que a desinformação é poder. Estamos num tempo em que a ignorância pode ser fabricada, o que é outro desafio para nossa compreensão.

As novas gerações cresceram totalmente inseridas nesse novo paradigma de comunicação da internet.

Muitas vezes a coisa tem a forma de um diálogo, mas ninguém está dialogando. Estamos num diálogo quando temos a disposição de mudar o que pensamos, quando nós temos a coragem de correr o risco de sair de uma conversa diferente do que entramos. Essa conformação das plataformas favorece a formação de bolhas. Evitar o contato precoce de crianças com tecnologias digitais, não é realmente uma solução, pode ser parte de um processo que talvez fique melhor assim. De outro lado, a gente vê um uso de tecnologias absolutamente governado pela técnica sem nenhuma dose de sensibilidade. Eu fico assustado quando vejo a estratégia desses jogos que agora viraram uma febre no Brasil, tentando alcançar crianças. Me pergunto, essas pessoas não se incomodam com a possibilidade de isso vir a causar algum dano? São coisas que assustam. Nós precisamos estimular empresas e investidores a levarem em conta alguns riscos que por não serem tão conhecidos pedem cautela.

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