Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘O futebol não pode ser uma válvula de escape para nada’, diz Benjamin Back


Nesta entrevista, Benja fala da carreira, contundência nos comentários, coisas irritantes do futebol e política

Por Gilberto Amendola

O podcast apresentado por Benjamin Back, o Benja Me Mucho, tem aparecido com frequência como o podcast de esportes mais ouvido do Brasil, no Spotify. Além disso, Benja tem feito sucesso em veículos muito diferentes, como a CNN e o SBT. Nesta entrevista, ela fala sobre carreira, jornalismo esportivo, contundência nos comentários, coisas irritantes do futebol, política e judaísmo. Leia a entrevista a seguir:

No seu podcast, os jogadores parecem à vontade. Como arrancar boas declarações de esportistas?

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Hoje em dia é diferente de quando eu comecei. Antigamente a gente tinha uma relação mais próxima com o jogador. Hoje, o jogador fala por meio das redes sociais dele, tem as TVs dos próprios clubes. Então, a relação ficou muito diferente. Mas é o seguinte: eu não chamo alguém para o meu podcast para querer ofender, atacar e agredir. Depois, tem um lance que é muito louco, eu nunca fiz pauta, tá? Eu começo a entrevista e vou sentindo como o entrevistado está. Eu sei as perguntas que as pessoas querem saber, mas eu não faço logo de cara.

Como é a sua relação com a CNN? Na teoria, você não combinaria com aquilo que é o canal.

Eu tinha acabado de ser demitido do SBT. Passou um mês e me liga uma pessoa do alto escalão da CNN. Brinquei e perguntei se eles me queriam de terno e gravata falando de política. Daí me contaram que queriam um programa de futebol e que gostavam do meu perfil. Achei o máximo porque Benja e CNN não tinham nada a ver. Expliquei que o meu foco é mais para o povão, classes C e D. Porque a classe A virou nicho. Às vezes, você assiste a um programa que o comentarista fala em ‘flutuação na paralela’, fala da ‘bissetriz da bola’. Quis um programa popular e a CNN aceitou.

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Qual o limite para a contundência de um comentário?

Tem programa de debate em que os nervos ficam um pouco aflorados. Outro dia, usei o termo ‘pipoqueiro’. Eu não acho isso uma ofensa. Pipoqueiro é uma linguagem do futebol. Agora, não acho legal você falar que um jogador que perdeu um pênalti é um lixo. Ou falar que fulano não tem condições de vestir a camisa de um time. Não gosto quando falam que o jogador precisa se aposentar.

Já foi importunado na rua por algo que falou?

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Na rua não acontece nada. Mas em jogo de futebol acontece. As pessoas se transformam, muita gente precisa fazer terapia – e não falo de forma pejorativa. Maldito o cara que falou um dia que futebol seria uma válvula de escape. Futebol não pode ser uma válvula de escape para nada. Se você tem algum problema na sua casa ou está devendo dinheiro, isso não significa que você pode ir para o estádio de futebol fazer o que quiser...

Benjamin Back Foto: Matheus Silva/Grupo Farol

O que mais te irrita no futebol brasileiro?

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Por que no Brasil o goleiro faz uma defesa, cai no chão e fica dois minutos parado? Por que o VAR no Brasil parece uma assembleia da ONU? Por que aqui jogador e treinador reclamam de tudo? Fora das quatro linhas, o que me irrita é o atual jornalismo esportivo que acha que futebol agora é matéria de Cambridge, Oxford... Eu sou formado em economia e tem horas que acho que estou na minha aula de trigonometria.

Se interessa por política?

Zero. Sou fã do Iron (Maiden), do Marcelinho Carioca... Não sou fã de político. Há muitos anos não voto em quem eu gosto, volto naquilo que é o que temos para hoje. Se eu vou entrevistar alguém de esquerda e ouço um monte. Eu sou de uma geração que não pegou isso. Eu não posso falar que o Magrão é meu maior ídolo no Corinthians. Nunca ninguém tinha me criticado por ser fã do Sócrates. Hoje, recebo mensagens terríveis se falo que são fã do Sócrates.

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Como é olhar para trás e ver o espaço que você já conquistou na carreira?

Eu olho para trás e penso: esse cara é guerreiro. Como eu ralei. Como eu ralo. Eu estava em uma m#$&% na vida, devendo dinheiro, quebrado, sem perspectiva para nada. Ralo, sou um cara persistente. Virei um cara cascudo, sem medo de fazer coisas novas. Se eu tive sorte? É muita arrogância falar que não tive sorte. Estar na hora certa no lugar certo é um aviso. Mas ninguém se sustenta na base só da sorte.

Você vive o judaísmo?

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Sou judeu com muito orgulho. Minha religião eu carrego no coração. Meu pai viu Hitler cara a cara. Meu pai era de Berlim; minha mãe, da Polônia. Ambos tiveram que fugir. Quando vejo manifestações nazistas e antissemitas me dói demais. Tem gente que fala que a paz só existe com o nosso extermínio. Pós holocausto esse é o pior momento que estamos vivendo no mundo.

O podcast apresentado por Benjamin Back, o Benja Me Mucho, tem aparecido com frequência como o podcast de esportes mais ouvido do Brasil, no Spotify. Além disso, Benja tem feito sucesso em veículos muito diferentes, como a CNN e o SBT. Nesta entrevista, ela fala sobre carreira, jornalismo esportivo, contundência nos comentários, coisas irritantes do futebol, política e judaísmo. Leia a entrevista a seguir:

No seu podcast, os jogadores parecem à vontade. Como arrancar boas declarações de esportistas?

Hoje em dia é diferente de quando eu comecei. Antigamente a gente tinha uma relação mais próxima com o jogador. Hoje, o jogador fala por meio das redes sociais dele, tem as TVs dos próprios clubes. Então, a relação ficou muito diferente. Mas é o seguinte: eu não chamo alguém para o meu podcast para querer ofender, atacar e agredir. Depois, tem um lance que é muito louco, eu nunca fiz pauta, tá? Eu começo a entrevista e vou sentindo como o entrevistado está. Eu sei as perguntas que as pessoas querem saber, mas eu não faço logo de cara.

Como é a sua relação com a CNN? Na teoria, você não combinaria com aquilo que é o canal.

Eu tinha acabado de ser demitido do SBT. Passou um mês e me liga uma pessoa do alto escalão da CNN. Brinquei e perguntei se eles me queriam de terno e gravata falando de política. Daí me contaram que queriam um programa de futebol e que gostavam do meu perfil. Achei o máximo porque Benja e CNN não tinham nada a ver. Expliquei que o meu foco é mais para o povão, classes C e D. Porque a classe A virou nicho. Às vezes, você assiste a um programa que o comentarista fala em ‘flutuação na paralela’, fala da ‘bissetriz da bola’. Quis um programa popular e a CNN aceitou.

Qual o limite para a contundência de um comentário?

Tem programa de debate em que os nervos ficam um pouco aflorados. Outro dia, usei o termo ‘pipoqueiro’. Eu não acho isso uma ofensa. Pipoqueiro é uma linguagem do futebol. Agora, não acho legal você falar que um jogador que perdeu um pênalti é um lixo. Ou falar que fulano não tem condições de vestir a camisa de um time. Não gosto quando falam que o jogador precisa se aposentar.

Já foi importunado na rua por algo que falou?

Na rua não acontece nada. Mas em jogo de futebol acontece. As pessoas se transformam, muita gente precisa fazer terapia – e não falo de forma pejorativa. Maldito o cara que falou um dia que futebol seria uma válvula de escape. Futebol não pode ser uma válvula de escape para nada. Se você tem algum problema na sua casa ou está devendo dinheiro, isso não significa que você pode ir para o estádio de futebol fazer o que quiser...

Benjamin Back Foto: Matheus Silva/Grupo Farol

O que mais te irrita no futebol brasileiro?

Por que no Brasil o goleiro faz uma defesa, cai no chão e fica dois minutos parado? Por que o VAR no Brasil parece uma assembleia da ONU? Por que aqui jogador e treinador reclamam de tudo? Fora das quatro linhas, o que me irrita é o atual jornalismo esportivo que acha que futebol agora é matéria de Cambridge, Oxford... Eu sou formado em economia e tem horas que acho que estou na minha aula de trigonometria.

Se interessa por política?

Zero. Sou fã do Iron (Maiden), do Marcelinho Carioca... Não sou fã de político. Há muitos anos não voto em quem eu gosto, volto naquilo que é o que temos para hoje. Se eu vou entrevistar alguém de esquerda e ouço um monte. Eu sou de uma geração que não pegou isso. Eu não posso falar que o Magrão é meu maior ídolo no Corinthians. Nunca ninguém tinha me criticado por ser fã do Sócrates. Hoje, recebo mensagens terríveis se falo que são fã do Sócrates.

Como é olhar para trás e ver o espaço que você já conquistou na carreira?

Eu olho para trás e penso: esse cara é guerreiro. Como eu ralei. Como eu ralo. Eu estava em uma m#$&% na vida, devendo dinheiro, quebrado, sem perspectiva para nada. Ralo, sou um cara persistente. Virei um cara cascudo, sem medo de fazer coisas novas. Se eu tive sorte? É muita arrogância falar que não tive sorte. Estar na hora certa no lugar certo é um aviso. Mas ninguém se sustenta na base só da sorte.

Você vive o judaísmo?

Sou judeu com muito orgulho. Minha religião eu carrego no coração. Meu pai viu Hitler cara a cara. Meu pai era de Berlim; minha mãe, da Polônia. Ambos tiveram que fugir. Quando vejo manifestações nazistas e antissemitas me dói demais. Tem gente que fala que a paz só existe com o nosso extermínio. Pós holocausto esse é o pior momento que estamos vivendo no mundo.

O podcast apresentado por Benjamin Back, o Benja Me Mucho, tem aparecido com frequência como o podcast de esportes mais ouvido do Brasil, no Spotify. Além disso, Benja tem feito sucesso em veículos muito diferentes, como a CNN e o SBT. Nesta entrevista, ela fala sobre carreira, jornalismo esportivo, contundência nos comentários, coisas irritantes do futebol, política e judaísmo. Leia a entrevista a seguir:

No seu podcast, os jogadores parecem à vontade. Como arrancar boas declarações de esportistas?

Hoje em dia é diferente de quando eu comecei. Antigamente a gente tinha uma relação mais próxima com o jogador. Hoje, o jogador fala por meio das redes sociais dele, tem as TVs dos próprios clubes. Então, a relação ficou muito diferente. Mas é o seguinte: eu não chamo alguém para o meu podcast para querer ofender, atacar e agredir. Depois, tem um lance que é muito louco, eu nunca fiz pauta, tá? Eu começo a entrevista e vou sentindo como o entrevistado está. Eu sei as perguntas que as pessoas querem saber, mas eu não faço logo de cara.

Como é a sua relação com a CNN? Na teoria, você não combinaria com aquilo que é o canal.

Eu tinha acabado de ser demitido do SBT. Passou um mês e me liga uma pessoa do alto escalão da CNN. Brinquei e perguntei se eles me queriam de terno e gravata falando de política. Daí me contaram que queriam um programa de futebol e que gostavam do meu perfil. Achei o máximo porque Benja e CNN não tinham nada a ver. Expliquei que o meu foco é mais para o povão, classes C e D. Porque a classe A virou nicho. Às vezes, você assiste a um programa que o comentarista fala em ‘flutuação na paralela’, fala da ‘bissetriz da bola’. Quis um programa popular e a CNN aceitou.

Qual o limite para a contundência de um comentário?

Tem programa de debate em que os nervos ficam um pouco aflorados. Outro dia, usei o termo ‘pipoqueiro’. Eu não acho isso uma ofensa. Pipoqueiro é uma linguagem do futebol. Agora, não acho legal você falar que um jogador que perdeu um pênalti é um lixo. Ou falar que fulano não tem condições de vestir a camisa de um time. Não gosto quando falam que o jogador precisa se aposentar.

Já foi importunado na rua por algo que falou?

Na rua não acontece nada. Mas em jogo de futebol acontece. As pessoas se transformam, muita gente precisa fazer terapia – e não falo de forma pejorativa. Maldito o cara que falou um dia que futebol seria uma válvula de escape. Futebol não pode ser uma válvula de escape para nada. Se você tem algum problema na sua casa ou está devendo dinheiro, isso não significa que você pode ir para o estádio de futebol fazer o que quiser...

Benjamin Back Foto: Matheus Silva/Grupo Farol

O que mais te irrita no futebol brasileiro?

Por que no Brasil o goleiro faz uma defesa, cai no chão e fica dois minutos parado? Por que o VAR no Brasil parece uma assembleia da ONU? Por que aqui jogador e treinador reclamam de tudo? Fora das quatro linhas, o que me irrita é o atual jornalismo esportivo que acha que futebol agora é matéria de Cambridge, Oxford... Eu sou formado em economia e tem horas que acho que estou na minha aula de trigonometria.

Se interessa por política?

Zero. Sou fã do Iron (Maiden), do Marcelinho Carioca... Não sou fã de político. Há muitos anos não voto em quem eu gosto, volto naquilo que é o que temos para hoje. Se eu vou entrevistar alguém de esquerda e ouço um monte. Eu sou de uma geração que não pegou isso. Eu não posso falar que o Magrão é meu maior ídolo no Corinthians. Nunca ninguém tinha me criticado por ser fã do Sócrates. Hoje, recebo mensagens terríveis se falo que são fã do Sócrates.

Como é olhar para trás e ver o espaço que você já conquistou na carreira?

Eu olho para trás e penso: esse cara é guerreiro. Como eu ralei. Como eu ralo. Eu estava em uma m#$&% na vida, devendo dinheiro, quebrado, sem perspectiva para nada. Ralo, sou um cara persistente. Virei um cara cascudo, sem medo de fazer coisas novas. Se eu tive sorte? É muita arrogância falar que não tive sorte. Estar na hora certa no lugar certo é um aviso. Mas ninguém se sustenta na base só da sorte.

Você vive o judaísmo?

Sou judeu com muito orgulho. Minha religião eu carrego no coração. Meu pai viu Hitler cara a cara. Meu pai era de Berlim; minha mãe, da Polônia. Ambos tiveram que fugir. Quando vejo manifestações nazistas e antissemitas me dói demais. Tem gente que fala que a paz só existe com o nosso extermínio. Pós holocausto esse é o pior momento que estamos vivendo no mundo.

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