Os encontros com intelectuais e artistas que a cineasta Paula Gaitán teve durante sua vida, principalmente com Glauber Rocha - seu companheiro e pai dos seus filhos Ava e Erik Rocha - são a matéria-prima de muitos de seus filmes. Agora, o público poderá ver um pouco do resultado das interações na mostra Umbigo do Sonho - O Cinema de Paula Gaitán, a partir de hoje (8) até o dia 14, no Cine Sesc. Organizada por Ava, a retrospectiva apresenta 10 longas-metragens, 15 curtas e dois videoclipes, além de um ciclo de debates e uma masterclass ministrada por Paula.
“Paula tem recebido algumas homenagens nos últimos anos, como a retrospectiva dos seus filmes na Cinemateca de Bogotá na Colômbia e na Mostra de Cinema de Tiradentes, participou e foi premiada em diversos festivais. Essas variadas homenagens em diversas partes do mundo, como também no Sheffield film Festival e a homenagem no Frontera Sur no Chile, me fizeram pensar na importância de uma mostra abrangente e à altura da sua obra aqui em São Paulo, que pudesse reunir vários projetos dela. A mostra é um recorte dessa obra”, diz Ava, que assina a curadoria.
A conversa com a cineasta francesa Agnes Vardá, seus encontros com as atrizes Maria Gladys e Marcela Cartaxo e o trabalho com Lygia Pape foram algumas das grandes influências na trajetória de Paula e estarão representadas na mostra. “Os encontros artísticos são muitas vezes espontâneos e casuais. O que suscita meu interesse nesse primeiro encontro é sempre intuitivo, não é algo racional. Eu, inclusive, não leio a biografia da pessoa, apenas quero descobrir as particularidades desse artista por mim mesma”, afirma a cineasta.
A conversa com Vardá, por exemplo, ocorreu em 2014 em Paris e resultou em A Chuva No Meu Jardim e a admiração por Lygia Pape originou o documentário Lygia Pape, sobre as obras da artista plástica. “O meu encontro com a artista visual Lygia Pape é um dos mais importante para mim, porque eu era jovem e estava iniciando minha carreira cinematográfica em 1991″, diz Paula.
O casamento e o trabalho com Glauber Rocha também figura como um momento crucial na criação da cineasta franco-colombiana. Paula assina a direção de arte de A Idade da Terra, filme de Glauber de 1980 que figura na lista dos 100 Melhores Filmes Brasileiros de Todos Os Tempos feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema.
“Obviamente encontrei ao longo da vida artistas e autores que me marcaram profundamente, começando pelo Glauber com o qual também tive a oportunidade de criar e aprender muito, tanto sobre o amor como sobre a vida e a criação artística em geral. Trabalhei com ele em A Idade da Terra, experiência intransponível e fundamental no meu exercício diário em relação ao cinema”.
A cineasta se prepara para lançar em julho o longa Luz nos Trópicos, filme que traz um percurso pelos rios brasileiros, estreou na Berlinale em 2022 e foi filmado no Pantanal, na Chapada dos Guimarães, na aldeia Kuikuro no Alto Xingu e em Nova York.
“Minha mãe é uma trabalhadora incansável e com uma obra que se renova constantemente, sendo muito atenta ao trabalho de outros cineastas, sobretudo dos jovens. Ela os apoia e exige o melhor deles. Uma professora inata’, diz Ava.