Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Animais na literatura: pesquisadora discute empatia, crueldade e luto do cão


Maria Esther Maciel lança livro sobre os sentidos atribuídos aos animais em obras clássicas e contemporâneas

Por Paula Bonelli
Atualização:

Um livro que aborda os animais na literatura, como sujeitos que compartilham com os humanos a experiência do mundo. Esse é o tema do livro Animalidades: zooliteratura e os limites do humano, da pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Esther Maciel, que chega às livrarias nesta segunda-feira, 15, e já está em pré-venda pelo site da editora Instante.

Maria Esther Maciel, na Flip  Foto: Walter Craveiro/Divulgação

Maria Esther investigou os sentidos atribuídos aos bichos desde a antiguidade até a contemporaneidade nos livros, desdobrando uma pesquisa iniciada em 2008. Na era medieval, ela conta: “Havia a demonização da figura do animal, para esfera do mal, da lascívia, da brutalidade, da violência, com a besta, por exemplo”. Depois veio uma filosofia racionalista no final do século 17, passando a serem vistos como máquinas.

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“Com Charles Darwin as origens animais do próprio humano passaram a ser reconhecidas. A visão do animal na literatura ganha, então, dimensão própria”, afirma a também professora de literatura da Universidade Federal de Minas Gerais.

Franz Kafka foi um ponto de inflexão nessa nova abordagem, diz Maria Esther, “ao embaralhar um pouco as fronteiras entre o humano e o não humano, no livro A Metamorfose, com a barata.” O mesmo autor trouxe ainda no conto Um Relatório para uma Academia o macaco que discursa para intelectuais do meio acadêmico ironizando a prepotência humana, chamado Pedro Vermelho.

“No Brasil, Machado de Assis escreveu sobre os animais por um viés muito inovador. Ele tinha uma visão muito crítica com relação ao uso de animais para experiências científicas”, analisa a professora. Em suas crônicas, o escritor fala contra esse tipo de violência praticada com os bichanos.

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Clarice Lispector, por sua vez, era dona do cachorro Ulisses.”Eles tiveram uma convivência muito próxima, intensa. Ela o transformou em personagem de uma história infantil”, lembra Maria Esther.

As relações dos humanos com animais domésticos aparecem nos livros da literatura ocidental de maneiras diferentes e de modo controverso, por um lado passam pelos afetos, companheirismo, pela troca de saberes e por outro pela exploração, pela crueldade, o abandono.

Em Animalidades, há um capítulo chamado ‘Quando Morre um Cão’, voltado para a experiência de luto de um cachorro. O livro do sul africano John Coetzee, Desonra, também lida com o tema. “A história fala de cães que são abandonados e doentes são levados para serem sacrificados. Consistem em práticas que apontam para essa arrogância de nós humanos de querer determinar a vida e a morte desses outros”, conclui.

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Ensaio fotográfico sobre os Cães Paulistanos  Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADAO CONTEUDO

Um livro que aborda os animais na literatura, como sujeitos que compartilham com os humanos a experiência do mundo. Esse é o tema do livro Animalidades: zooliteratura e os limites do humano, da pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Esther Maciel, que chega às livrarias nesta segunda-feira, 15, e já está em pré-venda pelo site da editora Instante.

Maria Esther Maciel, na Flip  Foto: Walter Craveiro/Divulgação

Maria Esther investigou os sentidos atribuídos aos bichos desde a antiguidade até a contemporaneidade nos livros, desdobrando uma pesquisa iniciada em 2008. Na era medieval, ela conta: “Havia a demonização da figura do animal, para esfera do mal, da lascívia, da brutalidade, da violência, com a besta, por exemplo”. Depois veio uma filosofia racionalista no final do século 17, passando a serem vistos como máquinas.

“Com Charles Darwin as origens animais do próprio humano passaram a ser reconhecidas. A visão do animal na literatura ganha, então, dimensão própria”, afirma a também professora de literatura da Universidade Federal de Minas Gerais.

Franz Kafka foi um ponto de inflexão nessa nova abordagem, diz Maria Esther, “ao embaralhar um pouco as fronteiras entre o humano e o não humano, no livro A Metamorfose, com a barata.” O mesmo autor trouxe ainda no conto Um Relatório para uma Academia o macaco que discursa para intelectuais do meio acadêmico ironizando a prepotência humana, chamado Pedro Vermelho.

“No Brasil, Machado de Assis escreveu sobre os animais por um viés muito inovador. Ele tinha uma visão muito crítica com relação ao uso de animais para experiências científicas”, analisa a professora. Em suas crônicas, o escritor fala contra esse tipo de violência praticada com os bichanos.

Clarice Lispector, por sua vez, era dona do cachorro Ulisses.”Eles tiveram uma convivência muito próxima, intensa. Ela o transformou em personagem de uma história infantil”, lembra Maria Esther.

As relações dos humanos com animais domésticos aparecem nos livros da literatura ocidental de maneiras diferentes e de modo controverso, por um lado passam pelos afetos, companheirismo, pela troca de saberes e por outro pela exploração, pela crueldade, o abandono.

Em Animalidades, há um capítulo chamado ‘Quando Morre um Cão’, voltado para a experiência de luto de um cachorro. O livro do sul africano John Coetzee, Desonra, também lida com o tema. “A história fala de cães que são abandonados e doentes são levados para serem sacrificados. Consistem em práticas que apontam para essa arrogância de nós humanos de querer determinar a vida e a morte desses outros”, conclui.

Ensaio fotográfico sobre os Cães Paulistanos  Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADAO CONTEUDO

Um livro que aborda os animais na literatura, como sujeitos que compartilham com os humanos a experiência do mundo. Esse é o tema do livro Animalidades: zooliteratura e os limites do humano, da pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Esther Maciel, que chega às livrarias nesta segunda-feira, 15, e já está em pré-venda pelo site da editora Instante.

Maria Esther Maciel, na Flip  Foto: Walter Craveiro/Divulgação

Maria Esther investigou os sentidos atribuídos aos bichos desde a antiguidade até a contemporaneidade nos livros, desdobrando uma pesquisa iniciada em 2008. Na era medieval, ela conta: “Havia a demonização da figura do animal, para esfera do mal, da lascívia, da brutalidade, da violência, com a besta, por exemplo”. Depois veio uma filosofia racionalista no final do século 17, passando a serem vistos como máquinas.

“Com Charles Darwin as origens animais do próprio humano passaram a ser reconhecidas. A visão do animal na literatura ganha, então, dimensão própria”, afirma a também professora de literatura da Universidade Federal de Minas Gerais.

Franz Kafka foi um ponto de inflexão nessa nova abordagem, diz Maria Esther, “ao embaralhar um pouco as fronteiras entre o humano e o não humano, no livro A Metamorfose, com a barata.” O mesmo autor trouxe ainda no conto Um Relatório para uma Academia o macaco que discursa para intelectuais do meio acadêmico ironizando a prepotência humana, chamado Pedro Vermelho.

“No Brasil, Machado de Assis escreveu sobre os animais por um viés muito inovador. Ele tinha uma visão muito crítica com relação ao uso de animais para experiências científicas”, analisa a professora. Em suas crônicas, o escritor fala contra esse tipo de violência praticada com os bichanos.

Clarice Lispector, por sua vez, era dona do cachorro Ulisses.”Eles tiveram uma convivência muito próxima, intensa. Ela o transformou em personagem de uma história infantil”, lembra Maria Esther.

As relações dos humanos com animais domésticos aparecem nos livros da literatura ocidental de maneiras diferentes e de modo controverso, por um lado passam pelos afetos, companheirismo, pela troca de saberes e por outro pela exploração, pela crueldade, o abandono.

Em Animalidades, há um capítulo chamado ‘Quando Morre um Cão’, voltado para a experiência de luto de um cachorro. O livro do sul africano John Coetzee, Desonra, também lida com o tema. “A história fala de cães que são abandonados e doentes são levados para serem sacrificados. Consistem em práticas que apontam para essa arrogância de nós humanos de querer determinar a vida e a morte desses outros”, conclui.

Ensaio fotográfico sobre os Cães Paulistanos  Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADAO CONTEUDO

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