Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘Quem fala da mamata da Rouanet não tem ideia da burocracia que a gente vive’, diz Maria Padilha


Atriz acaba de estrear em SP com o espetáculo ‘Um Jardim para Tchekhov’, que fica em cartaz até 8 de dezembro

Por Marcela Paes
Atualização:

Maria Padilha é uma fã de Tchekhov. Apaixonada pelo dramaturgo e escritor russo, a atriz veterana, que começou a carreira nos anos 1970, acaba de estrear em São Paulo com a peça Um Jardim para Tchekhov, que tem temporada na cidade até o dia 8 de dezembro. Além de atuar na montagem, Padilha teve a ideia para o espetáculo junto com Pedro Brício – responsável pelo texto original. Leia abaixo a entrevista dada à repórter Marcela Paes:

A atriz Maria Padilha Foto: Vinícius Mochizuki

Como é colocar uma peça de pé? A questão da captação de recursos e da burocracia desanima?

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A captação de recursos é complicada mesmo. Melhorou de uns anos pra cá, depois da pandemia. Ainda é complicada, mas a burocracia é pior do que a captação de recursos. O povo que fala da mamata da Lei Rouanet não tem ideia do que é a burocracia que a gente vive pra fazer isso. Mesmo vencendo todos os percalços burocráticos, de orçamentos, de editais e de outras coisas, ainda é difícil. Os espaços cada vez querem abrigar menos tempo as peças. Mas eu não sou pessimista não. O público está interessadíssimo em teatro. Eu tenho ido ao teatro sempre que posso e as montagens estão sempre lotadas. Mesmo as peças mais difíceis e intelectuais estão sempre cheias. Me dá a impressão de que nós somos necessários, de que o teatro é necessário e que a gente tem que fazer.

Acha então que a produção cultural no Brasil está mais aquecida?

Acho que está maravilhosa. Intensa, diversa e rica, porque tem de tudo. Finalmente estamos conseguindo uma descentralização com espetáculos de mais lugares e regiões sendo feitos. Depois da pandemia o interesse do público pelo teatro, música e dança, principalmente por tudo que é presencial, cresceu.

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As novelas no geral têm tido queda na audiência e muita gente diz que isso se deve à falta de qualidade das tramas produzidas. Você concorda?

Não sei se me sinto muito capaz para falar sobre. Eu fiz muitas novelas em uma época em que dava 90 e tantos pontos, 100 pontos de audiência. De um tempo pra cá, isso já vem caindo. Foi para 60, para 50 e depois festejava-se quando uma novela tinha 35, 40 pontos. Não acho que as tramas estejam menos interessantes. Tem autores novos tão bons. Não sei, é um mistério.

Muitas pessoas também criticam a presença dos influencers nas novelas, pela falta de formação como atores. O que você acha?

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Desde que comecei a ser atriz tinha espaço pra tudo. Tinha celebridade que saiu da escola de samba e era colocada em novela, tinha modelo que nunca tinha feito nada e entrava também. Depois teve a hora do Big Brother, em que os BBBs iam pra novelas. Algumas se tornaram ótimas atrizes, como no caso da Grazi Massafera, por exemplo, e outros atores também. Acho que tem que estar equilibrado, não pode ter só isso. O certo é colocar uma pessoa que está começando num personagem de não muita responsabilidade. Quando a gente está começando, temos que começar pelo começo, não dá pra fazer logo uma protagonista, um protagonista. E cercá-los de atores experientes e bons, porque eu gosto de assistir a uma novela para ver bons atores.

Você é mãe do Manoel, que é um menino negro. Já passou por situações de preconceito?

Já passei por situações de preconceito, não tem como não. A gente vive em um País muito preconceituoso. Às vezes eu tento educar as pessoas que estão sendo preconceituosas sem saber, porque às vezes a pessoa não está nem percebendo o preconceito que está destilando. E às vezes eu parto pra uma atitude um pouco mais dramática, mais drástica, de dar broncas ou até de procurar advogado no caso. Mas é isso.

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Estamos no mês da Consciência Negra, em que se fala muito sobre a questão do racismo. Acha que avançamos na resolução desse problema no Brasil?

Avançamos, mas ainda temos muito que avançar. Muito. Acho que toda a coisa da política de cotas ajuda. A inclusão dos negros na minha profissão floresceu e estão surgindo atores maravilhosos. Isso faz com que o meu filho, por exemplo, ligue uma televisão ou vá a um teatro e possa se identificar mais e não se sinta como uma pessoa que mora num país em que não há negros. Uma vez eu li que o Spike Lee quando chegou aqui no Brasil, ligou a televisão e falou assim ‘vocês acham que são a Dinamarca?’ Porque só tinha loiros de olhos azuis nas televisões. Nós avançamos sim, temos representatividade, mas estamos longe do ideal. Bem longe.

Maria Padilha é uma fã de Tchekhov. Apaixonada pelo dramaturgo e escritor russo, a atriz veterana, que começou a carreira nos anos 1970, acaba de estrear em São Paulo com a peça Um Jardim para Tchekhov, que tem temporada na cidade até o dia 8 de dezembro. Além de atuar na montagem, Padilha teve a ideia para o espetáculo junto com Pedro Brício – responsável pelo texto original. Leia abaixo a entrevista dada à repórter Marcela Paes:

A atriz Maria Padilha Foto: Vinícius Mochizuki

Como é colocar uma peça de pé? A questão da captação de recursos e da burocracia desanima?

A captação de recursos é complicada mesmo. Melhorou de uns anos pra cá, depois da pandemia. Ainda é complicada, mas a burocracia é pior do que a captação de recursos. O povo que fala da mamata da Lei Rouanet não tem ideia do que é a burocracia que a gente vive pra fazer isso. Mesmo vencendo todos os percalços burocráticos, de orçamentos, de editais e de outras coisas, ainda é difícil. Os espaços cada vez querem abrigar menos tempo as peças. Mas eu não sou pessimista não. O público está interessadíssimo em teatro. Eu tenho ido ao teatro sempre que posso e as montagens estão sempre lotadas. Mesmo as peças mais difíceis e intelectuais estão sempre cheias. Me dá a impressão de que nós somos necessários, de que o teatro é necessário e que a gente tem que fazer.

Acha então que a produção cultural no Brasil está mais aquecida?

Acho que está maravilhosa. Intensa, diversa e rica, porque tem de tudo. Finalmente estamos conseguindo uma descentralização com espetáculos de mais lugares e regiões sendo feitos. Depois da pandemia o interesse do público pelo teatro, música e dança, principalmente por tudo que é presencial, cresceu.

As novelas no geral têm tido queda na audiência e muita gente diz que isso se deve à falta de qualidade das tramas produzidas. Você concorda?

Não sei se me sinto muito capaz para falar sobre. Eu fiz muitas novelas em uma época em que dava 90 e tantos pontos, 100 pontos de audiência. De um tempo pra cá, isso já vem caindo. Foi para 60, para 50 e depois festejava-se quando uma novela tinha 35, 40 pontos. Não acho que as tramas estejam menos interessantes. Tem autores novos tão bons. Não sei, é um mistério.

Muitas pessoas também criticam a presença dos influencers nas novelas, pela falta de formação como atores. O que você acha?

Desde que comecei a ser atriz tinha espaço pra tudo. Tinha celebridade que saiu da escola de samba e era colocada em novela, tinha modelo que nunca tinha feito nada e entrava também. Depois teve a hora do Big Brother, em que os BBBs iam pra novelas. Algumas se tornaram ótimas atrizes, como no caso da Grazi Massafera, por exemplo, e outros atores também. Acho que tem que estar equilibrado, não pode ter só isso. O certo é colocar uma pessoa que está começando num personagem de não muita responsabilidade. Quando a gente está começando, temos que começar pelo começo, não dá pra fazer logo uma protagonista, um protagonista. E cercá-los de atores experientes e bons, porque eu gosto de assistir a uma novela para ver bons atores.

Você é mãe do Manoel, que é um menino negro. Já passou por situações de preconceito?

Já passei por situações de preconceito, não tem como não. A gente vive em um País muito preconceituoso. Às vezes eu tento educar as pessoas que estão sendo preconceituosas sem saber, porque às vezes a pessoa não está nem percebendo o preconceito que está destilando. E às vezes eu parto pra uma atitude um pouco mais dramática, mais drástica, de dar broncas ou até de procurar advogado no caso. Mas é isso.

Estamos no mês da Consciência Negra, em que se fala muito sobre a questão do racismo. Acha que avançamos na resolução desse problema no Brasil?

Avançamos, mas ainda temos muito que avançar. Muito. Acho que toda a coisa da política de cotas ajuda. A inclusão dos negros na minha profissão floresceu e estão surgindo atores maravilhosos. Isso faz com que o meu filho, por exemplo, ligue uma televisão ou vá a um teatro e possa se identificar mais e não se sinta como uma pessoa que mora num país em que não há negros. Uma vez eu li que o Spike Lee quando chegou aqui no Brasil, ligou a televisão e falou assim ‘vocês acham que são a Dinamarca?’ Porque só tinha loiros de olhos azuis nas televisões. Nós avançamos sim, temos representatividade, mas estamos longe do ideal. Bem longe.

Maria Padilha é uma fã de Tchekhov. Apaixonada pelo dramaturgo e escritor russo, a atriz veterana, que começou a carreira nos anos 1970, acaba de estrear em São Paulo com a peça Um Jardim para Tchekhov, que tem temporada na cidade até o dia 8 de dezembro. Além de atuar na montagem, Padilha teve a ideia para o espetáculo junto com Pedro Brício – responsável pelo texto original. Leia abaixo a entrevista dada à repórter Marcela Paes:

A atriz Maria Padilha Foto: Vinícius Mochizuki

Como é colocar uma peça de pé? A questão da captação de recursos e da burocracia desanima?

A captação de recursos é complicada mesmo. Melhorou de uns anos pra cá, depois da pandemia. Ainda é complicada, mas a burocracia é pior do que a captação de recursos. O povo que fala da mamata da Lei Rouanet não tem ideia do que é a burocracia que a gente vive pra fazer isso. Mesmo vencendo todos os percalços burocráticos, de orçamentos, de editais e de outras coisas, ainda é difícil. Os espaços cada vez querem abrigar menos tempo as peças. Mas eu não sou pessimista não. O público está interessadíssimo em teatro. Eu tenho ido ao teatro sempre que posso e as montagens estão sempre lotadas. Mesmo as peças mais difíceis e intelectuais estão sempre cheias. Me dá a impressão de que nós somos necessários, de que o teatro é necessário e que a gente tem que fazer.

Acha então que a produção cultural no Brasil está mais aquecida?

Acho que está maravilhosa. Intensa, diversa e rica, porque tem de tudo. Finalmente estamos conseguindo uma descentralização com espetáculos de mais lugares e regiões sendo feitos. Depois da pandemia o interesse do público pelo teatro, música e dança, principalmente por tudo que é presencial, cresceu.

As novelas no geral têm tido queda na audiência e muita gente diz que isso se deve à falta de qualidade das tramas produzidas. Você concorda?

Não sei se me sinto muito capaz para falar sobre. Eu fiz muitas novelas em uma época em que dava 90 e tantos pontos, 100 pontos de audiência. De um tempo pra cá, isso já vem caindo. Foi para 60, para 50 e depois festejava-se quando uma novela tinha 35, 40 pontos. Não acho que as tramas estejam menos interessantes. Tem autores novos tão bons. Não sei, é um mistério.

Muitas pessoas também criticam a presença dos influencers nas novelas, pela falta de formação como atores. O que você acha?

Desde que comecei a ser atriz tinha espaço pra tudo. Tinha celebridade que saiu da escola de samba e era colocada em novela, tinha modelo que nunca tinha feito nada e entrava também. Depois teve a hora do Big Brother, em que os BBBs iam pra novelas. Algumas se tornaram ótimas atrizes, como no caso da Grazi Massafera, por exemplo, e outros atores também. Acho que tem que estar equilibrado, não pode ter só isso. O certo é colocar uma pessoa que está começando num personagem de não muita responsabilidade. Quando a gente está começando, temos que começar pelo começo, não dá pra fazer logo uma protagonista, um protagonista. E cercá-los de atores experientes e bons, porque eu gosto de assistir a uma novela para ver bons atores.

Você é mãe do Manoel, que é um menino negro. Já passou por situações de preconceito?

Já passei por situações de preconceito, não tem como não. A gente vive em um País muito preconceituoso. Às vezes eu tento educar as pessoas que estão sendo preconceituosas sem saber, porque às vezes a pessoa não está nem percebendo o preconceito que está destilando. E às vezes eu parto pra uma atitude um pouco mais dramática, mais drástica, de dar broncas ou até de procurar advogado no caso. Mas é isso.

Estamos no mês da Consciência Negra, em que se fala muito sobre a questão do racismo. Acha que avançamos na resolução desse problema no Brasil?

Avançamos, mas ainda temos muito que avançar. Muito. Acho que toda a coisa da política de cotas ajuda. A inclusão dos negros na minha profissão floresceu e estão surgindo atores maravilhosos. Isso faz com que o meu filho, por exemplo, ligue uma televisão ou vá a um teatro e possa se identificar mais e não se sinta como uma pessoa que mora num país em que não há negros. Uma vez eu li que o Spike Lee quando chegou aqui no Brasil, ligou a televisão e falou assim ‘vocês acham que são a Dinamarca?’ Porque só tinha loiros de olhos azuis nas televisões. Nós avançamos sim, temos representatividade, mas estamos longe do ideal. Bem longe.

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