Para Patrícia Bonaldi, 44 anos, a vida é como um ‘videogame’. As ‘fases’ são vencidas passo a passo e é preciso sempre encontrar uma chave para seguir adiante com sucesso. Patrícia deve ser ótima mesmo no videogame. Com sua marca, a PatBo, ela já conseguiu avançar muitas fases, como vestir celebridades do calibre de Beyoncé, ter uma peça no figurino da série Emily em Paris e atingir o reconhecimento internacional – com uma expansão da sua marca nos EUA. Leia a entrevista abaixo para saber o que ela pensa sobre luxo, a importância de ter feeling nos negócios e muito mais:
Qual o tamanho do impacto quando uma celebridade veste uma peça sua?
Quando as blogueiras apareceram, você colocava uma roupa em alguém e as peças esgotavam na mesma hora. Hoje percebo essa influência de um jeito diferente. Ela é muito mais em forma de reconhecimento e posicionamento de marca – e não tanto sobre vendas. Mas teve momentos muito interessantes, por exemplo, quando a Beyoncé usou uma peça minha. Isso foi um grande salto quântico na percepção de marca.
Beyoncé foi fora da curva?
Foi um impacto muito grande. Teve aumento de seguidores, nas visitas ao site e até na percepção das pessoas sobre o meu trabalho. Foi uma espécie de validação – até porque ela não usa tantas marcas.
Tem segredo ou um caminho a ser trilhado para sem bem-sucedida?
Gosto de falar que não tem segredo. A minha vida é como um videogame. Eu tenho sempre que encontrar a chave da próxima fase. Adoro videogame. Tudo tem que ser no passo a passo, em um caminho orgânico. De fora, pareço um furacão, mas é um caminho de etapas vencidas.
Você começou como atendente de call center...
Esse foi meu primeiro emprego. Eu vim de uma família humilde. Mas eu sempre fui uma pessoa muito otimista e muito dedicada, era uma nerd. Minha salvação era a escola. Entrei cedo na faculdade de Direito. Achei que seria advogada. Fiz também patologia clínica – e achei que seria médica. Mas, então, me casei jovem e com 18 anos fui morar no Japão. Tranquei a faculdade e, com meu marido, fui trabalhar para ganhar dinheiro – com a ideia de montar o próprio negócio quando voltasse.
Foi assim que nasceu sua primeira loja?
Eu montei depois do meu período no Japão. Só que não eram as roupas que eu fazia. Eu comprava e revendia. Foi bem quando essa loja estava dando errado que eu comecei a fazer meus primeiros vestidos. Eu nunca vou esquecer do primeiro. A cliente vestiu e falou: ‘pelo amor de Deus, quero mais!’ Em pouco tempo, em meses, salvei o negócio.
Qual a importância do ‘feeling’ para se dar bem no mundo dos negócios?
Alguns ‘cliques’ mudam toda a direção da nossa história. Acho importante ter feeling. Sei que é um pouco subjetivo definir isso, mas em alguns momentos ele é decisivo. Tem que ter talento, tem que ter inteligência, mas é preciso sensibilidade. Se você for sempre muito racional, só na cartilha da escola de administração, as coisas podem não acontecer.
O que é o luxo para você?
Eu sou uma pessoa que consome o luxo, mas ele não pode ser um produto ou uma marca excludente. Não pode ser algo que diz assim: ‘eu tenho e você não tem’. Eu não acredito nesse luxo excludente. Eu só acredito no luxo quando o valor do trabalho é perceptível. Claro, óbvio, não estamos falando de algo barato. Minhas peças não são baratas ou super acessíveis, mas elas não são excludentes. O que eu considero mais luxuoso no meu produto é o trabalho manual e a percepção de dedicação que existe ali. O luxo está no cuidado que existe por trás de cada peça, não em manobras psicológicas de marketing para você desejar ter aquilo.
Redes sociais são fundamentais para o sucesso de uma marca?
Eu não gosto de pensar que ‘acabou a internet, acabou a minha marca’. Não construí um negócio pautado na minha imagem. A marca não depende da minha imagem como influenciadora para existir.
Fale um pouco sobre o projeto Costurando Sonhos?
O projeto nasceu da minha relação com as bordadeiras. Formamos mais de 500 mulheres. Nunca foi preciso pagar nada ou se comprometer com entregas. Quero ter abundância de talentos e disponibilidade de mão de obra. Tenho vontade de levar esse projeto para outras cidades, mapear o trabalho manual no Brasil, e montar células de ensino de bordado.