Fernanda Castro, 33, trabalhava em uma empresa de computação quando começou a escrever resenhas dos livros que lia em um blog. Assim, ela conta que foi entendendo como o mercado funcionava, como os escritores iniciavam suas carreiras e buscavam formação. O começo inusitado no mundo literário deu frutos e a jovem do Recife é finalista ao Prêmio Jabuti na categoria “Romance de Entretenimento” pelo livro Mariposa Vermelha, publicado pelo selo Suma, da Companhia das Letras.
O nome dado ao tipo de obra que Fernanda escreve parece “pouco inspirado” para a autora. “O nome já chega com um viés associado. Quer dizer que os outros livros são chatos? Quer dizer que não temos nada para dizer, apenas entreter? Ou entreter é algo de valor menor?”, questiona. Leia abaixo a entrevista com Fernanda:
O TikTok costuma impulsionar lançamentos da categoria romance de entretenimento e alguns até viralizam. O que acha da plataforma? Acha que isso incentiva os jovens a começarem a ler?
Acho que temos duas faces da moeda aí, e que não são restritas ao campo literário. Por um lado, as redes ampliaram o alcance dos livros de um modo inimaginável — os booktokers, como chamamos, são aliados fundamentais das editoras e dos autores independentes, conseguindo chegar de forma orgânica em nichos de público que nem sempre são fáceis de alcançar com o marketing dito tradicional. Se a gente pensar em alguns segmentos do romance de entretenimento, como o monster romance, por exemplo (onde meu livro Mariposa vermelha se insere), isso é ainda mais latente. E sabemos que é uma ferramenta muito difundida entre as faixas etárias mais jovens, então tendo a enxergar o TikTok com bons olhos. Mas, por outro lado, o jeito como os algoritmos funcionam também criou uma competição grande pela atenção dos leitores. Há uma necessidade constante de criação de conteúdo e de se manter relevante em um mundo cada vez mais efêmero. Para muitos autores do que chamamos de literatura comercial, e eu me incluo aqui, pode ser exaustivo ter de não só escrever os livros, mas também divulgá-los o tempo todo. É o ônus e o bônus do período em que vivemos.
O “gênero” romance de entretenimento tem recebido cada vez mais atenção, mas muita gente ainda guarda certo preconceito com os livros desse nicho. Como você enxerga isso?
É uma batalha que vem sendo travada em todos os campos da arte, como vimos recentemente com as declarações de Martin Scorsese sobre filmes de super-herói. Há sempre um cabo de guerra entre uma obra enquanto arte e enquanto produto, enquanto conteúdo e enquanto valor de mercado. Não é diferente na literatura. Existe, no entanto, um preconceito — como se uma história que vende muito não pudesse ter mérito artístico, qualidade ou técnica. Mesmo o nome “literatura de entretenimento” me parece uma escolha pouco inspirada, que já chega com um viés associado. Quer dizer que os outros livros são chatos? Quer dizer que não temos nada para dizer, apenas entreter? Ou entreter é algo de valor menor? Mas gosto que o tema esteja sendo debatido, que os espaços estejam surgindo. É sempre um começo para a evolução do mercado e da academia.
Como foi receber a notícia para a indicação ao Jabuti?
Foi uma surpresa, confesso, mas foi também a materialização de algo muito sonhado e muito trabalhado. O Prêmio Jabuti é uma daquelas coisas que eu escutava desde criança, quando lia o verso dos meus livros paradidáticos. Sempre me pareceu algo distante, difícil de alcançar. Algo além das minhas possibilidades. Por isso é muito gratificante que a caminhada tenha me trazido até aqui. Sou a única mulher finalista da categoria, a única que mora no Nordeste. Não deixa de ser uma responsabilidade representar essas pessoas. Também fico feliz de ver o prêmio reconhecendo o mérito artístico das obras ditas comerciais.