Coluna quinzenal do escritor Ignácio de Loyola Brandão com crônicas e memórias

Opinião|Há lugar até para o esgarabulhão?


Eles chegam por volta de cinco horas, ocupam sempre a mesma mesa do fundo...

Por Ignácio de Loyola Brandão

Ao Neil Ferreira, que fez o anúncio de meu primeiro livro No Vianna, aqui perto, o casal conversa, pede margarita com tequila Don Julio, que Edson, o dono do bar, compra especialmente para os dois, que sabe enamorados. Eles chegam por volta de cinco horas, ocupam sempre a mesma mesa do fundo. Não mudam por nada, sistemáticos, metódicos. São assim, não querem alterar nada na vida, usam aquele ditado, não se mexe em time que está vencendo. Ela se apaixonou no dia em que ele citou uma frase de livro: É preciso mudar tudo, para que tudo fique como está. Achou profundo, quase chorou. Na segunda-feira calma, Dorita de repente quis saber:

“Pode me dizer o que é esgarabulhão?” “O quê?” “Esgarabulhão.” “Onde viu isso?”

“Num folheto que me deram na praça Benedito Calixto. Estava tomando caldo de cana com um pastel e o sujeito me entregou, disse que era amigo do Kawal, o jornalista que montou o Museu da Voz.” “Conheço Kawal, bem que merece um busto na praça, uma placa, ou comenda do governo.”

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Ela se impacientou, fazia calor, os dias eram estranhos, estava quente, de repente esfriava, chovia, ela tinha apanhado uma gripe, fungava. Nada mais anti romântico que gripe.

“Aquela Maju da tevê, que usa com segurança saltos imensos, ontem me pareceu que estava com vontade de desistir com a tecnologia enlouquecida, ela ficava em situação delicada, tinha a credibilidade posta em xeque.”

“Estava? Ela confessou? Ou você achou que ela estava?”

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“Mulher conhece mulher, aquilo devia incomodar, ela prevendo uma coisa, acontecendo outra, prevendo outra e acontecendo uma, porque os instrumentos dizem algo e dá o contrário. Um inferno. Os cientistas deram ao fenômeno o nome de Síndrome do Guarda Chuva Aberto. Centenas de cartas devem ter chegado à redação da emissora, apoiando Maju e até sugerindo que ela se candidatasse à presidência da República. Não ao lado do Luciano Huck, mas sim do Cauã. Ela, sábia, ponderada, teria respondido, nada disso, vamos dar tempo ao tempo, frase que se tornou meme e viralizou.”

O namorado (seria namorado, noivo, marido, amante, o quê?) olhou para ela preocupado. Nem tinham dado um gole na margarita, ela parecia sóbria e estendia uma história esquisita. Desses momentos é que brotam as fake news. Daqui a pouco ela posta isso, ou posta, a coisa se espalha, todos vão dizer a mesma coisa, cria-se uma verdade, torna-se axioma, vira dogma, cada um dirá que a frase foi dele, poderão reivindicar direitos autorais, está feito o rolo. “Ei, helôôô, te perguntei uma coisa. Volte ao chão! O que é esgarabulhão?” “Estou navegando no google... espera um pouco... aqui está...” “O que é?” “Pessoa irrequieta.” “Que se mexe muito?” “Não diz mais nada. Pode ser.” “Hiperativo?

Mas então, ele estava de novo com o pensamento no ar, viajando. Coisa que mais fazia, adorava sair o mundo e mergulhar em questões que dizia serem filosóficas.

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“Hei, helôôô, não vai tomar sua margarita? Tintim...”

“Estava pensando. Essa palavra louca ai. Jurei por Deus que não encontraria no Google. Deve estar num dicionário arcaico. Mas tem no Google. Quem foi o sujeito que criou uma página com um mundo de referências em torno de esgarabulhão? Deve ser alguém que conhece a língua. Por que colocou a palavra? Quando ele a usou? Em um artigo? Gostaria de ler tal artigo.”

Ela tomou um gole, ele continuou a falar, ela deu outro gole. Depois, tomou outra margarita, uma terceira e a dele ficou na taça.

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“Sua margarita esquentou, virou chá. Fique aí tomando, que eu me vou. Adeus.”

Ela partiu e só então ele percebeu que em lugar de até amanhã ela tinha dito adeus. Edson, de seu canto atrás do balcão também percebeu o adeus e pensou: Será que eles virão amanhã?” Preparou outra margarita com dose tripla de rum, foi e depositou. O homem vai precisar, pensou.

Ao Neil Ferreira, que fez o anúncio de meu primeiro livro No Vianna, aqui perto, o casal conversa, pede margarita com tequila Don Julio, que Edson, o dono do bar, compra especialmente para os dois, que sabe enamorados. Eles chegam por volta de cinco horas, ocupam sempre a mesma mesa do fundo. Não mudam por nada, sistemáticos, metódicos. São assim, não querem alterar nada na vida, usam aquele ditado, não se mexe em time que está vencendo. Ela se apaixonou no dia em que ele citou uma frase de livro: É preciso mudar tudo, para que tudo fique como está. Achou profundo, quase chorou. Na segunda-feira calma, Dorita de repente quis saber:

“Pode me dizer o que é esgarabulhão?” “O quê?” “Esgarabulhão.” “Onde viu isso?”

“Num folheto que me deram na praça Benedito Calixto. Estava tomando caldo de cana com um pastel e o sujeito me entregou, disse que era amigo do Kawal, o jornalista que montou o Museu da Voz.” “Conheço Kawal, bem que merece um busto na praça, uma placa, ou comenda do governo.”

Ela se impacientou, fazia calor, os dias eram estranhos, estava quente, de repente esfriava, chovia, ela tinha apanhado uma gripe, fungava. Nada mais anti romântico que gripe.

“Aquela Maju da tevê, que usa com segurança saltos imensos, ontem me pareceu que estava com vontade de desistir com a tecnologia enlouquecida, ela ficava em situação delicada, tinha a credibilidade posta em xeque.”

“Estava? Ela confessou? Ou você achou que ela estava?”

“Mulher conhece mulher, aquilo devia incomodar, ela prevendo uma coisa, acontecendo outra, prevendo outra e acontecendo uma, porque os instrumentos dizem algo e dá o contrário. Um inferno. Os cientistas deram ao fenômeno o nome de Síndrome do Guarda Chuva Aberto. Centenas de cartas devem ter chegado à redação da emissora, apoiando Maju e até sugerindo que ela se candidatasse à presidência da República. Não ao lado do Luciano Huck, mas sim do Cauã. Ela, sábia, ponderada, teria respondido, nada disso, vamos dar tempo ao tempo, frase que se tornou meme e viralizou.”

O namorado (seria namorado, noivo, marido, amante, o quê?) olhou para ela preocupado. Nem tinham dado um gole na margarita, ela parecia sóbria e estendia uma história esquisita. Desses momentos é que brotam as fake news. Daqui a pouco ela posta isso, ou posta, a coisa se espalha, todos vão dizer a mesma coisa, cria-se uma verdade, torna-se axioma, vira dogma, cada um dirá que a frase foi dele, poderão reivindicar direitos autorais, está feito o rolo. “Ei, helôôô, te perguntei uma coisa. Volte ao chão! O que é esgarabulhão?” “Estou navegando no google... espera um pouco... aqui está...” “O que é?” “Pessoa irrequieta.” “Que se mexe muito?” “Não diz mais nada. Pode ser.” “Hiperativo?

Mas então, ele estava de novo com o pensamento no ar, viajando. Coisa que mais fazia, adorava sair o mundo e mergulhar em questões que dizia serem filosóficas.

“Hei, helôôô, não vai tomar sua margarita? Tintim...”

“Estava pensando. Essa palavra louca ai. Jurei por Deus que não encontraria no Google. Deve estar num dicionário arcaico. Mas tem no Google. Quem foi o sujeito que criou uma página com um mundo de referências em torno de esgarabulhão? Deve ser alguém que conhece a língua. Por que colocou a palavra? Quando ele a usou? Em um artigo? Gostaria de ler tal artigo.”

Ela tomou um gole, ele continuou a falar, ela deu outro gole. Depois, tomou outra margarita, uma terceira e a dele ficou na taça.

“Sua margarita esquentou, virou chá. Fique aí tomando, que eu me vou. Adeus.”

Ela partiu e só então ele percebeu que em lugar de até amanhã ela tinha dito adeus. Edson, de seu canto atrás do balcão também percebeu o adeus e pensou: Será que eles virão amanhã?” Preparou outra margarita com dose tripla de rum, foi e depositou. O homem vai precisar, pensou.

Ao Neil Ferreira, que fez o anúncio de meu primeiro livro No Vianna, aqui perto, o casal conversa, pede margarita com tequila Don Julio, que Edson, o dono do bar, compra especialmente para os dois, que sabe enamorados. Eles chegam por volta de cinco horas, ocupam sempre a mesma mesa do fundo. Não mudam por nada, sistemáticos, metódicos. São assim, não querem alterar nada na vida, usam aquele ditado, não se mexe em time que está vencendo. Ela se apaixonou no dia em que ele citou uma frase de livro: É preciso mudar tudo, para que tudo fique como está. Achou profundo, quase chorou. Na segunda-feira calma, Dorita de repente quis saber:

“Pode me dizer o que é esgarabulhão?” “O quê?” “Esgarabulhão.” “Onde viu isso?”

“Num folheto que me deram na praça Benedito Calixto. Estava tomando caldo de cana com um pastel e o sujeito me entregou, disse que era amigo do Kawal, o jornalista que montou o Museu da Voz.” “Conheço Kawal, bem que merece um busto na praça, uma placa, ou comenda do governo.”

Ela se impacientou, fazia calor, os dias eram estranhos, estava quente, de repente esfriava, chovia, ela tinha apanhado uma gripe, fungava. Nada mais anti romântico que gripe.

“Aquela Maju da tevê, que usa com segurança saltos imensos, ontem me pareceu que estava com vontade de desistir com a tecnologia enlouquecida, ela ficava em situação delicada, tinha a credibilidade posta em xeque.”

“Estava? Ela confessou? Ou você achou que ela estava?”

“Mulher conhece mulher, aquilo devia incomodar, ela prevendo uma coisa, acontecendo outra, prevendo outra e acontecendo uma, porque os instrumentos dizem algo e dá o contrário. Um inferno. Os cientistas deram ao fenômeno o nome de Síndrome do Guarda Chuva Aberto. Centenas de cartas devem ter chegado à redação da emissora, apoiando Maju e até sugerindo que ela se candidatasse à presidência da República. Não ao lado do Luciano Huck, mas sim do Cauã. Ela, sábia, ponderada, teria respondido, nada disso, vamos dar tempo ao tempo, frase que se tornou meme e viralizou.”

O namorado (seria namorado, noivo, marido, amante, o quê?) olhou para ela preocupado. Nem tinham dado um gole na margarita, ela parecia sóbria e estendia uma história esquisita. Desses momentos é que brotam as fake news. Daqui a pouco ela posta isso, ou posta, a coisa se espalha, todos vão dizer a mesma coisa, cria-se uma verdade, torna-se axioma, vira dogma, cada um dirá que a frase foi dele, poderão reivindicar direitos autorais, está feito o rolo. “Ei, helôôô, te perguntei uma coisa. Volte ao chão! O que é esgarabulhão?” “Estou navegando no google... espera um pouco... aqui está...” “O que é?” “Pessoa irrequieta.” “Que se mexe muito?” “Não diz mais nada. Pode ser.” “Hiperativo?

Mas então, ele estava de novo com o pensamento no ar, viajando. Coisa que mais fazia, adorava sair o mundo e mergulhar em questões que dizia serem filosóficas.

“Hei, helôôô, não vai tomar sua margarita? Tintim...”

“Estava pensando. Essa palavra louca ai. Jurei por Deus que não encontraria no Google. Deve estar num dicionário arcaico. Mas tem no Google. Quem foi o sujeito que criou uma página com um mundo de referências em torno de esgarabulhão? Deve ser alguém que conhece a língua. Por que colocou a palavra? Quando ele a usou? Em um artigo? Gostaria de ler tal artigo.”

Ela tomou um gole, ele continuou a falar, ela deu outro gole. Depois, tomou outra margarita, uma terceira e a dele ficou na taça.

“Sua margarita esquentou, virou chá. Fique aí tomando, que eu me vou. Adeus.”

Ela partiu e só então ele percebeu que em lugar de até amanhã ela tinha dito adeus. Edson, de seu canto atrás do balcão também percebeu o adeus e pensou: Será que eles virão amanhã?” Preparou outra margarita com dose tripla de rum, foi e depositou. O homem vai precisar, pensou.

Ao Neil Ferreira, que fez o anúncio de meu primeiro livro No Vianna, aqui perto, o casal conversa, pede margarita com tequila Don Julio, que Edson, o dono do bar, compra especialmente para os dois, que sabe enamorados. Eles chegam por volta de cinco horas, ocupam sempre a mesma mesa do fundo. Não mudam por nada, sistemáticos, metódicos. São assim, não querem alterar nada na vida, usam aquele ditado, não se mexe em time que está vencendo. Ela se apaixonou no dia em que ele citou uma frase de livro: É preciso mudar tudo, para que tudo fique como está. Achou profundo, quase chorou. Na segunda-feira calma, Dorita de repente quis saber:

“Pode me dizer o que é esgarabulhão?” “O quê?” “Esgarabulhão.” “Onde viu isso?”

“Num folheto que me deram na praça Benedito Calixto. Estava tomando caldo de cana com um pastel e o sujeito me entregou, disse que era amigo do Kawal, o jornalista que montou o Museu da Voz.” “Conheço Kawal, bem que merece um busto na praça, uma placa, ou comenda do governo.”

Ela se impacientou, fazia calor, os dias eram estranhos, estava quente, de repente esfriava, chovia, ela tinha apanhado uma gripe, fungava. Nada mais anti romântico que gripe.

“Aquela Maju da tevê, que usa com segurança saltos imensos, ontem me pareceu que estava com vontade de desistir com a tecnologia enlouquecida, ela ficava em situação delicada, tinha a credibilidade posta em xeque.”

“Estava? Ela confessou? Ou você achou que ela estava?”

“Mulher conhece mulher, aquilo devia incomodar, ela prevendo uma coisa, acontecendo outra, prevendo outra e acontecendo uma, porque os instrumentos dizem algo e dá o contrário. Um inferno. Os cientistas deram ao fenômeno o nome de Síndrome do Guarda Chuva Aberto. Centenas de cartas devem ter chegado à redação da emissora, apoiando Maju e até sugerindo que ela se candidatasse à presidência da República. Não ao lado do Luciano Huck, mas sim do Cauã. Ela, sábia, ponderada, teria respondido, nada disso, vamos dar tempo ao tempo, frase que se tornou meme e viralizou.”

O namorado (seria namorado, noivo, marido, amante, o quê?) olhou para ela preocupado. Nem tinham dado um gole na margarita, ela parecia sóbria e estendia uma história esquisita. Desses momentos é que brotam as fake news. Daqui a pouco ela posta isso, ou posta, a coisa se espalha, todos vão dizer a mesma coisa, cria-se uma verdade, torna-se axioma, vira dogma, cada um dirá que a frase foi dele, poderão reivindicar direitos autorais, está feito o rolo. “Ei, helôôô, te perguntei uma coisa. Volte ao chão! O que é esgarabulhão?” “Estou navegando no google... espera um pouco... aqui está...” “O que é?” “Pessoa irrequieta.” “Que se mexe muito?” “Não diz mais nada. Pode ser.” “Hiperativo?

Mas então, ele estava de novo com o pensamento no ar, viajando. Coisa que mais fazia, adorava sair o mundo e mergulhar em questões que dizia serem filosóficas.

“Hei, helôôô, não vai tomar sua margarita? Tintim...”

“Estava pensando. Essa palavra louca ai. Jurei por Deus que não encontraria no Google. Deve estar num dicionário arcaico. Mas tem no Google. Quem foi o sujeito que criou uma página com um mundo de referências em torno de esgarabulhão? Deve ser alguém que conhece a língua. Por que colocou a palavra? Quando ele a usou? Em um artigo? Gostaria de ler tal artigo.”

Ela tomou um gole, ele continuou a falar, ela deu outro gole. Depois, tomou outra margarita, uma terceira e a dele ficou na taça.

“Sua margarita esquentou, virou chá. Fique aí tomando, que eu me vou. Adeus.”

Ela partiu e só então ele percebeu que em lugar de até amanhã ela tinha dito adeus. Edson, de seu canto atrás do balcão também percebeu o adeus e pensou: Será que eles virão amanhã?” Preparou outra margarita com dose tripla de rum, foi e depositou. O homem vai precisar, pensou.

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