Coluna quinzenal do escritor Ignácio de Loyola Brandão com crônicas e memórias

Opinião|Havia quem não gostasse dele, mas Pedro Herz foi um ícone


Amou livros e revolucionou o mercado, apesar do triste fim. Não fui ao velório. Quando é de gente do coração, não vou

Por Ignácio de Loyola Brandão
Atualização:

Todos queriam lançar livros na Cultura. Célebres, ansiosos por aparecer, autores de primeiro ou centésimo livro. A livraria dava status. Filas se estendiam pela Alameda Santos ou para a Augusta e Paulista. Pedro Herz foi um ícone. Havia quem não gostasse dele, sua objetividade. Mas foi um homem que amou livros e revolucionou o mercado, apesar do triste fim. Não fui ao velório. Quando é de gente do coração, não vou. Pedro e eu, 50 anos de amizade. Guardo a última imagem. Como tive imagens dele! Algumas já contei, mas repito. Como aquele dia de 1987, em que entrei na livraria e ele disse: “O que acha? Amanhã, você vem ao meio-dia e autografa até a noite?”. Dia inteiro? Dia inteiro. Eu estava lançando meu romance O Ganhador. Foi um risco, foi tudo bem, sem cansaço, comendo coxinhas da lanchonete em frente. Outros repetiram a experiência.

Deliciosos eram os sábados de manhã nos corredores do Conjunto Nacional, com gente como Lygia Fagundes Telles, Ana Maria Martins, Teresa Collor, Ives Gandra Martins, Maria Adelaide Amaral, Gilberto Mansur, Marcos Rey, Mário Chamie, um dos irmãos Campos, às vezes os dois, Paulo Bonfim, Ruth Rocha, Joyce Cavalcanti, Bruna Lombardi, Cecilia Prada. Tomavam-se uísque (da reserva do Pedro), chope, cerveja e comiam-se empadas da lanchonete. Nessas manhãs, aguardávamos a chegada do megaempresário Sebastião Camargo. Víamos um batalhão de seguranças se posicionando e sabíamos. Logo chegava o empresário, amável, cumprimentava todos, entrava, demorava, saía carregado de livros. Aquilo era poder, status.

Pedro Herz, dono da Livraria Cultura e um dos maiores livreiros do País, morreu aos 83 anos. Foto: Sergio Castro/Estadão
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A Livraria Cultura Editora publicou meu livro Cuba de Fidel. Escrito após minha viagem àquele país, em 1978, acompanhado de Chico Buarque, Antonio Callado, Ana Arruda, Wagner Carelli. O lançamento foi um sucesso, vendemos 300 volumes. Anos mais tarde, caída a ditadura militar, Marcos Mendonça, secretário de Cultura, abriu os arquivos do Dops e nos presenteou com nossas fichas. Uma das páginas da minha diz sobre aquele momento: “Livraria vazia, nenhum interesse, fracasso total”. Queriam avacalhar o interesse por Cuba ou a mim?

Pedro viu o show Solidão no Fundo da Agulha, meu e de minha filha Rita Gullo, com canções e histórias de minha vida, e sugeriu: “Vocês devem ir para o Teatro Eva, vão ganhar visibilidade”. Ganhamos, por anos e anos.

Certas noites, ele recebia no seu apartamento no histórico Copan. Jantávamos e subíamos ao terraço a conversar, contemplando a noite paulistana. Um ritual. Passamos o último ano trocando telefonemas e planejando um almoço. Que não aconteceu. Quando poderei cumprir essas pequenas dívidas?

Todos queriam lançar livros na Cultura. Célebres, ansiosos por aparecer, autores de primeiro ou centésimo livro. A livraria dava status. Filas se estendiam pela Alameda Santos ou para a Augusta e Paulista. Pedro Herz foi um ícone. Havia quem não gostasse dele, sua objetividade. Mas foi um homem que amou livros e revolucionou o mercado, apesar do triste fim. Não fui ao velório. Quando é de gente do coração, não vou. Pedro e eu, 50 anos de amizade. Guardo a última imagem. Como tive imagens dele! Algumas já contei, mas repito. Como aquele dia de 1987, em que entrei na livraria e ele disse: “O que acha? Amanhã, você vem ao meio-dia e autografa até a noite?”. Dia inteiro? Dia inteiro. Eu estava lançando meu romance O Ganhador. Foi um risco, foi tudo bem, sem cansaço, comendo coxinhas da lanchonete em frente. Outros repetiram a experiência.

Deliciosos eram os sábados de manhã nos corredores do Conjunto Nacional, com gente como Lygia Fagundes Telles, Ana Maria Martins, Teresa Collor, Ives Gandra Martins, Maria Adelaide Amaral, Gilberto Mansur, Marcos Rey, Mário Chamie, um dos irmãos Campos, às vezes os dois, Paulo Bonfim, Ruth Rocha, Joyce Cavalcanti, Bruna Lombardi, Cecilia Prada. Tomavam-se uísque (da reserva do Pedro), chope, cerveja e comiam-se empadas da lanchonete. Nessas manhãs, aguardávamos a chegada do megaempresário Sebastião Camargo. Víamos um batalhão de seguranças se posicionando e sabíamos. Logo chegava o empresário, amável, cumprimentava todos, entrava, demorava, saía carregado de livros. Aquilo era poder, status.

Pedro Herz, dono da Livraria Cultura e um dos maiores livreiros do País, morreu aos 83 anos. Foto: Sergio Castro/Estadão

A Livraria Cultura Editora publicou meu livro Cuba de Fidel. Escrito após minha viagem àquele país, em 1978, acompanhado de Chico Buarque, Antonio Callado, Ana Arruda, Wagner Carelli. O lançamento foi um sucesso, vendemos 300 volumes. Anos mais tarde, caída a ditadura militar, Marcos Mendonça, secretário de Cultura, abriu os arquivos do Dops e nos presenteou com nossas fichas. Uma das páginas da minha diz sobre aquele momento: “Livraria vazia, nenhum interesse, fracasso total”. Queriam avacalhar o interesse por Cuba ou a mim?

Pedro viu o show Solidão no Fundo da Agulha, meu e de minha filha Rita Gullo, com canções e histórias de minha vida, e sugeriu: “Vocês devem ir para o Teatro Eva, vão ganhar visibilidade”. Ganhamos, por anos e anos.

Certas noites, ele recebia no seu apartamento no histórico Copan. Jantávamos e subíamos ao terraço a conversar, contemplando a noite paulistana. Um ritual. Passamos o último ano trocando telefonemas e planejando um almoço. Que não aconteceu. Quando poderei cumprir essas pequenas dívidas?

Todos queriam lançar livros na Cultura. Célebres, ansiosos por aparecer, autores de primeiro ou centésimo livro. A livraria dava status. Filas se estendiam pela Alameda Santos ou para a Augusta e Paulista. Pedro Herz foi um ícone. Havia quem não gostasse dele, sua objetividade. Mas foi um homem que amou livros e revolucionou o mercado, apesar do triste fim. Não fui ao velório. Quando é de gente do coração, não vou. Pedro e eu, 50 anos de amizade. Guardo a última imagem. Como tive imagens dele! Algumas já contei, mas repito. Como aquele dia de 1987, em que entrei na livraria e ele disse: “O que acha? Amanhã, você vem ao meio-dia e autografa até a noite?”. Dia inteiro? Dia inteiro. Eu estava lançando meu romance O Ganhador. Foi um risco, foi tudo bem, sem cansaço, comendo coxinhas da lanchonete em frente. Outros repetiram a experiência.

Deliciosos eram os sábados de manhã nos corredores do Conjunto Nacional, com gente como Lygia Fagundes Telles, Ana Maria Martins, Teresa Collor, Ives Gandra Martins, Maria Adelaide Amaral, Gilberto Mansur, Marcos Rey, Mário Chamie, um dos irmãos Campos, às vezes os dois, Paulo Bonfim, Ruth Rocha, Joyce Cavalcanti, Bruna Lombardi, Cecilia Prada. Tomavam-se uísque (da reserva do Pedro), chope, cerveja e comiam-se empadas da lanchonete. Nessas manhãs, aguardávamos a chegada do megaempresário Sebastião Camargo. Víamos um batalhão de seguranças se posicionando e sabíamos. Logo chegava o empresário, amável, cumprimentava todos, entrava, demorava, saía carregado de livros. Aquilo era poder, status.

Pedro Herz, dono da Livraria Cultura e um dos maiores livreiros do País, morreu aos 83 anos. Foto: Sergio Castro/Estadão

A Livraria Cultura Editora publicou meu livro Cuba de Fidel. Escrito após minha viagem àquele país, em 1978, acompanhado de Chico Buarque, Antonio Callado, Ana Arruda, Wagner Carelli. O lançamento foi um sucesso, vendemos 300 volumes. Anos mais tarde, caída a ditadura militar, Marcos Mendonça, secretário de Cultura, abriu os arquivos do Dops e nos presenteou com nossas fichas. Uma das páginas da minha diz sobre aquele momento: “Livraria vazia, nenhum interesse, fracasso total”. Queriam avacalhar o interesse por Cuba ou a mim?

Pedro viu o show Solidão no Fundo da Agulha, meu e de minha filha Rita Gullo, com canções e histórias de minha vida, e sugeriu: “Vocês devem ir para o Teatro Eva, vão ganhar visibilidade”. Ganhamos, por anos e anos.

Certas noites, ele recebia no seu apartamento no histórico Copan. Jantávamos e subíamos ao terraço a conversar, contemplando a noite paulistana. Um ritual. Passamos o último ano trocando telefonemas e planejando um almoço. Que não aconteceu. Quando poderei cumprir essas pequenas dívidas?

Opinião por Ignácio de Loyola Brandão

É escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e autor de 'Zero' e 'Não Verás País Nenhum'

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