Coluna quinzenal do escritor Ignácio de Loyola Brandão com crônicas e memórias

Opinião|‘Nunca disse uma verdade em toda a minha vida’ - essa confissão seria uma mentira ou não?


– Mas por que você nunca disse uma verdade? – Porque as mentiras são mais excitantes.

Por Ignácio de Loyola Brandão

Sentei-me, certa noite, em uma mesa na calçada do Vianna para tomar a margarita perfeita do Antonio e comer uma piadina, espécie de pizza tão fina que parece hóstia. Quem sabe o que é uma hóstia? Rose chegou, “está sozinho?”, eu disse sim, ela se aboletou, pediu um “garotinho” black, o chopinho menor que tem. Eu a conheço há décadas. Desabafou:

– Nunca disse uma verdade em toda a minha vida.

– Portanto, é uma mentira que você nunca disse uma verdade! Acabou de confessar uma.

continua após a publicidade

– Mas esta confissão é mentira.

– O que é uma mentira?

– Uma não verdade.

continua após a publicidade

– E o que é uma verdade?

– Uma não mentira.

– Mas por que você nunca disse uma verdade?

continua após a publicidade

– Porque as mentiras são mais excitantes. Provocam um gozo intenso. Inventar algo e soltar no ar é demais. Prazer infinito. E sentir que acreditam leva ao paroxismo. Sensação de enganar o outro, iludir. Agora, as redes nos trouxeram o que faltava, poder inventar, fantasiar, imaginar, atingir bilhões de pessoas que nos seguem. Mudar as cabeças. Sair desta realidade babaca, rotineira, vazia, morta, insuportável. Encantar as pessoas, provocando excitações sem tamanho, tirando-as do normal. Quem suporta a realidade, o dia a dia, a mesmice, a eterna repetição? Fugir dela sem usar LSD, ópio, droga, maconha, pó, fentanil, o que há por aí! Isso é poder absoluto. Orgasmos múltiplos. A imaginação não custa nada.

– Você acabou de dizer: uma verdade é uma não mentira. Na mentira não se acredita. E por que se acredita na verdade?

– Por que é preciso acreditar em alguma coisa.

continua após a publicidade

– Mas hoje todo mundo só acredita em mentiras.

– Por quê?

– Porque se a mentira for ruim, não acreditando, você fica em paz.

continua após a publicidade

– Mas quem explica o que é verdade e mentira para você ficar calma?

– Basta não acreditar em nada.

– E você não acredita em nada?

continua após a publicidade

– Porque não sei o que é verdade e o que é mentira.

– E está feliz?

– Se disser que não, estarei mentindo. Minto, porque essa é a única maneira de encarar a realidade.

– E a realidade é o quê?

– Como saber? Talvez não exista, seja pura imaginação.

De um salto, levantou-se, tomou minha margarita e se foi. E assim, o mundo enlouquece, furioso.

Ignácio de Loyola Brandão em foto de 2019 Foto: Helvio Romero/Estadão

Sentei-me, certa noite, em uma mesa na calçada do Vianna para tomar a margarita perfeita do Antonio e comer uma piadina, espécie de pizza tão fina que parece hóstia. Quem sabe o que é uma hóstia? Rose chegou, “está sozinho?”, eu disse sim, ela se aboletou, pediu um “garotinho” black, o chopinho menor que tem. Eu a conheço há décadas. Desabafou:

– Nunca disse uma verdade em toda a minha vida.

– Portanto, é uma mentira que você nunca disse uma verdade! Acabou de confessar uma.

– Mas esta confissão é mentira.

– O que é uma mentira?

– Uma não verdade.

– E o que é uma verdade?

– Uma não mentira.

– Mas por que você nunca disse uma verdade?

– Porque as mentiras são mais excitantes. Provocam um gozo intenso. Inventar algo e soltar no ar é demais. Prazer infinito. E sentir que acreditam leva ao paroxismo. Sensação de enganar o outro, iludir. Agora, as redes nos trouxeram o que faltava, poder inventar, fantasiar, imaginar, atingir bilhões de pessoas que nos seguem. Mudar as cabeças. Sair desta realidade babaca, rotineira, vazia, morta, insuportável. Encantar as pessoas, provocando excitações sem tamanho, tirando-as do normal. Quem suporta a realidade, o dia a dia, a mesmice, a eterna repetição? Fugir dela sem usar LSD, ópio, droga, maconha, pó, fentanil, o que há por aí! Isso é poder absoluto. Orgasmos múltiplos. A imaginação não custa nada.

– Você acabou de dizer: uma verdade é uma não mentira. Na mentira não se acredita. E por que se acredita na verdade?

– Por que é preciso acreditar em alguma coisa.

– Mas hoje todo mundo só acredita em mentiras.

– Por quê?

– Porque se a mentira for ruim, não acreditando, você fica em paz.

– Mas quem explica o que é verdade e mentira para você ficar calma?

– Basta não acreditar em nada.

– E você não acredita em nada?

– Porque não sei o que é verdade e o que é mentira.

– E está feliz?

– Se disser que não, estarei mentindo. Minto, porque essa é a única maneira de encarar a realidade.

– E a realidade é o quê?

– Como saber? Talvez não exista, seja pura imaginação.

De um salto, levantou-se, tomou minha margarita e se foi. E assim, o mundo enlouquece, furioso.

Ignácio de Loyola Brandão em foto de 2019 Foto: Helvio Romero/Estadão

Sentei-me, certa noite, em uma mesa na calçada do Vianna para tomar a margarita perfeita do Antonio e comer uma piadina, espécie de pizza tão fina que parece hóstia. Quem sabe o que é uma hóstia? Rose chegou, “está sozinho?”, eu disse sim, ela se aboletou, pediu um “garotinho” black, o chopinho menor que tem. Eu a conheço há décadas. Desabafou:

– Nunca disse uma verdade em toda a minha vida.

– Portanto, é uma mentira que você nunca disse uma verdade! Acabou de confessar uma.

– Mas esta confissão é mentira.

– O que é uma mentira?

– Uma não verdade.

– E o que é uma verdade?

– Uma não mentira.

– Mas por que você nunca disse uma verdade?

– Porque as mentiras são mais excitantes. Provocam um gozo intenso. Inventar algo e soltar no ar é demais. Prazer infinito. E sentir que acreditam leva ao paroxismo. Sensação de enganar o outro, iludir. Agora, as redes nos trouxeram o que faltava, poder inventar, fantasiar, imaginar, atingir bilhões de pessoas que nos seguem. Mudar as cabeças. Sair desta realidade babaca, rotineira, vazia, morta, insuportável. Encantar as pessoas, provocando excitações sem tamanho, tirando-as do normal. Quem suporta a realidade, o dia a dia, a mesmice, a eterna repetição? Fugir dela sem usar LSD, ópio, droga, maconha, pó, fentanil, o que há por aí! Isso é poder absoluto. Orgasmos múltiplos. A imaginação não custa nada.

– Você acabou de dizer: uma verdade é uma não mentira. Na mentira não se acredita. E por que se acredita na verdade?

– Por que é preciso acreditar em alguma coisa.

– Mas hoje todo mundo só acredita em mentiras.

– Por quê?

– Porque se a mentira for ruim, não acreditando, você fica em paz.

– Mas quem explica o que é verdade e mentira para você ficar calma?

– Basta não acreditar em nada.

– E você não acredita em nada?

– Porque não sei o que é verdade e o que é mentira.

– E está feliz?

– Se disser que não, estarei mentindo. Minto, porque essa é a única maneira de encarar a realidade.

– E a realidade é o quê?

– Como saber? Talvez não exista, seja pura imaginação.

De um salto, levantou-se, tomou minha margarita e se foi. E assim, o mundo enlouquece, furioso.

Ignácio de Loyola Brandão em foto de 2019 Foto: Helvio Romero/Estadão

Sentei-me, certa noite, em uma mesa na calçada do Vianna para tomar a margarita perfeita do Antonio e comer uma piadina, espécie de pizza tão fina que parece hóstia. Quem sabe o que é uma hóstia? Rose chegou, “está sozinho?”, eu disse sim, ela se aboletou, pediu um “garotinho” black, o chopinho menor que tem. Eu a conheço há décadas. Desabafou:

– Nunca disse uma verdade em toda a minha vida.

– Portanto, é uma mentira que você nunca disse uma verdade! Acabou de confessar uma.

– Mas esta confissão é mentira.

– O que é uma mentira?

– Uma não verdade.

– E o que é uma verdade?

– Uma não mentira.

– Mas por que você nunca disse uma verdade?

– Porque as mentiras são mais excitantes. Provocam um gozo intenso. Inventar algo e soltar no ar é demais. Prazer infinito. E sentir que acreditam leva ao paroxismo. Sensação de enganar o outro, iludir. Agora, as redes nos trouxeram o que faltava, poder inventar, fantasiar, imaginar, atingir bilhões de pessoas que nos seguem. Mudar as cabeças. Sair desta realidade babaca, rotineira, vazia, morta, insuportável. Encantar as pessoas, provocando excitações sem tamanho, tirando-as do normal. Quem suporta a realidade, o dia a dia, a mesmice, a eterna repetição? Fugir dela sem usar LSD, ópio, droga, maconha, pó, fentanil, o que há por aí! Isso é poder absoluto. Orgasmos múltiplos. A imaginação não custa nada.

– Você acabou de dizer: uma verdade é uma não mentira. Na mentira não se acredita. E por que se acredita na verdade?

– Por que é preciso acreditar em alguma coisa.

– Mas hoje todo mundo só acredita em mentiras.

– Por quê?

– Porque se a mentira for ruim, não acreditando, você fica em paz.

– Mas quem explica o que é verdade e mentira para você ficar calma?

– Basta não acreditar em nada.

– E você não acredita em nada?

– Porque não sei o que é verdade e o que é mentira.

– E está feliz?

– Se disser que não, estarei mentindo. Minto, porque essa é a única maneira de encarar a realidade.

– E a realidade é o quê?

– Como saber? Talvez não exista, seja pura imaginação.

De um salto, levantou-se, tomou minha margarita e se foi. E assim, o mundo enlouquece, furioso.

Ignácio de Loyola Brandão em foto de 2019 Foto: Helvio Romero/Estadão
Opinião por Ignácio de Loyola Brandão

É escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e autor de 'Zero' e 'Não Verás País Nenhum'

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.