Coluna quinzenal do escritor Ignácio de Loyola Brandão com crônicas e memórias

Opinião|O café quase estragou uma carreira


O primeiro autógrafo, para minha glória, foi no exemplar de Cacilda Becker

Por Ignácio de Loyola Brandão

Para João Prado, filho de Caio Graco

Raríssimas vezes vi uma foto tão fiel, perfeita, definidora, profunda quanto a do meu primeiro editor na capa do livro Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense. A foto é de Cristina Guerra, para a Folha de S. Paulo. Caio Graco está ali, inteiro. Bom, amigo, doce, terno, malandro, irônico. Finalmente um livro homenageia o editor que teve importância fundamental em períodos complicados da vida brasileira. Escrito por Sandra Reimão e Gisela Creni, foi lançado pela USP/BBM.  Caio Graco está à altura de grandes ícones editoriais no Brasil, por sua resistência, por coleções como Primeiros Passos, Qual É, Tudo É História, Encanto Radical, Circo de Letras, Primeiros Voos, Redescobrindo o Brasil. Lançou Caio Fernando Abreu, Reinaldo Moraes, Ana Cristina Cesar, Marcelo Rubens Paiva, publicou Giannotti, Marilena Chaui, Jean-Claude Bernardet, Ruy Fausto, Heloísa Buarque de Hollanda. E mais, mais. Em 1965, repórter do jornal Última Hora, ousei arriscar uma carreira com Dentes ao Sol, conjunto de contos que se passam na noite paulistana. Fui a 13 editores, dos grandes aos pequenos. Recusa sobre recusa. Um dia, Ciro Queiroz, jornalista da UH, me levou ao Caio Graco Prado, filho de Caio Prado. Fui com o calhamaço datilografado por Marianinha, uma profissional da Assembleia Legislativa. Custou uma nota. Não existia internet, e-mail.  Caio me colocou à vontade. Disse que lia meus artigos sobre cinema, contei do livro, o que era, os personagens da noite, boêmios, modelos, malandros, artistas de cinema e teatro. “Me interessa, vou ler, São Paulo é uma cidade que atrai como assunto”, disse. Empurrei o original para ele e neste momento uma senhora me entregou uma xícara de café. Confusão de mãos, o café entornou, ensopou o manuscrito. Gelei. Para mim, catastrofista, acabava ali mais uma tentativa, Caio riu: “Vou publicar. Derramar café traz sorte. Você sabia! Fez de propósito”. Na hora, além do mal-estar me via a redatilografar tudo, não tinha dinheiro para contratar Marianinha de novo. Anos depois, Caio Graco me revelou: “Nunca vi um autor falar tão pouco, não defender seu livro com unhas e dentes, na hora eu não sabia se era timidez, o quê. Em geral, escritores vêm, falam, contam, recontam, enaltecem a si próprios”. Era a minha timidez, os Prados eram mitos. Caio Graco era alto, jeitão de playboy, cheio de autoconfiança, afável.  Uma tarde, quatro da tarde, eu estava na redação, recebi um chamado dele: “Seu livro está pronto em cima da minha mesa”. O jornal era no Anhangabaú, ao lado do Viaduto Santa Ifigênia, a Brasiliense na Barão de Itapetininga. Sai voando e, quando entrei na sala, Caio ainda estava desligando o telefone. Deu uma gargalhada. Pena que a história da literatura não me tenha registrado como um novo Fidípides. Vá ao Google.  Apanhei o meu primeiro livro, capa de um craque, o fotógrafo Apolo Silveira, dos melhores na moda e na publicidade. Marilene Silva, bailarina da Record, posou. Maurice Capovilla, futuro cineasta, escreveu a orelha, me elogiou, éramos da mesma patota, amigos da imprensa cobriram. Uma tarde, fui levado à TV Record para o programa Lima da Light. Lembram-se de Limelight, do Chaplin? Bruta audiência. Ali se falava de tudo. Entrei, era um microestúdio, Lima, o câmera, eu. Ele fez a pergunta inicial, entrou um comercial, Lima me disse: “Fique falando dez minutos sobre o livro, volto já”. Desapareceu. Baita saia-justa. Falar? Eu? Aquele magrelo, cara brava, desajeitado, escrevia. Não falava. O que eram dez minutos em TV? Hoje sei, é muito. O câmera fez sinal, vai, vai, vai. Falei, suei, falei. Nunca soube o que disse. Era tudo ao vivo. Na noite de autógrafos em outubro de 1965, a Livraria Brasiliense, na Rua Barão de Itapetininga, lotou. Quando cheguei à livraria, o primeiro abraço foi do Jô Soares, o segundo do Marco Antonio Rocha, o terceiro foi para uma linda jovem de olhos verdes, Conceição, filha do mais poderoso líder sindical da época, o temido Salvador Romano Losacco. Depois, perdi a conta. O primeiro autógrafo, para minha glória, foi no exemplar de Cacilda Becker. Volto ao assunto, Caio e a Brasiliense não se esgotam em tão breves linhas.

Para João Prado, filho de Caio Graco

Raríssimas vezes vi uma foto tão fiel, perfeita, definidora, profunda quanto a do meu primeiro editor na capa do livro Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense. A foto é de Cristina Guerra, para a Folha de S. Paulo. Caio Graco está ali, inteiro. Bom, amigo, doce, terno, malandro, irônico. Finalmente um livro homenageia o editor que teve importância fundamental em períodos complicados da vida brasileira. Escrito por Sandra Reimão e Gisela Creni, foi lançado pela USP/BBM.  Caio Graco está à altura de grandes ícones editoriais no Brasil, por sua resistência, por coleções como Primeiros Passos, Qual É, Tudo É História, Encanto Radical, Circo de Letras, Primeiros Voos, Redescobrindo o Brasil. Lançou Caio Fernando Abreu, Reinaldo Moraes, Ana Cristina Cesar, Marcelo Rubens Paiva, publicou Giannotti, Marilena Chaui, Jean-Claude Bernardet, Ruy Fausto, Heloísa Buarque de Hollanda. E mais, mais. Em 1965, repórter do jornal Última Hora, ousei arriscar uma carreira com Dentes ao Sol, conjunto de contos que se passam na noite paulistana. Fui a 13 editores, dos grandes aos pequenos. Recusa sobre recusa. Um dia, Ciro Queiroz, jornalista da UH, me levou ao Caio Graco Prado, filho de Caio Prado. Fui com o calhamaço datilografado por Marianinha, uma profissional da Assembleia Legislativa. Custou uma nota. Não existia internet, e-mail.  Caio me colocou à vontade. Disse que lia meus artigos sobre cinema, contei do livro, o que era, os personagens da noite, boêmios, modelos, malandros, artistas de cinema e teatro. “Me interessa, vou ler, São Paulo é uma cidade que atrai como assunto”, disse. Empurrei o original para ele e neste momento uma senhora me entregou uma xícara de café. Confusão de mãos, o café entornou, ensopou o manuscrito. Gelei. Para mim, catastrofista, acabava ali mais uma tentativa, Caio riu: “Vou publicar. Derramar café traz sorte. Você sabia! Fez de propósito”. Na hora, além do mal-estar me via a redatilografar tudo, não tinha dinheiro para contratar Marianinha de novo. Anos depois, Caio Graco me revelou: “Nunca vi um autor falar tão pouco, não defender seu livro com unhas e dentes, na hora eu não sabia se era timidez, o quê. Em geral, escritores vêm, falam, contam, recontam, enaltecem a si próprios”. Era a minha timidez, os Prados eram mitos. Caio Graco era alto, jeitão de playboy, cheio de autoconfiança, afável.  Uma tarde, quatro da tarde, eu estava na redação, recebi um chamado dele: “Seu livro está pronto em cima da minha mesa”. O jornal era no Anhangabaú, ao lado do Viaduto Santa Ifigênia, a Brasiliense na Barão de Itapetininga. Sai voando e, quando entrei na sala, Caio ainda estava desligando o telefone. Deu uma gargalhada. Pena que a história da literatura não me tenha registrado como um novo Fidípides. Vá ao Google.  Apanhei o meu primeiro livro, capa de um craque, o fotógrafo Apolo Silveira, dos melhores na moda e na publicidade. Marilene Silva, bailarina da Record, posou. Maurice Capovilla, futuro cineasta, escreveu a orelha, me elogiou, éramos da mesma patota, amigos da imprensa cobriram. Uma tarde, fui levado à TV Record para o programa Lima da Light. Lembram-se de Limelight, do Chaplin? Bruta audiência. Ali se falava de tudo. Entrei, era um microestúdio, Lima, o câmera, eu. Ele fez a pergunta inicial, entrou um comercial, Lima me disse: “Fique falando dez minutos sobre o livro, volto já”. Desapareceu. Baita saia-justa. Falar? Eu? Aquele magrelo, cara brava, desajeitado, escrevia. Não falava. O que eram dez minutos em TV? Hoje sei, é muito. O câmera fez sinal, vai, vai, vai. Falei, suei, falei. Nunca soube o que disse. Era tudo ao vivo. Na noite de autógrafos em outubro de 1965, a Livraria Brasiliense, na Rua Barão de Itapetininga, lotou. Quando cheguei à livraria, o primeiro abraço foi do Jô Soares, o segundo do Marco Antonio Rocha, o terceiro foi para uma linda jovem de olhos verdes, Conceição, filha do mais poderoso líder sindical da época, o temido Salvador Romano Losacco. Depois, perdi a conta. O primeiro autógrafo, para minha glória, foi no exemplar de Cacilda Becker. Volto ao assunto, Caio e a Brasiliense não se esgotam em tão breves linhas.

Para João Prado, filho de Caio Graco

Raríssimas vezes vi uma foto tão fiel, perfeita, definidora, profunda quanto a do meu primeiro editor na capa do livro Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense. A foto é de Cristina Guerra, para a Folha de S. Paulo. Caio Graco está ali, inteiro. Bom, amigo, doce, terno, malandro, irônico. Finalmente um livro homenageia o editor que teve importância fundamental em períodos complicados da vida brasileira. Escrito por Sandra Reimão e Gisela Creni, foi lançado pela USP/BBM.  Caio Graco está à altura de grandes ícones editoriais no Brasil, por sua resistência, por coleções como Primeiros Passos, Qual É, Tudo É História, Encanto Radical, Circo de Letras, Primeiros Voos, Redescobrindo o Brasil. Lançou Caio Fernando Abreu, Reinaldo Moraes, Ana Cristina Cesar, Marcelo Rubens Paiva, publicou Giannotti, Marilena Chaui, Jean-Claude Bernardet, Ruy Fausto, Heloísa Buarque de Hollanda. E mais, mais. Em 1965, repórter do jornal Última Hora, ousei arriscar uma carreira com Dentes ao Sol, conjunto de contos que se passam na noite paulistana. Fui a 13 editores, dos grandes aos pequenos. Recusa sobre recusa. Um dia, Ciro Queiroz, jornalista da UH, me levou ao Caio Graco Prado, filho de Caio Prado. Fui com o calhamaço datilografado por Marianinha, uma profissional da Assembleia Legislativa. Custou uma nota. Não existia internet, e-mail.  Caio me colocou à vontade. Disse que lia meus artigos sobre cinema, contei do livro, o que era, os personagens da noite, boêmios, modelos, malandros, artistas de cinema e teatro. “Me interessa, vou ler, São Paulo é uma cidade que atrai como assunto”, disse. Empurrei o original para ele e neste momento uma senhora me entregou uma xícara de café. Confusão de mãos, o café entornou, ensopou o manuscrito. Gelei. Para mim, catastrofista, acabava ali mais uma tentativa, Caio riu: “Vou publicar. Derramar café traz sorte. Você sabia! Fez de propósito”. Na hora, além do mal-estar me via a redatilografar tudo, não tinha dinheiro para contratar Marianinha de novo. Anos depois, Caio Graco me revelou: “Nunca vi um autor falar tão pouco, não defender seu livro com unhas e dentes, na hora eu não sabia se era timidez, o quê. Em geral, escritores vêm, falam, contam, recontam, enaltecem a si próprios”. Era a minha timidez, os Prados eram mitos. Caio Graco era alto, jeitão de playboy, cheio de autoconfiança, afável.  Uma tarde, quatro da tarde, eu estava na redação, recebi um chamado dele: “Seu livro está pronto em cima da minha mesa”. O jornal era no Anhangabaú, ao lado do Viaduto Santa Ifigênia, a Brasiliense na Barão de Itapetininga. Sai voando e, quando entrei na sala, Caio ainda estava desligando o telefone. Deu uma gargalhada. Pena que a história da literatura não me tenha registrado como um novo Fidípides. Vá ao Google.  Apanhei o meu primeiro livro, capa de um craque, o fotógrafo Apolo Silveira, dos melhores na moda e na publicidade. Marilene Silva, bailarina da Record, posou. Maurice Capovilla, futuro cineasta, escreveu a orelha, me elogiou, éramos da mesma patota, amigos da imprensa cobriram. Uma tarde, fui levado à TV Record para o programa Lima da Light. Lembram-se de Limelight, do Chaplin? Bruta audiência. Ali se falava de tudo. Entrei, era um microestúdio, Lima, o câmera, eu. Ele fez a pergunta inicial, entrou um comercial, Lima me disse: “Fique falando dez minutos sobre o livro, volto já”. Desapareceu. Baita saia-justa. Falar? Eu? Aquele magrelo, cara brava, desajeitado, escrevia. Não falava. O que eram dez minutos em TV? Hoje sei, é muito. O câmera fez sinal, vai, vai, vai. Falei, suei, falei. Nunca soube o que disse. Era tudo ao vivo. Na noite de autógrafos em outubro de 1965, a Livraria Brasiliense, na Rua Barão de Itapetininga, lotou. Quando cheguei à livraria, o primeiro abraço foi do Jô Soares, o segundo do Marco Antonio Rocha, o terceiro foi para uma linda jovem de olhos verdes, Conceição, filha do mais poderoso líder sindical da época, o temido Salvador Romano Losacco. Depois, perdi a conta. O primeiro autógrafo, para minha glória, foi no exemplar de Cacilda Becker. Volto ao assunto, Caio e a Brasiliense não se esgotam em tão breves linhas.

Para João Prado, filho de Caio Graco

Raríssimas vezes vi uma foto tão fiel, perfeita, definidora, profunda quanto a do meu primeiro editor na capa do livro Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense. A foto é de Cristina Guerra, para a Folha de S. Paulo. Caio Graco está ali, inteiro. Bom, amigo, doce, terno, malandro, irônico. Finalmente um livro homenageia o editor que teve importância fundamental em períodos complicados da vida brasileira. Escrito por Sandra Reimão e Gisela Creni, foi lançado pela USP/BBM.  Caio Graco está à altura de grandes ícones editoriais no Brasil, por sua resistência, por coleções como Primeiros Passos, Qual É, Tudo É História, Encanto Radical, Circo de Letras, Primeiros Voos, Redescobrindo o Brasil. Lançou Caio Fernando Abreu, Reinaldo Moraes, Ana Cristina Cesar, Marcelo Rubens Paiva, publicou Giannotti, Marilena Chaui, Jean-Claude Bernardet, Ruy Fausto, Heloísa Buarque de Hollanda. E mais, mais. Em 1965, repórter do jornal Última Hora, ousei arriscar uma carreira com Dentes ao Sol, conjunto de contos que se passam na noite paulistana. Fui a 13 editores, dos grandes aos pequenos. Recusa sobre recusa. Um dia, Ciro Queiroz, jornalista da UH, me levou ao Caio Graco Prado, filho de Caio Prado. Fui com o calhamaço datilografado por Marianinha, uma profissional da Assembleia Legislativa. Custou uma nota. Não existia internet, e-mail.  Caio me colocou à vontade. Disse que lia meus artigos sobre cinema, contei do livro, o que era, os personagens da noite, boêmios, modelos, malandros, artistas de cinema e teatro. “Me interessa, vou ler, São Paulo é uma cidade que atrai como assunto”, disse. Empurrei o original para ele e neste momento uma senhora me entregou uma xícara de café. Confusão de mãos, o café entornou, ensopou o manuscrito. Gelei. Para mim, catastrofista, acabava ali mais uma tentativa, Caio riu: “Vou publicar. Derramar café traz sorte. Você sabia! Fez de propósito”. Na hora, além do mal-estar me via a redatilografar tudo, não tinha dinheiro para contratar Marianinha de novo. Anos depois, Caio Graco me revelou: “Nunca vi um autor falar tão pouco, não defender seu livro com unhas e dentes, na hora eu não sabia se era timidez, o quê. Em geral, escritores vêm, falam, contam, recontam, enaltecem a si próprios”. Era a minha timidez, os Prados eram mitos. Caio Graco era alto, jeitão de playboy, cheio de autoconfiança, afável.  Uma tarde, quatro da tarde, eu estava na redação, recebi um chamado dele: “Seu livro está pronto em cima da minha mesa”. O jornal era no Anhangabaú, ao lado do Viaduto Santa Ifigênia, a Brasiliense na Barão de Itapetininga. Sai voando e, quando entrei na sala, Caio ainda estava desligando o telefone. Deu uma gargalhada. Pena que a história da literatura não me tenha registrado como um novo Fidípides. Vá ao Google.  Apanhei o meu primeiro livro, capa de um craque, o fotógrafo Apolo Silveira, dos melhores na moda e na publicidade. Marilene Silva, bailarina da Record, posou. Maurice Capovilla, futuro cineasta, escreveu a orelha, me elogiou, éramos da mesma patota, amigos da imprensa cobriram. Uma tarde, fui levado à TV Record para o programa Lima da Light. Lembram-se de Limelight, do Chaplin? Bruta audiência. Ali se falava de tudo. Entrei, era um microestúdio, Lima, o câmera, eu. Ele fez a pergunta inicial, entrou um comercial, Lima me disse: “Fique falando dez minutos sobre o livro, volto já”. Desapareceu. Baita saia-justa. Falar? Eu? Aquele magrelo, cara brava, desajeitado, escrevia. Não falava. O que eram dez minutos em TV? Hoje sei, é muito. O câmera fez sinal, vai, vai, vai. Falei, suei, falei. Nunca soube o que disse. Era tudo ao vivo. Na noite de autógrafos em outubro de 1965, a Livraria Brasiliense, na Rua Barão de Itapetininga, lotou. Quando cheguei à livraria, o primeiro abraço foi do Jô Soares, o segundo do Marco Antonio Rocha, o terceiro foi para uma linda jovem de olhos verdes, Conceição, filha do mais poderoso líder sindical da época, o temido Salvador Romano Losacco. Depois, perdi a conta. O primeiro autógrafo, para minha glória, foi no exemplar de Cacilda Becker. Volto ao assunto, Caio e a Brasiliense não se esgotam em tão breves linhas.

Para João Prado, filho de Caio Graco

Raríssimas vezes vi uma foto tão fiel, perfeita, definidora, profunda quanto a do meu primeiro editor na capa do livro Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense. A foto é de Cristina Guerra, para a Folha de S. Paulo. Caio Graco está ali, inteiro. Bom, amigo, doce, terno, malandro, irônico. Finalmente um livro homenageia o editor que teve importância fundamental em períodos complicados da vida brasileira. Escrito por Sandra Reimão e Gisela Creni, foi lançado pela USP/BBM.  Caio Graco está à altura de grandes ícones editoriais no Brasil, por sua resistência, por coleções como Primeiros Passos, Qual É, Tudo É História, Encanto Radical, Circo de Letras, Primeiros Voos, Redescobrindo o Brasil. Lançou Caio Fernando Abreu, Reinaldo Moraes, Ana Cristina Cesar, Marcelo Rubens Paiva, publicou Giannotti, Marilena Chaui, Jean-Claude Bernardet, Ruy Fausto, Heloísa Buarque de Hollanda. E mais, mais. Em 1965, repórter do jornal Última Hora, ousei arriscar uma carreira com Dentes ao Sol, conjunto de contos que se passam na noite paulistana. Fui a 13 editores, dos grandes aos pequenos. Recusa sobre recusa. Um dia, Ciro Queiroz, jornalista da UH, me levou ao Caio Graco Prado, filho de Caio Prado. Fui com o calhamaço datilografado por Marianinha, uma profissional da Assembleia Legislativa. Custou uma nota. Não existia internet, e-mail.  Caio me colocou à vontade. Disse que lia meus artigos sobre cinema, contei do livro, o que era, os personagens da noite, boêmios, modelos, malandros, artistas de cinema e teatro. “Me interessa, vou ler, São Paulo é uma cidade que atrai como assunto”, disse. Empurrei o original para ele e neste momento uma senhora me entregou uma xícara de café. Confusão de mãos, o café entornou, ensopou o manuscrito. Gelei. Para mim, catastrofista, acabava ali mais uma tentativa, Caio riu: “Vou publicar. Derramar café traz sorte. Você sabia! Fez de propósito”. Na hora, além do mal-estar me via a redatilografar tudo, não tinha dinheiro para contratar Marianinha de novo. Anos depois, Caio Graco me revelou: “Nunca vi um autor falar tão pouco, não defender seu livro com unhas e dentes, na hora eu não sabia se era timidez, o quê. Em geral, escritores vêm, falam, contam, recontam, enaltecem a si próprios”. Era a minha timidez, os Prados eram mitos. Caio Graco era alto, jeitão de playboy, cheio de autoconfiança, afável.  Uma tarde, quatro da tarde, eu estava na redação, recebi um chamado dele: “Seu livro está pronto em cima da minha mesa”. O jornal era no Anhangabaú, ao lado do Viaduto Santa Ifigênia, a Brasiliense na Barão de Itapetininga. Sai voando e, quando entrei na sala, Caio ainda estava desligando o telefone. Deu uma gargalhada. Pena que a história da literatura não me tenha registrado como um novo Fidípides. Vá ao Google.  Apanhei o meu primeiro livro, capa de um craque, o fotógrafo Apolo Silveira, dos melhores na moda e na publicidade. Marilene Silva, bailarina da Record, posou. Maurice Capovilla, futuro cineasta, escreveu a orelha, me elogiou, éramos da mesma patota, amigos da imprensa cobriram. Uma tarde, fui levado à TV Record para o programa Lima da Light. Lembram-se de Limelight, do Chaplin? Bruta audiência. Ali se falava de tudo. Entrei, era um microestúdio, Lima, o câmera, eu. Ele fez a pergunta inicial, entrou um comercial, Lima me disse: “Fique falando dez minutos sobre o livro, volto já”. Desapareceu. Baita saia-justa. Falar? Eu? Aquele magrelo, cara brava, desajeitado, escrevia. Não falava. O que eram dez minutos em TV? Hoje sei, é muito. O câmera fez sinal, vai, vai, vai. Falei, suei, falei. Nunca soube o que disse. Era tudo ao vivo. Na noite de autógrafos em outubro de 1965, a Livraria Brasiliense, na Rua Barão de Itapetininga, lotou. Quando cheguei à livraria, o primeiro abraço foi do Jô Soares, o segundo do Marco Antonio Rocha, o terceiro foi para uma linda jovem de olhos verdes, Conceição, filha do mais poderoso líder sindical da época, o temido Salvador Romano Losacco. Depois, perdi a conta. O primeiro autógrafo, para minha glória, foi no exemplar de Cacilda Becker. Volto ao assunto, Caio e a Brasiliense não se esgotam em tão breves linhas.

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