Coluna quinzenal do escritor Ignácio de Loyola Brandão com crônicas e memórias

Opinião|Poucos podem imaginar o que representa a perda da Livraria Cultura para todos nós


Lancei mais de doze livros ali. Todo mundo adorava lançar livros lá

Por Ignácio de Loyola Brandão

Frequentei a Cultura desde que estava apenas naquela pequena esquina dentro do Conjunto Nacional.

Lancei mais de doze livros ali. Todo mundo adorava lançar livros lá.

Certa época, ficaram famosas as reuniões dos sábados de manhã, nos corredores externos. Começávamos a chegar às 10 horas e os papos estendiam até, no mínimo, 15 horas

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Conversávamos, tomávamos chope, comíamos salgadinhos. Ives Gandra Martins adorava desaparecer e ressurgir trazendo uma baita bandeja com coxinhas e empadas.

Os queridinhos do Pedro Herz desfrutavam de sua garrafa de uísque puro malte particular. Na verdade, éramos todos queridinhos.

Movimentação na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Av. Paulista, após o anúncio de seu fechamento.  Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Habituês mesmo foram Lygia Fagundes Telles, Marcos Rey e sua mulher Palma, Pedro Bandeira, às vezes Raduan Nassar, Wladyr Nader, Joyce Cavalcanti, Mario Chamie, Ivan Angelo, Betty Milan, Claudio Willer, Ana Maria Martins, Ricardo Ramos, Osman Lins, Fabio Lucas.

Certa vez, deslumbrantes, lá estavam Teresa Collor e Hilda Hilst e havia artistas plásticos, críticos.

Cerca de meio-dia, chegava Murilo Felisberto, editor do Jornal da Tarde, acompanhado de Gilberto Mansur.

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Murilo, sempre com jornais e revistas estrangeiras de cultura debaixo do braço, ficava à distância.

Certa vez, ao lançar Dentes ao Sol, um romance, cheguei na livraria ao meio-dia e passei lá o dia inteiro, autografando. Ideia do Pedro que deu certo. Quem não podia ir certa hora, ia noutra.

Certa vez, havia fila imensa para o lançamento, não sei de quem. Pedro viu uma idosa, no final da fila, foi lá, disse que ela era preferencial, podia passar à frente.

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A idosa retrucou: se passo à frente, recebo meu autógrafo e vou embora. Prefiro ficar aqui, bebendo e conversando. E ali ficou.

Poucos podem imaginar o que a Cultura significou e o que representa sua perda para todos nós, povo, escritores, leitores, cultura brasileira.

E o clube habitual dos penetras nos coquetéis? O mais frequente penetra era um homem sempre com um paletó xadrez, ensebado. Estava circulando, e Bruna Lombardi, para espicaçá-lo, disse: “Me dê seu livro, eu o passo à frente”

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E o homem: “Já o li, apreciei-o demais”. Bruna: “Então vamos conversar sobre ele”. O homem: “Não, nem tenho palavras, estou emocionado demais ao vê-la”.

Outra vez, entrou um jovem e perguntou: “Ainda tem Grande Sertão: Veredas, da Bruna Lombardi?”

Tudo por causa da adaptação para a TV.

Frequentei a Cultura desde que estava apenas naquela pequena esquina dentro do Conjunto Nacional.

Lancei mais de doze livros ali. Todo mundo adorava lançar livros lá.

Certa época, ficaram famosas as reuniões dos sábados de manhã, nos corredores externos. Começávamos a chegar às 10 horas e os papos estendiam até, no mínimo, 15 horas

Conversávamos, tomávamos chope, comíamos salgadinhos. Ives Gandra Martins adorava desaparecer e ressurgir trazendo uma baita bandeja com coxinhas e empadas.

Os queridinhos do Pedro Herz desfrutavam de sua garrafa de uísque puro malte particular. Na verdade, éramos todos queridinhos.

Movimentação na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Av. Paulista, após o anúncio de seu fechamento.  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Habituês mesmo foram Lygia Fagundes Telles, Marcos Rey e sua mulher Palma, Pedro Bandeira, às vezes Raduan Nassar, Wladyr Nader, Joyce Cavalcanti, Mario Chamie, Ivan Angelo, Betty Milan, Claudio Willer, Ana Maria Martins, Ricardo Ramos, Osman Lins, Fabio Lucas.

Certa vez, deslumbrantes, lá estavam Teresa Collor e Hilda Hilst e havia artistas plásticos, críticos.

Cerca de meio-dia, chegava Murilo Felisberto, editor do Jornal da Tarde, acompanhado de Gilberto Mansur.

Murilo, sempre com jornais e revistas estrangeiras de cultura debaixo do braço, ficava à distância.

Certa vez, ao lançar Dentes ao Sol, um romance, cheguei na livraria ao meio-dia e passei lá o dia inteiro, autografando. Ideia do Pedro que deu certo. Quem não podia ir certa hora, ia noutra.

Certa vez, havia fila imensa para o lançamento, não sei de quem. Pedro viu uma idosa, no final da fila, foi lá, disse que ela era preferencial, podia passar à frente.

A idosa retrucou: se passo à frente, recebo meu autógrafo e vou embora. Prefiro ficar aqui, bebendo e conversando. E ali ficou.

Poucos podem imaginar o que a Cultura significou e o que representa sua perda para todos nós, povo, escritores, leitores, cultura brasileira.

E o clube habitual dos penetras nos coquetéis? O mais frequente penetra era um homem sempre com um paletó xadrez, ensebado. Estava circulando, e Bruna Lombardi, para espicaçá-lo, disse: “Me dê seu livro, eu o passo à frente”

E o homem: “Já o li, apreciei-o demais”. Bruna: “Então vamos conversar sobre ele”. O homem: “Não, nem tenho palavras, estou emocionado demais ao vê-la”.

Outra vez, entrou um jovem e perguntou: “Ainda tem Grande Sertão: Veredas, da Bruna Lombardi?”

Tudo por causa da adaptação para a TV.

Frequentei a Cultura desde que estava apenas naquela pequena esquina dentro do Conjunto Nacional.

Lancei mais de doze livros ali. Todo mundo adorava lançar livros lá.

Certa época, ficaram famosas as reuniões dos sábados de manhã, nos corredores externos. Começávamos a chegar às 10 horas e os papos estendiam até, no mínimo, 15 horas

Conversávamos, tomávamos chope, comíamos salgadinhos. Ives Gandra Martins adorava desaparecer e ressurgir trazendo uma baita bandeja com coxinhas e empadas.

Os queridinhos do Pedro Herz desfrutavam de sua garrafa de uísque puro malte particular. Na verdade, éramos todos queridinhos.

Movimentação na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Av. Paulista, após o anúncio de seu fechamento.  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Habituês mesmo foram Lygia Fagundes Telles, Marcos Rey e sua mulher Palma, Pedro Bandeira, às vezes Raduan Nassar, Wladyr Nader, Joyce Cavalcanti, Mario Chamie, Ivan Angelo, Betty Milan, Claudio Willer, Ana Maria Martins, Ricardo Ramos, Osman Lins, Fabio Lucas.

Certa vez, deslumbrantes, lá estavam Teresa Collor e Hilda Hilst e havia artistas plásticos, críticos.

Cerca de meio-dia, chegava Murilo Felisberto, editor do Jornal da Tarde, acompanhado de Gilberto Mansur.

Murilo, sempre com jornais e revistas estrangeiras de cultura debaixo do braço, ficava à distância.

Certa vez, ao lançar Dentes ao Sol, um romance, cheguei na livraria ao meio-dia e passei lá o dia inteiro, autografando. Ideia do Pedro que deu certo. Quem não podia ir certa hora, ia noutra.

Certa vez, havia fila imensa para o lançamento, não sei de quem. Pedro viu uma idosa, no final da fila, foi lá, disse que ela era preferencial, podia passar à frente.

A idosa retrucou: se passo à frente, recebo meu autógrafo e vou embora. Prefiro ficar aqui, bebendo e conversando. E ali ficou.

Poucos podem imaginar o que a Cultura significou e o que representa sua perda para todos nós, povo, escritores, leitores, cultura brasileira.

E o clube habitual dos penetras nos coquetéis? O mais frequente penetra era um homem sempre com um paletó xadrez, ensebado. Estava circulando, e Bruna Lombardi, para espicaçá-lo, disse: “Me dê seu livro, eu o passo à frente”

E o homem: “Já o li, apreciei-o demais”. Bruna: “Então vamos conversar sobre ele”. O homem: “Não, nem tenho palavras, estou emocionado demais ao vê-la”.

Outra vez, entrou um jovem e perguntou: “Ainda tem Grande Sertão: Veredas, da Bruna Lombardi?”

Tudo por causa da adaptação para a TV.

Opinião por Ignácio de Loyola Brandão

É escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e autor de 'Zero' e 'Não Verás País Nenhum'

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