Coluna quinzenal do escritor Ignácio de Loyola Brandão com crônicas e memórias

Opinião|Tenho medo de que minhas netas não cheguem à velhice


Meu pavor vem de um lado tenebroso do ser humano, principalmente masculino. Estou atemorizado ao pensar neste lugar de sombra e maldade que existe e persiste ao redor delas

Por Ignácio de Loyola Brandão
Atualização:

Olho para minhas netas. Stella tem 12 anos, Luisa, 11, e Antonia, 1. Esta acabou de aprender a andar, descobre o mundo. Aliás, as três estão se iniciando na vida, a cada dia há uma descoberta, um encantamento, um obstáculo, uma decepção, um medo, uma decisão.

Vocês três, meninas, sabem aceitar, recusar, olhar descrentes. Mas e a malícia, a desconfiança, a preocupação? O suspeitar? Tomara o caminho de vocês seja longo como o meu vem sendo. Assim, aprenderão. Stella, Luisa e Antonia, este avô devia estar feliz, mas está com medo. Em pânico. Não de morrer. Posso partir antes de este texto ser publicado, mas já vivi 88 anos. Fiz o que gosto e sobrevivi do que sonhei, escrever. Fracassei muitas vezes. Sofri agruras e dores, nunca perdi o entusiasmo. Ainda tenho projetos.

Meu pavor é outro. Ele vem de um lado tenebroso do ser humano, principalmente masculino. Estou atemorizado ao pensar neste lugar de sombra e maldade que existe e persiste ao redor de vocês. Apavora-me que, um dia, se vejam diante de um predador. A cada momento avoluma-se esta raça, que se reproduz com desmesurada facilidade, a atmosfera é boa para eles. E se vocês caírem na mão de um? Pode ser no prédio em que moram, na esquina, na balada, em certas igrejas, em qualquer parte. Além do horror sofrido, vocês se verão diante de algo assombroso, que está sendo criado por alguns homens, ditos de bem, que fazem as leis. Parece inimaginável que homens escolhidos para legislar, fazer o bem da nação, queiram determinar que uma mulher não pode tirar a criança, fruto de violentação. E, se tirar, sofrerá penas monstruosas, determinadas pela injustiça escrita por senadores e deputados, em nome de Deus e da alma. Não foi Deus quem criou o inferno. Fomos nós. Temos sido nós.

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Tenho medo, minha netas, de que vocês não cheguem à adolescência, maturidade, velhice. Com todas as alegrias e amarguras. No entanto, me deixa agoniado e deve enlouquecer milhões a possibilidade de, tendo sido vocês vítimas desse horror que é o estupro, venham ainda a sofrer mais que quem as vitimou, como desejam alguns insensatos. Estes sim, criminosos, estupradores da Constituição, da moral, da religião, qualquer que seja, da vida. Veio-me uma frase do filme O Pagador de Promessas, de 1962: “Parece que tô vendo as coisas ao contrário do que são. O céu no lugar do inferno, o demônio no lugar do santo”.

'O Pagador de Promessas', de Anselmo Duarte Foto: Cinedistri

Olho para minhas netas. Stella tem 12 anos, Luisa, 11, e Antonia, 1. Esta acabou de aprender a andar, descobre o mundo. Aliás, as três estão se iniciando na vida, a cada dia há uma descoberta, um encantamento, um obstáculo, uma decepção, um medo, uma decisão.

Vocês três, meninas, sabem aceitar, recusar, olhar descrentes. Mas e a malícia, a desconfiança, a preocupação? O suspeitar? Tomara o caminho de vocês seja longo como o meu vem sendo. Assim, aprenderão. Stella, Luisa e Antonia, este avô devia estar feliz, mas está com medo. Em pânico. Não de morrer. Posso partir antes de este texto ser publicado, mas já vivi 88 anos. Fiz o que gosto e sobrevivi do que sonhei, escrever. Fracassei muitas vezes. Sofri agruras e dores, nunca perdi o entusiasmo. Ainda tenho projetos.

Meu pavor é outro. Ele vem de um lado tenebroso do ser humano, principalmente masculino. Estou atemorizado ao pensar neste lugar de sombra e maldade que existe e persiste ao redor de vocês. Apavora-me que, um dia, se vejam diante de um predador. A cada momento avoluma-se esta raça, que se reproduz com desmesurada facilidade, a atmosfera é boa para eles. E se vocês caírem na mão de um? Pode ser no prédio em que moram, na esquina, na balada, em certas igrejas, em qualquer parte. Além do horror sofrido, vocês se verão diante de algo assombroso, que está sendo criado por alguns homens, ditos de bem, que fazem as leis. Parece inimaginável que homens escolhidos para legislar, fazer o bem da nação, queiram determinar que uma mulher não pode tirar a criança, fruto de violentação. E, se tirar, sofrerá penas monstruosas, determinadas pela injustiça escrita por senadores e deputados, em nome de Deus e da alma. Não foi Deus quem criou o inferno. Fomos nós. Temos sido nós.

Tenho medo, minha netas, de que vocês não cheguem à adolescência, maturidade, velhice. Com todas as alegrias e amarguras. No entanto, me deixa agoniado e deve enlouquecer milhões a possibilidade de, tendo sido vocês vítimas desse horror que é o estupro, venham ainda a sofrer mais que quem as vitimou, como desejam alguns insensatos. Estes sim, criminosos, estupradores da Constituição, da moral, da religião, qualquer que seja, da vida. Veio-me uma frase do filme O Pagador de Promessas, de 1962: “Parece que tô vendo as coisas ao contrário do que são. O céu no lugar do inferno, o demônio no lugar do santo”.

'O Pagador de Promessas', de Anselmo Duarte Foto: Cinedistri

Olho para minhas netas. Stella tem 12 anos, Luisa, 11, e Antonia, 1. Esta acabou de aprender a andar, descobre o mundo. Aliás, as três estão se iniciando na vida, a cada dia há uma descoberta, um encantamento, um obstáculo, uma decepção, um medo, uma decisão.

Vocês três, meninas, sabem aceitar, recusar, olhar descrentes. Mas e a malícia, a desconfiança, a preocupação? O suspeitar? Tomara o caminho de vocês seja longo como o meu vem sendo. Assim, aprenderão. Stella, Luisa e Antonia, este avô devia estar feliz, mas está com medo. Em pânico. Não de morrer. Posso partir antes de este texto ser publicado, mas já vivi 88 anos. Fiz o que gosto e sobrevivi do que sonhei, escrever. Fracassei muitas vezes. Sofri agruras e dores, nunca perdi o entusiasmo. Ainda tenho projetos.

Meu pavor é outro. Ele vem de um lado tenebroso do ser humano, principalmente masculino. Estou atemorizado ao pensar neste lugar de sombra e maldade que existe e persiste ao redor de vocês. Apavora-me que, um dia, se vejam diante de um predador. A cada momento avoluma-se esta raça, que se reproduz com desmesurada facilidade, a atmosfera é boa para eles. E se vocês caírem na mão de um? Pode ser no prédio em que moram, na esquina, na balada, em certas igrejas, em qualquer parte. Além do horror sofrido, vocês se verão diante de algo assombroso, que está sendo criado por alguns homens, ditos de bem, que fazem as leis. Parece inimaginável que homens escolhidos para legislar, fazer o bem da nação, queiram determinar que uma mulher não pode tirar a criança, fruto de violentação. E, se tirar, sofrerá penas monstruosas, determinadas pela injustiça escrita por senadores e deputados, em nome de Deus e da alma. Não foi Deus quem criou o inferno. Fomos nós. Temos sido nós.

Tenho medo, minha netas, de que vocês não cheguem à adolescência, maturidade, velhice. Com todas as alegrias e amarguras. No entanto, me deixa agoniado e deve enlouquecer milhões a possibilidade de, tendo sido vocês vítimas desse horror que é o estupro, venham ainda a sofrer mais que quem as vitimou, como desejam alguns insensatos. Estes sim, criminosos, estupradores da Constituição, da moral, da religião, qualquer que seja, da vida. Veio-me uma frase do filme O Pagador de Promessas, de 1962: “Parece que tô vendo as coisas ao contrário do que são. O céu no lugar do inferno, o demônio no lugar do santo”.

'O Pagador de Promessas', de Anselmo Duarte Foto: Cinedistri

Olho para minhas netas. Stella tem 12 anos, Luisa, 11, e Antonia, 1. Esta acabou de aprender a andar, descobre o mundo. Aliás, as três estão se iniciando na vida, a cada dia há uma descoberta, um encantamento, um obstáculo, uma decepção, um medo, uma decisão.

Vocês três, meninas, sabem aceitar, recusar, olhar descrentes. Mas e a malícia, a desconfiança, a preocupação? O suspeitar? Tomara o caminho de vocês seja longo como o meu vem sendo. Assim, aprenderão. Stella, Luisa e Antonia, este avô devia estar feliz, mas está com medo. Em pânico. Não de morrer. Posso partir antes de este texto ser publicado, mas já vivi 88 anos. Fiz o que gosto e sobrevivi do que sonhei, escrever. Fracassei muitas vezes. Sofri agruras e dores, nunca perdi o entusiasmo. Ainda tenho projetos.

Meu pavor é outro. Ele vem de um lado tenebroso do ser humano, principalmente masculino. Estou atemorizado ao pensar neste lugar de sombra e maldade que existe e persiste ao redor de vocês. Apavora-me que, um dia, se vejam diante de um predador. A cada momento avoluma-se esta raça, que se reproduz com desmesurada facilidade, a atmosfera é boa para eles. E se vocês caírem na mão de um? Pode ser no prédio em que moram, na esquina, na balada, em certas igrejas, em qualquer parte. Além do horror sofrido, vocês se verão diante de algo assombroso, que está sendo criado por alguns homens, ditos de bem, que fazem as leis. Parece inimaginável que homens escolhidos para legislar, fazer o bem da nação, queiram determinar que uma mulher não pode tirar a criança, fruto de violentação. E, se tirar, sofrerá penas monstruosas, determinadas pela injustiça escrita por senadores e deputados, em nome de Deus e da alma. Não foi Deus quem criou o inferno. Fomos nós. Temos sido nós.

Tenho medo, minha netas, de que vocês não cheguem à adolescência, maturidade, velhice. Com todas as alegrias e amarguras. No entanto, me deixa agoniado e deve enlouquecer milhões a possibilidade de, tendo sido vocês vítimas desse horror que é o estupro, venham ainda a sofrer mais que quem as vitimou, como desejam alguns insensatos. Estes sim, criminosos, estupradores da Constituição, da moral, da religião, qualquer que seja, da vida. Veio-me uma frase do filme O Pagador de Promessas, de 1962: “Parece que tô vendo as coisas ao contrário do que são. O céu no lugar do inferno, o demônio no lugar do santo”.

'O Pagador de Promessas', de Anselmo Duarte Foto: Cinedistri
Opinião por Ignácio de Loyola Brandão

É escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e autor de 'Zero' e 'Não Verás País Nenhum'

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