Jean-Paul Sartre escreve sobre a miséria individual em 'Entre Quatro Paredes'


Encenada mundo afora, peça coloca em primeiro plano questões de marginalidade e beleza

Por Faustino Rodrigues
Atualização:

A Civilização Brasileira lança uma nova edição de Entre Quatro Paredes, de Jean Paul Sartre, com prefácio de Miguel Sanches Neto e tradução de Alcione Araújo e Pedro Hussak, a obra foi escrita em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, mas continua atual. Marcada pela intensificação das relações sociais agora sem fronteiras, graças ao ambiente virtual, em que a convivência com o outro é inevitável.

O minimalismo da peça teatral Entre Quatro Paredes decorre do contexto de uma Paris dominada pela Alemanha nazista. Em um ato, com cenário simples, poucos papéis, Sartre coloca à mesa a condição humana ao abusar da metáfora para pontuar a miséria individual. São três os personagens principais: Garcin, jornalista se apresentando como militante libertário; Estelle, moça vaidosa que ascendeu socialmente; e Inês, lésbica com desejo insaciável e aversão aos homens. Em comum, todos mortos, no inferno.  E este inferno é mais simples e familiar do que se imaginava. Trata-se de um quarto modestamente mobiliado, desprovido de instrumentos para distração, onde passarão a eternidade. O único recurso que lhes resta é a convivência, sem intervalo. Nem piscar é possível – nem mesmo se dorme. Alertas, ao longo de todo tempo, aflora o que há de mais humano, como os sentimentos, as histórias que contavam para si mesmos quando em vida, os desejos, as faltas e as verdades escondidas.

Foto da recente montagem da peça 'Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Sartre, realizada pelo diretor Marcel Delval em 2017 Foto: Théâtre des Martyrs
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Não há condenação às atitudes dos três. Isso é feito entre eles. Embora o inferno seja enfatizado, não há referência ao céu ou outro pós-vida. A dúvida quanto a se alcançar o paraíso celestial permanece. O dualismo céu e inferno sempre foi metafórico. Sartre leva isso ao extremo, permitindo que se projete para a vida o que se vê por conta da semelhança das duas situações. As verdadeiras agruras derivam da convivência. Eis a máxima sartreana “o inferno são os outros”. Não há o desconhecido que justifica, em muitos, o temor à morte. “Cada um de nós é o carrasco dos outros dois”. A fala de Inês é categórica em um inferno sem algozes encapuzados, em formatos bestiais, capazes de sevícias ultrajantes. Isso não é uma visão alegórica, mas, sim, real. Sendo o inferno os outros, pode ele estar em qualquer lugar.

Para Sartre, um dos expoentes da filosofia existencialista, é importante falar sobre a condição humana na constituição do indivíduo. Não existiria uma consciência essencialista, a ponto de ser tão sóbria, capaz de vislumbrar e idealizar um céu – ou mesmo um inferno. Para ele, consciência é uma relação com as coisas ao redor. Por exemplo, nos personagens de Entre Quatro Paredes, não é a beleza de Estelle que encanta Inês, mas, sim, a condição de Inês que faz com que ela veja beleza em Estelle – a inexistência de um espelho a permitir que Estelle contemple, e idealize, a sua beleza é o indicativo disso, pois só se sabe se é realmente bela por meio da reação dos outros.

OsfilósofosJean-Paul Sartree Simone de Beauvoir com estudantes emSão Paulo,03/9/1960 Foto: Acervo/ Estadão
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Toda a lógica presente na peça pode ser transposta para os dias de hoje. Não existe uma essência de maldade, ou mesmo de bondade. Essas ideias são construídas a partir das relações dos indivíduos e suas posições no mundo – que podem ser as mais simples. Sendo assim, é impossível fugir do inferno, restando ao sujeito idealizá-lo como algo outro que, a princípio, estaria longe, fora dele, podendo ser evitado a partir de normas a serem seguidas. Entretanto, o inferno está mais perto do que se pensa, com as portas sempre abertas. 

A Civilização Brasileira lança uma nova edição de Entre Quatro Paredes, de Jean Paul Sartre, com prefácio de Miguel Sanches Neto e tradução de Alcione Araújo e Pedro Hussak, a obra foi escrita em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, mas continua atual. Marcada pela intensificação das relações sociais agora sem fronteiras, graças ao ambiente virtual, em que a convivência com o outro é inevitável.

O minimalismo da peça teatral Entre Quatro Paredes decorre do contexto de uma Paris dominada pela Alemanha nazista. Em um ato, com cenário simples, poucos papéis, Sartre coloca à mesa a condição humana ao abusar da metáfora para pontuar a miséria individual. São três os personagens principais: Garcin, jornalista se apresentando como militante libertário; Estelle, moça vaidosa que ascendeu socialmente; e Inês, lésbica com desejo insaciável e aversão aos homens. Em comum, todos mortos, no inferno.  E este inferno é mais simples e familiar do que se imaginava. Trata-se de um quarto modestamente mobiliado, desprovido de instrumentos para distração, onde passarão a eternidade. O único recurso que lhes resta é a convivência, sem intervalo. Nem piscar é possível – nem mesmo se dorme. Alertas, ao longo de todo tempo, aflora o que há de mais humano, como os sentimentos, as histórias que contavam para si mesmos quando em vida, os desejos, as faltas e as verdades escondidas.

Foto da recente montagem da peça 'Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Sartre, realizada pelo diretor Marcel Delval em 2017 Foto: Théâtre des Martyrs

Não há condenação às atitudes dos três. Isso é feito entre eles. Embora o inferno seja enfatizado, não há referência ao céu ou outro pós-vida. A dúvida quanto a se alcançar o paraíso celestial permanece. O dualismo céu e inferno sempre foi metafórico. Sartre leva isso ao extremo, permitindo que se projete para a vida o que se vê por conta da semelhança das duas situações. As verdadeiras agruras derivam da convivência. Eis a máxima sartreana “o inferno são os outros”. Não há o desconhecido que justifica, em muitos, o temor à morte. “Cada um de nós é o carrasco dos outros dois”. A fala de Inês é categórica em um inferno sem algozes encapuzados, em formatos bestiais, capazes de sevícias ultrajantes. Isso não é uma visão alegórica, mas, sim, real. Sendo o inferno os outros, pode ele estar em qualquer lugar.

Para Sartre, um dos expoentes da filosofia existencialista, é importante falar sobre a condição humana na constituição do indivíduo. Não existiria uma consciência essencialista, a ponto de ser tão sóbria, capaz de vislumbrar e idealizar um céu – ou mesmo um inferno. Para ele, consciência é uma relação com as coisas ao redor. Por exemplo, nos personagens de Entre Quatro Paredes, não é a beleza de Estelle que encanta Inês, mas, sim, a condição de Inês que faz com que ela veja beleza em Estelle – a inexistência de um espelho a permitir que Estelle contemple, e idealize, a sua beleza é o indicativo disso, pois só se sabe se é realmente bela por meio da reação dos outros.

OsfilósofosJean-Paul Sartree Simone de Beauvoir com estudantes emSão Paulo,03/9/1960 Foto: Acervo/ Estadão

Toda a lógica presente na peça pode ser transposta para os dias de hoje. Não existe uma essência de maldade, ou mesmo de bondade. Essas ideias são construídas a partir das relações dos indivíduos e suas posições no mundo – que podem ser as mais simples. Sendo assim, é impossível fugir do inferno, restando ao sujeito idealizá-lo como algo outro que, a princípio, estaria longe, fora dele, podendo ser evitado a partir de normas a serem seguidas. Entretanto, o inferno está mais perto do que se pensa, com as portas sempre abertas. 

A Civilização Brasileira lança uma nova edição de Entre Quatro Paredes, de Jean Paul Sartre, com prefácio de Miguel Sanches Neto e tradução de Alcione Araújo e Pedro Hussak, a obra foi escrita em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, mas continua atual. Marcada pela intensificação das relações sociais agora sem fronteiras, graças ao ambiente virtual, em que a convivência com o outro é inevitável.

O minimalismo da peça teatral Entre Quatro Paredes decorre do contexto de uma Paris dominada pela Alemanha nazista. Em um ato, com cenário simples, poucos papéis, Sartre coloca à mesa a condição humana ao abusar da metáfora para pontuar a miséria individual. São três os personagens principais: Garcin, jornalista se apresentando como militante libertário; Estelle, moça vaidosa que ascendeu socialmente; e Inês, lésbica com desejo insaciável e aversão aos homens. Em comum, todos mortos, no inferno.  E este inferno é mais simples e familiar do que se imaginava. Trata-se de um quarto modestamente mobiliado, desprovido de instrumentos para distração, onde passarão a eternidade. O único recurso que lhes resta é a convivência, sem intervalo. Nem piscar é possível – nem mesmo se dorme. Alertas, ao longo de todo tempo, aflora o que há de mais humano, como os sentimentos, as histórias que contavam para si mesmos quando em vida, os desejos, as faltas e as verdades escondidas.

Foto da recente montagem da peça 'Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Sartre, realizada pelo diretor Marcel Delval em 2017 Foto: Théâtre des Martyrs

Não há condenação às atitudes dos três. Isso é feito entre eles. Embora o inferno seja enfatizado, não há referência ao céu ou outro pós-vida. A dúvida quanto a se alcançar o paraíso celestial permanece. O dualismo céu e inferno sempre foi metafórico. Sartre leva isso ao extremo, permitindo que se projete para a vida o que se vê por conta da semelhança das duas situações. As verdadeiras agruras derivam da convivência. Eis a máxima sartreana “o inferno são os outros”. Não há o desconhecido que justifica, em muitos, o temor à morte. “Cada um de nós é o carrasco dos outros dois”. A fala de Inês é categórica em um inferno sem algozes encapuzados, em formatos bestiais, capazes de sevícias ultrajantes. Isso não é uma visão alegórica, mas, sim, real. Sendo o inferno os outros, pode ele estar em qualquer lugar.

Para Sartre, um dos expoentes da filosofia existencialista, é importante falar sobre a condição humana na constituição do indivíduo. Não existiria uma consciência essencialista, a ponto de ser tão sóbria, capaz de vislumbrar e idealizar um céu – ou mesmo um inferno. Para ele, consciência é uma relação com as coisas ao redor. Por exemplo, nos personagens de Entre Quatro Paredes, não é a beleza de Estelle que encanta Inês, mas, sim, a condição de Inês que faz com que ela veja beleza em Estelle – a inexistência de um espelho a permitir que Estelle contemple, e idealize, a sua beleza é o indicativo disso, pois só se sabe se é realmente bela por meio da reação dos outros.

OsfilósofosJean-Paul Sartree Simone de Beauvoir com estudantes emSão Paulo,03/9/1960 Foto: Acervo/ Estadão

Toda a lógica presente na peça pode ser transposta para os dias de hoje. Não existe uma essência de maldade, ou mesmo de bondade. Essas ideias são construídas a partir das relações dos indivíduos e suas posições no mundo – que podem ser as mais simples. Sendo assim, é impossível fugir do inferno, restando ao sujeito idealizá-lo como algo outro que, a princípio, estaria longe, fora dele, podendo ser evitado a partir de normas a serem seguidas. Entretanto, o inferno está mais perto do que se pensa, com as portas sempre abertas. 

A Civilização Brasileira lança uma nova edição de Entre Quatro Paredes, de Jean Paul Sartre, com prefácio de Miguel Sanches Neto e tradução de Alcione Araújo e Pedro Hussak, a obra foi escrita em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, mas continua atual. Marcada pela intensificação das relações sociais agora sem fronteiras, graças ao ambiente virtual, em que a convivência com o outro é inevitável.

O minimalismo da peça teatral Entre Quatro Paredes decorre do contexto de uma Paris dominada pela Alemanha nazista. Em um ato, com cenário simples, poucos papéis, Sartre coloca à mesa a condição humana ao abusar da metáfora para pontuar a miséria individual. São três os personagens principais: Garcin, jornalista se apresentando como militante libertário; Estelle, moça vaidosa que ascendeu socialmente; e Inês, lésbica com desejo insaciável e aversão aos homens. Em comum, todos mortos, no inferno.  E este inferno é mais simples e familiar do que se imaginava. Trata-se de um quarto modestamente mobiliado, desprovido de instrumentos para distração, onde passarão a eternidade. O único recurso que lhes resta é a convivência, sem intervalo. Nem piscar é possível – nem mesmo se dorme. Alertas, ao longo de todo tempo, aflora o que há de mais humano, como os sentimentos, as histórias que contavam para si mesmos quando em vida, os desejos, as faltas e as verdades escondidas.

Foto da recente montagem da peça 'Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Sartre, realizada pelo diretor Marcel Delval em 2017 Foto: Théâtre des Martyrs

Não há condenação às atitudes dos três. Isso é feito entre eles. Embora o inferno seja enfatizado, não há referência ao céu ou outro pós-vida. A dúvida quanto a se alcançar o paraíso celestial permanece. O dualismo céu e inferno sempre foi metafórico. Sartre leva isso ao extremo, permitindo que se projete para a vida o que se vê por conta da semelhança das duas situações. As verdadeiras agruras derivam da convivência. Eis a máxima sartreana “o inferno são os outros”. Não há o desconhecido que justifica, em muitos, o temor à morte. “Cada um de nós é o carrasco dos outros dois”. A fala de Inês é categórica em um inferno sem algozes encapuzados, em formatos bestiais, capazes de sevícias ultrajantes. Isso não é uma visão alegórica, mas, sim, real. Sendo o inferno os outros, pode ele estar em qualquer lugar.

Para Sartre, um dos expoentes da filosofia existencialista, é importante falar sobre a condição humana na constituição do indivíduo. Não existiria uma consciência essencialista, a ponto de ser tão sóbria, capaz de vislumbrar e idealizar um céu – ou mesmo um inferno. Para ele, consciência é uma relação com as coisas ao redor. Por exemplo, nos personagens de Entre Quatro Paredes, não é a beleza de Estelle que encanta Inês, mas, sim, a condição de Inês que faz com que ela veja beleza em Estelle – a inexistência de um espelho a permitir que Estelle contemple, e idealize, a sua beleza é o indicativo disso, pois só se sabe se é realmente bela por meio da reação dos outros.

OsfilósofosJean-Paul Sartree Simone de Beauvoir com estudantes emSão Paulo,03/9/1960 Foto: Acervo/ Estadão

Toda a lógica presente na peça pode ser transposta para os dias de hoje. Não existe uma essência de maldade, ou mesmo de bondade. Essas ideias são construídas a partir das relações dos indivíduos e suas posições no mundo – que podem ser as mais simples. Sendo assim, é impossível fugir do inferno, restando ao sujeito idealizá-lo como algo outro que, a princípio, estaria longe, fora dele, podendo ser evitado a partir de normas a serem seguidas. Entretanto, o inferno está mais perto do que se pensa, com as portas sempre abertas. 

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