Música clássica... E um pouco de tudo

Opinião|Uma conversa com Bryn Terfel


Por João Luiz Sampaio

Pelas contas do baixo-barítono galês Bryn Terfel, duas semanas no Brasil seriam suficientes. "É só escolher um de seus times e fazer o Manchester passar um período intensivo, observando e aprendendo um pouco de malícia, não?" Terfel conversava com o Estado na manhã de segunda - e ainda não havia engolido a derrota para o Barcelona na final da Copa dos Campeões. "É uma questão de treino. Deve ser possível tirar a bola do Messi sem ter que quebrar a perna dele."

Com mais de 1,90m de altura - e aparência de lenhador -, Terfel seria ao menos capaz de assustar no campo o argentino. E não brinca quando o assunto é futebol. As grandes atuações em papéis de Mozart e Wagner lhe deram fama, mas também o fato de que já se recusou mais de uma vez a subir ao palco em dias de jogos importantes. Além do Manchester, tem uma predileção pelo time de Faenol, sua região natal, onde mantém sua fazenda - e de onde nem sempre é fácil tirá-lo. Peter Gelb, diretor do Metropolitan de Nova York e ex-chefão do selo de clássicos da Sony, disse certa vez que poderia torná-lo o maior astro da ópera mundial. "O problema é que ele não quer."

No começo de maio, Terfel subiu ao palco do Metropolitan Opera House para cantar o papel do deus Wotan em A Valquíria, de Wagner, apresentação que foi transmitida pelos cinemas de todo o mundo e voltará às telas no festival de reprises que a MovieMobz, responsável pelas transmissões no Brasil, promove a partir de amanhã. Foi a segunda vez que interpretou o papel, um dos mais difíceis do repertório. A primeira foi em 2004, depois de anos de negociação com o Covent Garden de Londres. Detalhe: na véspera da estreia, o filho de Terfel quebrou o dedo e ele voltou correndo para a fazenda em que vive com a família, cancelando as apresentações, que cumpriu na temporada seguinte.

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Em 2008, em uma rara entrevista ao britânico The Guardian, Terfel, então com 42 anos, já falava em se aposentar. Hoje, diz que já mudou os planos. Mas insiste que é preciso tomar cuidado para não exagerar. "Eu poderia cantar todo dia, e isso vale para outros artistas também. A questão é: para quê? Eu tenho minha família e ela entende minha rotina de viagens. Mas, no final das contas, o fundamental para mim é que meus filhos cresçam ao lado do pai."

Foi com o pai, fazendeiro, que Terfel começou na música. Ele lembra com carinho do vozeirão que não parava de cantarolar melodias tradicionais durante o trabalho no campo. Logo o pequeno Bryn entraria para corais, até que na juventude resolveria seguir carreira no canto. Vem daí, diz, o gosto musical eclético. Artista exclusivo da Deutsche Grammophon, ele já gravou de tudo um pouco, de papeis de Wagner a canções tradicionais galesas, passando pelo mundo dos musicais ingleses e norte-americanos. "Somos um povo musical e, nos corais, cantávamos muita coisa. No fundo, não vale a pena cantar aquilo que significa algo para mim, que mexe com quem sou, não importa o gênero ou se é isso que esperam de mim."

Na ópera, a fama surgiu no começo dos anos 90, com papéis de Mozart. Vieram, então, marcos da ópera alemã - Strauss e, em seguida, Wagner. Um momento importante nesse processo foi o disco gravado em 2003 com o maestro Claudio Abbado, todo dedicado ao autor de Parsifal. "Trabalhar com ele é uma das experiências mais marcantes que um cantor de ópera pode ter. O conhecimento que ele tem de música, de canto, é algo que redefine nosso trabalho. Foi uma experiência forte, tanto quanto foi para mim conhecer Stephen Sondheim."

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É sempre difícil saber quando se está pronto para mudar de repertório, diz Terfel. "Aconteceu com o próprio Wotan. Foram anos dizendo não até eu me sentir pronto para cantá-lo. E, ainda assim, minha primeira Valquíria foi uma experiência horrível por conta da ansiedade, do nervosismo, da expectativa que as pessoas tinham. Só agora começo a me sentir mais confortável no papel e, ainda assim, é claro para mim que ainda não estou totalmente pronto. Você ouviu o tenor Jonas Kauffman na Valquíria do Metropolitan, certo? Uau! E era a primeira vez que cantava o papel! Eu ainda estou caminhando."

Para Terfel, é o repertório germânico que deve marcar os próximos anos de sua carreira, apesar de também cantar óperas de Puccini e Verdi. "Há tanta gente boa, com a voz ideal para esses papéis, como o Roberto Frontali e o Dmitri Hvorostovsky, que seria bobagem eu me meter. Eles vão sempre fazer melhor do que eu." O mesmo, diz, vale para Mahler, de quem ele gravou no início da carreira alguns ciclos de canções. Ele, porém, faz planos para aprender o mítico ciclo Winterreise, de Schubert. "É algo que preciso fazer, me sinto culpado por nunca ter parado para estudá-lo. Mas terei o mês todo de folga em agosto, vou me dedicar a isso."

Terfel passou a última semana em Valência, cantando Tosca sob a regência de Zubin Mehta. Na segunda, enquanto falava ao telefone com o Estado, o maestro pedia ao fundo que ele mandasse lembrança aos brasileiros. "Ele ficou horas falando do Brasil e de como gosta do país", conta Terfel. "Fiquei com vontade de dar um pulo aí. Será que algum teatro se interessaria em programar um simples barítono galês?" Atenção, maestros e diretores: alguém se habilita?

Pelas contas do baixo-barítono galês Bryn Terfel, duas semanas no Brasil seriam suficientes. "É só escolher um de seus times e fazer o Manchester passar um período intensivo, observando e aprendendo um pouco de malícia, não?" Terfel conversava com o Estado na manhã de segunda - e ainda não havia engolido a derrota para o Barcelona na final da Copa dos Campeões. "É uma questão de treino. Deve ser possível tirar a bola do Messi sem ter que quebrar a perna dele."

Com mais de 1,90m de altura - e aparência de lenhador -, Terfel seria ao menos capaz de assustar no campo o argentino. E não brinca quando o assunto é futebol. As grandes atuações em papéis de Mozart e Wagner lhe deram fama, mas também o fato de que já se recusou mais de uma vez a subir ao palco em dias de jogos importantes. Além do Manchester, tem uma predileção pelo time de Faenol, sua região natal, onde mantém sua fazenda - e de onde nem sempre é fácil tirá-lo. Peter Gelb, diretor do Metropolitan de Nova York e ex-chefão do selo de clássicos da Sony, disse certa vez que poderia torná-lo o maior astro da ópera mundial. "O problema é que ele não quer."

No começo de maio, Terfel subiu ao palco do Metropolitan Opera House para cantar o papel do deus Wotan em A Valquíria, de Wagner, apresentação que foi transmitida pelos cinemas de todo o mundo e voltará às telas no festival de reprises que a MovieMobz, responsável pelas transmissões no Brasil, promove a partir de amanhã. Foi a segunda vez que interpretou o papel, um dos mais difíceis do repertório. A primeira foi em 2004, depois de anos de negociação com o Covent Garden de Londres. Detalhe: na véspera da estreia, o filho de Terfel quebrou o dedo e ele voltou correndo para a fazenda em que vive com a família, cancelando as apresentações, que cumpriu na temporada seguinte.

Em 2008, em uma rara entrevista ao britânico The Guardian, Terfel, então com 42 anos, já falava em se aposentar. Hoje, diz que já mudou os planos. Mas insiste que é preciso tomar cuidado para não exagerar. "Eu poderia cantar todo dia, e isso vale para outros artistas também. A questão é: para quê? Eu tenho minha família e ela entende minha rotina de viagens. Mas, no final das contas, o fundamental para mim é que meus filhos cresçam ao lado do pai."

Foi com o pai, fazendeiro, que Terfel começou na música. Ele lembra com carinho do vozeirão que não parava de cantarolar melodias tradicionais durante o trabalho no campo. Logo o pequeno Bryn entraria para corais, até que na juventude resolveria seguir carreira no canto. Vem daí, diz, o gosto musical eclético. Artista exclusivo da Deutsche Grammophon, ele já gravou de tudo um pouco, de papeis de Wagner a canções tradicionais galesas, passando pelo mundo dos musicais ingleses e norte-americanos. "Somos um povo musical e, nos corais, cantávamos muita coisa. No fundo, não vale a pena cantar aquilo que significa algo para mim, que mexe com quem sou, não importa o gênero ou se é isso que esperam de mim."

Na ópera, a fama surgiu no começo dos anos 90, com papéis de Mozart. Vieram, então, marcos da ópera alemã - Strauss e, em seguida, Wagner. Um momento importante nesse processo foi o disco gravado em 2003 com o maestro Claudio Abbado, todo dedicado ao autor de Parsifal. "Trabalhar com ele é uma das experiências mais marcantes que um cantor de ópera pode ter. O conhecimento que ele tem de música, de canto, é algo que redefine nosso trabalho. Foi uma experiência forte, tanto quanto foi para mim conhecer Stephen Sondheim."

É sempre difícil saber quando se está pronto para mudar de repertório, diz Terfel. "Aconteceu com o próprio Wotan. Foram anos dizendo não até eu me sentir pronto para cantá-lo. E, ainda assim, minha primeira Valquíria foi uma experiência horrível por conta da ansiedade, do nervosismo, da expectativa que as pessoas tinham. Só agora começo a me sentir mais confortável no papel e, ainda assim, é claro para mim que ainda não estou totalmente pronto. Você ouviu o tenor Jonas Kauffman na Valquíria do Metropolitan, certo? Uau! E era a primeira vez que cantava o papel! Eu ainda estou caminhando."

Para Terfel, é o repertório germânico que deve marcar os próximos anos de sua carreira, apesar de também cantar óperas de Puccini e Verdi. "Há tanta gente boa, com a voz ideal para esses papéis, como o Roberto Frontali e o Dmitri Hvorostovsky, que seria bobagem eu me meter. Eles vão sempre fazer melhor do que eu." O mesmo, diz, vale para Mahler, de quem ele gravou no início da carreira alguns ciclos de canções. Ele, porém, faz planos para aprender o mítico ciclo Winterreise, de Schubert. "É algo que preciso fazer, me sinto culpado por nunca ter parado para estudá-lo. Mas terei o mês todo de folga em agosto, vou me dedicar a isso."

Terfel passou a última semana em Valência, cantando Tosca sob a regência de Zubin Mehta. Na segunda, enquanto falava ao telefone com o Estado, o maestro pedia ao fundo que ele mandasse lembrança aos brasileiros. "Ele ficou horas falando do Brasil e de como gosta do país", conta Terfel. "Fiquei com vontade de dar um pulo aí. Será que algum teatro se interessaria em programar um simples barítono galês?" Atenção, maestros e diretores: alguém se habilita?

Pelas contas do baixo-barítono galês Bryn Terfel, duas semanas no Brasil seriam suficientes. "É só escolher um de seus times e fazer o Manchester passar um período intensivo, observando e aprendendo um pouco de malícia, não?" Terfel conversava com o Estado na manhã de segunda - e ainda não havia engolido a derrota para o Barcelona na final da Copa dos Campeões. "É uma questão de treino. Deve ser possível tirar a bola do Messi sem ter que quebrar a perna dele."

Com mais de 1,90m de altura - e aparência de lenhador -, Terfel seria ao menos capaz de assustar no campo o argentino. E não brinca quando o assunto é futebol. As grandes atuações em papéis de Mozart e Wagner lhe deram fama, mas também o fato de que já se recusou mais de uma vez a subir ao palco em dias de jogos importantes. Além do Manchester, tem uma predileção pelo time de Faenol, sua região natal, onde mantém sua fazenda - e de onde nem sempre é fácil tirá-lo. Peter Gelb, diretor do Metropolitan de Nova York e ex-chefão do selo de clássicos da Sony, disse certa vez que poderia torná-lo o maior astro da ópera mundial. "O problema é que ele não quer."

No começo de maio, Terfel subiu ao palco do Metropolitan Opera House para cantar o papel do deus Wotan em A Valquíria, de Wagner, apresentação que foi transmitida pelos cinemas de todo o mundo e voltará às telas no festival de reprises que a MovieMobz, responsável pelas transmissões no Brasil, promove a partir de amanhã. Foi a segunda vez que interpretou o papel, um dos mais difíceis do repertório. A primeira foi em 2004, depois de anos de negociação com o Covent Garden de Londres. Detalhe: na véspera da estreia, o filho de Terfel quebrou o dedo e ele voltou correndo para a fazenda em que vive com a família, cancelando as apresentações, que cumpriu na temporada seguinte.

Em 2008, em uma rara entrevista ao britânico The Guardian, Terfel, então com 42 anos, já falava em se aposentar. Hoje, diz que já mudou os planos. Mas insiste que é preciso tomar cuidado para não exagerar. "Eu poderia cantar todo dia, e isso vale para outros artistas também. A questão é: para quê? Eu tenho minha família e ela entende minha rotina de viagens. Mas, no final das contas, o fundamental para mim é que meus filhos cresçam ao lado do pai."

Foi com o pai, fazendeiro, que Terfel começou na música. Ele lembra com carinho do vozeirão que não parava de cantarolar melodias tradicionais durante o trabalho no campo. Logo o pequeno Bryn entraria para corais, até que na juventude resolveria seguir carreira no canto. Vem daí, diz, o gosto musical eclético. Artista exclusivo da Deutsche Grammophon, ele já gravou de tudo um pouco, de papeis de Wagner a canções tradicionais galesas, passando pelo mundo dos musicais ingleses e norte-americanos. "Somos um povo musical e, nos corais, cantávamos muita coisa. No fundo, não vale a pena cantar aquilo que significa algo para mim, que mexe com quem sou, não importa o gênero ou se é isso que esperam de mim."

Na ópera, a fama surgiu no começo dos anos 90, com papéis de Mozart. Vieram, então, marcos da ópera alemã - Strauss e, em seguida, Wagner. Um momento importante nesse processo foi o disco gravado em 2003 com o maestro Claudio Abbado, todo dedicado ao autor de Parsifal. "Trabalhar com ele é uma das experiências mais marcantes que um cantor de ópera pode ter. O conhecimento que ele tem de música, de canto, é algo que redefine nosso trabalho. Foi uma experiência forte, tanto quanto foi para mim conhecer Stephen Sondheim."

É sempre difícil saber quando se está pronto para mudar de repertório, diz Terfel. "Aconteceu com o próprio Wotan. Foram anos dizendo não até eu me sentir pronto para cantá-lo. E, ainda assim, minha primeira Valquíria foi uma experiência horrível por conta da ansiedade, do nervosismo, da expectativa que as pessoas tinham. Só agora começo a me sentir mais confortável no papel e, ainda assim, é claro para mim que ainda não estou totalmente pronto. Você ouviu o tenor Jonas Kauffman na Valquíria do Metropolitan, certo? Uau! E era a primeira vez que cantava o papel! Eu ainda estou caminhando."

Para Terfel, é o repertório germânico que deve marcar os próximos anos de sua carreira, apesar de também cantar óperas de Puccini e Verdi. "Há tanta gente boa, com a voz ideal para esses papéis, como o Roberto Frontali e o Dmitri Hvorostovsky, que seria bobagem eu me meter. Eles vão sempre fazer melhor do que eu." O mesmo, diz, vale para Mahler, de quem ele gravou no início da carreira alguns ciclos de canções. Ele, porém, faz planos para aprender o mítico ciclo Winterreise, de Schubert. "É algo que preciso fazer, me sinto culpado por nunca ter parado para estudá-lo. Mas terei o mês todo de folga em agosto, vou me dedicar a isso."

Terfel passou a última semana em Valência, cantando Tosca sob a regência de Zubin Mehta. Na segunda, enquanto falava ao telefone com o Estado, o maestro pedia ao fundo que ele mandasse lembrança aos brasileiros. "Ele ficou horas falando do Brasil e de como gosta do país", conta Terfel. "Fiquei com vontade de dar um pulo aí. Será que algum teatro se interessaria em programar um simples barítono galês?" Atenção, maestros e diretores: alguém se habilita?

Pelas contas do baixo-barítono galês Bryn Terfel, duas semanas no Brasil seriam suficientes. "É só escolher um de seus times e fazer o Manchester passar um período intensivo, observando e aprendendo um pouco de malícia, não?" Terfel conversava com o Estado na manhã de segunda - e ainda não havia engolido a derrota para o Barcelona na final da Copa dos Campeões. "É uma questão de treino. Deve ser possível tirar a bola do Messi sem ter que quebrar a perna dele."

Com mais de 1,90m de altura - e aparência de lenhador -, Terfel seria ao menos capaz de assustar no campo o argentino. E não brinca quando o assunto é futebol. As grandes atuações em papéis de Mozart e Wagner lhe deram fama, mas também o fato de que já se recusou mais de uma vez a subir ao palco em dias de jogos importantes. Além do Manchester, tem uma predileção pelo time de Faenol, sua região natal, onde mantém sua fazenda - e de onde nem sempre é fácil tirá-lo. Peter Gelb, diretor do Metropolitan de Nova York e ex-chefão do selo de clássicos da Sony, disse certa vez que poderia torná-lo o maior astro da ópera mundial. "O problema é que ele não quer."

No começo de maio, Terfel subiu ao palco do Metropolitan Opera House para cantar o papel do deus Wotan em A Valquíria, de Wagner, apresentação que foi transmitida pelos cinemas de todo o mundo e voltará às telas no festival de reprises que a MovieMobz, responsável pelas transmissões no Brasil, promove a partir de amanhã. Foi a segunda vez que interpretou o papel, um dos mais difíceis do repertório. A primeira foi em 2004, depois de anos de negociação com o Covent Garden de Londres. Detalhe: na véspera da estreia, o filho de Terfel quebrou o dedo e ele voltou correndo para a fazenda em que vive com a família, cancelando as apresentações, que cumpriu na temporada seguinte.

Em 2008, em uma rara entrevista ao britânico The Guardian, Terfel, então com 42 anos, já falava em se aposentar. Hoje, diz que já mudou os planos. Mas insiste que é preciso tomar cuidado para não exagerar. "Eu poderia cantar todo dia, e isso vale para outros artistas também. A questão é: para quê? Eu tenho minha família e ela entende minha rotina de viagens. Mas, no final das contas, o fundamental para mim é que meus filhos cresçam ao lado do pai."

Foi com o pai, fazendeiro, que Terfel começou na música. Ele lembra com carinho do vozeirão que não parava de cantarolar melodias tradicionais durante o trabalho no campo. Logo o pequeno Bryn entraria para corais, até que na juventude resolveria seguir carreira no canto. Vem daí, diz, o gosto musical eclético. Artista exclusivo da Deutsche Grammophon, ele já gravou de tudo um pouco, de papeis de Wagner a canções tradicionais galesas, passando pelo mundo dos musicais ingleses e norte-americanos. "Somos um povo musical e, nos corais, cantávamos muita coisa. No fundo, não vale a pena cantar aquilo que significa algo para mim, que mexe com quem sou, não importa o gênero ou se é isso que esperam de mim."

Na ópera, a fama surgiu no começo dos anos 90, com papéis de Mozart. Vieram, então, marcos da ópera alemã - Strauss e, em seguida, Wagner. Um momento importante nesse processo foi o disco gravado em 2003 com o maestro Claudio Abbado, todo dedicado ao autor de Parsifal. "Trabalhar com ele é uma das experiências mais marcantes que um cantor de ópera pode ter. O conhecimento que ele tem de música, de canto, é algo que redefine nosso trabalho. Foi uma experiência forte, tanto quanto foi para mim conhecer Stephen Sondheim."

É sempre difícil saber quando se está pronto para mudar de repertório, diz Terfel. "Aconteceu com o próprio Wotan. Foram anos dizendo não até eu me sentir pronto para cantá-lo. E, ainda assim, minha primeira Valquíria foi uma experiência horrível por conta da ansiedade, do nervosismo, da expectativa que as pessoas tinham. Só agora começo a me sentir mais confortável no papel e, ainda assim, é claro para mim que ainda não estou totalmente pronto. Você ouviu o tenor Jonas Kauffman na Valquíria do Metropolitan, certo? Uau! E era a primeira vez que cantava o papel! Eu ainda estou caminhando."

Para Terfel, é o repertório germânico que deve marcar os próximos anos de sua carreira, apesar de também cantar óperas de Puccini e Verdi. "Há tanta gente boa, com a voz ideal para esses papéis, como o Roberto Frontali e o Dmitri Hvorostovsky, que seria bobagem eu me meter. Eles vão sempre fazer melhor do que eu." O mesmo, diz, vale para Mahler, de quem ele gravou no início da carreira alguns ciclos de canções. Ele, porém, faz planos para aprender o mítico ciclo Winterreise, de Schubert. "É algo que preciso fazer, me sinto culpado por nunca ter parado para estudá-lo. Mas terei o mês todo de folga em agosto, vou me dedicar a isso."

Terfel passou a última semana em Valência, cantando Tosca sob a regência de Zubin Mehta. Na segunda, enquanto falava ao telefone com o Estado, o maestro pedia ao fundo que ele mandasse lembrança aos brasileiros. "Ele ficou horas falando do Brasil e de como gosta do país", conta Terfel. "Fiquei com vontade de dar um pulo aí. Será que algum teatro se interessaria em programar um simples barítono galês?" Atenção, maestros e diretores: alguém se habilita?

Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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