Crítica e crônica

Grammy de Eliane Elias é vitória do 'aqui e agora' do jazz


A vitória de Eliane Elias no Grammy 2022, mesmo represada na categoria de sentido um tanto enviesado como a de Melhor Álbum de Jazz Latino, não deixa de ter um efeito consagrador a esta paulistana de 62 anos e muita vida diante de um piano. Há, além de tudo, uma boa dose de reverência sentimental na premiação. Antes do trabalho ser concluído, Chick Corea, um dos mestres mediadores do piano transversal e fluido entre o jazz, o erudito e o rock, que nos anos 70 passou a ser chamado de fusion, se foi, deixando Eliane sem chão. O trabalho estava desenhado, com Eliane e Corea tocando leve e densamente quatro temas: Armando's Rhumba, Blue Bossa, Mirror Mirror e There Will Never Be Another You. Com a partida inesperada, Eliane, corajosa, convidou o cubano Chucho Valdés, que ficou com outras três faixas. Corajosa porque, ao contrário das diplomacias de Corea, que sabe ser coadjuvante por ter nascido assim, Chucho é um artefato explosivo de ativação inesperada. Quando arrebenta, é melhor sair de perto.

Por Julio Maria

 

 

E foi o que aconteceu em sua breve mas inevitavelmente centralizadora participação ao lado das sofisticações de Eliane. Corazón Partío, de Alejandro Sanz, é devorada no calor dos improvisos. E cada uma de suas notas, mesmo as mais ágeis, é absolutamente deliciosa. Sabor a Mi, de Álvaro Carrillo, vai pelo mesmo caminho, tornando o convidado, mais uma vez, a grande estrela. Antes das duas, a dupla já havia se encontrado em Esta Tarde Vi Llover, de Armando Manzanero. Apesar dos sumiços de Eliane sobretudo ao lado de Chucho - e talvez só Michel Camilo não sumiria - o Grammy e o álbum, batizado Mirror Mirror, são dela, e isso ninguém tira.

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Mirror Mirror coloca algumas máximas do jazz à prova. Ele é claramente um projeto sem projeto, quase uma jam session entre três pianistas que se portam livres de qualquer proposta transformadora dos temas originais. Antes de tudo, uma profissão de fé no outro e no que será captado ao vivo para virar álbum, sem necessariamente costuras e histórias. Alguns críticos lá de fora derretem-se sem explicar muito seus possíveis exageros: All About Jazz: "Indiscutivelmente um dos melhores álbuns de dueto de jazz já produzidos. Mirror Mirror é um tesouro musical cheio de ouro em pó." Jazzwise: "É um álbum que se instala imediatamente como uma das joias mais brilhantes de sua notável discografia." A Downbeat conseguiu ser mais honesta: "A química entre Eliane Elias, Chucho Valdés e Chick Corea é uma maravilha artística. O estilo de cada indivíduo é fascinante."

Não havia como errar. Ao chamar Chick Corea e, por surpresa ocasionada depois de uma grande tristeza, Chucho Valdés, Eliane Elias conseguiu um equilíbrio pianístico dos mais notáveis. Teve ao lado de suas sutilezas de centro duas linguagens distintas das mais arrebatadoras do piano sempre novo. Mas é bom aproveitar a oportunidade e olhar para aqueles que estavam na mesma categoria e não venceram (o Grammy não deixa de ser um belo serviço de curadoria): o saxofonista Miguel Zenón e o pianista Luis Perdomo, os dois de Porto Rico, fazem uma homenagem magnífica ao gênero maior dos latinos no álbum El Arte del Bolero. Mais explosivo, o pianista mexicano-cubano-estadounidense e um tanto africano Arturo O'Farrill conduz sua Afro Latin Jazz Orchestra no virtuoso e moderno Virtual Birdland. Sensacional. O baterista cubano Dafnis Prieto mostra seu sexteto no álbum Transparency, com muito de música brasileira nas entre pautas. E o baixista de pais de Porto Rico, Carlos Henriquez, que toca desde os 19 anos com a Jazz at Lincoln Center Orchestra, de Wynton Marsalis, merecia de fato um grande prêmio: The South Bronx Story fez a crítica lá de fora imaginar Charles Mingus ao ouvi-lo. "O mais importante artista de jazz latino da cidade de Nova York hoje, herdeiro do legado de Tito Puente", escreveu um crítico emocionado da revista Jazz. Seu álbum, cheio de improvisos e arranjos para grandes formações, faz uma retrospectiva musical da história social do South Bronx.

 

 

E foi o que aconteceu em sua breve mas inevitavelmente centralizadora participação ao lado das sofisticações de Eliane. Corazón Partío, de Alejandro Sanz, é devorada no calor dos improvisos. E cada uma de suas notas, mesmo as mais ágeis, é absolutamente deliciosa. Sabor a Mi, de Álvaro Carrillo, vai pelo mesmo caminho, tornando o convidado, mais uma vez, a grande estrela. Antes das duas, a dupla já havia se encontrado em Esta Tarde Vi Llover, de Armando Manzanero. Apesar dos sumiços de Eliane sobretudo ao lado de Chucho - e talvez só Michel Camilo não sumiria - o Grammy e o álbum, batizado Mirror Mirror, são dela, e isso ninguém tira.

Mirror Mirror coloca algumas máximas do jazz à prova. Ele é claramente um projeto sem projeto, quase uma jam session entre três pianistas que se portam livres de qualquer proposta transformadora dos temas originais. Antes de tudo, uma profissão de fé no outro e no que será captado ao vivo para virar álbum, sem necessariamente costuras e histórias. Alguns críticos lá de fora derretem-se sem explicar muito seus possíveis exageros: All About Jazz: "Indiscutivelmente um dos melhores álbuns de dueto de jazz já produzidos. Mirror Mirror é um tesouro musical cheio de ouro em pó." Jazzwise: "É um álbum que se instala imediatamente como uma das joias mais brilhantes de sua notável discografia." A Downbeat conseguiu ser mais honesta: "A química entre Eliane Elias, Chucho Valdés e Chick Corea é uma maravilha artística. O estilo de cada indivíduo é fascinante."

Não havia como errar. Ao chamar Chick Corea e, por surpresa ocasionada depois de uma grande tristeza, Chucho Valdés, Eliane Elias conseguiu um equilíbrio pianístico dos mais notáveis. Teve ao lado de suas sutilezas de centro duas linguagens distintas das mais arrebatadoras do piano sempre novo. Mas é bom aproveitar a oportunidade e olhar para aqueles que estavam na mesma categoria e não venceram (o Grammy não deixa de ser um belo serviço de curadoria): o saxofonista Miguel Zenón e o pianista Luis Perdomo, os dois de Porto Rico, fazem uma homenagem magnífica ao gênero maior dos latinos no álbum El Arte del Bolero. Mais explosivo, o pianista mexicano-cubano-estadounidense e um tanto africano Arturo O'Farrill conduz sua Afro Latin Jazz Orchestra no virtuoso e moderno Virtual Birdland. Sensacional. O baterista cubano Dafnis Prieto mostra seu sexteto no álbum Transparency, com muito de música brasileira nas entre pautas. E o baixista de pais de Porto Rico, Carlos Henriquez, que toca desde os 19 anos com a Jazz at Lincoln Center Orchestra, de Wynton Marsalis, merecia de fato um grande prêmio: The South Bronx Story fez a crítica lá de fora imaginar Charles Mingus ao ouvi-lo. "O mais importante artista de jazz latino da cidade de Nova York hoje, herdeiro do legado de Tito Puente", escreveu um crítico emocionado da revista Jazz. Seu álbum, cheio de improvisos e arranjos para grandes formações, faz uma retrospectiva musical da história social do South Bronx.

 

 

E foi o que aconteceu em sua breve mas inevitavelmente centralizadora participação ao lado das sofisticações de Eliane. Corazón Partío, de Alejandro Sanz, é devorada no calor dos improvisos. E cada uma de suas notas, mesmo as mais ágeis, é absolutamente deliciosa. Sabor a Mi, de Álvaro Carrillo, vai pelo mesmo caminho, tornando o convidado, mais uma vez, a grande estrela. Antes das duas, a dupla já havia se encontrado em Esta Tarde Vi Llover, de Armando Manzanero. Apesar dos sumiços de Eliane sobretudo ao lado de Chucho - e talvez só Michel Camilo não sumiria - o Grammy e o álbum, batizado Mirror Mirror, são dela, e isso ninguém tira.

Mirror Mirror coloca algumas máximas do jazz à prova. Ele é claramente um projeto sem projeto, quase uma jam session entre três pianistas que se portam livres de qualquer proposta transformadora dos temas originais. Antes de tudo, uma profissão de fé no outro e no que será captado ao vivo para virar álbum, sem necessariamente costuras e histórias. Alguns críticos lá de fora derretem-se sem explicar muito seus possíveis exageros: All About Jazz: "Indiscutivelmente um dos melhores álbuns de dueto de jazz já produzidos. Mirror Mirror é um tesouro musical cheio de ouro em pó." Jazzwise: "É um álbum que se instala imediatamente como uma das joias mais brilhantes de sua notável discografia." A Downbeat conseguiu ser mais honesta: "A química entre Eliane Elias, Chucho Valdés e Chick Corea é uma maravilha artística. O estilo de cada indivíduo é fascinante."

Não havia como errar. Ao chamar Chick Corea e, por surpresa ocasionada depois de uma grande tristeza, Chucho Valdés, Eliane Elias conseguiu um equilíbrio pianístico dos mais notáveis. Teve ao lado de suas sutilezas de centro duas linguagens distintas das mais arrebatadoras do piano sempre novo. Mas é bom aproveitar a oportunidade e olhar para aqueles que estavam na mesma categoria e não venceram (o Grammy não deixa de ser um belo serviço de curadoria): o saxofonista Miguel Zenón e o pianista Luis Perdomo, os dois de Porto Rico, fazem uma homenagem magnífica ao gênero maior dos latinos no álbum El Arte del Bolero. Mais explosivo, o pianista mexicano-cubano-estadounidense e um tanto africano Arturo O'Farrill conduz sua Afro Latin Jazz Orchestra no virtuoso e moderno Virtual Birdland. Sensacional. O baterista cubano Dafnis Prieto mostra seu sexteto no álbum Transparency, com muito de música brasileira nas entre pautas. E o baixista de pais de Porto Rico, Carlos Henriquez, que toca desde os 19 anos com a Jazz at Lincoln Center Orchestra, de Wynton Marsalis, merecia de fato um grande prêmio: The South Bronx Story fez a crítica lá de fora imaginar Charles Mingus ao ouvi-lo. "O mais importante artista de jazz latino da cidade de Nova York hoje, herdeiro do legado de Tito Puente", escreveu um crítico emocionado da revista Jazz. Seu álbum, cheio de improvisos e arranjos para grandes formações, faz uma retrospectiva musical da história social do South Bronx.

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