Coluna semanal do historiador Leandro Karnal, com crônicas e textos sobre ética, religião, comportamento e atualidades

Opinião|Sabedoria rápida


Aforismos resumem muita coisa em sentenças curtas. São os haicais da Moral, Filosofia e Ciência

Por Leandro Karnal
Atualização:

Os gregos usavam o conceito de definição breve, do qual deriva nossa palavra aforismo. Hipócrates, o pai da medicina, dizia no seu primeiro aforismo: “A vida é breve, a arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganosa, o julgamento difícil”. O médico da ilha de Cós sintetizou muito em poucas palavras. A tradição latina resumiu ainda mais: Ars Longa, Vita Brevis (o total de conhecimentos supera o tempo de uma vida, sempre).  Aforismos fazem sucesso, pois resumem muita coisa em sentenças curtas. São os haicais da Moral, da Filosofia e da Ciência. Nassim Nicholas Taleb (1960) resolveu reunir muitos na obra: A Cama de Procusto – Aforismos Filosóficos e Práticos (ed. Objetiva). 

A escultura grega 'Higéia Com Eros'. Foto: ED VIGGIANI/AE

O intelectual de origem libanesa, formação francesa e vida profissional nos EUA é homem de engenho raro. Ficou conhecido entre nós pelo livro A Lógica do Cisne Negro (The Black Swan, 2007) e, também, pela obra Antifrágil (Antifragile: Things That Gain from Disorder, 2012). Sua análise enfatiza muito sobre a volatilidade e o imprevisto e como devemos trabalhar para obter benefícios a partir disso.  Os aforismos trazem um pouco da frônese, a sabedoria prática. O texto desconfia do campo especulativo e sobram frases contra o mundo acadêmico tradicional. Alguns exemplos? “A educação torna o sábio ligeiramente mais sábio, mas torna o tolo tremendamente mais perigoso.” “Só dá para saber com certeza se uma pessoa é babaca quando ela fica rica.” “A polêmica é uma lucrativa forma de entretenimento, uma vez que a mídia pode empregar atores não remunerados e ferozmente motivados.” “Quando as pessoas o chamam de inteligente, quase sempre é porque concordam com você. Caso contrário, chamam você de arrogante.” O título deriva do mito do malvado Damastes, conhecido como Procusto, que cortava ou esticava pessoas para adequá-las a um leito. Como ele diz na introdução, cada aforismo diz respeito a uma cama de Procusto, pois, diante do invisível e do imprevisível, nós resolvemos a tensão “espremendo a vida e o mundo em ideias comoditizadas e concisas, categorias reducionistas, vocabulários específicos e narrativas pré-empacotadas, que têm consequências explosivas”.  Taleb é muito observador. Identifica um mundo de molduras e conceitos engessados que funcionam como um alfaiate que, tendo feito centenas de ajustes na roupa, exulta quando o produto final serve perfeitamente, esquecendo-se de tudo que foi mudado para que tal ocorresse. Jogar fora o leito fixo de Procusto é uma esperança boa

Os gregos usavam o conceito de definição breve, do qual deriva nossa palavra aforismo. Hipócrates, o pai da medicina, dizia no seu primeiro aforismo: “A vida é breve, a arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganosa, o julgamento difícil”. O médico da ilha de Cós sintetizou muito em poucas palavras. A tradição latina resumiu ainda mais: Ars Longa, Vita Brevis (o total de conhecimentos supera o tempo de uma vida, sempre).  Aforismos fazem sucesso, pois resumem muita coisa em sentenças curtas. São os haicais da Moral, da Filosofia e da Ciência. Nassim Nicholas Taleb (1960) resolveu reunir muitos na obra: A Cama de Procusto – Aforismos Filosóficos e Práticos (ed. Objetiva). 

A escultura grega 'Higéia Com Eros'. Foto: ED VIGGIANI/AE

O intelectual de origem libanesa, formação francesa e vida profissional nos EUA é homem de engenho raro. Ficou conhecido entre nós pelo livro A Lógica do Cisne Negro (The Black Swan, 2007) e, também, pela obra Antifrágil (Antifragile: Things That Gain from Disorder, 2012). Sua análise enfatiza muito sobre a volatilidade e o imprevisto e como devemos trabalhar para obter benefícios a partir disso.  Os aforismos trazem um pouco da frônese, a sabedoria prática. O texto desconfia do campo especulativo e sobram frases contra o mundo acadêmico tradicional. Alguns exemplos? “A educação torna o sábio ligeiramente mais sábio, mas torna o tolo tremendamente mais perigoso.” “Só dá para saber com certeza se uma pessoa é babaca quando ela fica rica.” “A polêmica é uma lucrativa forma de entretenimento, uma vez que a mídia pode empregar atores não remunerados e ferozmente motivados.” “Quando as pessoas o chamam de inteligente, quase sempre é porque concordam com você. Caso contrário, chamam você de arrogante.” O título deriva do mito do malvado Damastes, conhecido como Procusto, que cortava ou esticava pessoas para adequá-las a um leito. Como ele diz na introdução, cada aforismo diz respeito a uma cama de Procusto, pois, diante do invisível e do imprevisível, nós resolvemos a tensão “espremendo a vida e o mundo em ideias comoditizadas e concisas, categorias reducionistas, vocabulários específicos e narrativas pré-empacotadas, que têm consequências explosivas”.  Taleb é muito observador. Identifica um mundo de molduras e conceitos engessados que funcionam como um alfaiate que, tendo feito centenas de ajustes na roupa, exulta quando o produto final serve perfeitamente, esquecendo-se de tudo que foi mudado para que tal ocorresse. Jogar fora o leito fixo de Procusto é uma esperança boa

Os gregos usavam o conceito de definição breve, do qual deriva nossa palavra aforismo. Hipócrates, o pai da medicina, dizia no seu primeiro aforismo: “A vida é breve, a arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganosa, o julgamento difícil”. O médico da ilha de Cós sintetizou muito em poucas palavras. A tradição latina resumiu ainda mais: Ars Longa, Vita Brevis (o total de conhecimentos supera o tempo de uma vida, sempre).  Aforismos fazem sucesso, pois resumem muita coisa em sentenças curtas. São os haicais da Moral, da Filosofia e da Ciência. Nassim Nicholas Taleb (1960) resolveu reunir muitos na obra: A Cama de Procusto – Aforismos Filosóficos e Práticos (ed. Objetiva). 

A escultura grega 'Higéia Com Eros'. Foto: ED VIGGIANI/AE

O intelectual de origem libanesa, formação francesa e vida profissional nos EUA é homem de engenho raro. Ficou conhecido entre nós pelo livro A Lógica do Cisne Negro (The Black Swan, 2007) e, também, pela obra Antifrágil (Antifragile: Things That Gain from Disorder, 2012). Sua análise enfatiza muito sobre a volatilidade e o imprevisto e como devemos trabalhar para obter benefícios a partir disso.  Os aforismos trazem um pouco da frônese, a sabedoria prática. O texto desconfia do campo especulativo e sobram frases contra o mundo acadêmico tradicional. Alguns exemplos? “A educação torna o sábio ligeiramente mais sábio, mas torna o tolo tremendamente mais perigoso.” “Só dá para saber com certeza se uma pessoa é babaca quando ela fica rica.” “A polêmica é uma lucrativa forma de entretenimento, uma vez que a mídia pode empregar atores não remunerados e ferozmente motivados.” “Quando as pessoas o chamam de inteligente, quase sempre é porque concordam com você. Caso contrário, chamam você de arrogante.” O título deriva do mito do malvado Damastes, conhecido como Procusto, que cortava ou esticava pessoas para adequá-las a um leito. Como ele diz na introdução, cada aforismo diz respeito a uma cama de Procusto, pois, diante do invisível e do imprevisível, nós resolvemos a tensão “espremendo a vida e o mundo em ideias comoditizadas e concisas, categorias reducionistas, vocabulários específicos e narrativas pré-empacotadas, que têm consequências explosivas”.  Taleb é muito observador. Identifica um mundo de molduras e conceitos engessados que funcionam como um alfaiate que, tendo feito centenas de ajustes na roupa, exulta quando o produto final serve perfeitamente, esquecendo-se de tudo que foi mudado para que tal ocorresse. Jogar fora o leito fixo de Procusto é uma esperança boa

Opinião por Leandro Karnal

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.