Leia com orgulho: Dez leituras para celebrar autores e histórias LGBT+


De clássicos como Christopher Isherwood e Thomas Mann, a contemporâneos como Pauline Delabroy-Allard, Camila Sosa Villada, Leonardo Piana e Garth Greenwell

Por Matheus Lopes Quirino

O Mês do Orgulho LGBT+, a cada ano, traz bem-vindas novidades. Novos livros entram para o catálogo, autores estreantes e reedições se tornam indispensáveis para conhecer outros mundos, cenários como a capital da Bulgária ou o subúrbio carioca que mostram a realidade de personagens historicamente marginalizados. Ambientados em diferentes épocas, territórios, com prosadores dos mais distintos estilos, o Aliás indica dez obras essenciais para ler com orgulho. 

UM HOMEM SÓ 

Christopher Isherwood (1904 – 1986) foi um dos maiores escritores ingleses do século 20. Escreveu romances que foram adaptados para o cinema, como Adeus a Berlim, que virou o clássico Cabaret, a Um Homem Só, que acompanha um dia na vida de um professor de literatura em um processo de angústia latente. George Falconer perdeu o companheiro de longa data e se vê em um nebuloso processo de decidir o que vai fazer com a própria vida, pensando, inclusive, na morte. O romance foi ao cinema pelas mãos do diretor Tom Ford, com Colin Firth como protagonista. Primoroso.

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Na adaptação cinematográfica do romance de Isherwood, o humor do protagonista é regulado nas tomadas de cores do diretor Foto: Icon

SISMÓGRAFO 

Sismógrafo leva o leitor a uma passagem essencial da vida: a descoberta do primeiro amor. A partida é, na verdade, a volta, pois Eduardo retorna a Andradas, cidadezinha do sul mineiro, e rebobina as memórias que viveu com Tomás, por quem se apaixonou na adolescência. Livro de estreia de Leonardo Piana, que ganhou o prêmio literário da Cidade de Belo Horizonte, o romance revela uma prosa madura, com descrições viscerais sobre como o jovem vai constituindo seus afetos. 

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O AMOR DOS HOMENS AVULSOS 

O Amor dos Homens Avulsos é o segundo romance do escritor carioca Victor Heringer, morto precocemente aos 29 anos. Heringer trabalha com as linhas da memória do narrador Camilo ao descrever o dia-dia com Cosme, menino apadrinhado pelo pai. Nasce uma trama de meninos ambientada no bairro fictício do Queím, subúrbio carioca, onde o amor se revela infante em meio a partidas de bola em terra batida.

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O último romance de Victor Heringer concorreu aos principais prêmios literários em 2017 Foto: Ismar Tirelli

 

O QUE TE PERTENCE 

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O que te Pertence não é uma trama doce como os romances acima, mas revela a vida vertiginosa de um dos protagonistas, Mitko, que surge pela primeira vez em um conto de Garth Greenwell sobre a história de um professor de literatura em Sófia, na Bulgária, e sua relação conturbada com o jovem. Nesse universo de inseguranças, surge uma relação improvável que vai testar os limites do americano, após esbarrar em Mitko em um banheiro público

MORTE EM VENEZA 

Quando se pensa em Thomas Mann (1875 – 1955), Morte em Veneza é um dos romances mais lidos do autor, talvez supere até o temível A Montanha Mágica. A trama acompanha o escritor Gustav von Aschenbach que chega à cidade portuária enquanto vive um intenso bloqueio criativo. Ritmado pelo movimento Adagietto da 5ª Sinfonia de Mahler, Aschenbach se dá conta da obra de arte que tem à vista, a palmos de distância: o jovem Tadzio. Um clássico do cinema de Visconti. 

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'Morte em Veneza'. Adaptação da obra de Thomas Mann é obra-prima Foto: Warner

OS ÓCULOS DE OURO

O Dr. Fadigati é uma figura admirada na cidade de Ferrara, onde tem um consultório em uma das avenidas mais pomposas. Solteirão, os vizinhos fazem suposições da vida íntima do homem, que, para evitar escândalos, vive com absoluta discrição, raramente sendo visto na companhia de um amigo. Ponto alto na carreira literária de Giorgio Bassani (1916 - 2000), o burburinho passado na coxia da alta sociedade local cresce em paralelo ao Fascismo. 

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ENTRE QUATRO PAREDES

Jean-Paul Sartre (1905 -- 1980) ambienta no inferno uma de suas peças mais conhecidas, Entre Quatro Paredes, que reúne três "pecadores" em um modesto quartinho. Curiosa metáfora da condição de três personas non gratas para a época: uma mulher pomposa, um militante libertário e uma lésbica com aversão a homens, eles terão de aturar um ao outro. Enquanto isso, no mundo terreno, a Segunda Guerra Mundial avançava pela Europa, o inferno são os outros, mesmo.

Foto da recente montagem da peça 'Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Sartre, realizada pelo diretor Marcel Delval em 2017 Foto: Théâtre des Martyrs

O QUARTO DE GIOVANNI

David está em Paris à espera da namorada, com a cabeça nas nuvens. Ele pensa se deve ou não se casar mas, no meio do caminho, conhece Giovanni, um garçom italiano por quem tem afeição imediata. A partir daí, o americano vai conhecer a cena boêmia da capital francesa e precisa ponderar sobre a entrega do intenso Giovanni. Ao lado de Terra Estranha, O Quarto de Giovanni se tornou uma leitura indispensavel da obra de James Baldwin (1924 - 1987). 

O PARQUE DAS IRMÃS MAGNÍFICAS

A argentina Camila Sosa Villada que foi acolhida no Parque Sarmiento, um dos pontos de prostituição onde vivem travestis na cidade de Córdoba e, a partir dessa experiência, sua vida mudou. Em O Parque das Irmãs Magníficas, a autora traça um romance detalhando as vivências das personagens que vivem da noite e misturando vivências, conto de fadas, tensão e ativismo.

A escritora argentina Camila Sosa Villada, autora do livro 'O Parque das Irmãs Magníficas' Foto: Maíra Palacios

SARAH É ISSO

A pacata vida da narradora de Sarah é isso, da francesa Pauline Delabroy-Allard, é revirada quando ela se apaixona por outra mulher. Com sua tremenda vivacidade, Sarah oferece à protagonista uma paixão avassaladora, que em certos tons beira a obsessão. A poeticidade do romance fragmentário o aproxima ainda do célebre O Amante, de Marguerite Duras. (Giovana Proença)

O Mês do Orgulho LGBT+, a cada ano, traz bem-vindas novidades. Novos livros entram para o catálogo, autores estreantes e reedições se tornam indispensáveis para conhecer outros mundos, cenários como a capital da Bulgária ou o subúrbio carioca que mostram a realidade de personagens historicamente marginalizados. Ambientados em diferentes épocas, territórios, com prosadores dos mais distintos estilos, o Aliás indica dez obras essenciais para ler com orgulho. 

UM HOMEM SÓ 

Christopher Isherwood (1904 – 1986) foi um dos maiores escritores ingleses do século 20. Escreveu romances que foram adaptados para o cinema, como Adeus a Berlim, que virou o clássico Cabaret, a Um Homem Só, que acompanha um dia na vida de um professor de literatura em um processo de angústia latente. George Falconer perdeu o companheiro de longa data e se vê em um nebuloso processo de decidir o que vai fazer com a própria vida, pensando, inclusive, na morte. O romance foi ao cinema pelas mãos do diretor Tom Ford, com Colin Firth como protagonista. Primoroso.

Na adaptação cinematográfica do romance de Isherwood, o humor do protagonista é regulado nas tomadas de cores do diretor Foto: Icon

SISMÓGRAFO 

Sismógrafo leva o leitor a uma passagem essencial da vida: a descoberta do primeiro amor. A partida é, na verdade, a volta, pois Eduardo retorna a Andradas, cidadezinha do sul mineiro, e rebobina as memórias que viveu com Tomás, por quem se apaixonou na adolescência. Livro de estreia de Leonardo Piana, que ganhou o prêmio literário da Cidade de Belo Horizonte, o romance revela uma prosa madura, com descrições viscerais sobre como o jovem vai constituindo seus afetos. 

 

O AMOR DOS HOMENS AVULSOS 

O Amor dos Homens Avulsos é o segundo romance do escritor carioca Victor Heringer, morto precocemente aos 29 anos. Heringer trabalha com as linhas da memória do narrador Camilo ao descrever o dia-dia com Cosme, menino apadrinhado pelo pai. Nasce uma trama de meninos ambientada no bairro fictício do Queím, subúrbio carioca, onde o amor se revela infante em meio a partidas de bola em terra batida.

O último romance de Victor Heringer concorreu aos principais prêmios literários em 2017 Foto: Ismar Tirelli

 

O QUE TE PERTENCE 

O que te Pertence não é uma trama doce como os romances acima, mas revela a vida vertiginosa de um dos protagonistas, Mitko, que surge pela primeira vez em um conto de Garth Greenwell sobre a história de um professor de literatura em Sófia, na Bulgária, e sua relação conturbada com o jovem. Nesse universo de inseguranças, surge uma relação improvável que vai testar os limites do americano, após esbarrar em Mitko em um banheiro público

MORTE EM VENEZA 

Quando se pensa em Thomas Mann (1875 – 1955), Morte em Veneza é um dos romances mais lidos do autor, talvez supere até o temível A Montanha Mágica. A trama acompanha o escritor Gustav von Aschenbach que chega à cidade portuária enquanto vive um intenso bloqueio criativo. Ritmado pelo movimento Adagietto da 5ª Sinfonia de Mahler, Aschenbach se dá conta da obra de arte que tem à vista, a palmos de distância: o jovem Tadzio. Um clássico do cinema de Visconti. 

'Morte em Veneza'. Adaptação da obra de Thomas Mann é obra-prima Foto: Warner

OS ÓCULOS DE OURO

O Dr. Fadigati é uma figura admirada na cidade de Ferrara, onde tem um consultório em uma das avenidas mais pomposas. Solteirão, os vizinhos fazem suposições da vida íntima do homem, que, para evitar escândalos, vive com absoluta discrição, raramente sendo visto na companhia de um amigo. Ponto alto na carreira literária de Giorgio Bassani (1916 - 2000), o burburinho passado na coxia da alta sociedade local cresce em paralelo ao Fascismo. 

ENTRE QUATRO PAREDES

Jean-Paul Sartre (1905 -- 1980) ambienta no inferno uma de suas peças mais conhecidas, Entre Quatro Paredes, que reúne três "pecadores" em um modesto quartinho. Curiosa metáfora da condição de três personas non gratas para a época: uma mulher pomposa, um militante libertário e uma lésbica com aversão a homens, eles terão de aturar um ao outro. Enquanto isso, no mundo terreno, a Segunda Guerra Mundial avançava pela Europa, o inferno são os outros, mesmo.

Foto da recente montagem da peça 'Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Sartre, realizada pelo diretor Marcel Delval em 2017 Foto: Théâtre des Martyrs

O QUARTO DE GIOVANNI

David está em Paris à espera da namorada, com a cabeça nas nuvens. Ele pensa se deve ou não se casar mas, no meio do caminho, conhece Giovanni, um garçom italiano por quem tem afeição imediata. A partir daí, o americano vai conhecer a cena boêmia da capital francesa e precisa ponderar sobre a entrega do intenso Giovanni. Ao lado de Terra Estranha, O Quarto de Giovanni se tornou uma leitura indispensavel da obra de James Baldwin (1924 - 1987). 

O PARQUE DAS IRMÃS MAGNÍFICAS

A argentina Camila Sosa Villada que foi acolhida no Parque Sarmiento, um dos pontos de prostituição onde vivem travestis na cidade de Córdoba e, a partir dessa experiência, sua vida mudou. Em O Parque das Irmãs Magníficas, a autora traça um romance detalhando as vivências das personagens que vivem da noite e misturando vivências, conto de fadas, tensão e ativismo.

A escritora argentina Camila Sosa Villada, autora do livro 'O Parque das Irmãs Magníficas' Foto: Maíra Palacios

SARAH É ISSO

A pacata vida da narradora de Sarah é isso, da francesa Pauline Delabroy-Allard, é revirada quando ela se apaixona por outra mulher. Com sua tremenda vivacidade, Sarah oferece à protagonista uma paixão avassaladora, que em certos tons beira a obsessão. A poeticidade do romance fragmentário o aproxima ainda do célebre O Amante, de Marguerite Duras. (Giovana Proença)

O Mês do Orgulho LGBT+, a cada ano, traz bem-vindas novidades. Novos livros entram para o catálogo, autores estreantes e reedições se tornam indispensáveis para conhecer outros mundos, cenários como a capital da Bulgária ou o subúrbio carioca que mostram a realidade de personagens historicamente marginalizados. Ambientados em diferentes épocas, territórios, com prosadores dos mais distintos estilos, o Aliás indica dez obras essenciais para ler com orgulho. 

UM HOMEM SÓ 

Christopher Isherwood (1904 – 1986) foi um dos maiores escritores ingleses do século 20. Escreveu romances que foram adaptados para o cinema, como Adeus a Berlim, que virou o clássico Cabaret, a Um Homem Só, que acompanha um dia na vida de um professor de literatura em um processo de angústia latente. George Falconer perdeu o companheiro de longa data e se vê em um nebuloso processo de decidir o que vai fazer com a própria vida, pensando, inclusive, na morte. O romance foi ao cinema pelas mãos do diretor Tom Ford, com Colin Firth como protagonista. Primoroso.

Na adaptação cinematográfica do romance de Isherwood, o humor do protagonista é regulado nas tomadas de cores do diretor Foto: Icon

SISMÓGRAFO 

Sismógrafo leva o leitor a uma passagem essencial da vida: a descoberta do primeiro amor. A partida é, na verdade, a volta, pois Eduardo retorna a Andradas, cidadezinha do sul mineiro, e rebobina as memórias que viveu com Tomás, por quem se apaixonou na adolescência. Livro de estreia de Leonardo Piana, que ganhou o prêmio literário da Cidade de Belo Horizonte, o romance revela uma prosa madura, com descrições viscerais sobre como o jovem vai constituindo seus afetos. 

 

O AMOR DOS HOMENS AVULSOS 

O Amor dos Homens Avulsos é o segundo romance do escritor carioca Victor Heringer, morto precocemente aos 29 anos. Heringer trabalha com as linhas da memória do narrador Camilo ao descrever o dia-dia com Cosme, menino apadrinhado pelo pai. Nasce uma trama de meninos ambientada no bairro fictício do Queím, subúrbio carioca, onde o amor se revela infante em meio a partidas de bola em terra batida.

O último romance de Victor Heringer concorreu aos principais prêmios literários em 2017 Foto: Ismar Tirelli

 

O QUE TE PERTENCE 

O que te Pertence não é uma trama doce como os romances acima, mas revela a vida vertiginosa de um dos protagonistas, Mitko, que surge pela primeira vez em um conto de Garth Greenwell sobre a história de um professor de literatura em Sófia, na Bulgária, e sua relação conturbada com o jovem. Nesse universo de inseguranças, surge uma relação improvável que vai testar os limites do americano, após esbarrar em Mitko em um banheiro público

MORTE EM VENEZA 

Quando se pensa em Thomas Mann (1875 – 1955), Morte em Veneza é um dos romances mais lidos do autor, talvez supere até o temível A Montanha Mágica. A trama acompanha o escritor Gustav von Aschenbach que chega à cidade portuária enquanto vive um intenso bloqueio criativo. Ritmado pelo movimento Adagietto da 5ª Sinfonia de Mahler, Aschenbach se dá conta da obra de arte que tem à vista, a palmos de distância: o jovem Tadzio. Um clássico do cinema de Visconti. 

'Morte em Veneza'. Adaptação da obra de Thomas Mann é obra-prima Foto: Warner

OS ÓCULOS DE OURO

O Dr. Fadigati é uma figura admirada na cidade de Ferrara, onde tem um consultório em uma das avenidas mais pomposas. Solteirão, os vizinhos fazem suposições da vida íntima do homem, que, para evitar escândalos, vive com absoluta discrição, raramente sendo visto na companhia de um amigo. Ponto alto na carreira literária de Giorgio Bassani (1916 - 2000), o burburinho passado na coxia da alta sociedade local cresce em paralelo ao Fascismo. 

ENTRE QUATRO PAREDES

Jean-Paul Sartre (1905 -- 1980) ambienta no inferno uma de suas peças mais conhecidas, Entre Quatro Paredes, que reúne três "pecadores" em um modesto quartinho. Curiosa metáfora da condição de três personas non gratas para a época: uma mulher pomposa, um militante libertário e uma lésbica com aversão a homens, eles terão de aturar um ao outro. Enquanto isso, no mundo terreno, a Segunda Guerra Mundial avançava pela Europa, o inferno são os outros, mesmo.

Foto da recente montagem da peça 'Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Sartre, realizada pelo diretor Marcel Delval em 2017 Foto: Théâtre des Martyrs

O QUARTO DE GIOVANNI

David está em Paris à espera da namorada, com a cabeça nas nuvens. Ele pensa se deve ou não se casar mas, no meio do caminho, conhece Giovanni, um garçom italiano por quem tem afeição imediata. A partir daí, o americano vai conhecer a cena boêmia da capital francesa e precisa ponderar sobre a entrega do intenso Giovanni. Ao lado de Terra Estranha, O Quarto de Giovanni se tornou uma leitura indispensavel da obra de James Baldwin (1924 - 1987). 

O PARQUE DAS IRMÃS MAGNÍFICAS

A argentina Camila Sosa Villada que foi acolhida no Parque Sarmiento, um dos pontos de prostituição onde vivem travestis na cidade de Córdoba e, a partir dessa experiência, sua vida mudou. Em O Parque das Irmãs Magníficas, a autora traça um romance detalhando as vivências das personagens que vivem da noite e misturando vivências, conto de fadas, tensão e ativismo.

A escritora argentina Camila Sosa Villada, autora do livro 'O Parque das Irmãs Magníficas' Foto: Maíra Palacios

SARAH É ISSO

A pacata vida da narradora de Sarah é isso, da francesa Pauline Delabroy-Allard, é revirada quando ela se apaixona por outra mulher. Com sua tremenda vivacidade, Sarah oferece à protagonista uma paixão avassaladora, que em certos tons beira a obsessão. A poeticidade do romance fragmentário o aproxima ainda do célebre O Amante, de Marguerite Duras. (Giovana Proença)

O Mês do Orgulho LGBT+, a cada ano, traz bem-vindas novidades. Novos livros entram para o catálogo, autores estreantes e reedições se tornam indispensáveis para conhecer outros mundos, cenários como a capital da Bulgária ou o subúrbio carioca que mostram a realidade de personagens historicamente marginalizados. Ambientados em diferentes épocas, territórios, com prosadores dos mais distintos estilos, o Aliás indica dez obras essenciais para ler com orgulho. 

UM HOMEM SÓ 

Christopher Isherwood (1904 – 1986) foi um dos maiores escritores ingleses do século 20. Escreveu romances que foram adaptados para o cinema, como Adeus a Berlim, que virou o clássico Cabaret, a Um Homem Só, que acompanha um dia na vida de um professor de literatura em um processo de angústia latente. George Falconer perdeu o companheiro de longa data e se vê em um nebuloso processo de decidir o que vai fazer com a própria vida, pensando, inclusive, na morte. O romance foi ao cinema pelas mãos do diretor Tom Ford, com Colin Firth como protagonista. Primoroso.

Na adaptação cinematográfica do romance de Isherwood, o humor do protagonista é regulado nas tomadas de cores do diretor Foto: Icon

SISMÓGRAFO 

Sismógrafo leva o leitor a uma passagem essencial da vida: a descoberta do primeiro amor. A partida é, na verdade, a volta, pois Eduardo retorna a Andradas, cidadezinha do sul mineiro, e rebobina as memórias que viveu com Tomás, por quem se apaixonou na adolescência. Livro de estreia de Leonardo Piana, que ganhou o prêmio literário da Cidade de Belo Horizonte, o romance revela uma prosa madura, com descrições viscerais sobre como o jovem vai constituindo seus afetos. 

 

O AMOR DOS HOMENS AVULSOS 

O Amor dos Homens Avulsos é o segundo romance do escritor carioca Victor Heringer, morto precocemente aos 29 anos. Heringer trabalha com as linhas da memória do narrador Camilo ao descrever o dia-dia com Cosme, menino apadrinhado pelo pai. Nasce uma trama de meninos ambientada no bairro fictício do Queím, subúrbio carioca, onde o amor se revela infante em meio a partidas de bola em terra batida.

O último romance de Victor Heringer concorreu aos principais prêmios literários em 2017 Foto: Ismar Tirelli

 

O QUE TE PERTENCE 

O que te Pertence não é uma trama doce como os romances acima, mas revela a vida vertiginosa de um dos protagonistas, Mitko, que surge pela primeira vez em um conto de Garth Greenwell sobre a história de um professor de literatura em Sófia, na Bulgária, e sua relação conturbada com o jovem. Nesse universo de inseguranças, surge uma relação improvável que vai testar os limites do americano, após esbarrar em Mitko em um banheiro público

MORTE EM VENEZA 

Quando se pensa em Thomas Mann (1875 – 1955), Morte em Veneza é um dos romances mais lidos do autor, talvez supere até o temível A Montanha Mágica. A trama acompanha o escritor Gustav von Aschenbach que chega à cidade portuária enquanto vive um intenso bloqueio criativo. Ritmado pelo movimento Adagietto da 5ª Sinfonia de Mahler, Aschenbach se dá conta da obra de arte que tem à vista, a palmos de distância: o jovem Tadzio. Um clássico do cinema de Visconti. 

'Morte em Veneza'. Adaptação da obra de Thomas Mann é obra-prima Foto: Warner

OS ÓCULOS DE OURO

O Dr. Fadigati é uma figura admirada na cidade de Ferrara, onde tem um consultório em uma das avenidas mais pomposas. Solteirão, os vizinhos fazem suposições da vida íntima do homem, que, para evitar escândalos, vive com absoluta discrição, raramente sendo visto na companhia de um amigo. Ponto alto na carreira literária de Giorgio Bassani (1916 - 2000), o burburinho passado na coxia da alta sociedade local cresce em paralelo ao Fascismo. 

ENTRE QUATRO PAREDES

Jean-Paul Sartre (1905 -- 1980) ambienta no inferno uma de suas peças mais conhecidas, Entre Quatro Paredes, que reúne três "pecadores" em um modesto quartinho. Curiosa metáfora da condição de três personas non gratas para a época: uma mulher pomposa, um militante libertário e uma lésbica com aversão a homens, eles terão de aturar um ao outro. Enquanto isso, no mundo terreno, a Segunda Guerra Mundial avançava pela Europa, o inferno são os outros, mesmo.

Foto da recente montagem da peça 'Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Sartre, realizada pelo diretor Marcel Delval em 2017 Foto: Théâtre des Martyrs

O QUARTO DE GIOVANNI

David está em Paris à espera da namorada, com a cabeça nas nuvens. Ele pensa se deve ou não se casar mas, no meio do caminho, conhece Giovanni, um garçom italiano por quem tem afeição imediata. A partir daí, o americano vai conhecer a cena boêmia da capital francesa e precisa ponderar sobre a entrega do intenso Giovanni. Ao lado de Terra Estranha, O Quarto de Giovanni se tornou uma leitura indispensavel da obra de James Baldwin (1924 - 1987). 

O PARQUE DAS IRMÃS MAGNÍFICAS

A argentina Camila Sosa Villada que foi acolhida no Parque Sarmiento, um dos pontos de prostituição onde vivem travestis na cidade de Córdoba e, a partir dessa experiência, sua vida mudou. Em O Parque das Irmãs Magníficas, a autora traça um romance detalhando as vivências das personagens que vivem da noite e misturando vivências, conto de fadas, tensão e ativismo.

A escritora argentina Camila Sosa Villada, autora do livro 'O Parque das Irmãs Magníficas' Foto: Maíra Palacios

SARAH É ISSO

A pacata vida da narradora de Sarah é isso, da francesa Pauline Delabroy-Allard, é revirada quando ela se apaixona por outra mulher. Com sua tremenda vivacidade, Sarah oferece à protagonista uma paixão avassaladora, que em certos tons beira a obsessão. A poeticidade do romance fragmentário o aproxima ainda do célebre O Amante, de Marguerite Duras. (Giovana Proença)

O Mês do Orgulho LGBT+, a cada ano, traz bem-vindas novidades. Novos livros entram para o catálogo, autores estreantes e reedições se tornam indispensáveis para conhecer outros mundos, cenários como a capital da Bulgária ou o subúrbio carioca que mostram a realidade de personagens historicamente marginalizados. Ambientados em diferentes épocas, territórios, com prosadores dos mais distintos estilos, o Aliás indica dez obras essenciais para ler com orgulho. 

UM HOMEM SÓ 

Christopher Isherwood (1904 – 1986) foi um dos maiores escritores ingleses do século 20. Escreveu romances que foram adaptados para o cinema, como Adeus a Berlim, que virou o clássico Cabaret, a Um Homem Só, que acompanha um dia na vida de um professor de literatura em um processo de angústia latente. George Falconer perdeu o companheiro de longa data e se vê em um nebuloso processo de decidir o que vai fazer com a própria vida, pensando, inclusive, na morte. O romance foi ao cinema pelas mãos do diretor Tom Ford, com Colin Firth como protagonista. Primoroso.

Na adaptação cinematográfica do romance de Isherwood, o humor do protagonista é regulado nas tomadas de cores do diretor Foto: Icon

SISMÓGRAFO 

Sismógrafo leva o leitor a uma passagem essencial da vida: a descoberta do primeiro amor. A partida é, na verdade, a volta, pois Eduardo retorna a Andradas, cidadezinha do sul mineiro, e rebobina as memórias que viveu com Tomás, por quem se apaixonou na adolescência. Livro de estreia de Leonardo Piana, que ganhou o prêmio literário da Cidade de Belo Horizonte, o romance revela uma prosa madura, com descrições viscerais sobre como o jovem vai constituindo seus afetos. 

 

O AMOR DOS HOMENS AVULSOS 

O Amor dos Homens Avulsos é o segundo romance do escritor carioca Victor Heringer, morto precocemente aos 29 anos. Heringer trabalha com as linhas da memória do narrador Camilo ao descrever o dia-dia com Cosme, menino apadrinhado pelo pai. Nasce uma trama de meninos ambientada no bairro fictício do Queím, subúrbio carioca, onde o amor se revela infante em meio a partidas de bola em terra batida.

O último romance de Victor Heringer concorreu aos principais prêmios literários em 2017 Foto: Ismar Tirelli

 

O QUE TE PERTENCE 

O que te Pertence não é uma trama doce como os romances acima, mas revela a vida vertiginosa de um dos protagonistas, Mitko, que surge pela primeira vez em um conto de Garth Greenwell sobre a história de um professor de literatura em Sófia, na Bulgária, e sua relação conturbada com o jovem. Nesse universo de inseguranças, surge uma relação improvável que vai testar os limites do americano, após esbarrar em Mitko em um banheiro público

MORTE EM VENEZA 

Quando se pensa em Thomas Mann (1875 – 1955), Morte em Veneza é um dos romances mais lidos do autor, talvez supere até o temível A Montanha Mágica. A trama acompanha o escritor Gustav von Aschenbach que chega à cidade portuária enquanto vive um intenso bloqueio criativo. Ritmado pelo movimento Adagietto da 5ª Sinfonia de Mahler, Aschenbach se dá conta da obra de arte que tem à vista, a palmos de distância: o jovem Tadzio. Um clássico do cinema de Visconti. 

'Morte em Veneza'. Adaptação da obra de Thomas Mann é obra-prima Foto: Warner

OS ÓCULOS DE OURO

O Dr. Fadigati é uma figura admirada na cidade de Ferrara, onde tem um consultório em uma das avenidas mais pomposas. Solteirão, os vizinhos fazem suposições da vida íntima do homem, que, para evitar escândalos, vive com absoluta discrição, raramente sendo visto na companhia de um amigo. Ponto alto na carreira literária de Giorgio Bassani (1916 - 2000), o burburinho passado na coxia da alta sociedade local cresce em paralelo ao Fascismo. 

ENTRE QUATRO PAREDES

Jean-Paul Sartre (1905 -- 1980) ambienta no inferno uma de suas peças mais conhecidas, Entre Quatro Paredes, que reúne três "pecadores" em um modesto quartinho. Curiosa metáfora da condição de três personas non gratas para a época: uma mulher pomposa, um militante libertário e uma lésbica com aversão a homens, eles terão de aturar um ao outro. Enquanto isso, no mundo terreno, a Segunda Guerra Mundial avançava pela Europa, o inferno são os outros, mesmo.

Foto da recente montagem da peça 'Entre Quatro Paredes" (Huis Clos) de Sartre, realizada pelo diretor Marcel Delval em 2017 Foto: Théâtre des Martyrs

O QUARTO DE GIOVANNI

David está em Paris à espera da namorada, com a cabeça nas nuvens. Ele pensa se deve ou não se casar mas, no meio do caminho, conhece Giovanni, um garçom italiano por quem tem afeição imediata. A partir daí, o americano vai conhecer a cena boêmia da capital francesa e precisa ponderar sobre a entrega do intenso Giovanni. Ao lado de Terra Estranha, O Quarto de Giovanni se tornou uma leitura indispensavel da obra de James Baldwin (1924 - 1987). 

O PARQUE DAS IRMÃS MAGNÍFICAS

A argentina Camila Sosa Villada que foi acolhida no Parque Sarmiento, um dos pontos de prostituição onde vivem travestis na cidade de Córdoba e, a partir dessa experiência, sua vida mudou. Em O Parque das Irmãs Magníficas, a autora traça um romance detalhando as vivências das personagens que vivem da noite e misturando vivências, conto de fadas, tensão e ativismo.

A escritora argentina Camila Sosa Villada, autora do livro 'O Parque das Irmãs Magníficas' Foto: Maíra Palacios

SARAH É ISSO

A pacata vida da narradora de Sarah é isso, da francesa Pauline Delabroy-Allard, é revirada quando ela se apaixona por outra mulher. Com sua tremenda vivacidade, Sarah oferece à protagonista uma paixão avassaladora, que em certos tons beira a obsessão. A poeticidade do romance fragmentário o aproxima ainda do célebre O Amante, de Marguerite Duras. (Giovana Proença)

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