'A Balada Literária não se conforma: parte para a ação, afirmação e enfrentamento', diz curador


Marcelino Freire fala sobre a Balada Literária 2020, que abre sua 15ª edição online e em homenagem à escritora Geni Guimarães

Por Maria Fernanda Rodrigues
Geni Guimarães, homenageada da Balada Literária, fala a partir de casa, em Barra Bonita Foto: Nuna Nunes

A Balada Literária abre nesta quinta-feira, 3, sua 15.ª edição - a primeira sem os tradicionais encontros por espaços cuturais e bares da Vila Madadena. Vai ser online por causa do coronavírus, como a maioria dos eventos deste ano. Até segunda, 7, haverá conversas com autores, exibição de filmes, saraus, rodas de samba e cursos, tudo de forma gratuita.

A Balada Literária 2020 homenageia a escritora e professora Geni Guimarães, que, de sua casa em Barra Bonita, participa de uma conversa na noite desta quinta, 3, às 19h, com a cineasta Day Rodrigues, a bibliotecária Bel Santos Mayer e a escritora Conceição Evaristo. A programação será aberta com a exibição do documentário que Day fez sobre a autora de A Cor da Ternura. Geni, aliás, lança em novembro, pela Malê, um inédito de poesias. A editora também vai resgatar outras duas importantes obras da escritora nascida em São Manuel em 1947: O Terceiro Filho, de 1979, e Balé das Emoções, de 1993. E a editora aguarda os originais de um livro de contos, que ela está preparando.

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Geni volta ao palco, na verdade, à tela, na segunda, 7, às 16h, para uma conversa com a escritora indígena Eliane Potiguara.

Marcelino Freire com Nelson Macae Wellington Soares Foto: Tiago Queiiroz/Estadão

Sobre a Balada Literária, o escritor Marcelino Freire, seu idealizador, respondeu por e-mail às seguintes perguntas.

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O que ganha e o que perde a Balada em 2020, ao ser realizada online?

A Balada perde aquele abraço apertado, aquela fraternidade que é a marca da Balada. Perde o bar, a batata frita conjunta. Perde o bater perna, de um espaço para o outro. Os escritores em grupo indo atrás do sanduíche de pernil lá do centro. Perde o toque no ombro que o leitor dar em seu autor preferido, ali coladinho a ele. A Balada quis perder a esperança, mas a gente não deixou. Mas olhe: estamos chamando a Balada virtual de Balada "presencial" sim. Estaremos presentes na casa de cada um e cada uma. Geni Guimarães, nossa homenageada, vai falar direto da sala dela em Barra Bonita, interior de São Paulo. Conceição Evaristo ao lado de sua estante de livros. Está emocionante esta edição. É uma edição propositiva. Uma décima quinta edição difícil de fazer, porque estamos atravessados por um a pandemia e por uma peste de desgoverno. Estamos baqueados, sofrendo com a morte de muita gente. Uma Balada, que mesmo abalada, não se conforma, vai e parte para a ação, para a afirmação, para o enfrentamento. Estamos saindo dela transformados, eu e toda a equipe. Não cruzamos os braços. Fomos para a atitude. Não é uma edição feita para constar, fazer por fazer apenas. É uma edição renovada de forças. Necessária, revolucionária, política.

Não tem limite de público, certo?

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Pessoas de todo o Brasil e de fora do Brasil vão poder acompanhar. E olha que coisa curiosa: a Balada sempre quis abraçar todo mundo, na medida de nossas possibilidades. Por exemplo: desde 2017 a Balada Literária começa por Teresina, no Piauí. Graças ao professor e curador de lá, Wellington Soares. Existe desde 2015 em Salvador graças ao poeta, e também professor, Nelson Maca. Trazemos, desde de sempre, convidados de várias partes do Brasil. A Balada é de todos e todas. Todo mundo misturado. Agora, em 2020, ainda mais misturado. Alargamos o que há de mais "humano" na Balada: o encontro, o afeto. No ano passado, a gente recebeu presencialmente mediadores de leitura de Rio Branco, Porto Velho, Tocantins. Continuaremos com eles. Eles vieram agora também. Gravaram suas participações em celulares. Outra: a Balada nunca teve grana para gravar as atrações, as mesas (só algumas). O registro da Balada é feito pelo coração. Agora a Balada estará toda no ar. Vai virar um acervo para consulta infinita. E creia: a Balada não perderá o sentimento por causa dessas novas ferramentas. Ela só estará transmitindo o sentimento. A Balada é de verdade. Não é fake, entende?

De que forma a programação deve refletir o mundo à nossa volta e o momento que estamos vivendo?

Estamos afirmando, com essa Balada, o nosso abraço solidário. Explico: os anfitriões e anfitriãs de cada atração são técnicos de som, maquiadores, camareiras. Profissionais que ficaram descobertos pela pandemia. Temos pouco dinheiro, mas o pouco que temos vamos dividir com eles. A gente divide o que não tem. Meça a generosidade de uma pessoa quando ela divide o que não tem. Porque quem tem geralmente não divide... Também pensamos em quem está em casa sem "aula presencial". Retomamos o formato das "aulas", que ficou consagrado no ano passado, na edição em que homenageamos Paulo Freire. Abriremos a Balada Literária 2020 com uma aula sobre a literatura piauiense. Vamos ter aula idem sobre a poesia negra feita na Bahia. O audiovisual, pensamos nele igualmente. Haverá três documentários exclusivos. Feito cada um sobre um homenageado. A cineasta Day Rodrigues vai exibir um doc feito sobre Geni Guimarães. Ricardo Soares traz um filme exclusivo sobre o cantor e compositor Juraci Tavares, homenageado na Bahia. E o homenageado do Piauí, Douglas Machado, dirigiu com Márcio Bigly uma autonarrativa sobre a sua trajetória. Teremos a cineasta gaúcha Camila de Moraes falando da cena de diretoras negras em nosso cinema. O show de abertura será com a cantora caruaruense Gabi da Pele Preta... É muita coisa. A Balada virou um canal de atrações. É só entrar no site e assistir com a gente. Isso é uma resposta que nós damos a esse tempo que requer respostas assim: efetivas. Sinceras, urgentes.

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Por que Geni Guimarães?

Geni Guimarães já esteve na Balada Literária em 2011. Voltou no ano passado, onde aceitou a homenagem para este ano. Aí chegou 2020 e veio a pandemia. Eu, Wellington e Maca mantivemos as datas que estavam programadas. Tudo porque queríamos celebrar a Geni. Não seria na hora de a Geni receber nossa homenagem que iríamos falhar. Uma poeta que é a própria poesia. Uma poeta da grandeza da Geni não merecia a nossa covardia. Uma história inteira de devoção à palavra. Uma mulher do interior de São Paulo, professora a vida toda. Uma autora negra, celebrada faz tempo pelos movimentos e cadernos negros, mas negligenciada por muita gente que diz defender a literatura. Qual literatura defendem? Conceição Evaristo, amiga de Geni, sempre cita Geni e demais parceiras que estão com ela nessa luta, faz tempo, para escrever, publicar livros, ter um pouco de paz na construção de suas obras. Conhecemos, por acaso, uma outra mulher Guimarães chamada Ruth? Ruth Guimarães faz centenário neste mesmo ano de Cabral e Clarice Lispector. Por que não se conhece mais Ruth, Adão Ventura (o centenário dele foi no ano passado)? Aliás, uma vez comentaram comigo: você traz para a Balada Caetano Veloso, Adélia Prado, Ney Matogrosso, mas traz, na maioria, muitos autores e artistas que a gente não conhece. E por que não vêm conhecer? A Balada é uma festa feita por pessoas, não por editores e códigos de barra. Desde o começo, a Balada tenta ser plural, múltipla, das mais diversas frentes de batalha. Dos mais diversos gêneros sexuais e literários. Escolher Geni é dizer de que lado estamos. De que lado queremos estar. Aliás, vale ressaltar que de 4 a 27 de setembro acontecerá a FeliZs, Festa Literária da Zona Sul. Estamos do lado da FeliZs. Somos coirmãs dessa mesma força motriz.

O que esperar da Balada da Balada? Uma característica da Balada sempre foi a gente encerrar a noite em uma roda de samba, em um show de rap, de reggae. Era um jeito de a gente se irmanar ainda mais. Daí a Balada da Balada. Vai ser via zoom. Vamos, a cada noite, fazer uma roda para assistir, cada um em seu casulo, poetas se apresentarem. Vêm para a Balada dois poetas africanos na primeira noite dessa união virtual. Na sexta, Daniel Minchoni e Eveline Sin reunirão autores para soltar o verbo, no que eles estão chamando de uma performance "bailin". No sábado, não pode faltar o nosso já tradicional Sarau Transversal, apresentado por Ed Marte e Renato Negrão. A cena LGBTQI+ sempre esteve presente no evento - já homenageamos Rogéria, por exemplo. E, no domingo, encerramos com um encontro, apresentado pela escritora Morgana Kretzmann, só entre escritoras que virão lan&cc edil;ar e falar de seus livros. Os leitores e leitoras vão pode acompanhar, cada um com seu copo na mão. E o coração aquecido. Isso é tornar o mundo possível outra vez. É a literatura conectada em outras linhas de comunicação. Para terminar, teremos uma mesa de glosa composta só de mulheres poetas do Sertão do Pajeú, em Pernambuco. Mais poesia, mais mulheres. Geni, em tudo que aí está, nos fortalece e nos inspirará.

Geni Guimarães, homenageada da Balada Literária, fala a partir de casa, em Barra Bonita Foto: Nuna Nunes

A Balada Literária abre nesta quinta-feira, 3, sua 15.ª edição - a primeira sem os tradicionais encontros por espaços cuturais e bares da Vila Madadena. Vai ser online por causa do coronavírus, como a maioria dos eventos deste ano. Até segunda, 7, haverá conversas com autores, exibição de filmes, saraus, rodas de samba e cursos, tudo de forma gratuita.

A Balada Literária 2020 homenageia a escritora e professora Geni Guimarães, que, de sua casa em Barra Bonita, participa de uma conversa na noite desta quinta, 3, às 19h, com a cineasta Day Rodrigues, a bibliotecária Bel Santos Mayer e a escritora Conceição Evaristo. A programação será aberta com a exibição do documentário que Day fez sobre a autora de A Cor da Ternura. Geni, aliás, lança em novembro, pela Malê, um inédito de poesias. A editora também vai resgatar outras duas importantes obras da escritora nascida em São Manuel em 1947: O Terceiro Filho, de 1979, e Balé das Emoções, de 1993. E a editora aguarda os originais de um livro de contos, que ela está preparando.

Geni volta ao palco, na verdade, à tela, na segunda, 7, às 16h, para uma conversa com a escritora indígena Eliane Potiguara.

Marcelino Freire com Nelson Macae Wellington Soares Foto: Tiago Queiiroz/Estadão

Sobre a Balada Literária, o escritor Marcelino Freire, seu idealizador, respondeu por e-mail às seguintes perguntas.

O que ganha e o que perde a Balada em 2020, ao ser realizada online?

A Balada perde aquele abraço apertado, aquela fraternidade que é a marca da Balada. Perde o bar, a batata frita conjunta. Perde o bater perna, de um espaço para o outro. Os escritores em grupo indo atrás do sanduíche de pernil lá do centro. Perde o toque no ombro que o leitor dar em seu autor preferido, ali coladinho a ele. A Balada quis perder a esperança, mas a gente não deixou. Mas olhe: estamos chamando a Balada virtual de Balada "presencial" sim. Estaremos presentes na casa de cada um e cada uma. Geni Guimarães, nossa homenageada, vai falar direto da sala dela em Barra Bonita, interior de São Paulo. Conceição Evaristo ao lado de sua estante de livros. Está emocionante esta edição. É uma edição propositiva. Uma décima quinta edição difícil de fazer, porque estamos atravessados por um a pandemia e por uma peste de desgoverno. Estamos baqueados, sofrendo com a morte de muita gente. Uma Balada, que mesmo abalada, não se conforma, vai e parte para a ação, para a afirmação, para o enfrentamento. Estamos saindo dela transformados, eu e toda a equipe. Não cruzamos os braços. Fomos para a atitude. Não é uma edição feita para constar, fazer por fazer apenas. É uma edição renovada de forças. Necessária, revolucionária, política.

Não tem limite de público, certo?

Pessoas de todo o Brasil e de fora do Brasil vão poder acompanhar. E olha que coisa curiosa: a Balada sempre quis abraçar todo mundo, na medida de nossas possibilidades. Por exemplo: desde 2017 a Balada Literária começa por Teresina, no Piauí. Graças ao professor e curador de lá, Wellington Soares. Existe desde 2015 em Salvador graças ao poeta, e também professor, Nelson Maca. Trazemos, desde de sempre, convidados de várias partes do Brasil. A Balada é de todos e todas. Todo mundo misturado. Agora, em 2020, ainda mais misturado. Alargamos o que há de mais "humano" na Balada: o encontro, o afeto. No ano passado, a gente recebeu presencialmente mediadores de leitura de Rio Branco, Porto Velho, Tocantins. Continuaremos com eles. Eles vieram agora também. Gravaram suas participações em celulares. Outra: a Balada nunca teve grana para gravar as atrações, as mesas (só algumas). O registro da Balada é feito pelo coração. Agora a Balada estará toda no ar. Vai virar um acervo para consulta infinita. E creia: a Balada não perderá o sentimento por causa dessas novas ferramentas. Ela só estará transmitindo o sentimento. A Balada é de verdade. Não é fake, entende?

De que forma a programação deve refletir o mundo à nossa volta e o momento que estamos vivendo?

Estamos afirmando, com essa Balada, o nosso abraço solidário. Explico: os anfitriões e anfitriãs de cada atração são técnicos de som, maquiadores, camareiras. Profissionais que ficaram descobertos pela pandemia. Temos pouco dinheiro, mas o pouco que temos vamos dividir com eles. A gente divide o que não tem. Meça a generosidade de uma pessoa quando ela divide o que não tem. Porque quem tem geralmente não divide... Também pensamos em quem está em casa sem "aula presencial". Retomamos o formato das "aulas", que ficou consagrado no ano passado, na edição em que homenageamos Paulo Freire. Abriremos a Balada Literária 2020 com uma aula sobre a literatura piauiense. Vamos ter aula idem sobre a poesia negra feita na Bahia. O audiovisual, pensamos nele igualmente. Haverá três documentários exclusivos. Feito cada um sobre um homenageado. A cineasta Day Rodrigues vai exibir um doc feito sobre Geni Guimarães. Ricardo Soares traz um filme exclusivo sobre o cantor e compositor Juraci Tavares, homenageado na Bahia. E o homenageado do Piauí, Douglas Machado, dirigiu com Márcio Bigly uma autonarrativa sobre a sua trajetória. Teremos a cineasta gaúcha Camila de Moraes falando da cena de diretoras negras em nosso cinema. O show de abertura será com a cantora caruaruense Gabi da Pele Preta... É muita coisa. A Balada virou um canal de atrações. É só entrar no site e assistir com a gente. Isso é uma resposta que nós damos a esse tempo que requer respostas assim: efetivas. Sinceras, urgentes.

Por que Geni Guimarães?

Geni Guimarães já esteve na Balada Literária em 2011. Voltou no ano passado, onde aceitou a homenagem para este ano. Aí chegou 2020 e veio a pandemia. Eu, Wellington e Maca mantivemos as datas que estavam programadas. Tudo porque queríamos celebrar a Geni. Não seria na hora de a Geni receber nossa homenagem que iríamos falhar. Uma poeta que é a própria poesia. Uma poeta da grandeza da Geni não merecia a nossa covardia. Uma história inteira de devoção à palavra. Uma mulher do interior de São Paulo, professora a vida toda. Uma autora negra, celebrada faz tempo pelos movimentos e cadernos negros, mas negligenciada por muita gente que diz defender a literatura. Qual literatura defendem? Conceição Evaristo, amiga de Geni, sempre cita Geni e demais parceiras que estão com ela nessa luta, faz tempo, para escrever, publicar livros, ter um pouco de paz na construção de suas obras. Conhecemos, por acaso, uma outra mulher Guimarães chamada Ruth? Ruth Guimarães faz centenário neste mesmo ano de Cabral e Clarice Lispector. Por que não se conhece mais Ruth, Adão Ventura (o centenário dele foi no ano passado)? Aliás, uma vez comentaram comigo: você traz para a Balada Caetano Veloso, Adélia Prado, Ney Matogrosso, mas traz, na maioria, muitos autores e artistas que a gente não conhece. E por que não vêm conhecer? A Balada é uma festa feita por pessoas, não por editores e códigos de barra. Desde o começo, a Balada tenta ser plural, múltipla, das mais diversas frentes de batalha. Dos mais diversos gêneros sexuais e literários. Escolher Geni é dizer de que lado estamos. De que lado queremos estar. Aliás, vale ressaltar que de 4 a 27 de setembro acontecerá a FeliZs, Festa Literária da Zona Sul. Estamos do lado da FeliZs. Somos coirmãs dessa mesma força motriz.

O que esperar da Balada da Balada? Uma característica da Balada sempre foi a gente encerrar a noite em uma roda de samba, em um show de rap, de reggae. Era um jeito de a gente se irmanar ainda mais. Daí a Balada da Balada. Vai ser via zoom. Vamos, a cada noite, fazer uma roda para assistir, cada um em seu casulo, poetas se apresentarem. Vêm para a Balada dois poetas africanos na primeira noite dessa união virtual. Na sexta, Daniel Minchoni e Eveline Sin reunirão autores para soltar o verbo, no que eles estão chamando de uma performance "bailin". No sábado, não pode faltar o nosso já tradicional Sarau Transversal, apresentado por Ed Marte e Renato Negrão. A cena LGBTQI+ sempre esteve presente no evento - já homenageamos Rogéria, por exemplo. E, no domingo, encerramos com um encontro, apresentado pela escritora Morgana Kretzmann, só entre escritoras que virão lan&cc edil;ar e falar de seus livros. Os leitores e leitoras vão pode acompanhar, cada um com seu copo na mão. E o coração aquecido. Isso é tornar o mundo possível outra vez. É a literatura conectada em outras linhas de comunicação. Para terminar, teremos uma mesa de glosa composta só de mulheres poetas do Sertão do Pajeú, em Pernambuco. Mais poesia, mais mulheres. Geni, em tudo que aí está, nos fortalece e nos inspirará.

Geni Guimarães, homenageada da Balada Literária, fala a partir de casa, em Barra Bonita Foto: Nuna Nunes

A Balada Literária abre nesta quinta-feira, 3, sua 15.ª edição - a primeira sem os tradicionais encontros por espaços cuturais e bares da Vila Madadena. Vai ser online por causa do coronavírus, como a maioria dos eventos deste ano. Até segunda, 7, haverá conversas com autores, exibição de filmes, saraus, rodas de samba e cursos, tudo de forma gratuita.

A Balada Literária 2020 homenageia a escritora e professora Geni Guimarães, que, de sua casa em Barra Bonita, participa de uma conversa na noite desta quinta, 3, às 19h, com a cineasta Day Rodrigues, a bibliotecária Bel Santos Mayer e a escritora Conceição Evaristo. A programação será aberta com a exibição do documentário que Day fez sobre a autora de A Cor da Ternura. Geni, aliás, lança em novembro, pela Malê, um inédito de poesias. A editora também vai resgatar outras duas importantes obras da escritora nascida em São Manuel em 1947: O Terceiro Filho, de 1979, e Balé das Emoções, de 1993. E a editora aguarda os originais de um livro de contos, que ela está preparando.

Geni volta ao palco, na verdade, à tela, na segunda, 7, às 16h, para uma conversa com a escritora indígena Eliane Potiguara.

Marcelino Freire com Nelson Macae Wellington Soares Foto: Tiago Queiiroz/Estadão

Sobre a Balada Literária, o escritor Marcelino Freire, seu idealizador, respondeu por e-mail às seguintes perguntas.

O que ganha e o que perde a Balada em 2020, ao ser realizada online?

A Balada perde aquele abraço apertado, aquela fraternidade que é a marca da Balada. Perde o bar, a batata frita conjunta. Perde o bater perna, de um espaço para o outro. Os escritores em grupo indo atrás do sanduíche de pernil lá do centro. Perde o toque no ombro que o leitor dar em seu autor preferido, ali coladinho a ele. A Balada quis perder a esperança, mas a gente não deixou. Mas olhe: estamos chamando a Balada virtual de Balada "presencial" sim. Estaremos presentes na casa de cada um e cada uma. Geni Guimarães, nossa homenageada, vai falar direto da sala dela em Barra Bonita, interior de São Paulo. Conceição Evaristo ao lado de sua estante de livros. Está emocionante esta edição. É uma edição propositiva. Uma décima quinta edição difícil de fazer, porque estamos atravessados por um a pandemia e por uma peste de desgoverno. Estamos baqueados, sofrendo com a morte de muita gente. Uma Balada, que mesmo abalada, não se conforma, vai e parte para a ação, para a afirmação, para o enfrentamento. Estamos saindo dela transformados, eu e toda a equipe. Não cruzamos os braços. Fomos para a atitude. Não é uma edição feita para constar, fazer por fazer apenas. É uma edição renovada de forças. Necessária, revolucionária, política.

Não tem limite de público, certo?

Pessoas de todo o Brasil e de fora do Brasil vão poder acompanhar. E olha que coisa curiosa: a Balada sempre quis abraçar todo mundo, na medida de nossas possibilidades. Por exemplo: desde 2017 a Balada Literária começa por Teresina, no Piauí. Graças ao professor e curador de lá, Wellington Soares. Existe desde 2015 em Salvador graças ao poeta, e também professor, Nelson Maca. Trazemos, desde de sempre, convidados de várias partes do Brasil. A Balada é de todos e todas. Todo mundo misturado. Agora, em 2020, ainda mais misturado. Alargamos o que há de mais "humano" na Balada: o encontro, o afeto. No ano passado, a gente recebeu presencialmente mediadores de leitura de Rio Branco, Porto Velho, Tocantins. Continuaremos com eles. Eles vieram agora também. Gravaram suas participações em celulares. Outra: a Balada nunca teve grana para gravar as atrações, as mesas (só algumas). O registro da Balada é feito pelo coração. Agora a Balada estará toda no ar. Vai virar um acervo para consulta infinita. E creia: a Balada não perderá o sentimento por causa dessas novas ferramentas. Ela só estará transmitindo o sentimento. A Balada é de verdade. Não é fake, entende?

De que forma a programação deve refletir o mundo à nossa volta e o momento que estamos vivendo?

Estamos afirmando, com essa Balada, o nosso abraço solidário. Explico: os anfitriões e anfitriãs de cada atração são técnicos de som, maquiadores, camareiras. Profissionais que ficaram descobertos pela pandemia. Temos pouco dinheiro, mas o pouco que temos vamos dividir com eles. A gente divide o que não tem. Meça a generosidade de uma pessoa quando ela divide o que não tem. Porque quem tem geralmente não divide... Também pensamos em quem está em casa sem "aula presencial". Retomamos o formato das "aulas", que ficou consagrado no ano passado, na edição em que homenageamos Paulo Freire. Abriremos a Balada Literária 2020 com uma aula sobre a literatura piauiense. Vamos ter aula idem sobre a poesia negra feita na Bahia. O audiovisual, pensamos nele igualmente. Haverá três documentários exclusivos. Feito cada um sobre um homenageado. A cineasta Day Rodrigues vai exibir um doc feito sobre Geni Guimarães. Ricardo Soares traz um filme exclusivo sobre o cantor e compositor Juraci Tavares, homenageado na Bahia. E o homenageado do Piauí, Douglas Machado, dirigiu com Márcio Bigly uma autonarrativa sobre a sua trajetória. Teremos a cineasta gaúcha Camila de Moraes falando da cena de diretoras negras em nosso cinema. O show de abertura será com a cantora caruaruense Gabi da Pele Preta... É muita coisa. A Balada virou um canal de atrações. É só entrar no site e assistir com a gente. Isso é uma resposta que nós damos a esse tempo que requer respostas assim: efetivas. Sinceras, urgentes.

Por que Geni Guimarães?

Geni Guimarães já esteve na Balada Literária em 2011. Voltou no ano passado, onde aceitou a homenagem para este ano. Aí chegou 2020 e veio a pandemia. Eu, Wellington e Maca mantivemos as datas que estavam programadas. Tudo porque queríamos celebrar a Geni. Não seria na hora de a Geni receber nossa homenagem que iríamos falhar. Uma poeta que é a própria poesia. Uma poeta da grandeza da Geni não merecia a nossa covardia. Uma história inteira de devoção à palavra. Uma mulher do interior de São Paulo, professora a vida toda. Uma autora negra, celebrada faz tempo pelos movimentos e cadernos negros, mas negligenciada por muita gente que diz defender a literatura. Qual literatura defendem? Conceição Evaristo, amiga de Geni, sempre cita Geni e demais parceiras que estão com ela nessa luta, faz tempo, para escrever, publicar livros, ter um pouco de paz na construção de suas obras. Conhecemos, por acaso, uma outra mulher Guimarães chamada Ruth? Ruth Guimarães faz centenário neste mesmo ano de Cabral e Clarice Lispector. Por que não se conhece mais Ruth, Adão Ventura (o centenário dele foi no ano passado)? Aliás, uma vez comentaram comigo: você traz para a Balada Caetano Veloso, Adélia Prado, Ney Matogrosso, mas traz, na maioria, muitos autores e artistas que a gente não conhece. E por que não vêm conhecer? A Balada é uma festa feita por pessoas, não por editores e códigos de barra. Desde o começo, a Balada tenta ser plural, múltipla, das mais diversas frentes de batalha. Dos mais diversos gêneros sexuais e literários. Escolher Geni é dizer de que lado estamos. De que lado queremos estar. Aliás, vale ressaltar que de 4 a 27 de setembro acontecerá a FeliZs, Festa Literária da Zona Sul. Estamos do lado da FeliZs. Somos coirmãs dessa mesma força motriz.

O que esperar da Balada da Balada? Uma característica da Balada sempre foi a gente encerrar a noite em uma roda de samba, em um show de rap, de reggae. Era um jeito de a gente se irmanar ainda mais. Daí a Balada da Balada. Vai ser via zoom. Vamos, a cada noite, fazer uma roda para assistir, cada um em seu casulo, poetas se apresentarem. Vêm para a Balada dois poetas africanos na primeira noite dessa união virtual. Na sexta, Daniel Minchoni e Eveline Sin reunirão autores para soltar o verbo, no que eles estão chamando de uma performance "bailin". No sábado, não pode faltar o nosso já tradicional Sarau Transversal, apresentado por Ed Marte e Renato Negrão. A cena LGBTQI+ sempre esteve presente no evento - já homenageamos Rogéria, por exemplo. E, no domingo, encerramos com um encontro, apresentado pela escritora Morgana Kretzmann, só entre escritoras que virão lan&cc edil;ar e falar de seus livros. Os leitores e leitoras vão pode acompanhar, cada um com seu copo na mão. E o coração aquecido. Isso é tornar o mundo possível outra vez. É a literatura conectada em outras linhas de comunicação. Para terminar, teremos uma mesa de glosa composta só de mulheres poetas do Sertão do Pajeú, em Pernambuco. Mais poesia, mais mulheres. Geni, em tudo que aí está, nos fortalece e nos inspirará.

Geni Guimarães, homenageada da Balada Literária, fala a partir de casa, em Barra Bonita Foto: Nuna Nunes

A Balada Literária abre nesta quinta-feira, 3, sua 15.ª edição - a primeira sem os tradicionais encontros por espaços cuturais e bares da Vila Madadena. Vai ser online por causa do coronavírus, como a maioria dos eventos deste ano. Até segunda, 7, haverá conversas com autores, exibição de filmes, saraus, rodas de samba e cursos, tudo de forma gratuita.

A Balada Literária 2020 homenageia a escritora e professora Geni Guimarães, que, de sua casa em Barra Bonita, participa de uma conversa na noite desta quinta, 3, às 19h, com a cineasta Day Rodrigues, a bibliotecária Bel Santos Mayer e a escritora Conceição Evaristo. A programação será aberta com a exibição do documentário que Day fez sobre a autora de A Cor da Ternura. Geni, aliás, lança em novembro, pela Malê, um inédito de poesias. A editora também vai resgatar outras duas importantes obras da escritora nascida em São Manuel em 1947: O Terceiro Filho, de 1979, e Balé das Emoções, de 1993. E a editora aguarda os originais de um livro de contos, que ela está preparando.

Geni volta ao palco, na verdade, à tela, na segunda, 7, às 16h, para uma conversa com a escritora indígena Eliane Potiguara.

Marcelino Freire com Nelson Macae Wellington Soares Foto: Tiago Queiiroz/Estadão

Sobre a Balada Literária, o escritor Marcelino Freire, seu idealizador, respondeu por e-mail às seguintes perguntas.

O que ganha e o que perde a Balada em 2020, ao ser realizada online?

A Balada perde aquele abraço apertado, aquela fraternidade que é a marca da Balada. Perde o bar, a batata frita conjunta. Perde o bater perna, de um espaço para o outro. Os escritores em grupo indo atrás do sanduíche de pernil lá do centro. Perde o toque no ombro que o leitor dar em seu autor preferido, ali coladinho a ele. A Balada quis perder a esperança, mas a gente não deixou. Mas olhe: estamos chamando a Balada virtual de Balada "presencial" sim. Estaremos presentes na casa de cada um e cada uma. Geni Guimarães, nossa homenageada, vai falar direto da sala dela em Barra Bonita, interior de São Paulo. Conceição Evaristo ao lado de sua estante de livros. Está emocionante esta edição. É uma edição propositiva. Uma décima quinta edição difícil de fazer, porque estamos atravessados por um a pandemia e por uma peste de desgoverno. Estamos baqueados, sofrendo com a morte de muita gente. Uma Balada, que mesmo abalada, não se conforma, vai e parte para a ação, para a afirmação, para o enfrentamento. Estamos saindo dela transformados, eu e toda a equipe. Não cruzamos os braços. Fomos para a atitude. Não é uma edição feita para constar, fazer por fazer apenas. É uma edição renovada de forças. Necessária, revolucionária, política.

Não tem limite de público, certo?

Pessoas de todo o Brasil e de fora do Brasil vão poder acompanhar. E olha que coisa curiosa: a Balada sempre quis abraçar todo mundo, na medida de nossas possibilidades. Por exemplo: desde 2017 a Balada Literária começa por Teresina, no Piauí. Graças ao professor e curador de lá, Wellington Soares. Existe desde 2015 em Salvador graças ao poeta, e também professor, Nelson Maca. Trazemos, desde de sempre, convidados de várias partes do Brasil. A Balada é de todos e todas. Todo mundo misturado. Agora, em 2020, ainda mais misturado. Alargamos o que há de mais "humano" na Balada: o encontro, o afeto. No ano passado, a gente recebeu presencialmente mediadores de leitura de Rio Branco, Porto Velho, Tocantins. Continuaremos com eles. Eles vieram agora também. Gravaram suas participações em celulares. Outra: a Balada nunca teve grana para gravar as atrações, as mesas (só algumas). O registro da Balada é feito pelo coração. Agora a Balada estará toda no ar. Vai virar um acervo para consulta infinita. E creia: a Balada não perderá o sentimento por causa dessas novas ferramentas. Ela só estará transmitindo o sentimento. A Balada é de verdade. Não é fake, entende?

De que forma a programação deve refletir o mundo à nossa volta e o momento que estamos vivendo?

Estamos afirmando, com essa Balada, o nosso abraço solidário. Explico: os anfitriões e anfitriãs de cada atração são técnicos de som, maquiadores, camareiras. Profissionais que ficaram descobertos pela pandemia. Temos pouco dinheiro, mas o pouco que temos vamos dividir com eles. A gente divide o que não tem. Meça a generosidade de uma pessoa quando ela divide o que não tem. Porque quem tem geralmente não divide... Também pensamos em quem está em casa sem "aula presencial". Retomamos o formato das "aulas", que ficou consagrado no ano passado, na edição em que homenageamos Paulo Freire. Abriremos a Balada Literária 2020 com uma aula sobre a literatura piauiense. Vamos ter aula idem sobre a poesia negra feita na Bahia. O audiovisual, pensamos nele igualmente. Haverá três documentários exclusivos. Feito cada um sobre um homenageado. A cineasta Day Rodrigues vai exibir um doc feito sobre Geni Guimarães. Ricardo Soares traz um filme exclusivo sobre o cantor e compositor Juraci Tavares, homenageado na Bahia. E o homenageado do Piauí, Douglas Machado, dirigiu com Márcio Bigly uma autonarrativa sobre a sua trajetória. Teremos a cineasta gaúcha Camila de Moraes falando da cena de diretoras negras em nosso cinema. O show de abertura será com a cantora caruaruense Gabi da Pele Preta... É muita coisa. A Balada virou um canal de atrações. É só entrar no site e assistir com a gente. Isso é uma resposta que nós damos a esse tempo que requer respostas assim: efetivas. Sinceras, urgentes.

Por que Geni Guimarães?

Geni Guimarães já esteve na Balada Literária em 2011. Voltou no ano passado, onde aceitou a homenagem para este ano. Aí chegou 2020 e veio a pandemia. Eu, Wellington e Maca mantivemos as datas que estavam programadas. Tudo porque queríamos celebrar a Geni. Não seria na hora de a Geni receber nossa homenagem que iríamos falhar. Uma poeta que é a própria poesia. Uma poeta da grandeza da Geni não merecia a nossa covardia. Uma história inteira de devoção à palavra. Uma mulher do interior de São Paulo, professora a vida toda. Uma autora negra, celebrada faz tempo pelos movimentos e cadernos negros, mas negligenciada por muita gente que diz defender a literatura. Qual literatura defendem? Conceição Evaristo, amiga de Geni, sempre cita Geni e demais parceiras que estão com ela nessa luta, faz tempo, para escrever, publicar livros, ter um pouco de paz na construção de suas obras. Conhecemos, por acaso, uma outra mulher Guimarães chamada Ruth? Ruth Guimarães faz centenário neste mesmo ano de Cabral e Clarice Lispector. Por que não se conhece mais Ruth, Adão Ventura (o centenário dele foi no ano passado)? Aliás, uma vez comentaram comigo: você traz para a Balada Caetano Veloso, Adélia Prado, Ney Matogrosso, mas traz, na maioria, muitos autores e artistas que a gente não conhece. E por que não vêm conhecer? A Balada é uma festa feita por pessoas, não por editores e códigos de barra. Desde o começo, a Balada tenta ser plural, múltipla, das mais diversas frentes de batalha. Dos mais diversos gêneros sexuais e literários. Escolher Geni é dizer de que lado estamos. De que lado queremos estar. Aliás, vale ressaltar que de 4 a 27 de setembro acontecerá a FeliZs, Festa Literária da Zona Sul. Estamos do lado da FeliZs. Somos coirmãs dessa mesma força motriz.

O que esperar da Balada da Balada? Uma característica da Balada sempre foi a gente encerrar a noite em uma roda de samba, em um show de rap, de reggae. Era um jeito de a gente se irmanar ainda mais. Daí a Balada da Balada. Vai ser via zoom. Vamos, a cada noite, fazer uma roda para assistir, cada um em seu casulo, poetas se apresentarem. Vêm para a Balada dois poetas africanos na primeira noite dessa união virtual. Na sexta, Daniel Minchoni e Eveline Sin reunirão autores para soltar o verbo, no que eles estão chamando de uma performance "bailin". No sábado, não pode faltar o nosso já tradicional Sarau Transversal, apresentado por Ed Marte e Renato Negrão. A cena LGBTQI+ sempre esteve presente no evento - já homenageamos Rogéria, por exemplo. E, no domingo, encerramos com um encontro, apresentado pela escritora Morgana Kretzmann, só entre escritoras que virão lan&cc edil;ar e falar de seus livros. Os leitores e leitoras vão pode acompanhar, cada um com seu copo na mão. E o coração aquecido. Isso é tornar o mundo possível outra vez. É a literatura conectada em outras linhas de comunicação. Para terminar, teremos uma mesa de glosa composta só de mulheres poetas do Sertão do Pajeú, em Pernambuco. Mais poesia, mais mulheres. Geni, em tudo que aí está, nos fortalece e nos inspirará.

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