Adélia Prado: 3 poemas para conhecer a obra da vencedora do Prêmio Machado de Assis
Aos 88 anos, escritora mineira vence premiação tradicional da ABL, no valor de R$ 100 mil
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Por Damy Coelho
Atualização:
A escritora Adélia Prado venceu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. A escolha foi feita na ultima quinta, 20, pelos imortais da Instituição. Ela ganha R$ 100 mil pelo prêmio, e a cerimônia acontece no dia 19 de julho, data de aniversário da ABL.
Aos 88 anos, Adélia Prado é um dos principais nomes vivos da literatura brasileira. Seus versos, que misturam lirismo cotidiano, influência religiosa e vivência feminina, foram descobertos por Carlos Drummond de Andrade nos anos 1970. O escritor teve acesso ao manuscrito de Bagagem, primeiro livro de Adélia Prado, e incentivou a publicação da obra pela editora Imago, em 1976.
O poema que abre o livro é também o que consagrou sua carreira: Com Licença Poética. Por meio da intertextualidade com a poesia drummondiana, a autora versa sobre as angústias de tornar-se mulher.
A seguir, confira 3 poemas essenciais da obra de Adélia Prado:
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Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não sou feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos— dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Bagagem, 1976
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Momento
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Enquanto eu fiquei alegre, permaneceramum bule azul com um descascado no bico,uma garrafa de pimenta pelo meio,um latido e um céu limpidíssimocom recém-feitas estrelas.Resistiram nos seus lugares, em seus ofícios,constituindo o mundo pra mim, anteparopara o que foi um acometimento:súbito é bom ter um corpo pra rire sacudir a cabeça. A vida é mais tempoalegre do que triste. Melhor é ser.
Bagagem, 1976
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Laetitia Cordis
Sossegai um minuto para ver o milagre:está nublado o tempo, de manhãum pouco de frio e bruma.Meu coração, amarelo como um pequi,bate desta maneira:Jonathan, Jonathan, Jonathan.À minha volta dizem:‘Apesar da névoa, parece que um sol ameaça.’Penso em Giordano Brunoe em que amante incrível ele seria.Quero dançare ver um filme eslavo, sem legenda,adivinhando a hora em que o som estrangeiroestá dizendo eu te amo.Como o homem é belo,como Deus é bonito.Jonathan sou eu apoiada em minha bicicleta,posando para um retrato.Quando ficam madurosos pequis racham e caem,formam ninhos no chão de pura gema.Meu coração quer saltar,bater do lado de fora,como o coração de Jesus.
Os poemas podem ser encontrados no livro Poesia Reunida, da editora Record.
A escritora Adélia Prado venceu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. A escolha foi feita na ultima quinta, 20, pelos imortais da Instituição. Ela ganha R$ 100 mil pelo prêmio, e a cerimônia acontece no dia 19 de julho, data de aniversário da ABL.
Aos 88 anos, Adélia Prado é um dos principais nomes vivos da literatura brasileira. Seus versos, que misturam lirismo cotidiano, influência religiosa e vivência feminina, foram descobertos por Carlos Drummond de Andrade nos anos 1970. O escritor teve acesso ao manuscrito de Bagagem, primeiro livro de Adélia Prado, e incentivou a publicação da obra pela editora Imago, em 1976.
O poema que abre o livro é também o que consagrou sua carreira: Com Licença Poética. Por meio da intertextualidade com a poesia drummondiana, a autora versa sobre as angústias de tornar-se mulher.
A seguir, confira 3 poemas essenciais da obra de Adélia Prado:
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não sou feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos— dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Bagagem, 1976
Momento
Enquanto eu fiquei alegre, permaneceramum bule azul com um descascado no bico,uma garrafa de pimenta pelo meio,um latido e um céu limpidíssimocom recém-feitas estrelas.Resistiram nos seus lugares, em seus ofícios,constituindo o mundo pra mim, anteparopara o que foi um acometimento:súbito é bom ter um corpo pra rire sacudir a cabeça. A vida é mais tempoalegre do que triste. Melhor é ser.
Bagagem, 1976
Laetitia Cordis
Sossegai um minuto para ver o milagre:está nublado o tempo, de manhãum pouco de frio e bruma.Meu coração, amarelo como um pequi,bate desta maneira:Jonathan, Jonathan, Jonathan.À minha volta dizem:‘Apesar da névoa, parece que um sol ameaça.’Penso em Giordano Brunoe em que amante incrível ele seria.Quero dançare ver um filme eslavo, sem legenda,adivinhando a hora em que o som estrangeiroestá dizendo eu te amo.Como o homem é belo,como Deus é bonito.Jonathan sou eu apoiada em minha bicicleta,posando para um retrato.Quando ficam madurosos pequis racham e caem,formam ninhos no chão de pura gema.Meu coração quer saltar,bater do lado de fora,como o coração de Jesus.
Os poemas podem ser encontrados no livro Poesia Reunida, da editora Record.
A escritora Adélia Prado venceu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. A escolha foi feita na ultima quinta, 20, pelos imortais da Instituição. Ela ganha R$ 100 mil pelo prêmio, e a cerimônia acontece no dia 19 de julho, data de aniversário da ABL.
Aos 88 anos, Adélia Prado é um dos principais nomes vivos da literatura brasileira. Seus versos, que misturam lirismo cotidiano, influência religiosa e vivência feminina, foram descobertos por Carlos Drummond de Andrade nos anos 1970. O escritor teve acesso ao manuscrito de Bagagem, primeiro livro de Adélia Prado, e incentivou a publicação da obra pela editora Imago, em 1976.
O poema que abre o livro é também o que consagrou sua carreira: Com Licença Poética. Por meio da intertextualidade com a poesia drummondiana, a autora versa sobre as angústias de tornar-se mulher.
A seguir, confira 3 poemas essenciais da obra de Adélia Prado:
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não sou feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos— dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Bagagem, 1976
Momento
Enquanto eu fiquei alegre, permaneceramum bule azul com um descascado no bico,uma garrafa de pimenta pelo meio,um latido e um céu limpidíssimocom recém-feitas estrelas.Resistiram nos seus lugares, em seus ofícios,constituindo o mundo pra mim, anteparopara o que foi um acometimento:súbito é bom ter um corpo pra rire sacudir a cabeça. A vida é mais tempoalegre do que triste. Melhor é ser.
Bagagem, 1976
Laetitia Cordis
Sossegai um minuto para ver o milagre:está nublado o tempo, de manhãum pouco de frio e bruma.Meu coração, amarelo como um pequi,bate desta maneira:Jonathan, Jonathan, Jonathan.À minha volta dizem:‘Apesar da névoa, parece que um sol ameaça.’Penso em Giordano Brunoe em que amante incrível ele seria.Quero dançare ver um filme eslavo, sem legenda,adivinhando a hora em que o som estrangeiroestá dizendo eu te amo.Como o homem é belo,como Deus é bonito.Jonathan sou eu apoiada em minha bicicleta,posando para um retrato.Quando ficam madurosos pequis racham e caem,formam ninhos no chão de pura gema.Meu coração quer saltar,bater do lado de fora,como o coração de Jesus.
Os poemas podem ser encontrados no livro Poesia Reunida, da editora Record.
A escritora Adélia Prado venceu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. A escolha foi feita na ultima quinta, 20, pelos imortais da Instituição. Ela ganha R$ 100 mil pelo prêmio, e a cerimônia acontece no dia 19 de julho, data de aniversário da ABL.
Aos 88 anos, Adélia Prado é um dos principais nomes vivos da literatura brasileira. Seus versos, que misturam lirismo cotidiano, influência religiosa e vivência feminina, foram descobertos por Carlos Drummond de Andrade nos anos 1970. O escritor teve acesso ao manuscrito de Bagagem, primeiro livro de Adélia Prado, e incentivou a publicação da obra pela editora Imago, em 1976.
O poema que abre o livro é também o que consagrou sua carreira: Com Licença Poética. Por meio da intertextualidade com a poesia drummondiana, a autora versa sobre as angústias de tornar-se mulher.
A seguir, confira 3 poemas essenciais da obra de Adélia Prado:
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não sou feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos— dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Bagagem, 1976
Momento
Enquanto eu fiquei alegre, permaneceramum bule azul com um descascado no bico,uma garrafa de pimenta pelo meio,um latido e um céu limpidíssimocom recém-feitas estrelas.Resistiram nos seus lugares, em seus ofícios,constituindo o mundo pra mim, anteparopara o que foi um acometimento:súbito é bom ter um corpo pra rire sacudir a cabeça. A vida é mais tempoalegre do que triste. Melhor é ser.
Bagagem, 1976
Laetitia Cordis
Sossegai um minuto para ver o milagre:está nublado o tempo, de manhãum pouco de frio e bruma.Meu coração, amarelo como um pequi,bate desta maneira:Jonathan, Jonathan, Jonathan.À minha volta dizem:‘Apesar da névoa, parece que um sol ameaça.’Penso em Giordano Brunoe em que amante incrível ele seria.Quero dançare ver um filme eslavo, sem legenda,adivinhando a hora em que o som estrangeiroestá dizendo eu te amo.Como o homem é belo,como Deus é bonito.Jonathan sou eu apoiada em minha bicicleta,posando para um retrato.Quando ficam madurosos pequis racham e caem,formam ninhos no chão de pura gema.Meu coração quer saltar,bater do lado de fora,como o coração de Jesus.
Os poemas podem ser encontrados no livro Poesia Reunida, da editora Record.