Ailton Krenak ganha eleição na ABL e se torna o primeiro autor indígena imortal


Aos 70 anos, ele é autor de ‘Ideias Para Adiar o Fim do Mundo’, entre outros livros que conquistaram muitos leitores brasileiros; relembre trajetória e veja repercussão e vídeo com entrevista dele ao ‘Estadão’

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Ailton Krenak é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras - e o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL. Autor dos livros Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, A Vida Não é Útil, Futuro Ancestral e O Amanhã Não Está à Venda, lançados pela Companhia das Letras, Krenak é filósofo, escritor e ambientalista engajado em mostrar novos jeitos de viver - que poderiam ajudar a garantir o futuro da humanidade.

“É preciso parar a velocidade do progresso para chegarmos no futuro com alguma chance de restauração. Estamos atrasados. O que vamos ter de aprender daqui para frente é mitigar. A ideia de progresso nasceu com a noção de que estávamos constituindo uma experiência vitoriosa sobre a vida aqui na terra. Isso foi um engano”, disse o novo imortal em uma entrevista a Morris Kachani, em 2020, publicada em seu blog no Estadão. Leia aqui e veja abaixo o vídeo com a conversa.

Ailton Krenak no estúdio do artista Luiz Zerbini, no Rio, onde encontrou membros da Academia Brasileira de Letras após sua eleição como o primeiro imortal indígena Foto: Michael Félix/ ABL
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Krenak era mesmo o favorito em uma eleição que contava com 11 candidatos. Ele teve 23 votos. A historiadora Mary Del Priore, autora de uma significativa obra acessível ao grande público, foi a segunda mais votada, com 12 votos. Daniel Munduruku, pioneiro da literatura indígena escrita e o primeiro autor indígena a publicar um livro para crianças não indígenas (Histórias de Índio, Companhia das Letras, 1996)

recebeu 4 votos. Veja abaixo a lista completa de concorrentes à cadeira 5, que pertencia a José Murilo de Carvalho.

Krenak recebeu a notícia de sua eleição para a ABL no táxi. Ele tinha passado a tarde no Rio Innovation Week, um evento de tecnologia, inovação e negócios, onde fez uma palestra justamente sobre como adiar o fim do mundo, tema de seu livro de maior sucesso.

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Do Pier Mauá, onde foi o encontro, ele seguiu para o estúdio do artista Luiz Zerbini, na Gávea, e se reuniu com outros acadêmicos da ABL.

O novo imortal da Academia Brasileira de Letras Ailton Krenak cercado por outros escritores acadêmicos no estúdio do artista Luiz Zerbini, na Gávea, depois da eleição disputada com Mary del Priore e Daniel Munduruku nesta quinta-feira, 5 Foto: Michael Félix/ ABL

Lá, o recém-eleito imortal revelou sua intenção de convidar a Academia Brasileira de Letras a criar uma plataforma, uma espécie de biblioteca disponível em todas as línguas nativas. “Temos uma experiência, por exemplo, na plataforma chamada Biblioteca Ailton Krenak, centenas de imagens, textos, filmes e documentos depositados lá para acesso público. Podemos fazer isso com as línguas nativas do Brasil. A Academia Brasileira de Letras poderia incluir mais umas 170 línguas além do português”, disse o primeiro indígena a ocupar uma cadeira da instituição.

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Krenak citou como exemplo, também, outros acervos. “O Museu do Índio tem um acervo muito antigo, com registros de narrativas e falas - algumas delas são só na língua na terra. A gente pode produzir uma tradução simultânea, e as pessoas vão poder ouvir nas duas línguas, por exemplo”. Trata-se de uma ideia de valorização da oralidade, que poderia ser feito em conjunto com as etnias envolvidas em projetos de resgate linguístico, conforme ele disse. “O que ameaça essas línguas é a ausência de falantes”, comentou. Um projeto desses, num site, ajudaria a ampliar o alcance dessas vozes - e a preservá-las.

Por que Krenak?

O presidente da ABL, Merval Pereira, destacou a busca por se ter a maior representatividade possível da cultura brasileira dentro da instituição. “O Krenak é um poeta, é uma visão de mundo própria e apropriada para este momento em que estamos todos preocupados com o meio ambiente e com a mudança climática e quando os os povos originários lutam por seus direitos. Tudo isso está embutido na vitória do Ailton Krenak na Academia e estamos muito contentes com isso”, justificou.

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‘Conquista valoriza os saberes da nossa gente’

Daniel Munduruku, que concorria com Krenak, comentou a eleição em um vídeo na rede social. “É uma conquista que certamente valoriza os saberes da nossa gente. Desejo vida longa e boas realizações ao nosso parente”, disse o escritor. Ele parabenizou Krenak e agradeceu o apoio que recebeu. “Daqui para a frente é vida que segue. Continuamos na luta realizando os nossos sonhos e os sonhos de muita gente. É assim que a gente vive. É assim que a gente atua. E é assim que a gente vai continuar fazendo.”

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A trajetória de Ailton Krenak

O escritor e ambientalista Ailton Krenak  Foto: Neto Gonçalves/Companhia das Letras
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Membro da Academia Mineira de Letras, ele é professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB), venceu o Prêmio Juca Pato em 2020 como intelectual do ano e é presença frequente em debates e eventos literários. O escritor vive na Reserva Indígena Krenak, em Resplendor (MG).

Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953, em Itabirinha, na região do Rio Doce, em Minas Gerais, e se mudou com a família para o Paraná aos 17 anos. Lá, se alfabetizou e iniciou sua vida profissional, como produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980, passou a se dedicar exclusivamente ao movimento indígena e fundou, em 1985, a ONG Núcleo de Cultura Indígena. Na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, ele teve papel essencial.

Em 1988, participou da fundação da União dos Povos Indígenas e em 1989, participou da Aliança dos Povos da Floresta. Uma década depois, em 1999, sua obra O Eterno Retorno do Encontro foi publicado no volume A Outra Margem do Ocidente, organizado por Adauto Novaes.

Entre 2003 e 2010, Krenak esteve mais próximo da política e foi assessor especial do Governo de Minas Gerais para assuntos indígenas. Seguiu na militância e no debate público, com participação em seminários, conferências, e, em 2018, foi um dos protagonistas de uma série Guerras do Brasil.

Além dos livros publicados recentemente pela Companhia das Letras, a Azougue dedicou um volume da série Encontros a Krenak. Com organização de Sérgio Cohn, o livro reúne entrevistas concedidas por ele entre 1984 e 2013. Os livros de Ailton Krenak estão publicados em cerca de 13 países.

Quem concorreu à vaga na ABL

Além de Krenak, Mary Del Priore e Daniel Munduruku, participaram da disputa pela cadeira 5 os seguintes candidatos: o poeta e escritor cearense Antonio Helio da Silva; o escritor paulista J. M. Monteirás; a escritora, poeta e jornalista Raquel Naveira, do Mato Grosso do Sul. E também: Chirles Oliveira, paulista, professora, coach de carreira e mestre em comunicação; José Cesar Castro Alves Ferreira, escritor, artista plástico e político, do Rio de Janeiro; o poeta goiano Gabriel Nascente; o ex-senador Ney Suassuna e Denilson Marques da Silva, escritor, poeta artista plástico e ensaísta, do Rio de Janeiro.

Veja a entrevista com Krenak ao ‘Estadão’ abaixo:

Ailton Krenak é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras - e o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL. Autor dos livros Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, A Vida Não é Útil, Futuro Ancestral e O Amanhã Não Está à Venda, lançados pela Companhia das Letras, Krenak é filósofo, escritor e ambientalista engajado em mostrar novos jeitos de viver - que poderiam ajudar a garantir o futuro da humanidade.

“É preciso parar a velocidade do progresso para chegarmos no futuro com alguma chance de restauração. Estamos atrasados. O que vamos ter de aprender daqui para frente é mitigar. A ideia de progresso nasceu com a noção de que estávamos constituindo uma experiência vitoriosa sobre a vida aqui na terra. Isso foi um engano”, disse o novo imortal em uma entrevista a Morris Kachani, em 2020, publicada em seu blog no Estadão. Leia aqui e veja abaixo o vídeo com a conversa.

Ailton Krenak no estúdio do artista Luiz Zerbini, no Rio, onde encontrou membros da Academia Brasileira de Letras após sua eleição como o primeiro imortal indígena Foto: Michael Félix/ ABL

Krenak era mesmo o favorito em uma eleição que contava com 11 candidatos. Ele teve 23 votos. A historiadora Mary Del Priore, autora de uma significativa obra acessível ao grande público, foi a segunda mais votada, com 12 votos. Daniel Munduruku, pioneiro da literatura indígena escrita e o primeiro autor indígena a publicar um livro para crianças não indígenas (Histórias de Índio, Companhia das Letras, 1996)

recebeu 4 votos. Veja abaixo a lista completa de concorrentes à cadeira 5, que pertencia a José Murilo de Carvalho.

Krenak recebeu a notícia de sua eleição para a ABL no táxi. Ele tinha passado a tarde no Rio Innovation Week, um evento de tecnologia, inovação e negócios, onde fez uma palestra justamente sobre como adiar o fim do mundo, tema de seu livro de maior sucesso.

Do Pier Mauá, onde foi o encontro, ele seguiu para o estúdio do artista Luiz Zerbini, na Gávea, e se reuniu com outros acadêmicos da ABL.

O novo imortal da Academia Brasileira de Letras Ailton Krenak cercado por outros escritores acadêmicos no estúdio do artista Luiz Zerbini, na Gávea, depois da eleição disputada com Mary del Priore e Daniel Munduruku nesta quinta-feira, 5 Foto: Michael Félix/ ABL

Lá, o recém-eleito imortal revelou sua intenção de convidar a Academia Brasileira de Letras a criar uma plataforma, uma espécie de biblioteca disponível em todas as línguas nativas. “Temos uma experiência, por exemplo, na plataforma chamada Biblioteca Ailton Krenak, centenas de imagens, textos, filmes e documentos depositados lá para acesso público. Podemos fazer isso com as línguas nativas do Brasil. A Academia Brasileira de Letras poderia incluir mais umas 170 línguas além do português”, disse o primeiro indígena a ocupar uma cadeira da instituição.

Krenak citou como exemplo, também, outros acervos. “O Museu do Índio tem um acervo muito antigo, com registros de narrativas e falas - algumas delas são só na língua na terra. A gente pode produzir uma tradução simultânea, e as pessoas vão poder ouvir nas duas línguas, por exemplo”. Trata-se de uma ideia de valorização da oralidade, que poderia ser feito em conjunto com as etnias envolvidas em projetos de resgate linguístico, conforme ele disse. “O que ameaça essas línguas é a ausência de falantes”, comentou. Um projeto desses, num site, ajudaria a ampliar o alcance dessas vozes - e a preservá-las.

Por que Krenak?

O presidente da ABL, Merval Pereira, destacou a busca por se ter a maior representatividade possível da cultura brasileira dentro da instituição. “O Krenak é um poeta, é uma visão de mundo própria e apropriada para este momento em que estamos todos preocupados com o meio ambiente e com a mudança climática e quando os os povos originários lutam por seus direitos. Tudo isso está embutido na vitória do Ailton Krenak na Academia e estamos muito contentes com isso”, justificou.

‘Conquista valoriza os saberes da nossa gente’

Daniel Munduruku, que concorria com Krenak, comentou a eleição em um vídeo na rede social. “É uma conquista que certamente valoriza os saberes da nossa gente. Desejo vida longa e boas realizações ao nosso parente”, disse o escritor. Ele parabenizou Krenak e agradeceu o apoio que recebeu. “Daqui para a frente é vida que segue. Continuamos na luta realizando os nossos sonhos e os sonhos de muita gente. É assim que a gente vive. É assim que a gente atua. E é assim que a gente vai continuar fazendo.”

A trajetória de Ailton Krenak

O escritor e ambientalista Ailton Krenak  Foto: Neto Gonçalves/Companhia das Letras

Membro da Academia Mineira de Letras, ele é professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB), venceu o Prêmio Juca Pato em 2020 como intelectual do ano e é presença frequente em debates e eventos literários. O escritor vive na Reserva Indígena Krenak, em Resplendor (MG).

Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953, em Itabirinha, na região do Rio Doce, em Minas Gerais, e se mudou com a família para o Paraná aos 17 anos. Lá, se alfabetizou e iniciou sua vida profissional, como produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980, passou a se dedicar exclusivamente ao movimento indígena e fundou, em 1985, a ONG Núcleo de Cultura Indígena. Na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, ele teve papel essencial.

Em 1988, participou da fundação da União dos Povos Indígenas e em 1989, participou da Aliança dos Povos da Floresta. Uma década depois, em 1999, sua obra O Eterno Retorno do Encontro foi publicado no volume A Outra Margem do Ocidente, organizado por Adauto Novaes.

Entre 2003 e 2010, Krenak esteve mais próximo da política e foi assessor especial do Governo de Minas Gerais para assuntos indígenas. Seguiu na militância e no debate público, com participação em seminários, conferências, e, em 2018, foi um dos protagonistas de uma série Guerras do Brasil.

Além dos livros publicados recentemente pela Companhia das Letras, a Azougue dedicou um volume da série Encontros a Krenak. Com organização de Sérgio Cohn, o livro reúne entrevistas concedidas por ele entre 1984 e 2013. Os livros de Ailton Krenak estão publicados em cerca de 13 países.

Quem concorreu à vaga na ABL

Além de Krenak, Mary Del Priore e Daniel Munduruku, participaram da disputa pela cadeira 5 os seguintes candidatos: o poeta e escritor cearense Antonio Helio da Silva; o escritor paulista J. M. Monteirás; a escritora, poeta e jornalista Raquel Naveira, do Mato Grosso do Sul. E também: Chirles Oliveira, paulista, professora, coach de carreira e mestre em comunicação; José Cesar Castro Alves Ferreira, escritor, artista plástico e político, do Rio de Janeiro; o poeta goiano Gabriel Nascente; o ex-senador Ney Suassuna e Denilson Marques da Silva, escritor, poeta artista plástico e ensaísta, do Rio de Janeiro.

Veja a entrevista com Krenak ao ‘Estadão’ abaixo:

Ailton Krenak é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras - e o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL. Autor dos livros Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, A Vida Não é Útil, Futuro Ancestral e O Amanhã Não Está à Venda, lançados pela Companhia das Letras, Krenak é filósofo, escritor e ambientalista engajado em mostrar novos jeitos de viver - que poderiam ajudar a garantir o futuro da humanidade.

“É preciso parar a velocidade do progresso para chegarmos no futuro com alguma chance de restauração. Estamos atrasados. O que vamos ter de aprender daqui para frente é mitigar. A ideia de progresso nasceu com a noção de que estávamos constituindo uma experiência vitoriosa sobre a vida aqui na terra. Isso foi um engano”, disse o novo imortal em uma entrevista a Morris Kachani, em 2020, publicada em seu blog no Estadão. Leia aqui e veja abaixo o vídeo com a conversa.

Ailton Krenak no estúdio do artista Luiz Zerbini, no Rio, onde encontrou membros da Academia Brasileira de Letras após sua eleição como o primeiro imortal indígena Foto: Michael Félix/ ABL

Krenak era mesmo o favorito em uma eleição que contava com 11 candidatos. Ele teve 23 votos. A historiadora Mary Del Priore, autora de uma significativa obra acessível ao grande público, foi a segunda mais votada, com 12 votos. Daniel Munduruku, pioneiro da literatura indígena escrita e o primeiro autor indígena a publicar um livro para crianças não indígenas (Histórias de Índio, Companhia das Letras, 1996)

recebeu 4 votos. Veja abaixo a lista completa de concorrentes à cadeira 5, que pertencia a José Murilo de Carvalho.

Krenak recebeu a notícia de sua eleição para a ABL no táxi. Ele tinha passado a tarde no Rio Innovation Week, um evento de tecnologia, inovação e negócios, onde fez uma palestra justamente sobre como adiar o fim do mundo, tema de seu livro de maior sucesso.

Do Pier Mauá, onde foi o encontro, ele seguiu para o estúdio do artista Luiz Zerbini, na Gávea, e se reuniu com outros acadêmicos da ABL.

O novo imortal da Academia Brasileira de Letras Ailton Krenak cercado por outros escritores acadêmicos no estúdio do artista Luiz Zerbini, na Gávea, depois da eleição disputada com Mary del Priore e Daniel Munduruku nesta quinta-feira, 5 Foto: Michael Félix/ ABL

Lá, o recém-eleito imortal revelou sua intenção de convidar a Academia Brasileira de Letras a criar uma plataforma, uma espécie de biblioteca disponível em todas as línguas nativas. “Temos uma experiência, por exemplo, na plataforma chamada Biblioteca Ailton Krenak, centenas de imagens, textos, filmes e documentos depositados lá para acesso público. Podemos fazer isso com as línguas nativas do Brasil. A Academia Brasileira de Letras poderia incluir mais umas 170 línguas além do português”, disse o primeiro indígena a ocupar uma cadeira da instituição.

Krenak citou como exemplo, também, outros acervos. “O Museu do Índio tem um acervo muito antigo, com registros de narrativas e falas - algumas delas são só na língua na terra. A gente pode produzir uma tradução simultânea, e as pessoas vão poder ouvir nas duas línguas, por exemplo”. Trata-se de uma ideia de valorização da oralidade, que poderia ser feito em conjunto com as etnias envolvidas em projetos de resgate linguístico, conforme ele disse. “O que ameaça essas línguas é a ausência de falantes”, comentou. Um projeto desses, num site, ajudaria a ampliar o alcance dessas vozes - e a preservá-las.

Por que Krenak?

O presidente da ABL, Merval Pereira, destacou a busca por se ter a maior representatividade possível da cultura brasileira dentro da instituição. “O Krenak é um poeta, é uma visão de mundo própria e apropriada para este momento em que estamos todos preocupados com o meio ambiente e com a mudança climática e quando os os povos originários lutam por seus direitos. Tudo isso está embutido na vitória do Ailton Krenak na Academia e estamos muito contentes com isso”, justificou.

‘Conquista valoriza os saberes da nossa gente’

Daniel Munduruku, que concorria com Krenak, comentou a eleição em um vídeo na rede social. “É uma conquista que certamente valoriza os saberes da nossa gente. Desejo vida longa e boas realizações ao nosso parente”, disse o escritor. Ele parabenizou Krenak e agradeceu o apoio que recebeu. “Daqui para a frente é vida que segue. Continuamos na luta realizando os nossos sonhos e os sonhos de muita gente. É assim que a gente vive. É assim que a gente atua. E é assim que a gente vai continuar fazendo.”

A trajetória de Ailton Krenak

O escritor e ambientalista Ailton Krenak  Foto: Neto Gonçalves/Companhia das Letras

Membro da Academia Mineira de Letras, ele é professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB), venceu o Prêmio Juca Pato em 2020 como intelectual do ano e é presença frequente em debates e eventos literários. O escritor vive na Reserva Indígena Krenak, em Resplendor (MG).

Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953, em Itabirinha, na região do Rio Doce, em Minas Gerais, e se mudou com a família para o Paraná aos 17 anos. Lá, se alfabetizou e iniciou sua vida profissional, como produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980, passou a se dedicar exclusivamente ao movimento indígena e fundou, em 1985, a ONG Núcleo de Cultura Indígena. Na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, ele teve papel essencial.

Em 1988, participou da fundação da União dos Povos Indígenas e em 1989, participou da Aliança dos Povos da Floresta. Uma década depois, em 1999, sua obra O Eterno Retorno do Encontro foi publicado no volume A Outra Margem do Ocidente, organizado por Adauto Novaes.

Entre 2003 e 2010, Krenak esteve mais próximo da política e foi assessor especial do Governo de Minas Gerais para assuntos indígenas. Seguiu na militância e no debate público, com participação em seminários, conferências, e, em 2018, foi um dos protagonistas de uma série Guerras do Brasil.

Além dos livros publicados recentemente pela Companhia das Letras, a Azougue dedicou um volume da série Encontros a Krenak. Com organização de Sérgio Cohn, o livro reúne entrevistas concedidas por ele entre 1984 e 2013. Os livros de Ailton Krenak estão publicados em cerca de 13 países.

Quem concorreu à vaga na ABL

Além de Krenak, Mary Del Priore e Daniel Munduruku, participaram da disputa pela cadeira 5 os seguintes candidatos: o poeta e escritor cearense Antonio Helio da Silva; o escritor paulista J. M. Monteirás; a escritora, poeta e jornalista Raquel Naveira, do Mato Grosso do Sul. E também: Chirles Oliveira, paulista, professora, coach de carreira e mestre em comunicação; José Cesar Castro Alves Ferreira, escritor, artista plástico e político, do Rio de Janeiro; o poeta goiano Gabriel Nascente; o ex-senador Ney Suassuna e Denilson Marques da Silva, escritor, poeta artista plástico e ensaísta, do Rio de Janeiro.

Veja a entrevista com Krenak ao ‘Estadão’ abaixo:

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