Aos 90 anos, Ruth Rocha passeia por memórias de infância e revela livro inédito


Autora de livros infantis memoráveis escreveu nova obra durante a pandemia

Por Eliana Silva de Souza

Ruth Rocha chega aos 90 anos olhando para a frente. Nascida em 2 de março de 1931, na Vila Mariana, em São Paulo, a escritora revela que vai comemorar sim a data, mas que terá de ser de forma virtual por causa da pandemia. “Eu vou mandar umas comidas pros mais próximos, aí a gente vai sentar e comer junto – pela internet”, avisa a alegre e divertida senhora. Em conversa por telefone com o Estadão, fez uma viagem por suas memórias e revelou o que vem de novidade por aí.

A escritora Ruth Rocha em foto de 2019 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Autora de inúmeros livros dedicados ao público infantojuvenil, Ruth Rocha volta no tempo e passeia pelas lembranças, falando da família, do início de sua trajetória na literatura e de momentos atuais. “Fui muito feliz na infância, tive pais muito bons, dedicados a nós, muito interessantes, irmãos divertidos, que são bons até hoje”, conta a escritora, que tem quatro irmãos e se orgulha em afirmar que ainda se dão muito bem. “Nós nos gostamos muito.” Diz que é muito amiga de seus dez sobrinhos.  Voltando no tempo, Ruth se lembra com muito carinho de quando era ainda criança e conta que cresceu em uma família muito alegre, preocupada com os filhos. Orgulha-se ao lembrar dos momentos carinhosos com o pai, que costumava conversar muito com os filhos e isso dava consciência do mundo para eles. “Meu pai, quando começou a guerra de 1939, eu tinha 8 anos nesse tempo, comprou um mapa grande da Europa e ficava contando para nós como era a guerra”, relata toda envaidecida ao revelar que até hoje sabe lances da Segunda Guerra.  Escritora, como outras crianças dessa época, gostava de brincar na rua, pois não tinha os perigos enfrentados hoje em dia nas cidades. “Minha mãe era muito acolhedora, então as crianças iam pra minha casa brincar e depois a gente ia para a casa dos outros também. Foi uma infância muito feliz e gostosa e acho que fez muito bem pra mim. Esse é um tesouro que a gente carrega, uma infância boa”, descreve Ruth, que conta ainda ter aprendido a andar de bicicleta no Parque do Ibirapuera, que não era como o conhecemos hoje. “A gente era muito livre.” O que Ruth viveu na infância e a relação com a família e o mundo foram transpostos para sua trajetória profissional. “A infância forma a gente, é uma coisa que nos modela”, garante a escritora. Ainda no passado, ela lembra de um avô que era contador de histórias e ela e seus irmãos aproveitavam muito a presença dele. “Ele vinha do Rio de Janeiro, chegava cansado, mas a gente ficava em cima dele para contar suas histórias.” E seu pai também não ficava atrás, tinha seus momentos de contador de história. Tinha ainda uma avó que a ensinava a cantar modinhas. Foi com todas essas influências que a menina Ruth adquiriu o hábito da leitura. Essa bagagem reunida na infância serviu de base para sua vida adulta. Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, entre 1957 e 1972 exerceu a função de orientadora educacional, o que a ajudou a ter mais interação com crianças. Sua base educacional possibilitou que fosse trabalhar em revistas, criando textos para o público infantil. Mas foi ao entrar na revista Recreio que começou a voar alto em seu estilo de escrita e na criação das histórias. “A revista Recreio foi quem me pôs no mundo” (risos).  Essa fase na publicação e sua carreira na escrita começam com uma passagem que Ruth gosta de contar e se diverte quando o faz. Ela lembra que editava a publicação com sua também amiga Sonia Robatto, que a intimou a escrever uma história para a revista. Conta Ruth que a editora não teve dúvida, trancou a escritora em uma sala e disse que ela só sairia de lá quando tivesse uma história pronta. E foi assim que surgiu o texto Romeu e Julieta, que viria a ser o primeiro de tantos outros criados para a Recreio. “Minha primeira história é sobre preconceito e mostrava duas borboletas, uma amarela e outra azul, que não podiam brincar juntas por ser cada uma de uma cor”, afirma.  De lá para cá, Ruth Rocha não parou mais de escrever suas histórias e transformá-las em livros. Inclusive, revela que até aproveitou este momento de isolamento pela pandemia para criar uma nova obra, que é O Grande Livro dos Macacos, ainda em fase de finalização, sem data para lançamento. “Mas é sobre o que, Ruth Rocha?”. “Macacos!” (risos), respondeu a escritora. “O livro mostra como os macacos são e como são inteligentes”, diz. Outro ponto que a obra vai abordar, segundo a autora, é o fato de ter gente que não gosta muito da ideia de que descendemos de macaco. “Mas eu não queria parecer com girafa, jacaré, hipopótamo. Eu acho muito bom parecer com macaco.” Outra boa novidade que vem por aí é a transformação do livro clássico da autora, Marcelo Marmelo Martelo, em série de TV. A própria Ruth se encarrega de anunciar que o contrato para a produção foi assinado e agora é aguardar para conferir mais essa conquista do seu personagem. Trata-se de uma realização da ViacomCBS, que comprou os diretos da obra e a levará para o audiovisual. Publicado pela primeira vez em 1976, o best-seller Marcelo Marmelo Martelo teve mais de 70 edições e vendeu aproximadamente 20 milhões de exemplares. No ano passado, Ruth Rocha, em coautoria com sua filha, Mariana Rocha, brindou seus leitores com o Almanaque do Marcelo e da Turma da Nossa Rua (Editora Salamandra).  Em seus 90 anos, mais de 50 foram dedicados à literatura, em uma jornada incansável pelo universo lúdico da infância. Mas Ruth, com sua escrita elaborada e sem limites para a imaginação, coloca em seus textos mais do que simples histórias, pois elas carregam temas mais profundos, que fazem parte da vida das pessoas e da sociedade. No livro O Reizinho Mandão, outro grande sucesso de sua produção, a autora colocou em cena um rei que decidiu que não queria que as pessoas falassem, que calassem a boca e, assim, o povo acabou esquecendo como falar. Lançada no período da ditadura militar, Ruth conta que a história foi feita dessa forma de propósito. “A censura comia solta”, conta, enfatizando ter horror a essa fase. O que ela observa hoje é que a história “está quase se repetindo, é muito ameaçador”.  A autora premiada dentro e fora do País, com mais de 200 livros lançados, é leitora determinada. Diz que acabou de ler Michel Laub e gosta de Marçal Aquino. Mas, em tom de reclamação, afirma não ter recebido nada de autores infantis. “Ninguém me manda nada, é raro, não recebo nada.” Após tantos anos encantando leitores das mais variadas idades, Ruth Rocha se diz avessa a pensar em uma biografia sua. “Fui muito feliz minha vida inteira, casei com um cara formidável (Eduardo), eu gostava dele e ele de mim, tenho uma filha maravilhosa, dois netos. Não estou desiludida da vida. Não penso nisso, não quero não.”

Ruth Rocha chega aos 90 anos olhando para a frente. Nascida em 2 de março de 1931, na Vila Mariana, em São Paulo, a escritora revela que vai comemorar sim a data, mas que terá de ser de forma virtual por causa da pandemia. “Eu vou mandar umas comidas pros mais próximos, aí a gente vai sentar e comer junto – pela internet”, avisa a alegre e divertida senhora. Em conversa por telefone com o Estadão, fez uma viagem por suas memórias e revelou o que vem de novidade por aí.

A escritora Ruth Rocha em foto de 2019 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Autora de inúmeros livros dedicados ao público infantojuvenil, Ruth Rocha volta no tempo e passeia pelas lembranças, falando da família, do início de sua trajetória na literatura e de momentos atuais. “Fui muito feliz na infância, tive pais muito bons, dedicados a nós, muito interessantes, irmãos divertidos, que são bons até hoje”, conta a escritora, que tem quatro irmãos e se orgulha em afirmar que ainda se dão muito bem. “Nós nos gostamos muito.” Diz que é muito amiga de seus dez sobrinhos.  Voltando no tempo, Ruth se lembra com muito carinho de quando era ainda criança e conta que cresceu em uma família muito alegre, preocupada com os filhos. Orgulha-se ao lembrar dos momentos carinhosos com o pai, que costumava conversar muito com os filhos e isso dava consciência do mundo para eles. “Meu pai, quando começou a guerra de 1939, eu tinha 8 anos nesse tempo, comprou um mapa grande da Europa e ficava contando para nós como era a guerra”, relata toda envaidecida ao revelar que até hoje sabe lances da Segunda Guerra.  Escritora, como outras crianças dessa época, gostava de brincar na rua, pois não tinha os perigos enfrentados hoje em dia nas cidades. “Minha mãe era muito acolhedora, então as crianças iam pra minha casa brincar e depois a gente ia para a casa dos outros também. Foi uma infância muito feliz e gostosa e acho que fez muito bem pra mim. Esse é um tesouro que a gente carrega, uma infância boa”, descreve Ruth, que conta ainda ter aprendido a andar de bicicleta no Parque do Ibirapuera, que não era como o conhecemos hoje. “A gente era muito livre.” O que Ruth viveu na infância e a relação com a família e o mundo foram transpostos para sua trajetória profissional. “A infância forma a gente, é uma coisa que nos modela”, garante a escritora. Ainda no passado, ela lembra de um avô que era contador de histórias e ela e seus irmãos aproveitavam muito a presença dele. “Ele vinha do Rio de Janeiro, chegava cansado, mas a gente ficava em cima dele para contar suas histórias.” E seu pai também não ficava atrás, tinha seus momentos de contador de história. Tinha ainda uma avó que a ensinava a cantar modinhas. Foi com todas essas influências que a menina Ruth adquiriu o hábito da leitura. Essa bagagem reunida na infância serviu de base para sua vida adulta. Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, entre 1957 e 1972 exerceu a função de orientadora educacional, o que a ajudou a ter mais interação com crianças. Sua base educacional possibilitou que fosse trabalhar em revistas, criando textos para o público infantil. Mas foi ao entrar na revista Recreio que começou a voar alto em seu estilo de escrita e na criação das histórias. “A revista Recreio foi quem me pôs no mundo” (risos).  Essa fase na publicação e sua carreira na escrita começam com uma passagem que Ruth gosta de contar e se diverte quando o faz. Ela lembra que editava a publicação com sua também amiga Sonia Robatto, que a intimou a escrever uma história para a revista. Conta Ruth que a editora não teve dúvida, trancou a escritora em uma sala e disse que ela só sairia de lá quando tivesse uma história pronta. E foi assim que surgiu o texto Romeu e Julieta, que viria a ser o primeiro de tantos outros criados para a Recreio. “Minha primeira história é sobre preconceito e mostrava duas borboletas, uma amarela e outra azul, que não podiam brincar juntas por ser cada uma de uma cor”, afirma.  De lá para cá, Ruth Rocha não parou mais de escrever suas histórias e transformá-las em livros. Inclusive, revela que até aproveitou este momento de isolamento pela pandemia para criar uma nova obra, que é O Grande Livro dos Macacos, ainda em fase de finalização, sem data para lançamento. “Mas é sobre o que, Ruth Rocha?”. “Macacos!” (risos), respondeu a escritora. “O livro mostra como os macacos são e como são inteligentes”, diz. Outro ponto que a obra vai abordar, segundo a autora, é o fato de ter gente que não gosta muito da ideia de que descendemos de macaco. “Mas eu não queria parecer com girafa, jacaré, hipopótamo. Eu acho muito bom parecer com macaco.” Outra boa novidade que vem por aí é a transformação do livro clássico da autora, Marcelo Marmelo Martelo, em série de TV. A própria Ruth se encarrega de anunciar que o contrato para a produção foi assinado e agora é aguardar para conferir mais essa conquista do seu personagem. Trata-se de uma realização da ViacomCBS, que comprou os diretos da obra e a levará para o audiovisual. Publicado pela primeira vez em 1976, o best-seller Marcelo Marmelo Martelo teve mais de 70 edições e vendeu aproximadamente 20 milhões de exemplares. No ano passado, Ruth Rocha, em coautoria com sua filha, Mariana Rocha, brindou seus leitores com o Almanaque do Marcelo e da Turma da Nossa Rua (Editora Salamandra).  Em seus 90 anos, mais de 50 foram dedicados à literatura, em uma jornada incansável pelo universo lúdico da infância. Mas Ruth, com sua escrita elaborada e sem limites para a imaginação, coloca em seus textos mais do que simples histórias, pois elas carregam temas mais profundos, que fazem parte da vida das pessoas e da sociedade. No livro O Reizinho Mandão, outro grande sucesso de sua produção, a autora colocou em cena um rei que decidiu que não queria que as pessoas falassem, que calassem a boca e, assim, o povo acabou esquecendo como falar. Lançada no período da ditadura militar, Ruth conta que a história foi feita dessa forma de propósito. “A censura comia solta”, conta, enfatizando ter horror a essa fase. O que ela observa hoje é que a história “está quase se repetindo, é muito ameaçador”.  A autora premiada dentro e fora do País, com mais de 200 livros lançados, é leitora determinada. Diz que acabou de ler Michel Laub e gosta de Marçal Aquino. Mas, em tom de reclamação, afirma não ter recebido nada de autores infantis. “Ninguém me manda nada, é raro, não recebo nada.” Após tantos anos encantando leitores das mais variadas idades, Ruth Rocha se diz avessa a pensar em uma biografia sua. “Fui muito feliz minha vida inteira, casei com um cara formidável (Eduardo), eu gostava dele e ele de mim, tenho uma filha maravilhosa, dois netos. Não estou desiludida da vida. Não penso nisso, não quero não.”

Ruth Rocha chega aos 90 anos olhando para a frente. Nascida em 2 de março de 1931, na Vila Mariana, em São Paulo, a escritora revela que vai comemorar sim a data, mas que terá de ser de forma virtual por causa da pandemia. “Eu vou mandar umas comidas pros mais próximos, aí a gente vai sentar e comer junto – pela internet”, avisa a alegre e divertida senhora. Em conversa por telefone com o Estadão, fez uma viagem por suas memórias e revelou o que vem de novidade por aí.

A escritora Ruth Rocha em foto de 2019 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Autora de inúmeros livros dedicados ao público infantojuvenil, Ruth Rocha volta no tempo e passeia pelas lembranças, falando da família, do início de sua trajetória na literatura e de momentos atuais. “Fui muito feliz na infância, tive pais muito bons, dedicados a nós, muito interessantes, irmãos divertidos, que são bons até hoje”, conta a escritora, que tem quatro irmãos e se orgulha em afirmar que ainda se dão muito bem. “Nós nos gostamos muito.” Diz que é muito amiga de seus dez sobrinhos.  Voltando no tempo, Ruth se lembra com muito carinho de quando era ainda criança e conta que cresceu em uma família muito alegre, preocupada com os filhos. Orgulha-se ao lembrar dos momentos carinhosos com o pai, que costumava conversar muito com os filhos e isso dava consciência do mundo para eles. “Meu pai, quando começou a guerra de 1939, eu tinha 8 anos nesse tempo, comprou um mapa grande da Europa e ficava contando para nós como era a guerra”, relata toda envaidecida ao revelar que até hoje sabe lances da Segunda Guerra.  Escritora, como outras crianças dessa época, gostava de brincar na rua, pois não tinha os perigos enfrentados hoje em dia nas cidades. “Minha mãe era muito acolhedora, então as crianças iam pra minha casa brincar e depois a gente ia para a casa dos outros também. Foi uma infância muito feliz e gostosa e acho que fez muito bem pra mim. Esse é um tesouro que a gente carrega, uma infância boa”, descreve Ruth, que conta ainda ter aprendido a andar de bicicleta no Parque do Ibirapuera, que não era como o conhecemos hoje. “A gente era muito livre.” O que Ruth viveu na infância e a relação com a família e o mundo foram transpostos para sua trajetória profissional. “A infância forma a gente, é uma coisa que nos modela”, garante a escritora. Ainda no passado, ela lembra de um avô que era contador de histórias e ela e seus irmãos aproveitavam muito a presença dele. “Ele vinha do Rio de Janeiro, chegava cansado, mas a gente ficava em cima dele para contar suas histórias.” E seu pai também não ficava atrás, tinha seus momentos de contador de história. Tinha ainda uma avó que a ensinava a cantar modinhas. Foi com todas essas influências que a menina Ruth adquiriu o hábito da leitura. Essa bagagem reunida na infância serviu de base para sua vida adulta. Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, entre 1957 e 1972 exerceu a função de orientadora educacional, o que a ajudou a ter mais interação com crianças. Sua base educacional possibilitou que fosse trabalhar em revistas, criando textos para o público infantil. Mas foi ao entrar na revista Recreio que começou a voar alto em seu estilo de escrita e na criação das histórias. “A revista Recreio foi quem me pôs no mundo” (risos).  Essa fase na publicação e sua carreira na escrita começam com uma passagem que Ruth gosta de contar e se diverte quando o faz. Ela lembra que editava a publicação com sua também amiga Sonia Robatto, que a intimou a escrever uma história para a revista. Conta Ruth que a editora não teve dúvida, trancou a escritora em uma sala e disse que ela só sairia de lá quando tivesse uma história pronta. E foi assim que surgiu o texto Romeu e Julieta, que viria a ser o primeiro de tantos outros criados para a Recreio. “Minha primeira história é sobre preconceito e mostrava duas borboletas, uma amarela e outra azul, que não podiam brincar juntas por ser cada uma de uma cor”, afirma.  De lá para cá, Ruth Rocha não parou mais de escrever suas histórias e transformá-las em livros. Inclusive, revela que até aproveitou este momento de isolamento pela pandemia para criar uma nova obra, que é O Grande Livro dos Macacos, ainda em fase de finalização, sem data para lançamento. “Mas é sobre o que, Ruth Rocha?”. “Macacos!” (risos), respondeu a escritora. “O livro mostra como os macacos são e como são inteligentes”, diz. Outro ponto que a obra vai abordar, segundo a autora, é o fato de ter gente que não gosta muito da ideia de que descendemos de macaco. “Mas eu não queria parecer com girafa, jacaré, hipopótamo. Eu acho muito bom parecer com macaco.” Outra boa novidade que vem por aí é a transformação do livro clássico da autora, Marcelo Marmelo Martelo, em série de TV. A própria Ruth se encarrega de anunciar que o contrato para a produção foi assinado e agora é aguardar para conferir mais essa conquista do seu personagem. Trata-se de uma realização da ViacomCBS, que comprou os diretos da obra e a levará para o audiovisual. Publicado pela primeira vez em 1976, o best-seller Marcelo Marmelo Martelo teve mais de 70 edições e vendeu aproximadamente 20 milhões de exemplares. No ano passado, Ruth Rocha, em coautoria com sua filha, Mariana Rocha, brindou seus leitores com o Almanaque do Marcelo e da Turma da Nossa Rua (Editora Salamandra).  Em seus 90 anos, mais de 50 foram dedicados à literatura, em uma jornada incansável pelo universo lúdico da infância. Mas Ruth, com sua escrita elaborada e sem limites para a imaginação, coloca em seus textos mais do que simples histórias, pois elas carregam temas mais profundos, que fazem parte da vida das pessoas e da sociedade. No livro O Reizinho Mandão, outro grande sucesso de sua produção, a autora colocou em cena um rei que decidiu que não queria que as pessoas falassem, que calassem a boca e, assim, o povo acabou esquecendo como falar. Lançada no período da ditadura militar, Ruth conta que a história foi feita dessa forma de propósito. “A censura comia solta”, conta, enfatizando ter horror a essa fase. O que ela observa hoje é que a história “está quase se repetindo, é muito ameaçador”.  A autora premiada dentro e fora do País, com mais de 200 livros lançados, é leitora determinada. Diz que acabou de ler Michel Laub e gosta de Marçal Aquino. Mas, em tom de reclamação, afirma não ter recebido nada de autores infantis. “Ninguém me manda nada, é raro, não recebo nada.” Após tantos anos encantando leitores das mais variadas idades, Ruth Rocha se diz avessa a pensar em uma biografia sua. “Fui muito feliz minha vida inteira, casei com um cara formidável (Eduardo), eu gostava dele e ele de mim, tenho uma filha maravilhosa, dois netos. Não estou desiludida da vida. Não penso nisso, não quero não.”

Ruth Rocha chega aos 90 anos olhando para a frente. Nascida em 2 de março de 1931, na Vila Mariana, em São Paulo, a escritora revela que vai comemorar sim a data, mas que terá de ser de forma virtual por causa da pandemia. “Eu vou mandar umas comidas pros mais próximos, aí a gente vai sentar e comer junto – pela internet”, avisa a alegre e divertida senhora. Em conversa por telefone com o Estadão, fez uma viagem por suas memórias e revelou o que vem de novidade por aí.

A escritora Ruth Rocha em foto de 2019 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Autora de inúmeros livros dedicados ao público infantojuvenil, Ruth Rocha volta no tempo e passeia pelas lembranças, falando da família, do início de sua trajetória na literatura e de momentos atuais. “Fui muito feliz na infância, tive pais muito bons, dedicados a nós, muito interessantes, irmãos divertidos, que são bons até hoje”, conta a escritora, que tem quatro irmãos e se orgulha em afirmar que ainda se dão muito bem. “Nós nos gostamos muito.” Diz que é muito amiga de seus dez sobrinhos.  Voltando no tempo, Ruth se lembra com muito carinho de quando era ainda criança e conta que cresceu em uma família muito alegre, preocupada com os filhos. Orgulha-se ao lembrar dos momentos carinhosos com o pai, que costumava conversar muito com os filhos e isso dava consciência do mundo para eles. “Meu pai, quando começou a guerra de 1939, eu tinha 8 anos nesse tempo, comprou um mapa grande da Europa e ficava contando para nós como era a guerra”, relata toda envaidecida ao revelar que até hoje sabe lances da Segunda Guerra.  Escritora, como outras crianças dessa época, gostava de brincar na rua, pois não tinha os perigos enfrentados hoje em dia nas cidades. “Minha mãe era muito acolhedora, então as crianças iam pra minha casa brincar e depois a gente ia para a casa dos outros também. Foi uma infância muito feliz e gostosa e acho que fez muito bem pra mim. Esse é um tesouro que a gente carrega, uma infância boa”, descreve Ruth, que conta ainda ter aprendido a andar de bicicleta no Parque do Ibirapuera, que não era como o conhecemos hoje. “A gente era muito livre.” O que Ruth viveu na infância e a relação com a família e o mundo foram transpostos para sua trajetória profissional. “A infância forma a gente, é uma coisa que nos modela”, garante a escritora. Ainda no passado, ela lembra de um avô que era contador de histórias e ela e seus irmãos aproveitavam muito a presença dele. “Ele vinha do Rio de Janeiro, chegava cansado, mas a gente ficava em cima dele para contar suas histórias.” E seu pai também não ficava atrás, tinha seus momentos de contador de história. Tinha ainda uma avó que a ensinava a cantar modinhas. Foi com todas essas influências que a menina Ruth adquiriu o hábito da leitura. Essa bagagem reunida na infância serviu de base para sua vida adulta. Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, entre 1957 e 1972 exerceu a função de orientadora educacional, o que a ajudou a ter mais interação com crianças. Sua base educacional possibilitou que fosse trabalhar em revistas, criando textos para o público infantil. Mas foi ao entrar na revista Recreio que começou a voar alto em seu estilo de escrita e na criação das histórias. “A revista Recreio foi quem me pôs no mundo” (risos).  Essa fase na publicação e sua carreira na escrita começam com uma passagem que Ruth gosta de contar e se diverte quando o faz. Ela lembra que editava a publicação com sua também amiga Sonia Robatto, que a intimou a escrever uma história para a revista. Conta Ruth que a editora não teve dúvida, trancou a escritora em uma sala e disse que ela só sairia de lá quando tivesse uma história pronta. E foi assim que surgiu o texto Romeu e Julieta, que viria a ser o primeiro de tantos outros criados para a Recreio. “Minha primeira história é sobre preconceito e mostrava duas borboletas, uma amarela e outra azul, que não podiam brincar juntas por ser cada uma de uma cor”, afirma.  De lá para cá, Ruth Rocha não parou mais de escrever suas histórias e transformá-las em livros. Inclusive, revela que até aproveitou este momento de isolamento pela pandemia para criar uma nova obra, que é O Grande Livro dos Macacos, ainda em fase de finalização, sem data para lançamento. “Mas é sobre o que, Ruth Rocha?”. “Macacos!” (risos), respondeu a escritora. “O livro mostra como os macacos são e como são inteligentes”, diz. Outro ponto que a obra vai abordar, segundo a autora, é o fato de ter gente que não gosta muito da ideia de que descendemos de macaco. “Mas eu não queria parecer com girafa, jacaré, hipopótamo. Eu acho muito bom parecer com macaco.” Outra boa novidade que vem por aí é a transformação do livro clássico da autora, Marcelo Marmelo Martelo, em série de TV. A própria Ruth se encarrega de anunciar que o contrato para a produção foi assinado e agora é aguardar para conferir mais essa conquista do seu personagem. Trata-se de uma realização da ViacomCBS, que comprou os diretos da obra e a levará para o audiovisual. Publicado pela primeira vez em 1976, o best-seller Marcelo Marmelo Martelo teve mais de 70 edições e vendeu aproximadamente 20 milhões de exemplares. No ano passado, Ruth Rocha, em coautoria com sua filha, Mariana Rocha, brindou seus leitores com o Almanaque do Marcelo e da Turma da Nossa Rua (Editora Salamandra).  Em seus 90 anos, mais de 50 foram dedicados à literatura, em uma jornada incansável pelo universo lúdico da infância. Mas Ruth, com sua escrita elaborada e sem limites para a imaginação, coloca em seus textos mais do que simples histórias, pois elas carregam temas mais profundos, que fazem parte da vida das pessoas e da sociedade. No livro O Reizinho Mandão, outro grande sucesso de sua produção, a autora colocou em cena um rei que decidiu que não queria que as pessoas falassem, que calassem a boca e, assim, o povo acabou esquecendo como falar. Lançada no período da ditadura militar, Ruth conta que a história foi feita dessa forma de propósito. “A censura comia solta”, conta, enfatizando ter horror a essa fase. O que ela observa hoje é que a história “está quase se repetindo, é muito ameaçador”.  A autora premiada dentro e fora do País, com mais de 200 livros lançados, é leitora determinada. Diz que acabou de ler Michel Laub e gosta de Marçal Aquino. Mas, em tom de reclamação, afirma não ter recebido nada de autores infantis. “Ninguém me manda nada, é raro, não recebo nada.” Após tantos anos encantando leitores das mais variadas idades, Ruth Rocha se diz avessa a pensar em uma biografia sua. “Fui muito feliz minha vida inteira, casei com um cara formidável (Eduardo), eu gostava dele e ele de mim, tenho uma filha maravilhosa, dois netos. Não estou desiludida da vida. Não penso nisso, não quero não.”

Ruth Rocha chega aos 90 anos olhando para a frente. Nascida em 2 de março de 1931, na Vila Mariana, em São Paulo, a escritora revela que vai comemorar sim a data, mas que terá de ser de forma virtual por causa da pandemia. “Eu vou mandar umas comidas pros mais próximos, aí a gente vai sentar e comer junto – pela internet”, avisa a alegre e divertida senhora. Em conversa por telefone com o Estadão, fez uma viagem por suas memórias e revelou o que vem de novidade por aí.

A escritora Ruth Rocha em foto de 2019 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Autora de inúmeros livros dedicados ao público infantojuvenil, Ruth Rocha volta no tempo e passeia pelas lembranças, falando da família, do início de sua trajetória na literatura e de momentos atuais. “Fui muito feliz na infância, tive pais muito bons, dedicados a nós, muito interessantes, irmãos divertidos, que são bons até hoje”, conta a escritora, que tem quatro irmãos e se orgulha em afirmar que ainda se dão muito bem. “Nós nos gostamos muito.” Diz que é muito amiga de seus dez sobrinhos.  Voltando no tempo, Ruth se lembra com muito carinho de quando era ainda criança e conta que cresceu em uma família muito alegre, preocupada com os filhos. Orgulha-se ao lembrar dos momentos carinhosos com o pai, que costumava conversar muito com os filhos e isso dava consciência do mundo para eles. “Meu pai, quando começou a guerra de 1939, eu tinha 8 anos nesse tempo, comprou um mapa grande da Europa e ficava contando para nós como era a guerra”, relata toda envaidecida ao revelar que até hoje sabe lances da Segunda Guerra.  Escritora, como outras crianças dessa época, gostava de brincar na rua, pois não tinha os perigos enfrentados hoje em dia nas cidades. “Minha mãe era muito acolhedora, então as crianças iam pra minha casa brincar e depois a gente ia para a casa dos outros também. Foi uma infância muito feliz e gostosa e acho que fez muito bem pra mim. Esse é um tesouro que a gente carrega, uma infância boa”, descreve Ruth, que conta ainda ter aprendido a andar de bicicleta no Parque do Ibirapuera, que não era como o conhecemos hoje. “A gente era muito livre.” O que Ruth viveu na infância e a relação com a família e o mundo foram transpostos para sua trajetória profissional. “A infância forma a gente, é uma coisa que nos modela”, garante a escritora. Ainda no passado, ela lembra de um avô que era contador de histórias e ela e seus irmãos aproveitavam muito a presença dele. “Ele vinha do Rio de Janeiro, chegava cansado, mas a gente ficava em cima dele para contar suas histórias.” E seu pai também não ficava atrás, tinha seus momentos de contador de história. Tinha ainda uma avó que a ensinava a cantar modinhas. Foi com todas essas influências que a menina Ruth adquiriu o hábito da leitura. Essa bagagem reunida na infância serviu de base para sua vida adulta. Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, entre 1957 e 1972 exerceu a função de orientadora educacional, o que a ajudou a ter mais interação com crianças. Sua base educacional possibilitou que fosse trabalhar em revistas, criando textos para o público infantil. Mas foi ao entrar na revista Recreio que começou a voar alto em seu estilo de escrita e na criação das histórias. “A revista Recreio foi quem me pôs no mundo” (risos).  Essa fase na publicação e sua carreira na escrita começam com uma passagem que Ruth gosta de contar e se diverte quando o faz. Ela lembra que editava a publicação com sua também amiga Sonia Robatto, que a intimou a escrever uma história para a revista. Conta Ruth que a editora não teve dúvida, trancou a escritora em uma sala e disse que ela só sairia de lá quando tivesse uma história pronta. E foi assim que surgiu o texto Romeu e Julieta, que viria a ser o primeiro de tantos outros criados para a Recreio. “Minha primeira história é sobre preconceito e mostrava duas borboletas, uma amarela e outra azul, que não podiam brincar juntas por ser cada uma de uma cor”, afirma.  De lá para cá, Ruth Rocha não parou mais de escrever suas histórias e transformá-las em livros. Inclusive, revela que até aproveitou este momento de isolamento pela pandemia para criar uma nova obra, que é O Grande Livro dos Macacos, ainda em fase de finalização, sem data para lançamento. “Mas é sobre o que, Ruth Rocha?”. “Macacos!” (risos), respondeu a escritora. “O livro mostra como os macacos são e como são inteligentes”, diz. Outro ponto que a obra vai abordar, segundo a autora, é o fato de ter gente que não gosta muito da ideia de que descendemos de macaco. “Mas eu não queria parecer com girafa, jacaré, hipopótamo. Eu acho muito bom parecer com macaco.” Outra boa novidade que vem por aí é a transformação do livro clássico da autora, Marcelo Marmelo Martelo, em série de TV. A própria Ruth se encarrega de anunciar que o contrato para a produção foi assinado e agora é aguardar para conferir mais essa conquista do seu personagem. Trata-se de uma realização da ViacomCBS, que comprou os diretos da obra e a levará para o audiovisual. Publicado pela primeira vez em 1976, o best-seller Marcelo Marmelo Martelo teve mais de 70 edições e vendeu aproximadamente 20 milhões de exemplares. No ano passado, Ruth Rocha, em coautoria com sua filha, Mariana Rocha, brindou seus leitores com o Almanaque do Marcelo e da Turma da Nossa Rua (Editora Salamandra).  Em seus 90 anos, mais de 50 foram dedicados à literatura, em uma jornada incansável pelo universo lúdico da infância. Mas Ruth, com sua escrita elaborada e sem limites para a imaginação, coloca em seus textos mais do que simples histórias, pois elas carregam temas mais profundos, que fazem parte da vida das pessoas e da sociedade. No livro O Reizinho Mandão, outro grande sucesso de sua produção, a autora colocou em cena um rei que decidiu que não queria que as pessoas falassem, que calassem a boca e, assim, o povo acabou esquecendo como falar. Lançada no período da ditadura militar, Ruth conta que a história foi feita dessa forma de propósito. “A censura comia solta”, conta, enfatizando ter horror a essa fase. O que ela observa hoje é que a história “está quase se repetindo, é muito ameaçador”.  A autora premiada dentro e fora do País, com mais de 200 livros lançados, é leitora determinada. Diz que acabou de ler Michel Laub e gosta de Marçal Aquino. Mas, em tom de reclamação, afirma não ter recebido nada de autores infantis. “Ninguém me manda nada, é raro, não recebo nada.” Após tantos anos encantando leitores das mais variadas idades, Ruth Rocha se diz avessa a pensar em uma biografia sua. “Fui muito feliz minha vida inteira, casei com um cara formidável (Eduardo), eu gostava dele e ele de mim, tenho uma filha maravilhosa, dois netos. Não estou desiludida da vida. Não penso nisso, não quero não.”

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