As mulheres que moldaram os Rolling Stones: livro revela papel crucial de ‘amantes’ na arte da banda


Texto narra pela primeira vez as experiências coletivas das mulheres e namoradas que influenciaram os músicos de uma das maiores bandas da história do rock

Por Jessica Hopper

Washington Post - Há uma passagem, depois de vários capítulos de Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones, de Elizabeth Winder, que justifica silenciosamente a existência do livro. Na introdução biográfica sobre Marsha Hunt, aspirante a artista R&B – antes de sua vida ser redirecionada ao dar à luz o primeiro filho de Mick Jagger – a história de vida de Hunt contrasta com as seções anteriores.

Enquanto os capítulos anteriores oferecem relatos em camadas, cobertura da imprensa e fofocas da época, o capítulo sobre Hunt não traz citações de apoio, nem perspectivas refratadas pelas lentes do LSD. Em vez disso, Winder apresenta um relato de fonte única a partir das memórias de Hunt. A voz solitária de Hunt ressalta o triste fato de que, diante dos inúmeros livros que documentam todas as facetas e jornadas dos Rolling Stones, Parachute Women é o primeiro a narrar as experiências coletivas das companheiras e esposas que moldaram os músicos. Winder destaca como a vasta influência dessas mulheres sobre os Stones foi praticamente escondida na sombra dos mitos monolíticos da banda.

A capa do livro 'Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones', de Elizabeth Winder Foto: WP
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Presença de Anita

Parachute Women é um passo para conceder a essas mulheres seu lugar de direito na cultura musical, principalmente Anita Pallenberg, que até agora tinha sido relegada a um ícone de groupie.

A bon vivant e artista germano-italiana foi parceira romântica de Brian Jones e Keith Richards e confidente criativa e amante de Mick Jagger (ele a chamou de “sexto integrante da banda”). Mas, como argumenta Winder, foi o estilo inatacável de Pallenberg, o hedonismo laissez-faire e o ar mundano que imbuíram os rapazes de uma aspereza cool.

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Ela foi uma mentora extraordinária, apresentando-os a tudo o que os definiria, desde ocultismo e boás de penas até anéis de caveira e drogas pesadas – a imagem da banda passou a refletir seu glamour contracultural. Pallenberg era tão vital para Richards em particular que, sempre que lhe ofereciam um papel no cinema, Richards propunha cobrir seu salário e implorava para que ela ficasse ao seu lado. Ela sempre recusou sua oferta.

Marianne os educou e foi destruída

Marianne Faithfull, amiga de Pallenberg, reivindica uma participação significativa na criação de Mick Jagger. Quando a então pop star adolescente Faithfull foi morar com o vocalista em 1966, a dieta intelectual dele era ficção popular de supermercado. Faithfull lhe deu a devida educação sobre poetas beat, Bob Dylan, história, misticismo, aventura sexual, filmes e moda da Nouvelle Vague francesa, além de o levar ao balé com frequência. A insistência dela para que ele lesse O Mestre e Margarita rendeu a canção Sympathy for the Devil.

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Como documenta Parachute Women, a proximidade com Jagger e Richards teve um preço alto. Depois que Faithfull foi pega na apreensão de drogas de Mick e Keith em fevereiro de 1967, vestida com nada além de um tapete de pele de carneiro, os paparazzi representaram a jovem de 20 anos como uma rosa inglesa profanada.

Na manhã seguinte, a manchete do Evening Standard dizia: “Stones presos: garota nua”. Os empresários dos Stones aproveitaram a oportunidade e usaram a corrupção da imagem angelical de Faithfull como testemunho da influência do rock dos Stones, prova de que eles eram bad boys – mesmo que isso tenha criado danos colaterais pessoais e profissionais significativos para Faithfull, destruindo sua carreira musical. Winder escreve:

No final, as forças que demonizaram Marianne e exaltaram Mick eram uma coisa só. Não era apenas pânico moral sobre ‘jovens degenerados’. Era a própria cultura do rock

Elizabeth Winder, autora

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Capítulo após capítulo, Winder mostra como essas quatro mulheres perseveraram diante da indignidade e do trauma. Os ataques violentos de Jones a Pallenberg, que não eram notados pelo resto da banda; a recusa de Jagger em aceitar a paternidade da criança que ele convenceu Hunt a ter e seu tratamento insensível a Faithfull após a perda de sua filha.

Winder tem profunda empatia por essas mulheres e deixa claro seu desprezo pelos homens da banda, mas ela não é uma biógrafa crítica: deixa o leitor fazer seus próprios julgamentos (o que não é difícil).

O casal Mick e Bianca Jagger com a filha Jade Foto: Reprodução/Instagram @biancajagger
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O livro de memórias de Faithfull é a fonte primária para os capítulos sobre a vida da cantora e os tempos com Jagger, e sua obscenidade e frases afiadas (“não há nada verdadeiramente mítico nem trágico no Mick”) entorpecem o resto de Parachute Women.

A história de Winder sobre Hunt, Pallenberg, Faithfull e Bianca Jagger é um alívio bem-vindo paras as típicas hagiografias dos Stones, que lançam Mick e Keef como deuses que se fizeram por si mesmos e racionalizam os danos causados por eles como “é só rock-and-roll”, como diz a música.

Limitações do livro

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Mas sua dedicação a essas mulheres ousadas e livres vem à custa do contexto necessário sobre os Stones e sua trajetória. Embora algumas suposições de conhecimento por parte do leitor sobre os Rolling Stones de 1967 a 1975 possam ser perdoadas, o livro às vezes é desorientadoramente míope.

Na falta de uma linha do tempo mais ampla de como o mundo da música e da cultura estava se transformando, Winder só escreve que “os tempos mudaram”, mas não diz como ou para quem – ou se a culpa era da “misoginia” do showbiz.

Também teria sido útil um contexto para os detalhes: nomes aparecem sem introdução; citações não atribuídas e não nomeadas são abundantes, deixando o leitor se perguntando quem está falando. Winder às vezes faz um banquete com uma trilha de migalhas de pão (“fotografias do fim de semana revelam uma sensualidade brincalhona”) para manter a narrativa à tona, mas isso evidencia quanto essas mulheres foram subdocumentadas. Parachute Women é um começo valioso, que alimenta a fome de um mergulho mais profundo na vida dessas quatro mulheres.

Parachute Women (edição em inglês)

  • Elizabeth Winder
  • Hachette
  • 320 páginas
  • US$ 29

Washington Post - Há uma passagem, depois de vários capítulos de Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones, de Elizabeth Winder, que justifica silenciosamente a existência do livro. Na introdução biográfica sobre Marsha Hunt, aspirante a artista R&B – antes de sua vida ser redirecionada ao dar à luz o primeiro filho de Mick Jagger – a história de vida de Hunt contrasta com as seções anteriores.

Enquanto os capítulos anteriores oferecem relatos em camadas, cobertura da imprensa e fofocas da época, o capítulo sobre Hunt não traz citações de apoio, nem perspectivas refratadas pelas lentes do LSD. Em vez disso, Winder apresenta um relato de fonte única a partir das memórias de Hunt. A voz solitária de Hunt ressalta o triste fato de que, diante dos inúmeros livros que documentam todas as facetas e jornadas dos Rolling Stones, Parachute Women é o primeiro a narrar as experiências coletivas das companheiras e esposas que moldaram os músicos. Winder destaca como a vasta influência dessas mulheres sobre os Stones foi praticamente escondida na sombra dos mitos monolíticos da banda.

A capa do livro 'Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones', de Elizabeth Winder Foto: WP

Presença de Anita

Parachute Women é um passo para conceder a essas mulheres seu lugar de direito na cultura musical, principalmente Anita Pallenberg, que até agora tinha sido relegada a um ícone de groupie.

A bon vivant e artista germano-italiana foi parceira romântica de Brian Jones e Keith Richards e confidente criativa e amante de Mick Jagger (ele a chamou de “sexto integrante da banda”). Mas, como argumenta Winder, foi o estilo inatacável de Pallenberg, o hedonismo laissez-faire e o ar mundano que imbuíram os rapazes de uma aspereza cool.

Ela foi uma mentora extraordinária, apresentando-os a tudo o que os definiria, desde ocultismo e boás de penas até anéis de caveira e drogas pesadas – a imagem da banda passou a refletir seu glamour contracultural. Pallenberg era tão vital para Richards em particular que, sempre que lhe ofereciam um papel no cinema, Richards propunha cobrir seu salário e implorava para que ela ficasse ao seu lado. Ela sempre recusou sua oferta.

Marianne os educou e foi destruída

Marianne Faithfull, amiga de Pallenberg, reivindica uma participação significativa na criação de Mick Jagger. Quando a então pop star adolescente Faithfull foi morar com o vocalista em 1966, a dieta intelectual dele era ficção popular de supermercado. Faithfull lhe deu a devida educação sobre poetas beat, Bob Dylan, história, misticismo, aventura sexual, filmes e moda da Nouvelle Vague francesa, além de o levar ao balé com frequência. A insistência dela para que ele lesse O Mestre e Margarita rendeu a canção Sympathy for the Devil.

Como documenta Parachute Women, a proximidade com Jagger e Richards teve um preço alto. Depois que Faithfull foi pega na apreensão de drogas de Mick e Keith em fevereiro de 1967, vestida com nada além de um tapete de pele de carneiro, os paparazzi representaram a jovem de 20 anos como uma rosa inglesa profanada.

Na manhã seguinte, a manchete do Evening Standard dizia: “Stones presos: garota nua”. Os empresários dos Stones aproveitaram a oportunidade e usaram a corrupção da imagem angelical de Faithfull como testemunho da influência do rock dos Stones, prova de que eles eram bad boys – mesmo que isso tenha criado danos colaterais pessoais e profissionais significativos para Faithfull, destruindo sua carreira musical. Winder escreve:

No final, as forças que demonizaram Marianne e exaltaram Mick eram uma coisa só. Não era apenas pânico moral sobre ‘jovens degenerados’. Era a própria cultura do rock

Elizabeth Winder, autora

Capítulo após capítulo, Winder mostra como essas quatro mulheres perseveraram diante da indignidade e do trauma. Os ataques violentos de Jones a Pallenberg, que não eram notados pelo resto da banda; a recusa de Jagger em aceitar a paternidade da criança que ele convenceu Hunt a ter e seu tratamento insensível a Faithfull após a perda de sua filha.

Winder tem profunda empatia por essas mulheres e deixa claro seu desprezo pelos homens da banda, mas ela não é uma biógrafa crítica: deixa o leitor fazer seus próprios julgamentos (o que não é difícil).

O casal Mick e Bianca Jagger com a filha Jade Foto: Reprodução/Instagram @biancajagger

O livro de memórias de Faithfull é a fonte primária para os capítulos sobre a vida da cantora e os tempos com Jagger, e sua obscenidade e frases afiadas (“não há nada verdadeiramente mítico nem trágico no Mick”) entorpecem o resto de Parachute Women.

A história de Winder sobre Hunt, Pallenberg, Faithfull e Bianca Jagger é um alívio bem-vindo paras as típicas hagiografias dos Stones, que lançam Mick e Keef como deuses que se fizeram por si mesmos e racionalizam os danos causados por eles como “é só rock-and-roll”, como diz a música.

Limitações do livro

Mas sua dedicação a essas mulheres ousadas e livres vem à custa do contexto necessário sobre os Stones e sua trajetória. Embora algumas suposições de conhecimento por parte do leitor sobre os Rolling Stones de 1967 a 1975 possam ser perdoadas, o livro às vezes é desorientadoramente míope.

Na falta de uma linha do tempo mais ampla de como o mundo da música e da cultura estava se transformando, Winder só escreve que “os tempos mudaram”, mas não diz como ou para quem – ou se a culpa era da “misoginia” do showbiz.

Também teria sido útil um contexto para os detalhes: nomes aparecem sem introdução; citações não atribuídas e não nomeadas são abundantes, deixando o leitor se perguntando quem está falando. Winder às vezes faz um banquete com uma trilha de migalhas de pão (“fotografias do fim de semana revelam uma sensualidade brincalhona”) para manter a narrativa à tona, mas isso evidencia quanto essas mulheres foram subdocumentadas. Parachute Women é um começo valioso, que alimenta a fome de um mergulho mais profundo na vida dessas quatro mulheres.

Parachute Women (edição em inglês)

  • Elizabeth Winder
  • Hachette
  • 320 páginas
  • US$ 29

Washington Post - Há uma passagem, depois de vários capítulos de Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones, de Elizabeth Winder, que justifica silenciosamente a existência do livro. Na introdução biográfica sobre Marsha Hunt, aspirante a artista R&B – antes de sua vida ser redirecionada ao dar à luz o primeiro filho de Mick Jagger – a história de vida de Hunt contrasta com as seções anteriores.

Enquanto os capítulos anteriores oferecem relatos em camadas, cobertura da imprensa e fofocas da época, o capítulo sobre Hunt não traz citações de apoio, nem perspectivas refratadas pelas lentes do LSD. Em vez disso, Winder apresenta um relato de fonte única a partir das memórias de Hunt. A voz solitária de Hunt ressalta o triste fato de que, diante dos inúmeros livros que documentam todas as facetas e jornadas dos Rolling Stones, Parachute Women é o primeiro a narrar as experiências coletivas das companheiras e esposas que moldaram os músicos. Winder destaca como a vasta influência dessas mulheres sobre os Stones foi praticamente escondida na sombra dos mitos monolíticos da banda.

A capa do livro 'Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones', de Elizabeth Winder Foto: WP

Presença de Anita

Parachute Women é um passo para conceder a essas mulheres seu lugar de direito na cultura musical, principalmente Anita Pallenberg, que até agora tinha sido relegada a um ícone de groupie.

A bon vivant e artista germano-italiana foi parceira romântica de Brian Jones e Keith Richards e confidente criativa e amante de Mick Jagger (ele a chamou de “sexto integrante da banda”). Mas, como argumenta Winder, foi o estilo inatacável de Pallenberg, o hedonismo laissez-faire e o ar mundano que imbuíram os rapazes de uma aspereza cool.

Ela foi uma mentora extraordinária, apresentando-os a tudo o que os definiria, desde ocultismo e boás de penas até anéis de caveira e drogas pesadas – a imagem da banda passou a refletir seu glamour contracultural. Pallenberg era tão vital para Richards em particular que, sempre que lhe ofereciam um papel no cinema, Richards propunha cobrir seu salário e implorava para que ela ficasse ao seu lado. Ela sempre recusou sua oferta.

Marianne os educou e foi destruída

Marianne Faithfull, amiga de Pallenberg, reivindica uma participação significativa na criação de Mick Jagger. Quando a então pop star adolescente Faithfull foi morar com o vocalista em 1966, a dieta intelectual dele era ficção popular de supermercado. Faithfull lhe deu a devida educação sobre poetas beat, Bob Dylan, história, misticismo, aventura sexual, filmes e moda da Nouvelle Vague francesa, além de o levar ao balé com frequência. A insistência dela para que ele lesse O Mestre e Margarita rendeu a canção Sympathy for the Devil.

Como documenta Parachute Women, a proximidade com Jagger e Richards teve um preço alto. Depois que Faithfull foi pega na apreensão de drogas de Mick e Keith em fevereiro de 1967, vestida com nada além de um tapete de pele de carneiro, os paparazzi representaram a jovem de 20 anos como uma rosa inglesa profanada.

Na manhã seguinte, a manchete do Evening Standard dizia: “Stones presos: garota nua”. Os empresários dos Stones aproveitaram a oportunidade e usaram a corrupção da imagem angelical de Faithfull como testemunho da influência do rock dos Stones, prova de que eles eram bad boys – mesmo que isso tenha criado danos colaterais pessoais e profissionais significativos para Faithfull, destruindo sua carreira musical. Winder escreve:

No final, as forças que demonizaram Marianne e exaltaram Mick eram uma coisa só. Não era apenas pânico moral sobre ‘jovens degenerados’. Era a própria cultura do rock

Elizabeth Winder, autora

Capítulo após capítulo, Winder mostra como essas quatro mulheres perseveraram diante da indignidade e do trauma. Os ataques violentos de Jones a Pallenberg, que não eram notados pelo resto da banda; a recusa de Jagger em aceitar a paternidade da criança que ele convenceu Hunt a ter e seu tratamento insensível a Faithfull após a perda de sua filha.

Winder tem profunda empatia por essas mulheres e deixa claro seu desprezo pelos homens da banda, mas ela não é uma biógrafa crítica: deixa o leitor fazer seus próprios julgamentos (o que não é difícil).

O casal Mick e Bianca Jagger com a filha Jade Foto: Reprodução/Instagram @biancajagger

O livro de memórias de Faithfull é a fonte primária para os capítulos sobre a vida da cantora e os tempos com Jagger, e sua obscenidade e frases afiadas (“não há nada verdadeiramente mítico nem trágico no Mick”) entorpecem o resto de Parachute Women.

A história de Winder sobre Hunt, Pallenberg, Faithfull e Bianca Jagger é um alívio bem-vindo paras as típicas hagiografias dos Stones, que lançam Mick e Keef como deuses que se fizeram por si mesmos e racionalizam os danos causados por eles como “é só rock-and-roll”, como diz a música.

Limitações do livro

Mas sua dedicação a essas mulheres ousadas e livres vem à custa do contexto necessário sobre os Stones e sua trajetória. Embora algumas suposições de conhecimento por parte do leitor sobre os Rolling Stones de 1967 a 1975 possam ser perdoadas, o livro às vezes é desorientadoramente míope.

Na falta de uma linha do tempo mais ampla de como o mundo da música e da cultura estava se transformando, Winder só escreve que “os tempos mudaram”, mas não diz como ou para quem – ou se a culpa era da “misoginia” do showbiz.

Também teria sido útil um contexto para os detalhes: nomes aparecem sem introdução; citações não atribuídas e não nomeadas são abundantes, deixando o leitor se perguntando quem está falando. Winder às vezes faz um banquete com uma trilha de migalhas de pão (“fotografias do fim de semana revelam uma sensualidade brincalhona”) para manter a narrativa à tona, mas isso evidencia quanto essas mulheres foram subdocumentadas. Parachute Women é um começo valioso, que alimenta a fome de um mergulho mais profundo na vida dessas quatro mulheres.

Parachute Women (edição em inglês)

  • Elizabeth Winder
  • Hachette
  • 320 páginas
  • US$ 29

Washington Post - Há uma passagem, depois de vários capítulos de Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones, de Elizabeth Winder, que justifica silenciosamente a existência do livro. Na introdução biográfica sobre Marsha Hunt, aspirante a artista R&B – antes de sua vida ser redirecionada ao dar à luz o primeiro filho de Mick Jagger – a história de vida de Hunt contrasta com as seções anteriores.

Enquanto os capítulos anteriores oferecem relatos em camadas, cobertura da imprensa e fofocas da época, o capítulo sobre Hunt não traz citações de apoio, nem perspectivas refratadas pelas lentes do LSD. Em vez disso, Winder apresenta um relato de fonte única a partir das memórias de Hunt. A voz solitária de Hunt ressalta o triste fato de que, diante dos inúmeros livros que documentam todas as facetas e jornadas dos Rolling Stones, Parachute Women é o primeiro a narrar as experiências coletivas das companheiras e esposas que moldaram os músicos. Winder destaca como a vasta influência dessas mulheres sobre os Stones foi praticamente escondida na sombra dos mitos monolíticos da banda.

A capa do livro 'Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones', de Elizabeth Winder Foto: WP

Presença de Anita

Parachute Women é um passo para conceder a essas mulheres seu lugar de direito na cultura musical, principalmente Anita Pallenberg, que até agora tinha sido relegada a um ícone de groupie.

A bon vivant e artista germano-italiana foi parceira romântica de Brian Jones e Keith Richards e confidente criativa e amante de Mick Jagger (ele a chamou de “sexto integrante da banda”). Mas, como argumenta Winder, foi o estilo inatacável de Pallenberg, o hedonismo laissez-faire e o ar mundano que imbuíram os rapazes de uma aspereza cool.

Ela foi uma mentora extraordinária, apresentando-os a tudo o que os definiria, desde ocultismo e boás de penas até anéis de caveira e drogas pesadas – a imagem da banda passou a refletir seu glamour contracultural. Pallenberg era tão vital para Richards em particular que, sempre que lhe ofereciam um papel no cinema, Richards propunha cobrir seu salário e implorava para que ela ficasse ao seu lado. Ela sempre recusou sua oferta.

Marianne os educou e foi destruída

Marianne Faithfull, amiga de Pallenberg, reivindica uma participação significativa na criação de Mick Jagger. Quando a então pop star adolescente Faithfull foi morar com o vocalista em 1966, a dieta intelectual dele era ficção popular de supermercado. Faithfull lhe deu a devida educação sobre poetas beat, Bob Dylan, história, misticismo, aventura sexual, filmes e moda da Nouvelle Vague francesa, além de o levar ao balé com frequência. A insistência dela para que ele lesse O Mestre e Margarita rendeu a canção Sympathy for the Devil.

Como documenta Parachute Women, a proximidade com Jagger e Richards teve um preço alto. Depois que Faithfull foi pega na apreensão de drogas de Mick e Keith em fevereiro de 1967, vestida com nada além de um tapete de pele de carneiro, os paparazzi representaram a jovem de 20 anos como uma rosa inglesa profanada.

Na manhã seguinte, a manchete do Evening Standard dizia: “Stones presos: garota nua”. Os empresários dos Stones aproveitaram a oportunidade e usaram a corrupção da imagem angelical de Faithfull como testemunho da influência do rock dos Stones, prova de que eles eram bad boys – mesmo que isso tenha criado danos colaterais pessoais e profissionais significativos para Faithfull, destruindo sua carreira musical. Winder escreve:

No final, as forças que demonizaram Marianne e exaltaram Mick eram uma coisa só. Não era apenas pânico moral sobre ‘jovens degenerados’. Era a própria cultura do rock

Elizabeth Winder, autora

Capítulo após capítulo, Winder mostra como essas quatro mulheres perseveraram diante da indignidade e do trauma. Os ataques violentos de Jones a Pallenberg, que não eram notados pelo resto da banda; a recusa de Jagger em aceitar a paternidade da criança que ele convenceu Hunt a ter e seu tratamento insensível a Faithfull após a perda de sua filha.

Winder tem profunda empatia por essas mulheres e deixa claro seu desprezo pelos homens da banda, mas ela não é uma biógrafa crítica: deixa o leitor fazer seus próprios julgamentos (o que não é difícil).

O casal Mick e Bianca Jagger com a filha Jade Foto: Reprodução/Instagram @biancajagger

O livro de memórias de Faithfull é a fonte primária para os capítulos sobre a vida da cantora e os tempos com Jagger, e sua obscenidade e frases afiadas (“não há nada verdadeiramente mítico nem trágico no Mick”) entorpecem o resto de Parachute Women.

A história de Winder sobre Hunt, Pallenberg, Faithfull e Bianca Jagger é um alívio bem-vindo paras as típicas hagiografias dos Stones, que lançam Mick e Keef como deuses que se fizeram por si mesmos e racionalizam os danos causados por eles como “é só rock-and-roll”, como diz a música.

Limitações do livro

Mas sua dedicação a essas mulheres ousadas e livres vem à custa do contexto necessário sobre os Stones e sua trajetória. Embora algumas suposições de conhecimento por parte do leitor sobre os Rolling Stones de 1967 a 1975 possam ser perdoadas, o livro às vezes é desorientadoramente míope.

Na falta de uma linha do tempo mais ampla de como o mundo da música e da cultura estava se transformando, Winder só escreve que “os tempos mudaram”, mas não diz como ou para quem – ou se a culpa era da “misoginia” do showbiz.

Também teria sido útil um contexto para os detalhes: nomes aparecem sem introdução; citações não atribuídas e não nomeadas são abundantes, deixando o leitor se perguntando quem está falando. Winder às vezes faz um banquete com uma trilha de migalhas de pão (“fotografias do fim de semana revelam uma sensualidade brincalhona”) para manter a narrativa à tona, mas isso evidencia quanto essas mulheres foram subdocumentadas. Parachute Women é um começo valioso, que alimenta a fome de um mergulho mais profundo na vida dessas quatro mulheres.

Parachute Women (edição em inglês)

  • Elizabeth Winder
  • Hachette
  • 320 páginas
  • US$ 29

Washington Post - Há uma passagem, depois de vários capítulos de Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones, de Elizabeth Winder, que justifica silenciosamente a existência do livro. Na introdução biográfica sobre Marsha Hunt, aspirante a artista R&B – antes de sua vida ser redirecionada ao dar à luz o primeiro filho de Mick Jagger – a história de vida de Hunt contrasta com as seções anteriores.

Enquanto os capítulos anteriores oferecem relatos em camadas, cobertura da imprensa e fofocas da época, o capítulo sobre Hunt não traz citações de apoio, nem perspectivas refratadas pelas lentes do LSD. Em vez disso, Winder apresenta um relato de fonte única a partir das memórias de Hunt. A voz solitária de Hunt ressalta o triste fato de que, diante dos inúmeros livros que documentam todas as facetas e jornadas dos Rolling Stones, Parachute Women é o primeiro a narrar as experiências coletivas das companheiras e esposas que moldaram os músicos. Winder destaca como a vasta influência dessas mulheres sobre os Stones foi praticamente escondida na sombra dos mitos monolíticos da banda.

A capa do livro 'Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones', de Elizabeth Winder Foto: WP

Presença de Anita

Parachute Women é um passo para conceder a essas mulheres seu lugar de direito na cultura musical, principalmente Anita Pallenberg, que até agora tinha sido relegada a um ícone de groupie.

A bon vivant e artista germano-italiana foi parceira romântica de Brian Jones e Keith Richards e confidente criativa e amante de Mick Jagger (ele a chamou de “sexto integrante da banda”). Mas, como argumenta Winder, foi o estilo inatacável de Pallenberg, o hedonismo laissez-faire e o ar mundano que imbuíram os rapazes de uma aspereza cool.

Ela foi uma mentora extraordinária, apresentando-os a tudo o que os definiria, desde ocultismo e boás de penas até anéis de caveira e drogas pesadas – a imagem da banda passou a refletir seu glamour contracultural. Pallenberg era tão vital para Richards em particular que, sempre que lhe ofereciam um papel no cinema, Richards propunha cobrir seu salário e implorava para que ela ficasse ao seu lado. Ela sempre recusou sua oferta.

Marianne os educou e foi destruída

Marianne Faithfull, amiga de Pallenberg, reivindica uma participação significativa na criação de Mick Jagger. Quando a então pop star adolescente Faithfull foi morar com o vocalista em 1966, a dieta intelectual dele era ficção popular de supermercado. Faithfull lhe deu a devida educação sobre poetas beat, Bob Dylan, história, misticismo, aventura sexual, filmes e moda da Nouvelle Vague francesa, além de o levar ao balé com frequência. A insistência dela para que ele lesse O Mestre e Margarita rendeu a canção Sympathy for the Devil.

Como documenta Parachute Women, a proximidade com Jagger e Richards teve um preço alto. Depois que Faithfull foi pega na apreensão de drogas de Mick e Keith em fevereiro de 1967, vestida com nada além de um tapete de pele de carneiro, os paparazzi representaram a jovem de 20 anos como uma rosa inglesa profanada.

Na manhã seguinte, a manchete do Evening Standard dizia: “Stones presos: garota nua”. Os empresários dos Stones aproveitaram a oportunidade e usaram a corrupção da imagem angelical de Faithfull como testemunho da influência do rock dos Stones, prova de que eles eram bad boys – mesmo que isso tenha criado danos colaterais pessoais e profissionais significativos para Faithfull, destruindo sua carreira musical. Winder escreve:

No final, as forças que demonizaram Marianne e exaltaram Mick eram uma coisa só. Não era apenas pânico moral sobre ‘jovens degenerados’. Era a própria cultura do rock

Elizabeth Winder, autora

Capítulo após capítulo, Winder mostra como essas quatro mulheres perseveraram diante da indignidade e do trauma. Os ataques violentos de Jones a Pallenberg, que não eram notados pelo resto da banda; a recusa de Jagger em aceitar a paternidade da criança que ele convenceu Hunt a ter e seu tratamento insensível a Faithfull após a perda de sua filha.

Winder tem profunda empatia por essas mulheres e deixa claro seu desprezo pelos homens da banda, mas ela não é uma biógrafa crítica: deixa o leitor fazer seus próprios julgamentos (o que não é difícil).

O casal Mick e Bianca Jagger com a filha Jade Foto: Reprodução/Instagram @biancajagger

O livro de memórias de Faithfull é a fonte primária para os capítulos sobre a vida da cantora e os tempos com Jagger, e sua obscenidade e frases afiadas (“não há nada verdadeiramente mítico nem trágico no Mick”) entorpecem o resto de Parachute Women.

A história de Winder sobre Hunt, Pallenberg, Faithfull e Bianca Jagger é um alívio bem-vindo paras as típicas hagiografias dos Stones, que lançam Mick e Keef como deuses que se fizeram por si mesmos e racionalizam os danos causados por eles como “é só rock-and-roll”, como diz a música.

Limitações do livro

Mas sua dedicação a essas mulheres ousadas e livres vem à custa do contexto necessário sobre os Stones e sua trajetória. Embora algumas suposições de conhecimento por parte do leitor sobre os Rolling Stones de 1967 a 1975 possam ser perdoadas, o livro às vezes é desorientadoramente míope.

Na falta de uma linha do tempo mais ampla de como o mundo da música e da cultura estava se transformando, Winder só escreve que “os tempos mudaram”, mas não diz como ou para quem – ou se a culpa era da “misoginia” do showbiz.

Também teria sido útil um contexto para os detalhes: nomes aparecem sem introdução; citações não atribuídas e não nomeadas são abundantes, deixando o leitor se perguntando quem está falando. Winder às vezes faz um banquete com uma trilha de migalhas de pão (“fotografias do fim de semana revelam uma sensualidade brincalhona”) para manter a narrativa à tona, mas isso evidencia quanto essas mulheres foram subdocumentadas. Parachute Women é um começo valioso, que alimenta a fome de um mergulho mais profundo na vida dessas quatro mulheres.

Parachute Women (edição em inglês)

  • Elizabeth Winder
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