O Bloomsday paulistano se tornou uma tradição que reúne leitores de todo o País. Há 35 anos realizado ininterruptamente, o evento surgiu pela batuta do poeta Haroldo de Campos (1929-2003), que organizou a primeira edição em 1988 e reuniu não só fãs do autor irlandês, como escritores e intelectuais ligados aos estudos da obra de James Joyce, além do primeiro tradutor do romance no Brasil, Antonio Houaiss (1915 - 1999). Com foco em leituras da obra de Joyce, a marca de Haroldo em seu Bloomsday tropical foi o apoio a traduções independentes, com trechos de Ulysses lidos em mais de 18 idiomas.
Para a edição de 2022, que começa amanhã, 15, na Casa Guilherme de Almeida e no jardim da Casa das Rosas, o organizador do evento e diretor da Rede de Museus-Casas Literários de São Paulo, Marcelo Tápia, relembra os 30 anos em que faz parte da programação. “Vai ser uma edição muito especial por ter três efemérides envolvidas: o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, os 100 anos da publicação original de Ulisses e os 35 anos do evento”, afirma ele. Para Tápia, que é poeta e tradutor, o romance de James Joyce mobiliza legiões mundo afora por ser um livro inesgotável. “O dia de Leopold Bloom, no romance, envolve tudo o que temos de mais significativo na humanidade. [ Ulysses] Nos apresenta a questões existenciais e demasiadamente humanas, dilemas de um homem comum, são eles que tornaram o livro um clássico absoluto”, pondera Tápia.
Na Casa Guilherme de Almeida, no bairro do Sumaré, às 18h e 19h, será apresentado pela primeira vez no País o documentário 100 Anos de Ulysses, que investiga por que o romance se tornou a obra cultuada, por meio de entrevistas e imagens de arquivo. Com foco nas ressonâncias do universo de Joyce em autores modernistas, como Mário e Oswald de Andrade, a organização vai discutir o impacto do romance na criação de escritores brasileiros, como Guimarães Rosa, Haroldo de Campos e Clarice Lispector. A ressonância buscada pela curadoria desta edição vai de encontro com a avalanche de lançamentos do mercado editorial deste ano. A dedicação à obra de Joyce vai da reedição do tão temido Ulysses, revista pelo tradutor da obra no Brasil, Caetano W. Galindo, a novas traduções de Finnegans Wake, dentre elas a do Coletivo Finnegans. Finnegans Rivolta, organizado pela professora do Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução da UFSC, Dirce Waltrick do Amarante, que reuniu 12 tradutores para a empreitada. No mesmo dia 15, em Florianópolis, também haverá uma programação em decorrência das duas décadas do evento realizado por três professores da UFSC na Universidade, dentre eles Waltrick. Online, as publicações são o foco do evento, com lançamento de uma recriação visual de Finnegans Wake feita pelo professor e antropólogo Sérgio Medeiros. O Bloomsday recebeu este nome por conta das andanças do personagem de Joyce pelas ruas de Dublin em 16 de junho de 1904. “É a data em que Joyce ressurge, perambula por um lugar estranho, esse lugar estranho é extremamente atual e foi inspiração para um plaquete que vou lançar”, diz Tápia, que vai distribuir exemplares nos eventos de amanhã, 16, no jardim da Casa das Rosas, localizada na Avenida Paulista, que recebe uma tenda para abrigar os participantes. Serão leituras da obra de Joyce, lançamentos de livros com os tradutores, programação musical e danças típicas da Irlanda até culinária local.
DESTAQUES DOS DOIS DIAS DE ATIVIDADES
15 de junho
16h – Palestra sobre um episódio do ‘Ulysses’, por Marcelo Tápia 18h – 100 Anos de Ulysses, na Sala Cinematographos, ambos na Casa Guilherme de Almeida
16 de junho
17h – Lançamento dos livros: Finnegans Rivolta (Iluminuras), Finnicius Revém (Ateliê Editorial), entre outros. A partir das 18h – Apresentações, declamações e música: Marcelo Tápia, Rachel Fitz, Rodrigo Bravo, Henrique Xavier, Aurora Bernardini, Reynaldo Damazio, Julio Mendonça, Donny Correia, e outros, na Casa das Rosas