Britney Spears: Cantora diz que Timberlake terminou com ela em meio a coma; veja relatos do livro


Novo livro da estrela pop, ‘A Mulher em Mim’ , relata ascensão à fama, as lutas que se tornaram assunto de tabloides e os esforços para escapar de uma tutela que governou a vida dela por muito tempo: ‘Minha liberdade em troca de cochilos com meus filhos’

Por Julia Jacobs e Joe Coscarelli
Atualização:

Durante os 13 anos em que uma tutela governou estritamente a vida e a carreira de Britney Spears, chegou um ponto em que ela desistiu de lutar, lembra a cantora no livro de memórias A Mulher em Mim, que será lançado na terça-feira, 24 de outubro.

O pai dela, James P. Spears, foi encarregado dos negócios em 2008, depois que ela foi hospitalizada duas vezes para avaliações psicológicas involuntárias. Em alguns momentos, nos anos que se seguiram, ela resistiu privadamente, mas, por fim, a exaustão e o medo de perder o acesso aos dois filhos pequenos prevaleceram, ela relembra no livro.

“Depois de ser mantida em uma maca”, diz o livro de memórias, “eu sabia que eles poderiam confinar meu corpo a qualquer momento que quisessem. Então, aceitei”. Spears acrescenta: “Minha liberdade em troca de cochilos com meus filhos - era uma troca que eu estava disposta a fazer”.

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Capa do livro de memórias de Britney Spears, 'A Mulher em Mim' Foto: Buzz Editora

No tão aguardado livro de memórias de 275 páginas (280 no Brasil), que o The New York Times obteve em uma loja de varejo antes do lançamento autorizado, Spears escreve sobre a carreira como ídolo adolescente, as lutas que se tornaram alimento para os tabloides, o tempo sob a tutela e a eventual pressão para o término em 2021, quando ela recuperou o direito de tomar as próprias decisões.

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Durante todo o tempo, ela descreve a sensação de estar muito sob os olhos do público, muito analisada, seja pelos pais ou pelos paparazzi, ou até mesmo pelos médicos que, segundo ela, “me tiraram dos meus filhos, dos meus cachorros e da minha casa”. Mas a história é, por natureza, incompleta, referindo-se alegremente ao casamento pós-tutela de Spears com Hesam Asghari, conhecido como Sam, que pediu o divórcio em agosto, depois de pouco mais de um ano.

Veja abaixo outros momentos marcantes do livro.

Britney Spears posa com o prêmio de Melhor Vídeo Pop e o Michael Jackson Video Vanguard Award no MTV Video Music Awards 2011 Foto: Danny Moloshok/Reuters
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Ascensão à fama em ‘The Woman in Me’, no título do livro em inglês

Desde a apresentação de seu primeiro solo - a canção natalina What Child Is This? - na creche da mãe até a audição de I Have Nothing, de Whitney Houston, em salas cheias de executivos de gravadoras, Spears registra a rápida ascensão à fama quando criança e adolescente.

  • Quando tinha 10 anos, ela se lembra, estava no programa Star Search, onde o apresentador, Ed McMahon, perguntou se ela tinha um namorado. Depois que ela respondeu que não tinha, porque eles eram “maus”, McMahon respondeu: “Eu não sou mau! E quanto a mim?” Ela “se controlou” até sair do palco, escreve Spears, “mas depois comecei a chorar”.
  • Após aparecer no The Mickey Mouse Club, escreve Spears, ela decidiu que queria levar uma “vida normal” em Kentwood, Louisiana, até que Larry Rudolph, um advogado que a mãe conheceu no circuito de audições, sugeriu que ela gravasse uma demo. Ela conseguiu um contrato com uma gravadora aos 15 anos, e Rudolph tornou-se seu empresário por muito tempo.
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Conquista da fama e atenção

Spears ascendeu rapidamente de uma adolescente que se apresentava em shopping centers para a princesa do pop de 16 anos com um single de sucesso: “... Baby One More Time”. Ela saiu em turnê com a boy band ‘N Sync e teve um romance de destaque com Justin Timberlake.

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  • Ela escreve que “não pôde deixar de notar” que os apresentadores de programas de entrevistas faziam a Timberlake tipos de perguntas diferentes das que eram feitas a ela: “Todos faziam comentários estranhos sobre meus seios”, diz o livro, “querendo saber se eu tinha ou não feito cirurgia plástica”. A pressão só aumentou à medida que ela se tornou uma figura constante na MTV, e as críticas do público acabaram levando-a a começar a tomar Prozac (Fluoxetina), lembra ela.
Britney Spears e o então namorado Justin Timberlake na estreia do filme da cantora, 'Crossroads', em fevereiro de 2002 Foto: Fred Prouser/Reuters

Rompimento com Timberlake

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Spears conta que a conexão com Timberlake era magnética e descreve o término do namoro - que, segundo ela, foi iniciado por ele por meio de mensagens de texto - como algo que a deixou “arrasada” e considerando abandonar o show business.

  • Ela relembra a reação ao lançamento do videoclipe de Timberlake, Cry Me a River, no qual, como ela descreve, “uma mulher que se parece comigo o trai e ele vagueia triste na chuva”. Ela viu a mídia retratando-a como uma “prostituta que partiu o coração do menino de ouro da América”, escreve ela, quando na realidade: “Eu estava em estado de coma em Louisiana, e ele feliz circulando por Hollywood”.
  • Conforme revelado pela primeira vez em trechos divulgados pela revista People no início desta semana, Spears conta em detalhes a decisão de fazer um aborto depois de engravidar durante o relacionamento com Timberlake. Ela disse que não via a gravidez como “uma tragédia”, mas que ele achava que eles eram muito jovens, o que a levou a concordar em “não ter o bebê”.
  • Após o rompimento, diz Spears, ela se sentiu forçada pelo pai eempresários a participar de uma entrevista com Diane Sawyer, durante a qual Sawyer a pressionou sobre o que ela fez a Timberlake que causou “tanta dor” a ele. (No livro, Spears confirma um boato antigo ao dizer que beijou o coreógrafo Wade Robson durante o relacionamento com Timberlake, mas sugere que o comportamento estava relacionado a rumores sobre a infidelidade de Timberlake). Spears se lembra dessa entrevista como um “ponto de colapso” para ela. “Eu me senti como se tivesse sido explorada”, escreve ela, “exposta na frente do mundo inteiro”.
  • LEIA TAMBÉM: Internet relaciona aborto de Britney com clipe lançado após término com Timberlake; entenda

Relação com drogas e álcool

Abordando os anos do auge da notória temporada como figura de paparazzi e tabloides, Spears escreve sobre as incursões no início da vida adulta em festas e vida noturna com um senso de incredulidade sobre como elas eram retratadas na mídia.

  • Sobre o tempo em que era fotografada ao lado de celebridades como Paris Hilton e Lindsay Lohan, Spears escreve: “Aquilo nunca foi tão desvairado quanto a imprensa fazia parecer”, dizendo que não tinha interesse em drogas pesadas e “nunca teve problemas com bebida”. Em vez disso, Spears descreve sua “droga preferida” como o medicamento para TDAH Adderall, que “me deixava chapada, sim, mas o que eu achava muito mais atraente era que ele me proporcionava algumas horas em que me sentia menos deprimida”.
  • Spears escreve que durante alguns de seus episódios públicos mais conhecidos - raspar a cabeça e atacar o carro de um paparazzo - ela estava “fora de si de tristeza” após a morte da tia e uma briga por custódia com o ex-marido, Kevin Federline. “Com a cabeça raspada, todos tinham medo de mim, até mesmo minha mãe”, escreve ela. “Ao passar aquelas semanas sem meus filhos, eu pirei várias vezes. Não sabia nem mesmo como cuidar de mim mesma.”
  • Spears acrescenta: “Estou disposta a admitir que, em meio a uma grave depressão pós-parto, ao abandono do meu marido, à tortura de ser separada dos meus dois bebês, à morte da minha adorada tia Sandra e à constante pressão dos paparazzi, eu começava a pensar, em alguns aspectos, como uma criança.”
Britney é flagrada por paparazzo em 2007 enquanto deixava restaurante na Califórnia com os filhos Sean Preston Federline e Jayden James Federline Foto: Reuters/Cortesia de TMZ.COM

A tutela

No início de 2008, em meio os conflitos públicos, o pai da cantora, conhecido como Jamie, foi nomeado tutor das finanças e vida pessoal dela pelo estado da Califórnia, um acordo que durou de várias formas até 2021. Mesmo quando voltou a trabalhar como artista, Spears escreveu que todas as ações eram monitoradas, inclusive com quem ela poderia sair ou passar o tempo.

  • “Eu sei que estava agindo de forma descontrolada, mas não havia nada que eu tivesse feito que justificasse o fato de me tratarem como se eu fosse uma assaltante de banco”, escreve Spears no livro de memórias. “Nada que justificasse o fim de toda a minha vida.” Ela descreve a decisão como tendo sido tomada pelo pai, com o apoio da mãe e de uma gerente de negócios, Louise Taylor, conhecida como Lou, que negou ter sido a arquiteta da tutela. (Jamie Spears há muito tempo defende o envolvimento dele como um esforço para proteger a filha da exploração financeira).
  • “Doente demais para escolher meu próprio namorado e, ainda assim, saudável o suficiente para aparecer em seriados e programas matinais, e me apresentar para milhares de pessoas em uma parte diferente do mundo toda semana”, escreve Spears, acrescentando sobre o pai: “Daquele momento em diante, comecei a pensar que ele me via como uma pessoa colocada no mundo por nenhuma outra razão a não ser ajudar no fluxo de caixa deles.” Em outro trecho, Spears se lembra do pai dizendo: “Agora eu sou a Britney Spears”.
  • “Passei de muito festeira a monge total”, escreve Spears. “Seguranças me entregavam envelopes pré-embalados de remédios e me vigiavam tomá-los. Eles colocaram controle parental no meu iPhone. Tudo era escrutinado e controlado. Tudo.”
  • Qualquer reação de Spears era desaprovada, ignorada ou minimizada, escreve ela: “Cheguei a mencionar a tutela em um programa de entrevistas em 2016, mas de alguma forma essa parte da entrevista não foi ao ar. Que interessante. Que interessante”.
Fãs de Britney se reúnem do lado de fora do Tribunal Stanley Mosk no dia da audiência do caso de tutela, em Los Angeles, Califórnia, em 12 de novembro de 2021 Foto: Mike Blake/Reuters

Revidando e #FreeBritney

Embora Spears tenha se insurgido de forma intermitente contra a tutela a portas fechadas, sem sucesso, ela atribui o início do fim do arranjo a disputas com o pai perto do final de 2018, quando ela foi obrigada a submeter a mais avaliações de saúde mental e depois passar mais de três meses na reabilitação.

  • “Meu pai disse que, se eu não fosse, teria que ir ao tribunal e ficaria envergonhada”, escreve Spears, acrescentando que ele ameaçou fazer com que ela parecesse uma “idiota”.
  • Além de receber prescrição de lítio na instituição, diz Spears, ela só podia assistir à televisão por uma hora antes de dormir às nove da noite. “Eles me mantiveram trancada contra minha vontade por meses”, escreve ela. “Eu não podia sair. Não podia dirigir um carro. Eu tinha que coletar sangue semanalmente. Não podia tomar um banho com privacidade. Não podia fechar a porta do meu quarto.”
  • Foi lá, em uma clínica de reabilitação em Beverly Hills, que custa US$ 60 mil por mês, que Spears diz que uma enfermeira lhe mostrou clipes de fãs protestanto no movimento viral #FreeBritney, que questionava a necessidade da tutela da cantora. “Foi a coisa mais incrível que já vi na minha vida”, escreveu Spears. “Acho não acho que as pessoas soubessem o quanto o movimento #FreeBritney significava para mim, especialmente no início.”
  • Ela escreve que “parecia que todo dia havia um documentário a mais sobre mim em um serviço de streaming diferente” (incluindo Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela, do The New York Times). “Ver os documentários sobre mim foi pesado”, escreve ela. “Entendo que o coração de todos estava no lugar certo, mas fiquei magoada com o fato de um velho amigo ter falado com os cineastas sem me consultar primeiro.” Ela acrescenta: “Havia muitas suposições sobre o que eu deveria ter pensado ou sentido”.
  • Quando o pai foi removido do cargo de guardião, não muito antes de o arranjo ser totalmente encerrado, “senti o alívio tomar conta de mim”, escreve Spears. “O homem que me assustou quando criança e me dominou quando adulta, que fez mais do que ninguém para minar minha autoconfiança, não estava mais no controle da minha vida.” Quando recebeu a ligação do novo advogado, Mathew S. Rosengart, informando que a tutela havia oficialmente terminado, Spears escreve, ela estava em um resort no Taiti.
  • Mas Spears continua aimplacável com as consequências da tutela, escrevendo sobre o contínuo distanciamento de grande parte da família. “As enxaquecas são apenas uma parte dos danos físicos e emocionais que sofro agora que estou fora da tutela”, escreve ela. “Acho que minha família não entende o verdadeiro dano que causou.”
  • LEIA TAMBÉM: Pai de Britney Spears está internado em estado grave após infecção, diz jornal
Britney Spears em apresentação no programa 'Good Morning America' em março de 2011 Foto: Stephen Lam/Reuters

Um retorno à música?

Embora alguns digam que a tutela salvou a vida de Spears, ela escreve: “Na real, não. Minha música era minha vida, e a tutela foi fatal para isso; ela esmagou minha alma”.

  • Durante todo o tempo em que se apresentou em uma residência em Las Vegas, Spears escreve, ela não tinha permissão para atualizar o show. “Quando eu queria apresentar minhas músicas favoritas, como Change Your Mind ou Get Naked, eles não me deixavam”, escreve ela. “Parecia que eles queriam me envergonhar em vez de permitir que eu desse aos meus fãs a melhor apresentação possível.”
  • Agora que ela tem a oportunidade de criar livremente de novo, a cantora escreve, ela não se sente motivada a fazê-lo, embora mencione uma colaboração única com um dos heróis musicais dela, Elton John, lançada no ano passado. “Impulsionar minha carreira musical não é meu foco no momento”, diz Spears. “É hora de eu não ser alguém que as outras pessoas querem; é hora de realmente me encontrar.”

A mulher em mim

  • Editora: Buzz Editora
  • Autora: Britney Spears
  • Tradução: Cristiane Maruyama
  • 280 páginas; R$ 119,90 | Ebook: 79,90

Este artigo foi publicado originalmente no New York Times.

Durante os 13 anos em que uma tutela governou estritamente a vida e a carreira de Britney Spears, chegou um ponto em que ela desistiu de lutar, lembra a cantora no livro de memórias A Mulher em Mim, que será lançado na terça-feira, 24 de outubro.

O pai dela, James P. Spears, foi encarregado dos negócios em 2008, depois que ela foi hospitalizada duas vezes para avaliações psicológicas involuntárias. Em alguns momentos, nos anos que se seguiram, ela resistiu privadamente, mas, por fim, a exaustão e o medo de perder o acesso aos dois filhos pequenos prevaleceram, ela relembra no livro.

“Depois de ser mantida em uma maca”, diz o livro de memórias, “eu sabia que eles poderiam confinar meu corpo a qualquer momento que quisessem. Então, aceitei”. Spears acrescenta: “Minha liberdade em troca de cochilos com meus filhos - era uma troca que eu estava disposta a fazer”.

Capa do livro de memórias de Britney Spears, 'A Mulher em Mim' Foto: Buzz Editora

No tão aguardado livro de memórias de 275 páginas (280 no Brasil), que o The New York Times obteve em uma loja de varejo antes do lançamento autorizado, Spears escreve sobre a carreira como ídolo adolescente, as lutas que se tornaram alimento para os tabloides, o tempo sob a tutela e a eventual pressão para o término em 2021, quando ela recuperou o direito de tomar as próprias decisões.

Durante todo o tempo, ela descreve a sensação de estar muito sob os olhos do público, muito analisada, seja pelos pais ou pelos paparazzi, ou até mesmo pelos médicos que, segundo ela, “me tiraram dos meus filhos, dos meus cachorros e da minha casa”. Mas a história é, por natureza, incompleta, referindo-se alegremente ao casamento pós-tutela de Spears com Hesam Asghari, conhecido como Sam, que pediu o divórcio em agosto, depois de pouco mais de um ano.

Veja abaixo outros momentos marcantes do livro.

Britney Spears posa com o prêmio de Melhor Vídeo Pop e o Michael Jackson Video Vanguard Award no MTV Video Music Awards 2011 Foto: Danny Moloshok/Reuters

Ascensão à fama em ‘The Woman in Me’, no título do livro em inglês

Desde a apresentação de seu primeiro solo - a canção natalina What Child Is This? - na creche da mãe até a audição de I Have Nothing, de Whitney Houston, em salas cheias de executivos de gravadoras, Spears registra a rápida ascensão à fama quando criança e adolescente.

  • Quando tinha 10 anos, ela se lembra, estava no programa Star Search, onde o apresentador, Ed McMahon, perguntou se ela tinha um namorado. Depois que ela respondeu que não tinha, porque eles eram “maus”, McMahon respondeu: “Eu não sou mau! E quanto a mim?” Ela “se controlou” até sair do palco, escreve Spears, “mas depois comecei a chorar”.
  • Após aparecer no The Mickey Mouse Club, escreve Spears, ela decidiu que queria levar uma “vida normal” em Kentwood, Louisiana, até que Larry Rudolph, um advogado que a mãe conheceu no circuito de audições, sugeriu que ela gravasse uma demo. Ela conseguiu um contrato com uma gravadora aos 15 anos, e Rudolph tornou-se seu empresário por muito tempo.

Conquista da fama e atenção

Spears ascendeu rapidamente de uma adolescente que se apresentava em shopping centers para a princesa do pop de 16 anos com um single de sucesso: “... Baby One More Time”. Ela saiu em turnê com a boy band ‘N Sync e teve um romance de destaque com Justin Timberlake.

  • Ela escreve que “não pôde deixar de notar” que os apresentadores de programas de entrevistas faziam a Timberlake tipos de perguntas diferentes das que eram feitas a ela: “Todos faziam comentários estranhos sobre meus seios”, diz o livro, “querendo saber se eu tinha ou não feito cirurgia plástica”. A pressão só aumentou à medida que ela se tornou uma figura constante na MTV, e as críticas do público acabaram levando-a a começar a tomar Prozac (Fluoxetina), lembra ela.
Britney Spears e o então namorado Justin Timberlake na estreia do filme da cantora, 'Crossroads', em fevereiro de 2002 Foto: Fred Prouser/Reuters

Rompimento com Timberlake

Spears conta que a conexão com Timberlake era magnética e descreve o término do namoro - que, segundo ela, foi iniciado por ele por meio de mensagens de texto - como algo que a deixou “arrasada” e considerando abandonar o show business.

  • Ela relembra a reação ao lançamento do videoclipe de Timberlake, Cry Me a River, no qual, como ela descreve, “uma mulher que se parece comigo o trai e ele vagueia triste na chuva”. Ela viu a mídia retratando-a como uma “prostituta que partiu o coração do menino de ouro da América”, escreve ela, quando na realidade: “Eu estava em estado de coma em Louisiana, e ele feliz circulando por Hollywood”.
  • Conforme revelado pela primeira vez em trechos divulgados pela revista People no início desta semana, Spears conta em detalhes a decisão de fazer um aborto depois de engravidar durante o relacionamento com Timberlake. Ela disse que não via a gravidez como “uma tragédia”, mas que ele achava que eles eram muito jovens, o que a levou a concordar em “não ter o bebê”.
  • Após o rompimento, diz Spears, ela se sentiu forçada pelo pai eempresários a participar de uma entrevista com Diane Sawyer, durante a qual Sawyer a pressionou sobre o que ela fez a Timberlake que causou “tanta dor” a ele. (No livro, Spears confirma um boato antigo ao dizer que beijou o coreógrafo Wade Robson durante o relacionamento com Timberlake, mas sugere que o comportamento estava relacionado a rumores sobre a infidelidade de Timberlake). Spears se lembra dessa entrevista como um “ponto de colapso” para ela. “Eu me senti como se tivesse sido explorada”, escreve ela, “exposta na frente do mundo inteiro”.
  • LEIA TAMBÉM: Internet relaciona aborto de Britney com clipe lançado após término com Timberlake; entenda

Relação com drogas e álcool

Abordando os anos do auge da notória temporada como figura de paparazzi e tabloides, Spears escreve sobre as incursões no início da vida adulta em festas e vida noturna com um senso de incredulidade sobre como elas eram retratadas na mídia.

  • Sobre o tempo em que era fotografada ao lado de celebridades como Paris Hilton e Lindsay Lohan, Spears escreve: “Aquilo nunca foi tão desvairado quanto a imprensa fazia parecer”, dizendo que não tinha interesse em drogas pesadas e “nunca teve problemas com bebida”. Em vez disso, Spears descreve sua “droga preferida” como o medicamento para TDAH Adderall, que “me deixava chapada, sim, mas o que eu achava muito mais atraente era que ele me proporcionava algumas horas em que me sentia menos deprimida”.
  • Spears escreve que durante alguns de seus episódios públicos mais conhecidos - raspar a cabeça e atacar o carro de um paparazzo - ela estava “fora de si de tristeza” após a morte da tia e uma briga por custódia com o ex-marido, Kevin Federline. “Com a cabeça raspada, todos tinham medo de mim, até mesmo minha mãe”, escreve ela. “Ao passar aquelas semanas sem meus filhos, eu pirei várias vezes. Não sabia nem mesmo como cuidar de mim mesma.”
  • Spears acrescenta: “Estou disposta a admitir que, em meio a uma grave depressão pós-parto, ao abandono do meu marido, à tortura de ser separada dos meus dois bebês, à morte da minha adorada tia Sandra e à constante pressão dos paparazzi, eu começava a pensar, em alguns aspectos, como uma criança.”
Britney é flagrada por paparazzo em 2007 enquanto deixava restaurante na Califórnia com os filhos Sean Preston Federline e Jayden James Federline Foto: Reuters/Cortesia de TMZ.COM

A tutela

No início de 2008, em meio os conflitos públicos, o pai da cantora, conhecido como Jamie, foi nomeado tutor das finanças e vida pessoal dela pelo estado da Califórnia, um acordo que durou de várias formas até 2021. Mesmo quando voltou a trabalhar como artista, Spears escreveu que todas as ações eram monitoradas, inclusive com quem ela poderia sair ou passar o tempo.

  • “Eu sei que estava agindo de forma descontrolada, mas não havia nada que eu tivesse feito que justificasse o fato de me tratarem como se eu fosse uma assaltante de banco”, escreve Spears no livro de memórias. “Nada que justificasse o fim de toda a minha vida.” Ela descreve a decisão como tendo sido tomada pelo pai, com o apoio da mãe e de uma gerente de negócios, Louise Taylor, conhecida como Lou, que negou ter sido a arquiteta da tutela. (Jamie Spears há muito tempo defende o envolvimento dele como um esforço para proteger a filha da exploração financeira).
  • “Doente demais para escolher meu próprio namorado e, ainda assim, saudável o suficiente para aparecer em seriados e programas matinais, e me apresentar para milhares de pessoas em uma parte diferente do mundo toda semana”, escreve Spears, acrescentando sobre o pai: “Daquele momento em diante, comecei a pensar que ele me via como uma pessoa colocada no mundo por nenhuma outra razão a não ser ajudar no fluxo de caixa deles.” Em outro trecho, Spears se lembra do pai dizendo: “Agora eu sou a Britney Spears”.
  • “Passei de muito festeira a monge total”, escreve Spears. “Seguranças me entregavam envelopes pré-embalados de remédios e me vigiavam tomá-los. Eles colocaram controle parental no meu iPhone. Tudo era escrutinado e controlado. Tudo.”
  • Qualquer reação de Spears era desaprovada, ignorada ou minimizada, escreve ela: “Cheguei a mencionar a tutela em um programa de entrevistas em 2016, mas de alguma forma essa parte da entrevista não foi ao ar. Que interessante. Que interessante”.
Fãs de Britney se reúnem do lado de fora do Tribunal Stanley Mosk no dia da audiência do caso de tutela, em Los Angeles, Califórnia, em 12 de novembro de 2021 Foto: Mike Blake/Reuters

Revidando e #FreeBritney

Embora Spears tenha se insurgido de forma intermitente contra a tutela a portas fechadas, sem sucesso, ela atribui o início do fim do arranjo a disputas com o pai perto do final de 2018, quando ela foi obrigada a submeter a mais avaliações de saúde mental e depois passar mais de três meses na reabilitação.

  • “Meu pai disse que, se eu não fosse, teria que ir ao tribunal e ficaria envergonhada”, escreve Spears, acrescentando que ele ameaçou fazer com que ela parecesse uma “idiota”.
  • Além de receber prescrição de lítio na instituição, diz Spears, ela só podia assistir à televisão por uma hora antes de dormir às nove da noite. “Eles me mantiveram trancada contra minha vontade por meses”, escreve ela. “Eu não podia sair. Não podia dirigir um carro. Eu tinha que coletar sangue semanalmente. Não podia tomar um banho com privacidade. Não podia fechar a porta do meu quarto.”
  • Foi lá, em uma clínica de reabilitação em Beverly Hills, que custa US$ 60 mil por mês, que Spears diz que uma enfermeira lhe mostrou clipes de fãs protestanto no movimento viral #FreeBritney, que questionava a necessidade da tutela da cantora. “Foi a coisa mais incrível que já vi na minha vida”, escreveu Spears. “Acho não acho que as pessoas soubessem o quanto o movimento #FreeBritney significava para mim, especialmente no início.”
  • Ela escreve que “parecia que todo dia havia um documentário a mais sobre mim em um serviço de streaming diferente” (incluindo Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela, do The New York Times). “Ver os documentários sobre mim foi pesado”, escreve ela. “Entendo que o coração de todos estava no lugar certo, mas fiquei magoada com o fato de um velho amigo ter falado com os cineastas sem me consultar primeiro.” Ela acrescenta: “Havia muitas suposições sobre o que eu deveria ter pensado ou sentido”.
  • Quando o pai foi removido do cargo de guardião, não muito antes de o arranjo ser totalmente encerrado, “senti o alívio tomar conta de mim”, escreve Spears. “O homem que me assustou quando criança e me dominou quando adulta, que fez mais do que ninguém para minar minha autoconfiança, não estava mais no controle da minha vida.” Quando recebeu a ligação do novo advogado, Mathew S. Rosengart, informando que a tutela havia oficialmente terminado, Spears escreve, ela estava em um resort no Taiti.
  • Mas Spears continua aimplacável com as consequências da tutela, escrevendo sobre o contínuo distanciamento de grande parte da família. “As enxaquecas são apenas uma parte dos danos físicos e emocionais que sofro agora que estou fora da tutela”, escreve ela. “Acho que minha família não entende o verdadeiro dano que causou.”
  • LEIA TAMBÉM: Pai de Britney Spears está internado em estado grave após infecção, diz jornal
Britney Spears em apresentação no programa 'Good Morning America' em março de 2011 Foto: Stephen Lam/Reuters

Um retorno à música?

Embora alguns digam que a tutela salvou a vida de Spears, ela escreve: “Na real, não. Minha música era minha vida, e a tutela foi fatal para isso; ela esmagou minha alma”.

  • Durante todo o tempo em que se apresentou em uma residência em Las Vegas, Spears escreve, ela não tinha permissão para atualizar o show. “Quando eu queria apresentar minhas músicas favoritas, como Change Your Mind ou Get Naked, eles não me deixavam”, escreve ela. “Parecia que eles queriam me envergonhar em vez de permitir que eu desse aos meus fãs a melhor apresentação possível.”
  • Agora que ela tem a oportunidade de criar livremente de novo, a cantora escreve, ela não se sente motivada a fazê-lo, embora mencione uma colaboração única com um dos heróis musicais dela, Elton John, lançada no ano passado. “Impulsionar minha carreira musical não é meu foco no momento”, diz Spears. “É hora de eu não ser alguém que as outras pessoas querem; é hora de realmente me encontrar.”

A mulher em mim

  • Editora: Buzz Editora
  • Autora: Britney Spears
  • Tradução: Cristiane Maruyama
  • 280 páginas; R$ 119,90 | Ebook: 79,90

Este artigo foi publicado originalmente no New York Times.

Durante os 13 anos em que uma tutela governou estritamente a vida e a carreira de Britney Spears, chegou um ponto em que ela desistiu de lutar, lembra a cantora no livro de memórias A Mulher em Mim, que será lançado na terça-feira, 24 de outubro.

O pai dela, James P. Spears, foi encarregado dos negócios em 2008, depois que ela foi hospitalizada duas vezes para avaliações psicológicas involuntárias. Em alguns momentos, nos anos que se seguiram, ela resistiu privadamente, mas, por fim, a exaustão e o medo de perder o acesso aos dois filhos pequenos prevaleceram, ela relembra no livro.

“Depois de ser mantida em uma maca”, diz o livro de memórias, “eu sabia que eles poderiam confinar meu corpo a qualquer momento que quisessem. Então, aceitei”. Spears acrescenta: “Minha liberdade em troca de cochilos com meus filhos - era uma troca que eu estava disposta a fazer”.

Capa do livro de memórias de Britney Spears, 'A Mulher em Mim' Foto: Buzz Editora

No tão aguardado livro de memórias de 275 páginas (280 no Brasil), que o The New York Times obteve em uma loja de varejo antes do lançamento autorizado, Spears escreve sobre a carreira como ídolo adolescente, as lutas que se tornaram alimento para os tabloides, o tempo sob a tutela e a eventual pressão para o término em 2021, quando ela recuperou o direito de tomar as próprias decisões.

Durante todo o tempo, ela descreve a sensação de estar muito sob os olhos do público, muito analisada, seja pelos pais ou pelos paparazzi, ou até mesmo pelos médicos que, segundo ela, “me tiraram dos meus filhos, dos meus cachorros e da minha casa”. Mas a história é, por natureza, incompleta, referindo-se alegremente ao casamento pós-tutela de Spears com Hesam Asghari, conhecido como Sam, que pediu o divórcio em agosto, depois de pouco mais de um ano.

Veja abaixo outros momentos marcantes do livro.

Britney Spears posa com o prêmio de Melhor Vídeo Pop e o Michael Jackson Video Vanguard Award no MTV Video Music Awards 2011 Foto: Danny Moloshok/Reuters

Ascensão à fama em ‘The Woman in Me’, no título do livro em inglês

Desde a apresentação de seu primeiro solo - a canção natalina What Child Is This? - na creche da mãe até a audição de I Have Nothing, de Whitney Houston, em salas cheias de executivos de gravadoras, Spears registra a rápida ascensão à fama quando criança e adolescente.

  • Quando tinha 10 anos, ela se lembra, estava no programa Star Search, onde o apresentador, Ed McMahon, perguntou se ela tinha um namorado. Depois que ela respondeu que não tinha, porque eles eram “maus”, McMahon respondeu: “Eu não sou mau! E quanto a mim?” Ela “se controlou” até sair do palco, escreve Spears, “mas depois comecei a chorar”.
  • Após aparecer no The Mickey Mouse Club, escreve Spears, ela decidiu que queria levar uma “vida normal” em Kentwood, Louisiana, até que Larry Rudolph, um advogado que a mãe conheceu no circuito de audições, sugeriu que ela gravasse uma demo. Ela conseguiu um contrato com uma gravadora aos 15 anos, e Rudolph tornou-se seu empresário por muito tempo.

Conquista da fama e atenção

Spears ascendeu rapidamente de uma adolescente que se apresentava em shopping centers para a princesa do pop de 16 anos com um single de sucesso: “... Baby One More Time”. Ela saiu em turnê com a boy band ‘N Sync e teve um romance de destaque com Justin Timberlake.

  • Ela escreve que “não pôde deixar de notar” que os apresentadores de programas de entrevistas faziam a Timberlake tipos de perguntas diferentes das que eram feitas a ela: “Todos faziam comentários estranhos sobre meus seios”, diz o livro, “querendo saber se eu tinha ou não feito cirurgia plástica”. A pressão só aumentou à medida que ela se tornou uma figura constante na MTV, e as críticas do público acabaram levando-a a começar a tomar Prozac (Fluoxetina), lembra ela.
Britney Spears e o então namorado Justin Timberlake na estreia do filme da cantora, 'Crossroads', em fevereiro de 2002 Foto: Fred Prouser/Reuters

Rompimento com Timberlake

Spears conta que a conexão com Timberlake era magnética e descreve o término do namoro - que, segundo ela, foi iniciado por ele por meio de mensagens de texto - como algo que a deixou “arrasada” e considerando abandonar o show business.

  • Ela relembra a reação ao lançamento do videoclipe de Timberlake, Cry Me a River, no qual, como ela descreve, “uma mulher que se parece comigo o trai e ele vagueia triste na chuva”. Ela viu a mídia retratando-a como uma “prostituta que partiu o coração do menino de ouro da América”, escreve ela, quando na realidade: “Eu estava em estado de coma em Louisiana, e ele feliz circulando por Hollywood”.
  • Conforme revelado pela primeira vez em trechos divulgados pela revista People no início desta semana, Spears conta em detalhes a decisão de fazer um aborto depois de engravidar durante o relacionamento com Timberlake. Ela disse que não via a gravidez como “uma tragédia”, mas que ele achava que eles eram muito jovens, o que a levou a concordar em “não ter o bebê”.
  • Após o rompimento, diz Spears, ela se sentiu forçada pelo pai eempresários a participar de uma entrevista com Diane Sawyer, durante a qual Sawyer a pressionou sobre o que ela fez a Timberlake que causou “tanta dor” a ele. (No livro, Spears confirma um boato antigo ao dizer que beijou o coreógrafo Wade Robson durante o relacionamento com Timberlake, mas sugere que o comportamento estava relacionado a rumores sobre a infidelidade de Timberlake). Spears se lembra dessa entrevista como um “ponto de colapso” para ela. “Eu me senti como se tivesse sido explorada”, escreve ela, “exposta na frente do mundo inteiro”.
  • LEIA TAMBÉM: Internet relaciona aborto de Britney com clipe lançado após término com Timberlake; entenda

Relação com drogas e álcool

Abordando os anos do auge da notória temporada como figura de paparazzi e tabloides, Spears escreve sobre as incursões no início da vida adulta em festas e vida noturna com um senso de incredulidade sobre como elas eram retratadas na mídia.

  • Sobre o tempo em que era fotografada ao lado de celebridades como Paris Hilton e Lindsay Lohan, Spears escreve: “Aquilo nunca foi tão desvairado quanto a imprensa fazia parecer”, dizendo que não tinha interesse em drogas pesadas e “nunca teve problemas com bebida”. Em vez disso, Spears descreve sua “droga preferida” como o medicamento para TDAH Adderall, que “me deixava chapada, sim, mas o que eu achava muito mais atraente era que ele me proporcionava algumas horas em que me sentia menos deprimida”.
  • Spears escreve que durante alguns de seus episódios públicos mais conhecidos - raspar a cabeça e atacar o carro de um paparazzo - ela estava “fora de si de tristeza” após a morte da tia e uma briga por custódia com o ex-marido, Kevin Federline. “Com a cabeça raspada, todos tinham medo de mim, até mesmo minha mãe”, escreve ela. “Ao passar aquelas semanas sem meus filhos, eu pirei várias vezes. Não sabia nem mesmo como cuidar de mim mesma.”
  • Spears acrescenta: “Estou disposta a admitir que, em meio a uma grave depressão pós-parto, ao abandono do meu marido, à tortura de ser separada dos meus dois bebês, à morte da minha adorada tia Sandra e à constante pressão dos paparazzi, eu começava a pensar, em alguns aspectos, como uma criança.”
Britney é flagrada por paparazzo em 2007 enquanto deixava restaurante na Califórnia com os filhos Sean Preston Federline e Jayden James Federline Foto: Reuters/Cortesia de TMZ.COM

A tutela

No início de 2008, em meio os conflitos públicos, o pai da cantora, conhecido como Jamie, foi nomeado tutor das finanças e vida pessoal dela pelo estado da Califórnia, um acordo que durou de várias formas até 2021. Mesmo quando voltou a trabalhar como artista, Spears escreveu que todas as ações eram monitoradas, inclusive com quem ela poderia sair ou passar o tempo.

  • “Eu sei que estava agindo de forma descontrolada, mas não havia nada que eu tivesse feito que justificasse o fato de me tratarem como se eu fosse uma assaltante de banco”, escreve Spears no livro de memórias. “Nada que justificasse o fim de toda a minha vida.” Ela descreve a decisão como tendo sido tomada pelo pai, com o apoio da mãe e de uma gerente de negócios, Louise Taylor, conhecida como Lou, que negou ter sido a arquiteta da tutela. (Jamie Spears há muito tempo defende o envolvimento dele como um esforço para proteger a filha da exploração financeira).
  • “Doente demais para escolher meu próprio namorado e, ainda assim, saudável o suficiente para aparecer em seriados e programas matinais, e me apresentar para milhares de pessoas em uma parte diferente do mundo toda semana”, escreve Spears, acrescentando sobre o pai: “Daquele momento em diante, comecei a pensar que ele me via como uma pessoa colocada no mundo por nenhuma outra razão a não ser ajudar no fluxo de caixa deles.” Em outro trecho, Spears se lembra do pai dizendo: “Agora eu sou a Britney Spears”.
  • “Passei de muito festeira a monge total”, escreve Spears. “Seguranças me entregavam envelopes pré-embalados de remédios e me vigiavam tomá-los. Eles colocaram controle parental no meu iPhone. Tudo era escrutinado e controlado. Tudo.”
  • Qualquer reação de Spears era desaprovada, ignorada ou minimizada, escreve ela: “Cheguei a mencionar a tutela em um programa de entrevistas em 2016, mas de alguma forma essa parte da entrevista não foi ao ar. Que interessante. Que interessante”.
Fãs de Britney se reúnem do lado de fora do Tribunal Stanley Mosk no dia da audiência do caso de tutela, em Los Angeles, Califórnia, em 12 de novembro de 2021 Foto: Mike Blake/Reuters

Revidando e #FreeBritney

Embora Spears tenha se insurgido de forma intermitente contra a tutela a portas fechadas, sem sucesso, ela atribui o início do fim do arranjo a disputas com o pai perto do final de 2018, quando ela foi obrigada a submeter a mais avaliações de saúde mental e depois passar mais de três meses na reabilitação.

  • “Meu pai disse que, se eu não fosse, teria que ir ao tribunal e ficaria envergonhada”, escreve Spears, acrescentando que ele ameaçou fazer com que ela parecesse uma “idiota”.
  • Além de receber prescrição de lítio na instituição, diz Spears, ela só podia assistir à televisão por uma hora antes de dormir às nove da noite. “Eles me mantiveram trancada contra minha vontade por meses”, escreve ela. “Eu não podia sair. Não podia dirigir um carro. Eu tinha que coletar sangue semanalmente. Não podia tomar um banho com privacidade. Não podia fechar a porta do meu quarto.”
  • Foi lá, em uma clínica de reabilitação em Beverly Hills, que custa US$ 60 mil por mês, que Spears diz que uma enfermeira lhe mostrou clipes de fãs protestanto no movimento viral #FreeBritney, que questionava a necessidade da tutela da cantora. “Foi a coisa mais incrível que já vi na minha vida”, escreveu Spears. “Acho não acho que as pessoas soubessem o quanto o movimento #FreeBritney significava para mim, especialmente no início.”
  • Ela escreve que “parecia que todo dia havia um documentário a mais sobre mim em um serviço de streaming diferente” (incluindo Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela, do The New York Times). “Ver os documentários sobre mim foi pesado”, escreve ela. “Entendo que o coração de todos estava no lugar certo, mas fiquei magoada com o fato de um velho amigo ter falado com os cineastas sem me consultar primeiro.” Ela acrescenta: “Havia muitas suposições sobre o que eu deveria ter pensado ou sentido”.
  • Quando o pai foi removido do cargo de guardião, não muito antes de o arranjo ser totalmente encerrado, “senti o alívio tomar conta de mim”, escreve Spears. “O homem que me assustou quando criança e me dominou quando adulta, que fez mais do que ninguém para minar minha autoconfiança, não estava mais no controle da minha vida.” Quando recebeu a ligação do novo advogado, Mathew S. Rosengart, informando que a tutela havia oficialmente terminado, Spears escreve, ela estava em um resort no Taiti.
  • Mas Spears continua aimplacável com as consequências da tutela, escrevendo sobre o contínuo distanciamento de grande parte da família. “As enxaquecas são apenas uma parte dos danos físicos e emocionais que sofro agora que estou fora da tutela”, escreve ela. “Acho que minha família não entende o verdadeiro dano que causou.”
  • LEIA TAMBÉM: Pai de Britney Spears está internado em estado grave após infecção, diz jornal
Britney Spears em apresentação no programa 'Good Morning America' em março de 2011 Foto: Stephen Lam/Reuters

Um retorno à música?

Embora alguns digam que a tutela salvou a vida de Spears, ela escreve: “Na real, não. Minha música era minha vida, e a tutela foi fatal para isso; ela esmagou minha alma”.

  • Durante todo o tempo em que se apresentou em uma residência em Las Vegas, Spears escreve, ela não tinha permissão para atualizar o show. “Quando eu queria apresentar minhas músicas favoritas, como Change Your Mind ou Get Naked, eles não me deixavam”, escreve ela. “Parecia que eles queriam me envergonhar em vez de permitir que eu desse aos meus fãs a melhor apresentação possível.”
  • Agora que ela tem a oportunidade de criar livremente de novo, a cantora escreve, ela não se sente motivada a fazê-lo, embora mencione uma colaboração única com um dos heróis musicais dela, Elton John, lançada no ano passado. “Impulsionar minha carreira musical não é meu foco no momento”, diz Spears. “É hora de eu não ser alguém que as outras pessoas querem; é hora de realmente me encontrar.”

A mulher em mim

  • Editora: Buzz Editora
  • Autora: Britney Spears
  • Tradução: Cristiane Maruyama
  • 280 páginas; R$ 119,90 | Ebook: 79,90

Este artigo foi publicado originalmente no New York Times.

Durante os 13 anos em que uma tutela governou estritamente a vida e a carreira de Britney Spears, chegou um ponto em que ela desistiu de lutar, lembra a cantora no livro de memórias A Mulher em Mim, que será lançado na terça-feira, 24 de outubro.

O pai dela, James P. Spears, foi encarregado dos negócios em 2008, depois que ela foi hospitalizada duas vezes para avaliações psicológicas involuntárias. Em alguns momentos, nos anos que se seguiram, ela resistiu privadamente, mas, por fim, a exaustão e o medo de perder o acesso aos dois filhos pequenos prevaleceram, ela relembra no livro.

“Depois de ser mantida em uma maca”, diz o livro de memórias, “eu sabia que eles poderiam confinar meu corpo a qualquer momento que quisessem. Então, aceitei”. Spears acrescenta: “Minha liberdade em troca de cochilos com meus filhos - era uma troca que eu estava disposta a fazer”.

Capa do livro de memórias de Britney Spears, 'A Mulher em Mim' Foto: Buzz Editora

No tão aguardado livro de memórias de 275 páginas (280 no Brasil), que o The New York Times obteve em uma loja de varejo antes do lançamento autorizado, Spears escreve sobre a carreira como ídolo adolescente, as lutas que se tornaram alimento para os tabloides, o tempo sob a tutela e a eventual pressão para o término em 2021, quando ela recuperou o direito de tomar as próprias decisões.

Durante todo o tempo, ela descreve a sensação de estar muito sob os olhos do público, muito analisada, seja pelos pais ou pelos paparazzi, ou até mesmo pelos médicos que, segundo ela, “me tiraram dos meus filhos, dos meus cachorros e da minha casa”. Mas a história é, por natureza, incompleta, referindo-se alegremente ao casamento pós-tutela de Spears com Hesam Asghari, conhecido como Sam, que pediu o divórcio em agosto, depois de pouco mais de um ano.

Veja abaixo outros momentos marcantes do livro.

Britney Spears posa com o prêmio de Melhor Vídeo Pop e o Michael Jackson Video Vanguard Award no MTV Video Music Awards 2011 Foto: Danny Moloshok/Reuters

Ascensão à fama em ‘The Woman in Me’, no título do livro em inglês

Desde a apresentação de seu primeiro solo - a canção natalina What Child Is This? - na creche da mãe até a audição de I Have Nothing, de Whitney Houston, em salas cheias de executivos de gravadoras, Spears registra a rápida ascensão à fama quando criança e adolescente.

  • Quando tinha 10 anos, ela se lembra, estava no programa Star Search, onde o apresentador, Ed McMahon, perguntou se ela tinha um namorado. Depois que ela respondeu que não tinha, porque eles eram “maus”, McMahon respondeu: “Eu não sou mau! E quanto a mim?” Ela “se controlou” até sair do palco, escreve Spears, “mas depois comecei a chorar”.
  • Após aparecer no The Mickey Mouse Club, escreve Spears, ela decidiu que queria levar uma “vida normal” em Kentwood, Louisiana, até que Larry Rudolph, um advogado que a mãe conheceu no circuito de audições, sugeriu que ela gravasse uma demo. Ela conseguiu um contrato com uma gravadora aos 15 anos, e Rudolph tornou-se seu empresário por muito tempo.

Conquista da fama e atenção

Spears ascendeu rapidamente de uma adolescente que se apresentava em shopping centers para a princesa do pop de 16 anos com um single de sucesso: “... Baby One More Time”. Ela saiu em turnê com a boy band ‘N Sync e teve um romance de destaque com Justin Timberlake.

  • Ela escreve que “não pôde deixar de notar” que os apresentadores de programas de entrevistas faziam a Timberlake tipos de perguntas diferentes das que eram feitas a ela: “Todos faziam comentários estranhos sobre meus seios”, diz o livro, “querendo saber se eu tinha ou não feito cirurgia plástica”. A pressão só aumentou à medida que ela se tornou uma figura constante na MTV, e as críticas do público acabaram levando-a a começar a tomar Prozac (Fluoxetina), lembra ela.
Britney Spears e o então namorado Justin Timberlake na estreia do filme da cantora, 'Crossroads', em fevereiro de 2002 Foto: Fred Prouser/Reuters

Rompimento com Timberlake

Spears conta que a conexão com Timberlake era magnética e descreve o término do namoro - que, segundo ela, foi iniciado por ele por meio de mensagens de texto - como algo que a deixou “arrasada” e considerando abandonar o show business.

  • Ela relembra a reação ao lançamento do videoclipe de Timberlake, Cry Me a River, no qual, como ela descreve, “uma mulher que se parece comigo o trai e ele vagueia triste na chuva”. Ela viu a mídia retratando-a como uma “prostituta que partiu o coração do menino de ouro da América”, escreve ela, quando na realidade: “Eu estava em estado de coma em Louisiana, e ele feliz circulando por Hollywood”.
  • Conforme revelado pela primeira vez em trechos divulgados pela revista People no início desta semana, Spears conta em detalhes a decisão de fazer um aborto depois de engravidar durante o relacionamento com Timberlake. Ela disse que não via a gravidez como “uma tragédia”, mas que ele achava que eles eram muito jovens, o que a levou a concordar em “não ter o bebê”.
  • Após o rompimento, diz Spears, ela se sentiu forçada pelo pai eempresários a participar de uma entrevista com Diane Sawyer, durante a qual Sawyer a pressionou sobre o que ela fez a Timberlake que causou “tanta dor” a ele. (No livro, Spears confirma um boato antigo ao dizer que beijou o coreógrafo Wade Robson durante o relacionamento com Timberlake, mas sugere que o comportamento estava relacionado a rumores sobre a infidelidade de Timberlake). Spears se lembra dessa entrevista como um “ponto de colapso” para ela. “Eu me senti como se tivesse sido explorada”, escreve ela, “exposta na frente do mundo inteiro”.
  • LEIA TAMBÉM: Internet relaciona aborto de Britney com clipe lançado após término com Timberlake; entenda

Relação com drogas e álcool

Abordando os anos do auge da notória temporada como figura de paparazzi e tabloides, Spears escreve sobre as incursões no início da vida adulta em festas e vida noturna com um senso de incredulidade sobre como elas eram retratadas na mídia.

  • Sobre o tempo em que era fotografada ao lado de celebridades como Paris Hilton e Lindsay Lohan, Spears escreve: “Aquilo nunca foi tão desvairado quanto a imprensa fazia parecer”, dizendo que não tinha interesse em drogas pesadas e “nunca teve problemas com bebida”. Em vez disso, Spears descreve sua “droga preferida” como o medicamento para TDAH Adderall, que “me deixava chapada, sim, mas o que eu achava muito mais atraente era que ele me proporcionava algumas horas em que me sentia menos deprimida”.
  • Spears escreve que durante alguns de seus episódios públicos mais conhecidos - raspar a cabeça e atacar o carro de um paparazzo - ela estava “fora de si de tristeza” após a morte da tia e uma briga por custódia com o ex-marido, Kevin Federline. “Com a cabeça raspada, todos tinham medo de mim, até mesmo minha mãe”, escreve ela. “Ao passar aquelas semanas sem meus filhos, eu pirei várias vezes. Não sabia nem mesmo como cuidar de mim mesma.”
  • Spears acrescenta: “Estou disposta a admitir que, em meio a uma grave depressão pós-parto, ao abandono do meu marido, à tortura de ser separada dos meus dois bebês, à morte da minha adorada tia Sandra e à constante pressão dos paparazzi, eu começava a pensar, em alguns aspectos, como uma criança.”
Britney é flagrada por paparazzo em 2007 enquanto deixava restaurante na Califórnia com os filhos Sean Preston Federline e Jayden James Federline Foto: Reuters/Cortesia de TMZ.COM

A tutela

No início de 2008, em meio os conflitos públicos, o pai da cantora, conhecido como Jamie, foi nomeado tutor das finanças e vida pessoal dela pelo estado da Califórnia, um acordo que durou de várias formas até 2021. Mesmo quando voltou a trabalhar como artista, Spears escreveu que todas as ações eram monitoradas, inclusive com quem ela poderia sair ou passar o tempo.

  • “Eu sei que estava agindo de forma descontrolada, mas não havia nada que eu tivesse feito que justificasse o fato de me tratarem como se eu fosse uma assaltante de banco”, escreve Spears no livro de memórias. “Nada que justificasse o fim de toda a minha vida.” Ela descreve a decisão como tendo sido tomada pelo pai, com o apoio da mãe e de uma gerente de negócios, Louise Taylor, conhecida como Lou, que negou ter sido a arquiteta da tutela. (Jamie Spears há muito tempo defende o envolvimento dele como um esforço para proteger a filha da exploração financeira).
  • “Doente demais para escolher meu próprio namorado e, ainda assim, saudável o suficiente para aparecer em seriados e programas matinais, e me apresentar para milhares de pessoas em uma parte diferente do mundo toda semana”, escreve Spears, acrescentando sobre o pai: “Daquele momento em diante, comecei a pensar que ele me via como uma pessoa colocada no mundo por nenhuma outra razão a não ser ajudar no fluxo de caixa deles.” Em outro trecho, Spears se lembra do pai dizendo: “Agora eu sou a Britney Spears”.
  • “Passei de muito festeira a monge total”, escreve Spears. “Seguranças me entregavam envelopes pré-embalados de remédios e me vigiavam tomá-los. Eles colocaram controle parental no meu iPhone. Tudo era escrutinado e controlado. Tudo.”
  • Qualquer reação de Spears era desaprovada, ignorada ou minimizada, escreve ela: “Cheguei a mencionar a tutela em um programa de entrevistas em 2016, mas de alguma forma essa parte da entrevista não foi ao ar. Que interessante. Que interessante”.
Fãs de Britney se reúnem do lado de fora do Tribunal Stanley Mosk no dia da audiência do caso de tutela, em Los Angeles, Califórnia, em 12 de novembro de 2021 Foto: Mike Blake/Reuters

Revidando e #FreeBritney

Embora Spears tenha se insurgido de forma intermitente contra a tutela a portas fechadas, sem sucesso, ela atribui o início do fim do arranjo a disputas com o pai perto do final de 2018, quando ela foi obrigada a submeter a mais avaliações de saúde mental e depois passar mais de três meses na reabilitação.

  • “Meu pai disse que, se eu não fosse, teria que ir ao tribunal e ficaria envergonhada”, escreve Spears, acrescentando que ele ameaçou fazer com que ela parecesse uma “idiota”.
  • Além de receber prescrição de lítio na instituição, diz Spears, ela só podia assistir à televisão por uma hora antes de dormir às nove da noite. “Eles me mantiveram trancada contra minha vontade por meses”, escreve ela. “Eu não podia sair. Não podia dirigir um carro. Eu tinha que coletar sangue semanalmente. Não podia tomar um banho com privacidade. Não podia fechar a porta do meu quarto.”
  • Foi lá, em uma clínica de reabilitação em Beverly Hills, que custa US$ 60 mil por mês, que Spears diz que uma enfermeira lhe mostrou clipes de fãs protestanto no movimento viral #FreeBritney, que questionava a necessidade da tutela da cantora. “Foi a coisa mais incrível que já vi na minha vida”, escreveu Spears. “Acho não acho que as pessoas soubessem o quanto o movimento #FreeBritney significava para mim, especialmente no início.”
  • Ela escreve que “parecia que todo dia havia um documentário a mais sobre mim em um serviço de streaming diferente” (incluindo Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela, do The New York Times). “Ver os documentários sobre mim foi pesado”, escreve ela. “Entendo que o coração de todos estava no lugar certo, mas fiquei magoada com o fato de um velho amigo ter falado com os cineastas sem me consultar primeiro.” Ela acrescenta: “Havia muitas suposições sobre o que eu deveria ter pensado ou sentido”.
  • Quando o pai foi removido do cargo de guardião, não muito antes de o arranjo ser totalmente encerrado, “senti o alívio tomar conta de mim”, escreve Spears. “O homem que me assustou quando criança e me dominou quando adulta, que fez mais do que ninguém para minar minha autoconfiança, não estava mais no controle da minha vida.” Quando recebeu a ligação do novo advogado, Mathew S. Rosengart, informando que a tutela havia oficialmente terminado, Spears escreve, ela estava em um resort no Taiti.
  • Mas Spears continua aimplacável com as consequências da tutela, escrevendo sobre o contínuo distanciamento de grande parte da família. “As enxaquecas são apenas uma parte dos danos físicos e emocionais que sofro agora que estou fora da tutela”, escreve ela. “Acho que minha família não entende o verdadeiro dano que causou.”
  • LEIA TAMBÉM: Pai de Britney Spears está internado em estado grave após infecção, diz jornal
Britney Spears em apresentação no programa 'Good Morning America' em março de 2011 Foto: Stephen Lam/Reuters

Um retorno à música?

Embora alguns digam que a tutela salvou a vida de Spears, ela escreve: “Na real, não. Minha música era minha vida, e a tutela foi fatal para isso; ela esmagou minha alma”.

  • Durante todo o tempo em que se apresentou em uma residência em Las Vegas, Spears escreve, ela não tinha permissão para atualizar o show. “Quando eu queria apresentar minhas músicas favoritas, como Change Your Mind ou Get Naked, eles não me deixavam”, escreve ela. “Parecia que eles queriam me envergonhar em vez de permitir que eu desse aos meus fãs a melhor apresentação possível.”
  • Agora que ela tem a oportunidade de criar livremente de novo, a cantora escreve, ela não se sente motivada a fazê-lo, embora mencione uma colaboração única com um dos heróis musicais dela, Elton John, lançada no ano passado. “Impulsionar minha carreira musical não é meu foco no momento”, diz Spears. “É hora de eu não ser alguém que as outras pessoas querem; é hora de realmente me encontrar.”

A mulher em mim

  • Editora: Buzz Editora
  • Autora: Britney Spears
  • Tradução: Cristiane Maruyama
  • 280 páginas; R$ 119,90 | Ebook: 79,90

Este artigo foi publicado originalmente no New York Times.

Durante os 13 anos em que uma tutela governou estritamente a vida e a carreira de Britney Spears, chegou um ponto em que ela desistiu de lutar, lembra a cantora no livro de memórias A Mulher em Mim, que será lançado na terça-feira, 24 de outubro.

O pai dela, James P. Spears, foi encarregado dos negócios em 2008, depois que ela foi hospitalizada duas vezes para avaliações psicológicas involuntárias. Em alguns momentos, nos anos que se seguiram, ela resistiu privadamente, mas, por fim, a exaustão e o medo de perder o acesso aos dois filhos pequenos prevaleceram, ela relembra no livro.

“Depois de ser mantida em uma maca”, diz o livro de memórias, “eu sabia que eles poderiam confinar meu corpo a qualquer momento que quisessem. Então, aceitei”. Spears acrescenta: “Minha liberdade em troca de cochilos com meus filhos - era uma troca que eu estava disposta a fazer”.

Capa do livro de memórias de Britney Spears, 'A Mulher em Mim' Foto: Buzz Editora

No tão aguardado livro de memórias de 275 páginas (280 no Brasil), que o The New York Times obteve em uma loja de varejo antes do lançamento autorizado, Spears escreve sobre a carreira como ídolo adolescente, as lutas que se tornaram alimento para os tabloides, o tempo sob a tutela e a eventual pressão para o término em 2021, quando ela recuperou o direito de tomar as próprias decisões.

Durante todo o tempo, ela descreve a sensação de estar muito sob os olhos do público, muito analisada, seja pelos pais ou pelos paparazzi, ou até mesmo pelos médicos que, segundo ela, “me tiraram dos meus filhos, dos meus cachorros e da minha casa”. Mas a história é, por natureza, incompleta, referindo-se alegremente ao casamento pós-tutela de Spears com Hesam Asghari, conhecido como Sam, que pediu o divórcio em agosto, depois de pouco mais de um ano.

Veja abaixo outros momentos marcantes do livro.

Britney Spears posa com o prêmio de Melhor Vídeo Pop e o Michael Jackson Video Vanguard Award no MTV Video Music Awards 2011 Foto: Danny Moloshok/Reuters

Ascensão à fama em ‘The Woman in Me’, no título do livro em inglês

Desde a apresentação de seu primeiro solo - a canção natalina What Child Is This? - na creche da mãe até a audição de I Have Nothing, de Whitney Houston, em salas cheias de executivos de gravadoras, Spears registra a rápida ascensão à fama quando criança e adolescente.

  • Quando tinha 10 anos, ela se lembra, estava no programa Star Search, onde o apresentador, Ed McMahon, perguntou se ela tinha um namorado. Depois que ela respondeu que não tinha, porque eles eram “maus”, McMahon respondeu: “Eu não sou mau! E quanto a mim?” Ela “se controlou” até sair do palco, escreve Spears, “mas depois comecei a chorar”.
  • Após aparecer no The Mickey Mouse Club, escreve Spears, ela decidiu que queria levar uma “vida normal” em Kentwood, Louisiana, até que Larry Rudolph, um advogado que a mãe conheceu no circuito de audições, sugeriu que ela gravasse uma demo. Ela conseguiu um contrato com uma gravadora aos 15 anos, e Rudolph tornou-se seu empresário por muito tempo.

Conquista da fama e atenção

Spears ascendeu rapidamente de uma adolescente que se apresentava em shopping centers para a princesa do pop de 16 anos com um single de sucesso: “... Baby One More Time”. Ela saiu em turnê com a boy band ‘N Sync e teve um romance de destaque com Justin Timberlake.

  • Ela escreve que “não pôde deixar de notar” que os apresentadores de programas de entrevistas faziam a Timberlake tipos de perguntas diferentes das que eram feitas a ela: “Todos faziam comentários estranhos sobre meus seios”, diz o livro, “querendo saber se eu tinha ou não feito cirurgia plástica”. A pressão só aumentou à medida que ela se tornou uma figura constante na MTV, e as críticas do público acabaram levando-a a começar a tomar Prozac (Fluoxetina), lembra ela.
Britney Spears e o então namorado Justin Timberlake na estreia do filme da cantora, 'Crossroads', em fevereiro de 2002 Foto: Fred Prouser/Reuters

Rompimento com Timberlake

Spears conta que a conexão com Timberlake era magnética e descreve o término do namoro - que, segundo ela, foi iniciado por ele por meio de mensagens de texto - como algo que a deixou “arrasada” e considerando abandonar o show business.

  • Ela relembra a reação ao lançamento do videoclipe de Timberlake, Cry Me a River, no qual, como ela descreve, “uma mulher que se parece comigo o trai e ele vagueia triste na chuva”. Ela viu a mídia retratando-a como uma “prostituta que partiu o coração do menino de ouro da América”, escreve ela, quando na realidade: “Eu estava em estado de coma em Louisiana, e ele feliz circulando por Hollywood”.
  • Conforme revelado pela primeira vez em trechos divulgados pela revista People no início desta semana, Spears conta em detalhes a decisão de fazer um aborto depois de engravidar durante o relacionamento com Timberlake. Ela disse que não via a gravidez como “uma tragédia”, mas que ele achava que eles eram muito jovens, o que a levou a concordar em “não ter o bebê”.
  • Após o rompimento, diz Spears, ela se sentiu forçada pelo pai eempresários a participar de uma entrevista com Diane Sawyer, durante a qual Sawyer a pressionou sobre o que ela fez a Timberlake que causou “tanta dor” a ele. (No livro, Spears confirma um boato antigo ao dizer que beijou o coreógrafo Wade Robson durante o relacionamento com Timberlake, mas sugere que o comportamento estava relacionado a rumores sobre a infidelidade de Timberlake). Spears se lembra dessa entrevista como um “ponto de colapso” para ela. “Eu me senti como se tivesse sido explorada”, escreve ela, “exposta na frente do mundo inteiro”.
  • LEIA TAMBÉM: Internet relaciona aborto de Britney com clipe lançado após término com Timberlake; entenda

Relação com drogas e álcool

Abordando os anos do auge da notória temporada como figura de paparazzi e tabloides, Spears escreve sobre as incursões no início da vida adulta em festas e vida noturna com um senso de incredulidade sobre como elas eram retratadas na mídia.

  • Sobre o tempo em que era fotografada ao lado de celebridades como Paris Hilton e Lindsay Lohan, Spears escreve: “Aquilo nunca foi tão desvairado quanto a imprensa fazia parecer”, dizendo que não tinha interesse em drogas pesadas e “nunca teve problemas com bebida”. Em vez disso, Spears descreve sua “droga preferida” como o medicamento para TDAH Adderall, que “me deixava chapada, sim, mas o que eu achava muito mais atraente era que ele me proporcionava algumas horas em que me sentia menos deprimida”.
  • Spears escreve que durante alguns de seus episódios públicos mais conhecidos - raspar a cabeça e atacar o carro de um paparazzo - ela estava “fora de si de tristeza” após a morte da tia e uma briga por custódia com o ex-marido, Kevin Federline. “Com a cabeça raspada, todos tinham medo de mim, até mesmo minha mãe”, escreve ela. “Ao passar aquelas semanas sem meus filhos, eu pirei várias vezes. Não sabia nem mesmo como cuidar de mim mesma.”
  • Spears acrescenta: “Estou disposta a admitir que, em meio a uma grave depressão pós-parto, ao abandono do meu marido, à tortura de ser separada dos meus dois bebês, à morte da minha adorada tia Sandra e à constante pressão dos paparazzi, eu começava a pensar, em alguns aspectos, como uma criança.”
Britney é flagrada por paparazzo em 2007 enquanto deixava restaurante na Califórnia com os filhos Sean Preston Federline e Jayden James Federline Foto: Reuters/Cortesia de TMZ.COM

A tutela

No início de 2008, em meio os conflitos públicos, o pai da cantora, conhecido como Jamie, foi nomeado tutor das finanças e vida pessoal dela pelo estado da Califórnia, um acordo que durou de várias formas até 2021. Mesmo quando voltou a trabalhar como artista, Spears escreveu que todas as ações eram monitoradas, inclusive com quem ela poderia sair ou passar o tempo.

  • “Eu sei que estava agindo de forma descontrolada, mas não havia nada que eu tivesse feito que justificasse o fato de me tratarem como se eu fosse uma assaltante de banco”, escreve Spears no livro de memórias. “Nada que justificasse o fim de toda a minha vida.” Ela descreve a decisão como tendo sido tomada pelo pai, com o apoio da mãe e de uma gerente de negócios, Louise Taylor, conhecida como Lou, que negou ter sido a arquiteta da tutela. (Jamie Spears há muito tempo defende o envolvimento dele como um esforço para proteger a filha da exploração financeira).
  • “Doente demais para escolher meu próprio namorado e, ainda assim, saudável o suficiente para aparecer em seriados e programas matinais, e me apresentar para milhares de pessoas em uma parte diferente do mundo toda semana”, escreve Spears, acrescentando sobre o pai: “Daquele momento em diante, comecei a pensar que ele me via como uma pessoa colocada no mundo por nenhuma outra razão a não ser ajudar no fluxo de caixa deles.” Em outro trecho, Spears se lembra do pai dizendo: “Agora eu sou a Britney Spears”.
  • “Passei de muito festeira a monge total”, escreve Spears. “Seguranças me entregavam envelopes pré-embalados de remédios e me vigiavam tomá-los. Eles colocaram controle parental no meu iPhone. Tudo era escrutinado e controlado. Tudo.”
  • Qualquer reação de Spears era desaprovada, ignorada ou minimizada, escreve ela: “Cheguei a mencionar a tutela em um programa de entrevistas em 2016, mas de alguma forma essa parte da entrevista não foi ao ar. Que interessante. Que interessante”.
Fãs de Britney se reúnem do lado de fora do Tribunal Stanley Mosk no dia da audiência do caso de tutela, em Los Angeles, Califórnia, em 12 de novembro de 2021 Foto: Mike Blake/Reuters

Revidando e #FreeBritney

Embora Spears tenha se insurgido de forma intermitente contra a tutela a portas fechadas, sem sucesso, ela atribui o início do fim do arranjo a disputas com o pai perto do final de 2018, quando ela foi obrigada a submeter a mais avaliações de saúde mental e depois passar mais de três meses na reabilitação.

  • “Meu pai disse que, se eu não fosse, teria que ir ao tribunal e ficaria envergonhada”, escreve Spears, acrescentando que ele ameaçou fazer com que ela parecesse uma “idiota”.
  • Além de receber prescrição de lítio na instituição, diz Spears, ela só podia assistir à televisão por uma hora antes de dormir às nove da noite. “Eles me mantiveram trancada contra minha vontade por meses”, escreve ela. “Eu não podia sair. Não podia dirigir um carro. Eu tinha que coletar sangue semanalmente. Não podia tomar um banho com privacidade. Não podia fechar a porta do meu quarto.”
  • Foi lá, em uma clínica de reabilitação em Beverly Hills, que custa US$ 60 mil por mês, que Spears diz que uma enfermeira lhe mostrou clipes de fãs protestanto no movimento viral #FreeBritney, que questionava a necessidade da tutela da cantora. “Foi a coisa mais incrível que já vi na minha vida”, escreveu Spears. “Acho não acho que as pessoas soubessem o quanto o movimento #FreeBritney significava para mim, especialmente no início.”
  • Ela escreve que “parecia que todo dia havia um documentário a mais sobre mim em um serviço de streaming diferente” (incluindo Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela, do The New York Times). “Ver os documentários sobre mim foi pesado”, escreve ela. “Entendo que o coração de todos estava no lugar certo, mas fiquei magoada com o fato de um velho amigo ter falado com os cineastas sem me consultar primeiro.” Ela acrescenta: “Havia muitas suposições sobre o que eu deveria ter pensado ou sentido”.
  • Quando o pai foi removido do cargo de guardião, não muito antes de o arranjo ser totalmente encerrado, “senti o alívio tomar conta de mim”, escreve Spears. “O homem que me assustou quando criança e me dominou quando adulta, que fez mais do que ninguém para minar minha autoconfiança, não estava mais no controle da minha vida.” Quando recebeu a ligação do novo advogado, Mathew S. Rosengart, informando que a tutela havia oficialmente terminado, Spears escreve, ela estava em um resort no Taiti.
  • Mas Spears continua aimplacável com as consequências da tutela, escrevendo sobre o contínuo distanciamento de grande parte da família. “As enxaquecas são apenas uma parte dos danos físicos e emocionais que sofro agora que estou fora da tutela”, escreve ela. “Acho que minha família não entende o verdadeiro dano que causou.”
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Britney Spears em apresentação no programa 'Good Morning America' em março de 2011 Foto: Stephen Lam/Reuters

Um retorno à música?

Embora alguns digam que a tutela salvou a vida de Spears, ela escreve: “Na real, não. Minha música era minha vida, e a tutela foi fatal para isso; ela esmagou minha alma”.

  • Durante todo o tempo em que se apresentou em uma residência em Las Vegas, Spears escreve, ela não tinha permissão para atualizar o show. “Quando eu queria apresentar minhas músicas favoritas, como Change Your Mind ou Get Naked, eles não me deixavam”, escreve ela. “Parecia que eles queriam me envergonhar em vez de permitir que eu desse aos meus fãs a melhor apresentação possível.”
  • Agora que ela tem a oportunidade de criar livremente de novo, a cantora escreve, ela não se sente motivada a fazê-lo, embora mencione uma colaboração única com um dos heróis musicais dela, Elton John, lançada no ano passado. “Impulsionar minha carreira musical não é meu foco no momento”, diz Spears. “É hora de eu não ser alguém que as outras pessoas querem; é hora de realmente me encontrar.”

A mulher em mim

  • Editora: Buzz Editora
  • Autora: Britney Spears
  • Tradução: Cristiane Maruyama
  • 280 páginas; R$ 119,90 | Ebook: 79,90

Este artigo foi publicado originalmente no New York Times.

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