Casa das Rosas reabre restaurada e revela detalhes da riqueza da elite paulista; veja fotos e vídeo


Depois de dois anos fechada para uma reforma que custou mais de R$ 4 milhões, casarão histórico tombado volta a receber o público neste sábado, 28, na Avenida Paulista, 37

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

A Casa das Rosas, um dos últimos elos com uma Avenida Paulista de tempos passados e mais tranquilos, reabre suas portas neste sábado, 28, depois de dois anos de restauro. Quem passar por ali agora vai encontrar um casarão de fachada mais clara - cor de areia - e também mais acessível - com nova rampa na entrada, banheiros adaptados e elevador que chega, pela primeira vez, até o subsolo, onde está o acervo de 20 mil itens do poeta Haroldo de Campos.

As novidades não param por aí - e incluem até a descoberta e recuperação do papel de parede de um dos cômodos e a recriação do adorno em outra sala, ajudando o visitante nesta viagem a uma Paulista do início dos anos 1900, habitada por barões do café e outras elites e que foi testemunha das transformações econômicas e sociais do País.

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É justamente a curiosidade por saber como era uma casa daquela época que faz as pessoas entrarem, conta Marcelo Tápia, diretor do museu desde 2016. Localizada no número 37 da Avenida Paulista, a poucos metros da Japan House, do Sesc ou do Itaú Cultural, ela é um espaço dedicado à literatura, com ênfase na poesia, que pertence à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e é gerida pela organização social Poiesis.

A construção da Casa das Rosas terminou em 1935 e imóvel serviu como residência de herdeiros de Ramos de Azevedo até meados dos anos 1980 Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

“A Paulista é um ponto turístico de São Paulo e sempre percebemos o interesse do público em conhecer a casa e ver sua aparência original”, conta Tápia. Por isso, ele diz, esse projeto finalizado agora é o primeiro que procurou recuperar suas características originais - mais do que apenas preservar e fazer a manutenção do imóvel.

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Até a reforma, no local eram realizados cursos, eventos literários e exposições. Os encontros seguiram online ou numa tenda instalada no jardim, e vão continuar assim pelo menos até o fim do ano por causa de uma exposição que está sendo montada lá para a reabertura da casa.

Uma mudança agora é que o foco não estará apenas na literatura. “A casa passa a ser um ponto de atenção e as duas coisas, literatura e patrimônio, vão conviver”, diz Tápia. Segundo ele, essa foi uma diretriz da Secretaria.

O restauro custou R$ 4,2 milhões ao Governo do Estado de São Paulo.

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Qual é a importância da Casa das Rosas?

Para Toninho Sarasá, do Estúdio Sarasá Conservação e Restauração, responsável pela execução do projeto, a importância da Casa das Rosas vem do fato de ela ser um dos últimos remanescentes do período do café na Avenida Paulista.

Fachada da Casa das Rosas em 1982 Foto: Acervo/Estadão
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“Já era um período de declínio, mas o declínio de um café que transformou, que saiu do período colonial e entrou no período urbano. A casa tem características do eclético e do ambiente dos imigrantes do início de 1900 - o auge da transformação de São Paulo”, comenta.

Seu valor, diz Sarasá, é ainda maior pelo documento histórico que ela representa do que por sua arquitetura propriamente dita. “Ela representa uma identidade social dessa época e é um monumento da transformação social, arquitetônica e urbana.”

Tápia fala ainda em resistência. “Felizmente foi possível conservá-la numa época em que demoliam tudo da noite para o dia para evitar o seu tombamento. Ela foi uma das poucas que sobraram daquela época.” E celebra o uso público que se faz de um imóvel construído para abrigar apenas um casal. Estima-se que a Paulista receba hoje cerca de 1,5 milhão de pessoas diariamente. Um cenário muito diferente do que era no início desta história.

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A história da Casa das Rosas

Projetada pelo escritório de Ramos de Azevedo - responsável, também por outros importantes prédios como a Pinacoteca do Estado, o Teatro Municipal, o Prédio da Light e o Mercado Público de São Paulo - a casa foi concluída em 1935 e habitada pelos herdeiros do arquiteto, que morreu em 1928 (ano do início do projeto).

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Trata-se de um casarão de 1.500 metros quadrados, com dois andares além do porão e do sótão, e nada menos do que 30 cômodos. E o belo jardim. O estilo da construção lembra o neoclassicismo, mas ela se insere em uma linhagem marcada pelo ecletismo característico dos imóveis dos anos 1930.

A família de Ramos de Azevedo viveu ali até 1986. O último dono, Ernesto Dias de Castro, não deixou herdeiros e vendeu a propriedade. No fundo, com entrada pela Alameda Santos, foi construído um grande prédio. A construtora se comprometeu em restaurar a casa, que sofria com a ação do tempo e já havia sido declarada patrimônio histórico do Estado de São Paulo pelo Condephaat. Outras reformas foram feitas em 2003 e 2013. Desde 2004, ela se chama Casa das Rosas Espaço Haroldo de Campos.

Restauro e acessibilidade

A ideia era recuperar aspectos originais da casa, mas, antes, consertar problemas estruturais, como rachaduras e infiltrações, melhorar os sistemas elétricos e hidráulicos e garantir acessibilidade universal.

Isso quer dizer que o banheiro do térreo, que era o banheiro usado na residência, foi adaptado; que foi instalado piso podo tátil ao longo dos ambientes e corrimãos duplos de metal, com placas contendo inscrição em Braille nas escadas. Há ainda sinalização nos pisos para pessoas com baixa visão, uma nova rampa de acesso ao museu - agora em maior harmonia com o prédio e ao lado da entrada principal do público - e também o elevador, que passa a chegar à biblioteca de Haroldo de Campos.

Restaurar um imóvel tombado é sempre desafiador, mas Toninho Serasá disse que um dos maiores desafios deste trabalho foi “trazer essa casa do início do século para 2023″. Ela tinha que ter acessibilidade, combate à incêndio, segurança. “Sem perder a autenticidade, tínhamos que garantir toda essa informação e ainda trazer essa casa para o dia de hoje. Não deixamos essa casa em 1900. Demos a ela todo o potencial de uso.”

Segundo Serasá, durante o processo outros itens foram sendo incluídos, como a recuperação dos pisos de mármore e das pinturas do saguão principal - ao longo dos anos, várias camadas de tinta cobriram os blocos da parede, revelados agora.

Ele destaca, também, o trabalho de reprodução do papel de parede dos cômodos (cobertos por camadas de tintas ou danificados por umidade) feito a partir de estudos para recuperação de cromias, formas e texturas.

Ao longo dos anos, traços originais da casa foram apagados Foto: Estúdio Sarasá

E, mais importante, o restauro do papel descoberto em um dos cômodos do primeiro andar. “Foi uma grande surpresa para nós. Fizemos uma recuperação pontual muito bacana, tirando camada por camada com bisturi até chegar no papel de parede original.” O restauro foi feito com polpa de celulose, com retoques a mão.

Durante o processo de restauro de uma das salas, a equipe descobriu o papel original, que pôde ser restaurado. Nos demais cômodos, o papel é novo e reproduz o material antigo Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O projeto incluiu ainda o restauro das gárgulas (esculturas características da arquitetura gótica incluídas no alto de edificações). Em alguns casos, foi preciso refazê-las com moldes confeccionados a partir de partes das peças originais. Adornos metálicos foram recuperados e polidos.

Casa das Rosas ficou fechada para restauro durante dois anos Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

Uma equipe multidisciplinar, com engenheiros e arquitetos, com mestres entalhadores, forjadores e frentistas de argamassa, historiadores e pessoas que trabalham com a gestão do patrimônio cultural, atuou na execução do projeto.

“No restauro, a casa se mostrou, contou a sua história. E a história é magnífica”, comenta Sarasá. “Hoje, estamos complementando esse recheio do patrimônio cultural. Então, além de servir como invólucro de uma biblioteca importante, como a de Haroldo de Campos, ela mesma vai se mostrar como documento histórico. Esse é um grande momento e todos vão entender que a casa se tornou o monumento e um documento.”

Exposição

A história da casa e os bastidores do projeto de restauro serão contados na exposição Vivências do Novo, que vai inaugurar a nova fase da Casa das Rosas no sábado, 28, a partir das 15h. Ela vai ocupar o térreo do imóvel e poderá ser visitada até 13 de dezembro. No andar de cima, o público poderá visitar outra mostra, Dimensão Cidade, com curadoria de Paula Borghi e obras de 15 artistas contemporâneos, das mais diferentes linguagens.

Futuro

Outras exposições estão sendo pensadas para o local, e o público será convidado a ajudar na escolha dos temas.

De acordo com Marcelo Tápia, o plano de ação para 2024 ainda está sendo feito. A ideia, porém, é que a Casa das Rosas mantenha seus projetos, como o Centro de Apoio ao Escritor.

O jardim da Casa das Rosas é aberto e abriga um café e atividades da instituição Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O café segue funcionando no jardim. E existe a ideia de fazer uma lojinha de souvenir, num gazebo de vidro visível já da Paulista. Ali devem ser vendidos, também, livros - remetendo a outro momento, quando a Casa das Rosas abrigou uma livraria da Imprensa Oficial e, depois, da Giostri.

Casa das Rosas reabre depois de dois anos de restauro

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Casa das Rosas

Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Casa das Rosas, na Avenida Paulista

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Foto: TABA BENEDICTO

Casa das Rosas

  • Avenida Paulista, 37
  • Casa: De terça a domingo, das 10h às 17h30 (permanência até as 18h)
  • Jardim: Aberto diariamente, das 7h às 22h

A Casa das Rosas, um dos últimos elos com uma Avenida Paulista de tempos passados e mais tranquilos, reabre suas portas neste sábado, 28, depois de dois anos de restauro. Quem passar por ali agora vai encontrar um casarão de fachada mais clara - cor de areia - e também mais acessível - com nova rampa na entrada, banheiros adaptados e elevador que chega, pela primeira vez, até o subsolo, onde está o acervo de 20 mil itens do poeta Haroldo de Campos.

As novidades não param por aí - e incluem até a descoberta e recuperação do papel de parede de um dos cômodos e a recriação do adorno em outra sala, ajudando o visitante nesta viagem a uma Paulista do início dos anos 1900, habitada por barões do café e outras elites e que foi testemunha das transformações econômicas e sociais do País.

É justamente a curiosidade por saber como era uma casa daquela época que faz as pessoas entrarem, conta Marcelo Tápia, diretor do museu desde 2016. Localizada no número 37 da Avenida Paulista, a poucos metros da Japan House, do Sesc ou do Itaú Cultural, ela é um espaço dedicado à literatura, com ênfase na poesia, que pertence à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e é gerida pela organização social Poiesis.

A construção da Casa das Rosas terminou em 1935 e imóvel serviu como residência de herdeiros de Ramos de Azevedo até meados dos anos 1980 Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

“A Paulista é um ponto turístico de São Paulo e sempre percebemos o interesse do público em conhecer a casa e ver sua aparência original”, conta Tápia. Por isso, ele diz, esse projeto finalizado agora é o primeiro que procurou recuperar suas características originais - mais do que apenas preservar e fazer a manutenção do imóvel.

Até a reforma, no local eram realizados cursos, eventos literários e exposições. Os encontros seguiram online ou numa tenda instalada no jardim, e vão continuar assim pelo menos até o fim do ano por causa de uma exposição que está sendo montada lá para a reabertura da casa.

Uma mudança agora é que o foco não estará apenas na literatura. “A casa passa a ser um ponto de atenção e as duas coisas, literatura e patrimônio, vão conviver”, diz Tápia. Segundo ele, essa foi uma diretriz da Secretaria.

O restauro custou R$ 4,2 milhões ao Governo do Estado de São Paulo.

Qual é a importância da Casa das Rosas?

Para Toninho Sarasá, do Estúdio Sarasá Conservação e Restauração, responsável pela execução do projeto, a importância da Casa das Rosas vem do fato de ela ser um dos últimos remanescentes do período do café na Avenida Paulista.

Fachada da Casa das Rosas em 1982 Foto: Acervo/Estadão

“Já era um período de declínio, mas o declínio de um café que transformou, que saiu do período colonial e entrou no período urbano. A casa tem características do eclético e do ambiente dos imigrantes do início de 1900 - o auge da transformação de São Paulo”, comenta.

Seu valor, diz Sarasá, é ainda maior pelo documento histórico que ela representa do que por sua arquitetura propriamente dita. “Ela representa uma identidade social dessa época e é um monumento da transformação social, arquitetônica e urbana.”

Tápia fala ainda em resistência. “Felizmente foi possível conservá-la numa época em que demoliam tudo da noite para o dia para evitar o seu tombamento. Ela foi uma das poucas que sobraram daquela época.” E celebra o uso público que se faz de um imóvel construído para abrigar apenas um casal. Estima-se que a Paulista receba hoje cerca de 1,5 milhão de pessoas diariamente. Um cenário muito diferente do que era no início desta história.

A história da Casa das Rosas

Projetada pelo escritório de Ramos de Azevedo - responsável, também por outros importantes prédios como a Pinacoteca do Estado, o Teatro Municipal, o Prédio da Light e o Mercado Público de São Paulo - a casa foi concluída em 1935 e habitada pelos herdeiros do arquiteto, que morreu em 1928 (ano do início do projeto).

Trata-se de um casarão de 1.500 metros quadrados, com dois andares além do porão e do sótão, e nada menos do que 30 cômodos. E o belo jardim. O estilo da construção lembra o neoclassicismo, mas ela se insere em uma linhagem marcada pelo ecletismo característico dos imóveis dos anos 1930.

A família de Ramos de Azevedo viveu ali até 1986. O último dono, Ernesto Dias de Castro, não deixou herdeiros e vendeu a propriedade. No fundo, com entrada pela Alameda Santos, foi construído um grande prédio. A construtora se comprometeu em restaurar a casa, que sofria com a ação do tempo e já havia sido declarada patrimônio histórico do Estado de São Paulo pelo Condephaat. Outras reformas foram feitas em 2003 e 2013. Desde 2004, ela se chama Casa das Rosas Espaço Haroldo de Campos.

Restauro e acessibilidade

A ideia era recuperar aspectos originais da casa, mas, antes, consertar problemas estruturais, como rachaduras e infiltrações, melhorar os sistemas elétricos e hidráulicos e garantir acessibilidade universal.

Isso quer dizer que o banheiro do térreo, que era o banheiro usado na residência, foi adaptado; que foi instalado piso podo tátil ao longo dos ambientes e corrimãos duplos de metal, com placas contendo inscrição em Braille nas escadas. Há ainda sinalização nos pisos para pessoas com baixa visão, uma nova rampa de acesso ao museu - agora em maior harmonia com o prédio e ao lado da entrada principal do público - e também o elevador, que passa a chegar à biblioteca de Haroldo de Campos.

Restaurar um imóvel tombado é sempre desafiador, mas Toninho Serasá disse que um dos maiores desafios deste trabalho foi “trazer essa casa do início do século para 2023″. Ela tinha que ter acessibilidade, combate à incêndio, segurança. “Sem perder a autenticidade, tínhamos que garantir toda essa informação e ainda trazer essa casa para o dia de hoje. Não deixamos essa casa em 1900. Demos a ela todo o potencial de uso.”

Segundo Serasá, durante o processo outros itens foram sendo incluídos, como a recuperação dos pisos de mármore e das pinturas do saguão principal - ao longo dos anos, várias camadas de tinta cobriram os blocos da parede, revelados agora.

Ele destaca, também, o trabalho de reprodução do papel de parede dos cômodos (cobertos por camadas de tintas ou danificados por umidade) feito a partir de estudos para recuperação de cromias, formas e texturas.

Ao longo dos anos, traços originais da casa foram apagados Foto: Estúdio Sarasá

E, mais importante, o restauro do papel descoberto em um dos cômodos do primeiro andar. “Foi uma grande surpresa para nós. Fizemos uma recuperação pontual muito bacana, tirando camada por camada com bisturi até chegar no papel de parede original.” O restauro foi feito com polpa de celulose, com retoques a mão.

Durante o processo de restauro de uma das salas, a equipe descobriu o papel original, que pôde ser restaurado. Nos demais cômodos, o papel é novo e reproduz o material antigo Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O projeto incluiu ainda o restauro das gárgulas (esculturas características da arquitetura gótica incluídas no alto de edificações). Em alguns casos, foi preciso refazê-las com moldes confeccionados a partir de partes das peças originais. Adornos metálicos foram recuperados e polidos.

Casa das Rosas ficou fechada para restauro durante dois anos Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

Uma equipe multidisciplinar, com engenheiros e arquitetos, com mestres entalhadores, forjadores e frentistas de argamassa, historiadores e pessoas que trabalham com a gestão do patrimônio cultural, atuou na execução do projeto.

“No restauro, a casa se mostrou, contou a sua história. E a história é magnífica”, comenta Sarasá. “Hoje, estamos complementando esse recheio do patrimônio cultural. Então, além de servir como invólucro de uma biblioteca importante, como a de Haroldo de Campos, ela mesma vai se mostrar como documento histórico. Esse é um grande momento e todos vão entender que a casa se tornou o monumento e um documento.”

Exposição

A história da casa e os bastidores do projeto de restauro serão contados na exposição Vivências do Novo, que vai inaugurar a nova fase da Casa das Rosas no sábado, 28, a partir das 15h. Ela vai ocupar o térreo do imóvel e poderá ser visitada até 13 de dezembro. No andar de cima, o público poderá visitar outra mostra, Dimensão Cidade, com curadoria de Paula Borghi e obras de 15 artistas contemporâneos, das mais diferentes linguagens.

Futuro

Outras exposições estão sendo pensadas para o local, e o público será convidado a ajudar na escolha dos temas.

De acordo com Marcelo Tápia, o plano de ação para 2024 ainda está sendo feito. A ideia, porém, é que a Casa das Rosas mantenha seus projetos, como o Centro de Apoio ao Escritor.

O jardim da Casa das Rosas é aberto e abriga um café e atividades da instituição Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O café segue funcionando no jardim. E existe a ideia de fazer uma lojinha de souvenir, num gazebo de vidro visível já da Paulista. Ali devem ser vendidos, também, livros - remetendo a outro momento, quando a Casa das Rosas abrigou uma livraria da Imprensa Oficial e, depois, da Giostri.

Casa das Rosas reabre depois de dois anos de restauro

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Casa das Rosas

  • Avenida Paulista, 37
  • Casa: De terça a domingo, das 10h às 17h30 (permanência até as 18h)
  • Jardim: Aberto diariamente, das 7h às 22h

A Casa das Rosas, um dos últimos elos com uma Avenida Paulista de tempos passados e mais tranquilos, reabre suas portas neste sábado, 28, depois de dois anos de restauro. Quem passar por ali agora vai encontrar um casarão de fachada mais clara - cor de areia - e também mais acessível - com nova rampa na entrada, banheiros adaptados e elevador que chega, pela primeira vez, até o subsolo, onde está o acervo de 20 mil itens do poeta Haroldo de Campos.

As novidades não param por aí - e incluem até a descoberta e recuperação do papel de parede de um dos cômodos e a recriação do adorno em outra sala, ajudando o visitante nesta viagem a uma Paulista do início dos anos 1900, habitada por barões do café e outras elites e que foi testemunha das transformações econômicas e sociais do País.

É justamente a curiosidade por saber como era uma casa daquela época que faz as pessoas entrarem, conta Marcelo Tápia, diretor do museu desde 2016. Localizada no número 37 da Avenida Paulista, a poucos metros da Japan House, do Sesc ou do Itaú Cultural, ela é um espaço dedicado à literatura, com ênfase na poesia, que pertence à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e é gerida pela organização social Poiesis.

A construção da Casa das Rosas terminou em 1935 e imóvel serviu como residência de herdeiros de Ramos de Azevedo até meados dos anos 1980 Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

“A Paulista é um ponto turístico de São Paulo e sempre percebemos o interesse do público em conhecer a casa e ver sua aparência original”, conta Tápia. Por isso, ele diz, esse projeto finalizado agora é o primeiro que procurou recuperar suas características originais - mais do que apenas preservar e fazer a manutenção do imóvel.

Até a reforma, no local eram realizados cursos, eventos literários e exposições. Os encontros seguiram online ou numa tenda instalada no jardim, e vão continuar assim pelo menos até o fim do ano por causa de uma exposição que está sendo montada lá para a reabertura da casa.

Uma mudança agora é que o foco não estará apenas na literatura. “A casa passa a ser um ponto de atenção e as duas coisas, literatura e patrimônio, vão conviver”, diz Tápia. Segundo ele, essa foi uma diretriz da Secretaria.

O restauro custou R$ 4,2 milhões ao Governo do Estado de São Paulo.

Qual é a importância da Casa das Rosas?

Para Toninho Sarasá, do Estúdio Sarasá Conservação e Restauração, responsável pela execução do projeto, a importância da Casa das Rosas vem do fato de ela ser um dos últimos remanescentes do período do café na Avenida Paulista.

Fachada da Casa das Rosas em 1982 Foto: Acervo/Estadão

“Já era um período de declínio, mas o declínio de um café que transformou, que saiu do período colonial e entrou no período urbano. A casa tem características do eclético e do ambiente dos imigrantes do início de 1900 - o auge da transformação de São Paulo”, comenta.

Seu valor, diz Sarasá, é ainda maior pelo documento histórico que ela representa do que por sua arquitetura propriamente dita. “Ela representa uma identidade social dessa época e é um monumento da transformação social, arquitetônica e urbana.”

Tápia fala ainda em resistência. “Felizmente foi possível conservá-la numa época em que demoliam tudo da noite para o dia para evitar o seu tombamento. Ela foi uma das poucas que sobraram daquela época.” E celebra o uso público que se faz de um imóvel construído para abrigar apenas um casal. Estima-se que a Paulista receba hoje cerca de 1,5 milhão de pessoas diariamente. Um cenário muito diferente do que era no início desta história.

A história da Casa das Rosas

Projetada pelo escritório de Ramos de Azevedo - responsável, também por outros importantes prédios como a Pinacoteca do Estado, o Teatro Municipal, o Prédio da Light e o Mercado Público de São Paulo - a casa foi concluída em 1935 e habitada pelos herdeiros do arquiteto, que morreu em 1928 (ano do início do projeto).

Trata-se de um casarão de 1.500 metros quadrados, com dois andares além do porão e do sótão, e nada menos do que 30 cômodos. E o belo jardim. O estilo da construção lembra o neoclassicismo, mas ela se insere em uma linhagem marcada pelo ecletismo característico dos imóveis dos anos 1930.

A família de Ramos de Azevedo viveu ali até 1986. O último dono, Ernesto Dias de Castro, não deixou herdeiros e vendeu a propriedade. No fundo, com entrada pela Alameda Santos, foi construído um grande prédio. A construtora se comprometeu em restaurar a casa, que sofria com a ação do tempo e já havia sido declarada patrimônio histórico do Estado de São Paulo pelo Condephaat. Outras reformas foram feitas em 2003 e 2013. Desde 2004, ela se chama Casa das Rosas Espaço Haroldo de Campos.

Restauro e acessibilidade

A ideia era recuperar aspectos originais da casa, mas, antes, consertar problemas estruturais, como rachaduras e infiltrações, melhorar os sistemas elétricos e hidráulicos e garantir acessibilidade universal.

Isso quer dizer que o banheiro do térreo, que era o banheiro usado na residência, foi adaptado; que foi instalado piso podo tátil ao longo dos ambientes e corrimãos duplos de metal, com placas contendo inscrição em Braille nas escadas. Há ainda sinalização nos pisos para pessoas com baixa visão, uma nova rampa de acesso ao museu - agora em maior harmonia com o prédio e ao lado da entrada principal do público - e também o elevador, que passa a chegar à biblioteca de Haroldo de Campos.

Restaurar um imóvel tombado é sempre desafiador, mas Toninho Serasá disse que um dos maiores desafios deste trabalho foi “trazer essa casa do início do século para 2023″. Ela tinha que ter acessibilidade, combate à incêndio, segurança. “Sem perder a autenticidade, tínhamos que garantir toda essa informação e ainda trazer essa casa para o dia de hoje. Não deixamos essa casa em 1900. Demos a ela todo o potencial de uso.”

Segundo Serasá, durante o processo outros itens foram sendo incluídos, como a recuperação dos pisos de mármore e das pinturas do saguão principal - ao longo dos anos, várias camadas de tinta cobriram os blocos da parede, revelados agora.

Ele destaca, também, o trabalho de reprodução do papel de parede dos cômodos (cobertos por camadas de tintas ou danificados por umidade) feito a partir de estudos para recuperação de cromias, formas e texturas.

Ao longo dos anos, traços originais da casa foram apagados Foto: Estúdio Sarasá

E, mais importante, o restauro do papel descoberto em um dos cômodos do primeiro andar. “Foi uma grande surpresa para nós. Fizemos uma recuperação pontual muito bacana, tirando camada por camada com bisturi até chegar no papel de parede original.” O restauro foi feito com polpa de celulose, com retoques a mão.

Durante o processo de restauro de uma das salas, a equipe descobriu o papel original, que pôde ser restaurado. Nos demais cômodos, o papel é novo e reproduz o material antigo Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O projeto incluiu ainda o restauro das gárgulas (esculturas características da arquitetura gótica incluídas no alto de edificações). Em alguns casos, foi preciso refazê-las com moldes confeccionados a partir de partes das peças originais. Adornos metálicos foram recuperados e polidos.

Casa das Rosas ficou fechada para restauro durante dois anos Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

Uma equipe multidisciplinar, com engenheiros e arquitetos, com mestres entalhadores, forjadores e frentistas de argamassa, historiadores e pessoas que trabalham com a gestão do patrimônio cultural, atuou na execução do projeto.

“No restauro, a casa se mostrou, contou a sua história. E a história é magnífica”, comenta Sarasá. “Hoje, estamos complementando esse recheio do patrimônio cultural. Então, além de servir como invólucro de uma biblioteca importante, como a de Haroldo de Campos, ela mesma vai se mostrar como documento histórico. Esse é um grande momento e todos vão entender que a casa se tornou o monumento e um documento.”

Exposição

A história da casa e os bastidores do projeto de restauro serão contados na exposição Vivências do Novo, que vai inaugurar a nova fase da Casa das Rosas no sábado, 28, a partir das 15h. Ela vai ocupar o térreo do imóvel e poderá ser visitada até 13 de dezembro. No andar de cima, o público poderá visitar outra mostra, Dimensão Cidade, com curadoria de Paula Borghi e obras de 15 artistas contemporâneos, das mais diferentes linguagens.

Futuro

Outras exposições estão sendo pensadas para o local, e o público será convidado a ajudar na escolha dos temas.

De acordo com Marcelo Tápia, o plano de ação para 2024 ainda está sendo feito. A ideia, porém, é que a Casa das Rosas mantenha seus projetos, como o Centro de Apoio ao Escritor.

O jardim da Casa das Rosas é aberto e abriga um café e atividades da instituição Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O café segue funcionando no jardim. E existe a ideia de fazer uma lojinha de souvenir, num gazebo de vidro visível já da Paulista. Ali devem ser vendidos, também, livros - remetendo a outro momento, quando a Casa das Rosas abrigou uma livraria da Imprensa Oficial e, depois, da Giostri.

Casa das Rosas reabre depois de dois anos de restauro

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Casa das Rosas

  • Avenida Paulista, 37
  • Casa: De terça a domingo, das 10h às 17h30 (permanência até as 18h)
  • Jardim: Aberto diariamente, das 7h às 22h

A Casa das Rosas, um dos últimos elos com uma Avenida Paulista de tempos passados e mais tranquilos, reabre suas portas neste sábado, 28, depois de dois anos de restauro. Quem passar por ali agora vai encontrar um casarão de fachada mais clara - cor de areia - e também mais acessível - com nova rampa na entrada, banheiros adaptados e elevador que chega, pela primeira vez, até o subsolo, onde está o acervo de 20 mil itens do poeta Haroldo de Campos.

As novidades não param por aí - e incluem até a descoberta e recuperação do papel de parede de um dos cômodos e a recriação do adorno em outra sala, ajudando o visitante nesta viagem a uma Paulista do início dos anos 1900, habitada por barões do café e outras elites e que foi testemunha das transformações econômicas e sociais do País.

É justamente a curiosidade por saber como era uma casa daquela época que faz as pessoas entrarem, conta Marcelo Tápia, diretor do museu desde 2016. Localizada no número 37 da Avenida Paulista, a poucos metros da Japan House, do Sesc ou do Itaú Cultural, ela é um espaço dedicado à literatura, com ênfase na poesia, que pertence à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e é gerida pela organização social Poiesis.

A construção da Casa das Rosas terminou em 1935 e imóvel serviu como residência de herdeiros de Ramos de Azevedo até meados dos anos 1980 Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

“A Paulista é um ponto turístico de São Paulo e sempre percebemos o interesse do público em conhecer a casa e ver sua aparência original”, conta Tápia. Por isso, ele diz, esse projeto finalizado agora é o primeiro que procurou recuperar suas características originais - mais do que apenas preservar e fazer a manutenção do imóvel.

Até a reforma, no local eram realizados cursos, eventos literários e exposições. Os encontros seguiram online ou numa tenda instalada no jardim, e vão continuar assim pelo menos até o fim do ano por causa de uma exposição que está sendo montada lá para a reabertura da casa.

Uma mudança agora é que o foco não estará apenas na literatura. “A casa passa a ser um ponto de atenção e as duas coisas, literatura e patrimônio, vão conviver”, diz Tápia. Segundo ele, essa foi uma diretriz da Secretaria.

O restauro custou R$ 4,2 milhões ao Governo do Estado de São Paulo.

Qual é a importância da Casa das Rosas?

Para Toninho Sarasá, do Estúdio Sarasá Conservação e Restauração, responsável pela execução do projeto, a importância da Casa das Rosas vem do fato de ela ser um dos últimos remanescentes do período do café na Avenida Paulista.

Fachada da Casa das Rosas em 1982 Foto: Acervo/Estadão

“Já era um período de declínio, mas o declínio de um café que transformou, que saiu do período colonial e entrou no período urbano. A casa tem características do eclético e do ambiente dos imigrantes do início de 1900 - o auge da transformação de São Paulo”, comenta.

Seu valor, diz Sarasá, é ainda maior pelo documento histórico que ela representa do que por sua arquitetura propriamente dita. “Ela representa uma identidade social dessa época e é um monumento da transformação social, arquitetônica e urbana.”

Tápia fala ainda em resistência. “Felizmente foi possível conservá-la numa época em que demoliam tudo da noite para o dia para evitar o seu tombamento. Ela foi uma das poucas que sobraram daquela época.” E celebra o uso público que se faz de um imóvel construído para abrigar apenas um casal. Estima-se que a Paulista receba hoje cerca de 1,5 milhão de pessoas diariamente. Um cenário muito diferente do que era no início desta história.

A história da Casa das Rosas

Projetada pelo escritório de Ramos de Azevedo - responsável, também por outros importantes prédios como a Pinacoteca do Estado, o Teatro Municipal, o Prédio da Light e o Mercado Público de São Paulo - a casa foi concluída em 1935 e habitada pelos herdeiros do arquiteto, que morreu em 1928 (ano do início do projeto).

Trata-se de um casarão de 1.500 metros quadrados, com dois andares além do porão e do sótão, e nada menos do que 30 cômodos. E o belo jardim. O estilo da construção lembra o neoclassicismo, mas ela se insere em uma linhagem marcada pelo ecletismo característico dos imóveis dos anos 1930.

A família de Ramos de Azevedo viveu ali até 1986. O último dono, Ernesto Dias de Castro, não deixou herdeiros e vendeu a propriedade. No fundo, com entrada pela Alameda Santos, foi construído um grande prédio. A construtora se comprometeu em restaurar a casa, que sofria com a ação do tempo e já havia sido declarada patrimônio histórico do Estado de São Paulo pelo Condephaat. Outras reformas foram feitas em 2003 e 2013. Desde 2004, ela se chama Casa das Rosas Espaço Haroldo de Campos.

Restauro e acessibilidade

A ideia era recuperar aspectos originais da casa, mas, antes, consertar problemas estruturais, como rachaduras e infiltrações, melhorar os sistemas elétricos e hidráulicos e garantir acessibilidade universal.

Isso quer dizer que o banheiro do térreo, que era o banheiro usado na residência, foi adaptado; que foi instalado piso podo tátil ao longo dos ambientes e corrimãos duplos de metal, com placas contendo inscrição em Braille nas escadas. Há ainda sinalização nos pisos para pessoas com baixa visão, uma nova rampa de acesso ao museu - agora em maior harmonia com o prédio e ao lado da entrada principal do público - e também o elevador, que passa a chegar à biblioteca de Haroldo de Campos.

Restaurar um imóvel tombado é sempre desafiador, mas Toninho Serasá disse que um dos maiores desafios deste trabalho foi “trazer essa casa do início do século para 2023″. Ela tinha que ter acessibilidade, combate à incêndio, segurança. “Sem perder a autenticidade, tínhamos que garantir toda essa informação e ainda trazer essa casa para o dia de hoje. Não deixamos essa casa em 1900. Demos a ela todo o potencial de uso.”

Segundo Serasá, durante o processo outros itens foram sendo incluídos, como a recuperação dos pisos de mármore e das pinturas do saguão principal - ao longo dos anos, várias camadas de tinta cobriram os blocos da parede, revelados agora.

Ele destaca, também, o trabalho de reprodução do papel de parede dos cômodos (cobertos por camadas de tintas ou danificados por umidade) feito a partir de estudos para recuperação de cromias, formas e texturas.

Ao longo dos anos, traços originais da casa foram apagados Foto: Estúdio Sarasá

E, mais importante, o restauro do papel descoberto em um dos cômodos do primeiro andar. “Foi uma grande surpresa para nós. Fizemos uma recuperação pontual muito bacana, tirando camada por camada com bisturi até chegar no papel de parede original.” O restauro foi feito com polpa de celulose, com retoques a mão.

Durante o processo de restauro de uma das salas, a equipe descobriu o papel original, que pôde ser restaurado. Nos demais cômodos, o papel é novo e reproduz o material antigo Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O projeto incluiu ainda o restauro das gárgulas (esculturas características da arquitetura gótica incluídas no alto de edificações). Em alguns casos, foi preciso refazê-las com moldes confeccionados a partir de partes das peças originais. Adornos metálicos foram recuperados e polidos.

Casa das Rosas ficou fechada para restauro durante dois anos Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

Uma equipe multidisciplinar, com engenheiros e arquitetos, com mestres entalhadores, forjadores e frentistas de argamassa, historiadores e pessoas que trabalham com a gestão do patrimônio cultural, atuou na execução do projeto.

“No restauro, a casa se mostrou, contou a sua história. E a história é magnífica”, comenta Sarasá. “Hoje, estamos complementando esse recheio do patrimônio cultural. Então, além de servir como invólucro de uma biblioteca importante, como a de Haroldo de Campos, ela mesma vai se mostrar como documento histórico. Esse é um grande momento e todos vão entender que a casa se tornou o monumento e um documento.”

Exposição

A história da casa e os bastidores do projeto de restauro serão contados na exposição Vivências do Novo, que vai inaugurar a nova fase da Casa das Rosas no sábado, 28, a partir das 15h. Ela vai ocupar o térreo do imóvel e poderá ser visitada até 13 de dezembro. No andar de cima, o público poderá visitar outra mostra, Dimensão Cidade, com curadoria de Paula Borghi e obras de 15 artistas contemporâneos, das mais diferentes linguagens.

Futuro

Outras exposições estão sendo pensadas para o local, e o público será convidado a ajudar na escolha dos temas.

De acordo com Marcelo Tápia, o plano de ação para 2024 ainda está sendo feito. A ideia, porém, é que a Casa das Rosas mantenha seus projetos, como o Centro de Apoio ao Escritor.

O jardim da Casa das Rosas é aberto e abriga um café e atividades da instituição Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O café segue funcionando no jardim. E existe a ideia de fazer uma lojinha de souvenir, num gazebo de vidro visível já da Paulista. Ali devem ser vendidos, também, livros - remetendo a outro momento, quando a Casa das Rosas abrigou uma livraria da Imprensa Oficial e, depois, da Giostri.

Casa das Rosas reabre depois de dois anos de restauro

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Casa das Rosas

Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Casa das Rosas, na Avenida Paulista

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Foto: TABA BENEDICTO

Casa das Rosas

  • Avenida Paulista, 37
  • Casa: De terça a domingo, das 10h às 17h30 (permanência até as 18h)
  • Jardim: Aberto diariamente, das 7h às 22h

A Casa das Rosas, um dos últimos elos com uma Avenida Paulista de tempos passados e mais tranquilos, reabre suas portas neste sábado, 28, depois de dois anos de restauro. Quem passar por ali agora vai encontrar um casarão de fachada mais clara - cor de areia - e também mais acessível - com nova rampa na entrada, banheiros adaptados e elevador que chega, pela primeira vez, até o subsolo, onde está o acervo de 20 mil itens do poeta Haroldo de Campos.

As novidades não param por aí - e incluem até a descoberta e recuperação do papel de parede de um dos cômodos e a recriação do adorno em outra sala, ajudando o visitante nesta viagem a uma Paulista do início dos anos 1900, habitada por barões do café e outras elites e que foi testemunha das transformações econômicas e sociais do País.

É justamente a curiosidade por saber como era uma casa daquela época que faz as pessoas entrarem, conta Marcelo Tápia, diretor do museu desde 2016. Localizada no número 37 da Avenida Paulista, a poucos metros da Japan House, do Sesc ou do Itaú Cultural, ela é um espaço dedicado à literatura, com ênfase na poesia, que pertence à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e é gerida pela organização social Poiesis.

A construção da Casa das Rosas terminou em 1935 e imóvel serviu como residência de herdeiros de Ramos de Azevedo até meados dos anos 1980 Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

“A Paulista é um ponto turístico de São Paulo e sempre percebemos o interesse do público em conhecer a casa e ver sua aparência original”, conta Tápia. Por isso, ele diz, esse projeto finalizado agora é o primeiro que procurou recuperar suas características originais - mais do que apenas preservar e fazer a manutenção do imóvel.

Até a reforma, no local eram realizados cursos, eventos literários e exposições. Os encontros seguiram online ou numa tenda instalada no jardim, e vão continuar assim pelo menos até o fim do ano por causa de uma exposição que está sendo montada lá para a reabertura da casa.

Uma mudança agora é que o foco não estará apenas na literatura. “A casa passa a ser um ponto de atenção e as duas coisas, literatura e patrimônio, vão conviver”, diz Tápia. Segundo ele, essa foi uma diretriz da Secretaria.

O restauro custou R$ 4,2 milhões ao Governo do Estado de São Paulo.

Qual é a importância da Casa das Rosas?

Para Toninho Sarasá, do Estúdio Sarasá Conservação e Restauração, responsável pela execução do projeto, a importância da Casa das Rosas vem do fato de ela ser um dos últimos remanescentes do período do café na Avenida Paulista.

Fachada da Casa das Rosas em 1982 Foto: Acervo/Estadão

“Já era um período de declínio, mas o declínio de um café que transformou, que saiu do período colonial e entrou no período urbano. A casa tem características do eclético e do ambiente dos imigrantes do início de 1900 - o auge da transformação de São Paulo”, comenta.

Seu valor, diz Sarasá, é ainda maior pelo documento histórico que ela representa do que por sua arquitetura propriamente dita. “Ela representa uma identidade social dessa época e é um monumento da transformação social, arquitetônica e urbana.”

Tápia fala ainda em resistência. “Felizmente foi possível conservá-la numa época em que demoliam tudo da noite para o dia para evitar o seu tombamento. Ela foi uma das poucas que sobraram daquela época.” E celebra o uso público que se faz de um imóvel construído para abrigar apenas um casal. Estima-se que a Paulista receba hoje cerca de 1,5 milhão de pessoas diariamente. Um cenário muito diferente do que era no início desta história.

A história da Casa das Rosas

Projetada pelo escritório de Ramos de Azevedo - responsável, também por outros importantes prédios como a Pinacoteca do Estado, o Teatro Municipal, o Prédio da Light e o Mercado Público de São Paulo - a casa foi concluída em 1935 e habitada pelos herdeiros do arquiteto, que morreu em 1928 (ano do início do projeto).

Trata-se de um casarão de 1.500 metros quadrados, com dois andares além do porão e do sótão, e nada menos do que 30 cômodos. E o belo jardim. O estilo da construção lembra o neoclassicismo, mas ela se insere em uma linhagem marcada pelo ecletismo característico dos imóveis dos anos 1930.

A família de Ramos de Azevedo viveu ali até 1986. O último dono, Ernesto Dias de Castro, não deixou herdeiros e vendeu a propriedade. No fundo, com entrada pela Alameda Santos, foi construído um grande prédio. A construtora se comprometeu em restaurar a casa, que sofria com a ação do tempo e já havia sido declarada patrimônio histórico do Estado de São Paulo pelo Condephaat. Outras reformas foram feitas em 2003 e 2013. Desde 2004, ela se chama Casa das Rosas Espaço Haroldo de Campos.

Restauro e acessibilidade

A ideia era recuperar aspectos originais da casa, mas, antes, consertar problemas estruturais, como rachaduras e infiltrações, melhorar os sistemas elétricos e hidráulicos e garantir acessibilidade universal.

Isso quer dizer que o banheiro do térreo, que era o banheiro usado na residência, foi adaptado; que foi instalado piso podo tátil ao longo dos ambientes e corrimãos duplos de metal, com placas contendo inscrição em Braille nas escadas. Há ainda sinalização nos pisos para pessoas com baixa visão, uma nova rampa de acesso ao museu - agora em maior harmonia com o prédio e ao lado da entrada principal do público - e também o elevador, que passa a chegar à biblioteca de Haroldo de Campos.

Restaurar um imóvel tombado é sempre desafiador, mas Toninho Serasá disse que um dos maiores desafios deste trabalho foi “trazer essa casa do início do século para 2023″. Ela tinha que ter acessibilidade, combate à incêndio, segurança. “Sem perder a autenticidade, tínhamos que garantir toda essa informação e ainda trazer essa casa para o dia de hoje. Não deixamos essa casa em 1900. Demos a ela todo o potencial de uso.”

Segundo Serasá, durante o processo outros itens foram sendo incluídos, como a recuperação dos pisos de mármore e das pinturas do saguão principal - ao longo dos anos, várias camadas de tinta cobriram os blocos da parede, revelados agora.

Ele destaca, também, o trabalho de reprodução do papel de parede dos cômodos (cobertos por camadas de tintas ou danificados por umidade) feito a partir de estudos para recuperação de cromias, formas e texturas.

Ao longo dos anos, traços originais da casa foram apagados Foto: Estúdio Sarasá

E, mais importante, o restauro do papel descoberto em um dos cômodos do primeiro andar. “Foi uma grande surpresa para nós. Fizemos uma recuperação pontual muito bacana, tirando camada por camada com bisturi até chegar no papel de parede original.” O restauro foi feito com polpa de celulose, com retoques a mão.

Durante o processo de restauro de uma das salas, a equipe descobriu o papel original, que pôde ser restaurado. Nos demais cômodos, o papel é novo e reproduz o material antigo Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O projeto incluiu ainda o restauro das gárgulas (esculturas características da arquitetura gótica incluídas no alto de edificações). Em alguns casos, foi preciso refazê-las com moldes confeccionados a partir de partes das peças originais. Adornos metálicos foram recuperados e polidos.

Casa das Rosas ficou fechada para restauro durante dois anos Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

Uma equipe multidisciplinar, com engenheiros e arquitetos, com mestres entalhadores, forjadores e frentistas de argamassa, historiadores e pessoas que trabalham com a gestão do patrimônio cultural, atuou na execução do projeto.

“No restauro, a casa se mostrou, contou a sua história. E a história é magnífica”, comenta Sarasá. “Hoje, estamos complementando esse recheio do patrimônio cultural. Então, além de servir como invólucro de uma biblioteca importante, como a de Haroldo de Campos, ela mesma vai se mostrar como documento histórico. Esse é um grande momento e todos vão entender que a casa se tornou o monumento e um documento.”

Exposição

A história da casa e os bastidores do projeto de restauro serão contados na exposição Vivências do Novo, que vai inaugurar a nova fase da Casa das Rosas no sábado, 28, a partir das 15h. Ela vai ocupar o térreo do imóvel e poderá ser visitada até 13 de dezembro. No andar de cima, o público poderá visitar outra mostra, Dimensão Cidade, com curadoria de Paula Borghi e obras de 15 artistas contemporâneos, das mais diferentes linguagens.

Futuro

Outras exposições estão sendo pensadas para o local, e o público será convidado a ajudar na escolha dos temas.

De acordo com Marcelo Tápia, o plano de ação para 2024 ainda está sendo feito. A ideia, porém, é que a Casa das Rosas mantenha seus projetos, como o Centro de Apoio ao Escritor.

O jardim da Casa das Rosas é aberto e abriga um café e atividades da instituição Foto: Andre Hoff/Casa das Rosas

O café segue funcionando no jardim. E existe a ideia de fazer uma lojinha de souvenir, num gazebo de vidro visível já da Paulista. Ali devem ser vendidos, também, livros - remetendo a outro momento, quando a Casa das Rosas abrigou uma livraria da Imprensa Oficial e, depois, da Giostri.

Casa das Rosas reabre depois de dois anos de restauro

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Casa das Rosas

  • Avenida Paulista, 37
  • Casa: De terça a domingo, das 10h às 17h30 (permanência até as 18h)
  • Jardim: Aberto diariamente, das 7h às 22h

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