Pesquisadores que trabalham na Fundação Casa de Rui Barbosa, instituição federal sediada em Botafogo (zona sul do Rio), protestaram na tarde desta segunda-feira, 13, contra exonerações e dispensas anunciadas no último dia 7 pela presidente da instituição, a jornalista e roteirista de TV Letícia Dornelles. O plano era se reunir no jardim da instituição, ler uma carta contra as medidas e em seguida tentar entregá-la à presidente. A direção, porém, determinou que a Casa não abrisse os portões. Por isso, o protesto ocorreu na rua São Clemente, em frente aos portões da instituição CRB. A via chegou a ficar totalmente interditada. Das 15h30 às 17h, o trânsito fluiu em meia pista.
“(Nosso protesto) Não é só pela Casa de Rui Barbosa, que por si já seria motivo suficiente, mas é contra o projeto de destruição das instituições culturais no Brasil”, afirmou Antônio Herculano Lopes. Ele era diretor do Centro de Pesquisa da Casa e foi um dos exonerados por Letícia. Também foi exonerado Charles Gomes, chefe do Centro de Pesquisa em Direito. Foram dispensados a crítica literária Flora Süssekind, a jornalista Joelle Rouchou e o sociólogo José Almino de Alencar e Silva Neto. Eles eram, respectivamente, chefes do Centro de Pesquisa em Filologia, História e Ruiano.
“É legítimo que uma nova gestão queira indicar diretores de sua confiança. Incorreta foi a forma como a presidente agiu. Em nenhum momento me chamou pra conversar sobre a mudança. Fiquei sabendo da exoneração por uma amiga que me telefonou às seis e meia da manhã do dia em que foi publicada no Diário Oficial”, contou Lopes.
Funcionário concursado da Casa - perdeu apenas o cargo em comissão -,o ex-diretor do Centro de Pesquisa foi trabalhar normalmente. Como os funcionários do quadro permanente da CRB podiam entrar, conseguiu passar pelo portão. Ele estava fechado a visitantes, que não foram avisados. Segundo Lopes, a Casa tem aproximadamente 120 funcionários, mas janeiro é um mês em que tradicionalmente uma parte deles entra em férias. Então havia cerca de 80 na instituição.
“Foi um dia atípico. De manhã fizemos uma assembleia, em que incluímos na carta que já enviaríamos à direção uma crítica à decisão de manter os portões fechados. E decidimos por maioria fazer uma paralisação à tarde, para nos juntarmos aos manifestantes. Uns dez funcionários preferiram não aderir e permaneceram cumprindo suas funções. A presidente chegou e deu expediente na Casa, mas não falou com os funcionários. Ficou na sala dela, com o coordenador de administração”, contou Lopes.
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Medida foi tomada para evitar a entrada de pesquisadores que planejavam entregar uma carta de repúdio a medidas tomadas pela atual presidente
Quando chegaram para o protesto, marcado para 15h, os pesquisadores encontraram os portões fechados. Começaram a se aglomerar na rua. Logo a via foi interditada. A Polícia Militar interveio para tentar desobstruí-la, sem sucesso.
Participaram do ato mais de 150 pessoas. Entre elas, estavam intelectuais como o cientista social Luiz Werneck Vianna, o cineasta Silvio Tendler e o jornalista e político Roberto Amaral, ministro da Ciência e Tecnologia de 2003 a 2004, durante a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Manifestantes ficaram na porta da Casa, alternando discursos e palavras de ordem em coro - a maioria pedindo a abertura dos portões. Do lado de dentro, separados apenas pelo portão, funcionários da Casa participaram do ato. Às 17h, quando termina o expediente dos funcionários, eles saíram e foram recebidos com aplausos pelos pesquisadores barrados
Resposta. Em nota divulgada à tarde, a presidente da Casa de Rui Barbosa afirmou que “a Inteligência (sic) recebeu informações de que alguns manifestantes ameaçavam queimar pneus em protesto contra algumas exonerações”.
“Aqui é patrimônio histórico tombado. Não podemos correr riscos. Houve uma reunião emergencial de diretoria no domingo e optamos por fechar os portões”, afirmou Letícia Dornelles, no cargo desde outubro. Ela disse também no texto ter recebido ameaças “que já estão em poder da polícia e serão divulgadas em breve”.
A nota apresenta outra alegação para o fechamento dos portões. “Estamos com problemas graves nos dutos da Cedae (empresa pública de água e esgoto), que passam ao lado do Jardim Histórico e que podem estourar a qualquer momento, causando danos terríveis. Já solicitamos a obra e a Cedae não resolveu o problema. Entramos na Justiça e foi determinado o conserto. Com a forte chuva da noite, achamos melhor evitar a circulação no Jardim. Há sempre muitos idosos e crianças. A visitação já seria mínima, visto que choveu muito”, segue o texto.
Em outra nota, sobre o protesto, a presidente da instituição afirmou que “não houve desmonte do setor de pesquisa”. Afirmou ainda que “quem espalha esse tipo de futrica só quer tumultuar”.
“A intenção é meramente política. Não entro nesse jogo. Minha preocupação é com a Fundação. Não com egos”, segue a presidente na nota. “Infelizmente, alguns servidores foram à imprensa causar tumulto. Completamente desnecessário. E deselegante”.