THE WASHINGTON POST - O pai de Evie Riski lhe deu um diário para que ela pudesse seguir a tradição de registrar os eventos cotidianos de sua cidade natal. Isso foi uma semana antes de seu aniversário de 11 anos.
Nove décadas e quase 33 mil entradas depois, Riski ainda está seguindo essa tradição, escrevendo em seu diário todas as noites antes de dormir em Lakota, Dakota do Norte, a cerca de 30 quilômetros de onde ela cresceu, em Niagara.
Riski, que completou 100 anos no mês passado, não perdeu um único dia de escrita desde seu primeiro registro no diário, em 1º de janeiro de 1936.
“A vovó esteve em nossa casa. Clarence veio a pé da casa da tia Alma esta manhã”, escreveu ela em sua letra cursiva na época.
Desde as tarefas da fazenda e as paixões do ensino médio até o nascimento dos três filhos e a morte do marido em 2010, ela registrou tudo em dezenas de volumes que guarda em um baú de cedro.
“Nunca escrevo em letra de forma - é sempre em letra de mão”, disse Riski. “E toda noite, quando termino de escrever, sempre olho para a entrada de um ano atrás para ver o que estava fazendo naquele dia”.
O diário foi junto para quase todos os lugares para onde ela viajou, disse Riski, exceto quando ela deu à luz seus filhos ou quando foi internada por uma doença.
“Escrevi em papel de rascunho e transferi para o diário quando cheguei em casa”, ela disse. “Realmente não tinha desculpa para não escrever”.
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Os parentes se maravilharam com sua dedicação ao longo das décadas.
“Todas as noites, quando eu era criança, ela se sentava à mesa da cozinha, não importava o que acontecesse, e escrevia naquele diário”, lembrou a filha de Riski, Michelle Locken, 59 anos. “Mesmo com três crianças nascidas durante um período de quatro anos, ela continuou escrevendo”.
Sua mãe a inspirou a começar a manter um diário vinte anos atrás, ela disse.
“Ela me comprou um diário quando eu tinha 10 anos, mas eu estava mais interessada em andar de bicicleta e correr com meu cachorro”, disse Locken. “Foi só quando eu tinha 30 anos que decidi retomá-lo, e estou muito feliz por ter feito isso”.
“Hoje, quando só escrevemos mensagens de texto com os dedos no celular, é bom sentar, escrever e refletir em letra de mão”, disse ela. “Virou uma arte perdida”.
Os diários de sua mãe não são apenas um excelente registro da vida na Dakota do Norte ao longo dos anos: eles também ajudam a resolver pequenas discussões familiares, disse Locken.
“Se alguém discorda sobre a data de nascimento de uma pessoa ou o quanto nevou em algum ano específico, tudo o que precisamos é dar uma olhada nos diários dela”, disse Locken. “Minha mãe tem uma memória ótima. Está tudo lá”.
Nos últimos sete anos, Riski vive no centro de vida independente Good Samaritan Society - Prairie Rose, onde a administradora Anna Halvorson disse que ela é uma inspiração para os outros moradores.
“Muitas vezes, percebemos tarde demais que o tempo passa rápido, mas Evie encontrou uma maneira de registrar sua vida, página por página”, disse Halvorson. “Aqui valorizamos a família e a importância de viver a vida ao máximo, e Evie é uma grande presença de nossa família em Prairie Rose”.
Riski disse que participa regularmente de jogos de bingo e cafés da tarde, e depois anota as atividades em seu diário.
“Não importa onde você esteja na vida, é divertido escrever o que você está fazendo, para que você possa olhar para trás”, ela disse. “Gosto de ver qual era a temperatura, porque em Dakota do Norte às vezes faz muito frio”.
O avô de Riski foi um dos primeiros colonos em Niagara, e seus pais tinham um açougue na cidade, além de uma pequena fazenda, a partir do final da década de 1880, disse Locken.
“Quando era criança, [minha mãe] trabalhava muito na fazenda, montava a cavalo para pegar o feno”, ela disse, notando que sua mãe viu a introdução da eletricidade e da água encanada - tudo registrado em seus diários.
“Nós não tínhamos TV, rádio nem telefone, e posso dizer exatamente quando chegou a eletricidade”, disse Riski. “Foi em 1944. E foi muito bom, gostei muito”.
Ela disse que conheceu o marido, Donald Riski, em um piquenique. Eles se casaram em 8 de fevereiro de 1954.
“Nós dois tínhamos 29 anos”, disse Riski. “Meu grande conselho é esperar até os 29 para se casar. Viva a vida e se divirta, primeiro”.
“Mas é claro que ninguém nunca escuta”, ela acrescentou.
No mês passado, Riski estava animada para compartilhar sua festa de 100º aniversário com sua bisneta de 10 anos, Mila Ahl, nascida no mesmo dia.
Embora Mila ainda não tenha começado a manter um diário, Riski está esperançosa. Vários estudos ao longo dos anos mostraram que escrever diários reduz o estresse e ajuda as pessoas a ganhar uma perspectiva mais saudável sobre a vida, mesmo que estejam escrevendo sobre algo difícil ou desafiador.
“Não toma muito tempo a cada dia, é só um hábito maravilhoso”, ela disse. “Noventa anos é muito tempo, mas estou feliz por ter feito isso”./TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU