Uma extensa e cuidadosa programação para celebrar o centenário de nascimento de José Saramago começa hoje, dia 16, exatamente um ano antes da data oficial, em 2022. Presidente da Fundação José Saramago e viúva do escritor, a jornalista Pilar del Río conta que o Brasil vai ter um papel importante nas comemorações, incluindo instituições como o Museu da Língua Portuguesa, a Biblioteca Mário de Andrade e o Sesc, além da própria editora Companhia das Letras.
“A resposta que recebemos das organizações brasileiras dedicadas à cultura não poderia ser mais positiva. Em que pese as dificuldades trazidas pela pandemia e os problemas econômicos e sociais que estamos padecendo, nenhuma instituição se furtou”, explica Pilar, por e-mail, ao Estadão. “Para nós da fundação, esse retorno que recebemos foi a confirmação de que José Saramago é visto, sentido como mais um brasileiro. E de certa forma o era, por isso colocou a Península Ibérica a navegar pelo Atlântico dentro de A Jangada de Pedra: uma nova viagem, desta vez sem pretensões coloniais ou imperialistas, movida pela curiosidade, o respeito e a convivência.” No primeiro momento, a Companhia das Letras – que edita toda a obra do escritor no Brasil – lançará um selo 100 anos de José Saramago, que constará das edições comercializadas em 2022 e em toda a comunicação referente ao centenário do escritor. Para o ano que vem, a editora prepara uma série de publicações. Serão lançados pela Companhia das Letrinhas, já em janeiro, os livros O Silêncio da Água (com novas ilustrações de Yolanda Mosquera) e Uma Luz Inesperada (ilustrações de Armando Fonseca). Edições especiais de Ensaio Sobre a Cegueira (que também tem um audiobook em negociação) e O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de capa dura e fortuna crítica de intelectuais brasileiros, estão previstas para agosto e setembro de 2022. Um livro de ensaios da professora e crítica literária Leyla Perrone-Moisés analisa as obras de Saramago e duas biografias chegam às livrarias: Fotobiografia de José Saramago, de Ricardo Viel e Alejandro García, e o livro de Miguel Real e Filomena Oliveira sobre a vida do escritor. A fotobiografia, do brasileiro Ricardo Viel e do argentino Alejandro García, será lançada em parceria com a Fundação. O livro trouxe surpresas até mesmo para Pilar. “Os autores colocaram Saramago em diferentes momentos e em diversos países, e em cada lugar ou tempo vê-se como ele construía monumentos literários e sociais”, conta a viúva de Saramago. “No livro, há fotos de grandes figuras do pensamento e da literatura, num percurso que não é geográfico, senão emocional. Estão ali as amizades que não são casuais, pessoas com as quais foram tecidas redes de afeto.” Pilar diz que leitoras e leitores encontrarão surpresas no livro, que ela considera especial para quem é do Brasil. “Há fotos do Saramago em Salvador, por exemplo, que eu não sabia que existiam”, conta Pilar. “E cartas emocionantes a (Oscar) Niemeyer, a Cleonice (Berardinelli), a admiração sobre Minas Gerais.” Ainda em 2021, a editora publica o livro Autobiografia, de José Luis Peixoto, um romance em que ele transforma Saramago em personagem. No livro, um jovem autor em início de carreira tem a missão de escrever a biografia de seu mestre, um dos maiores escritores da língua portuguesa. As celebrações lideradas pela Fundação José Saramago diretamente de Portugal, no Brasil e também em diversos outros países são divididas em quatro eixos: Leitura, Publicações, Reuniões Acadêmicas e Biografia. “Acho que os congressos universitários ou os encontros de leitores que estão programados – ou que inclusive já estão em andamento – ajudarão a reforçar o grau de racionalidade e humanismo que há em Saramago”, destaca Pilar na entrevista. “E de progresso. Essas homenagens confrontarão com aqueles que não aceitam essas premissas, mas para os demais, para a maioria social, será um alento, um pensamento sólido a que se pode recorrer. Para não falar da sensação de beleza que acompanha a leitura dos livros de José Saramago. Isso, por si só, já é uma salvação.” Já neste dia 16 – 99 anos do nascimento de Saramago – ocorre o evento Leitura Centenária, que consiste na leitura do conto A Maior Flor do Mundo, publicado por Saramago em 2001, por estudantes de pelo menos cem escolas do ensino básico em Portugal – e também no Brasil, em colégios de Belém do Pará. “Sobre os pequenos, o que tenho a dizer é que serão eles que assumirão o testemunho”, comenta Pilar sobre a relação da obra de Saramago com as crianças. “Investir agora em novos leitores significa salvar a civilização, por isso estamos trabalhando nisso.” Também hoje, as Universidades Federais Fluminense e do Rio Grande do Norte iniciam o 2.º Colóquio de Estudos Saramaguianos, online. O Instituto de Estudos Avançados da USP é outro que prepara um seminário específico, para dezembro. Diversas outras instituições de ensino superior estão no programa que começa oficialmente o ciclo de homenagens ao escritor. Para 2022, a Companhia das Letras também promete organizar uma série de eventos sobre Saramago. Ainda sem data definida, as Jornadas Saramago serão uma série de palestras sobre as principais obras do autor, gratuitas, com emissão de certificado. Um evento presencial, com falas e apresentação musical, está previsto para a data do centenário, 16 de novembro de 2022 e o estande da editora na Bienal do Livro de São Paulo terá ações específicas. A editora vai apoiar também clubes de leitura da obra de Saramago em diversas cidades brasileiras e deve distribuir um e-book gratuito no mês de novembro de 2022, justamente no mês do centenário. Ações educativas e de divulgação e marketing farão parte do extenso calendário em homenagem ao centenário de nascimento.
Principais lançamentos
Infantil: ‘O Silêncio da Água’ (com novas ilustrações de Yolanda Mosquera) e ‘Uma Luz Inesperada’ ‘Autobiografia’, de José Luís Peixoto Edições especiais de ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ e ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ ‘Fotobiografia de José Saramago’, de Ricardo Viel e Alejandro García Lançamento do livro de ensaios de Leyla Perrone-Moisés sobre Saramago Biografia de José Saramago, por Miguel Real e Filomena Oliveira