Clubes do livro de celebridades viram fenômeno e movimentam mercado editorial; veja dicas


Reese Whiterspoon e Oprah Winfrey são destaque nos EUA; no Brasil, fenômeno desponta e tem nomes como Sophia Abrahão, Gabriela Prioli e Leandro Karnal

Por Julia Queiroz
Atualização:

Quando Oprah Winfrey lançou o seu clube do livro, em 1996, talvez não imaginasse que ele seguiria existindo três décadas depois, para além da TV. Todo mês, a apresentadora selecionava uma obra que era discutida ao vivo com os espectadores de seu talk-show.

Entre interrupções e mudanças, o projeto segue vivo em uma série disponível na Apple TV+, chamada Oprah’s Book Club, e através das redes sociais. Mas Oprah está longe de ser a única.

Na última década, surgiram muitos clubes do livros de personalidades famosas, com foco nas mídias sociais e nos encontros virtuais. Os círculos de leitores que eles formam são cada vez maiores e estão no alvo de editoras nacionais e internacionais.

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A cantora inglesa Florence Welch, vocalista da banda Florence and the Machine, foi uma das primeiras a se aventurar no território que Oprah dominava. Ela criou o Between Two Books em 2012, onde compartilha indicações mensais com a comunidade online e recebe sugestões de artistas como Greta Gerwig, Fiona Apple e Sally Rooney.

A atriz Sarah Jessica Parker, estrela de Sex & The City, entrou na onda em 2022. O apresentador Jimmy Fallon, que comanda um dos talk-shows mais famosos dos Estados Unidos, seleciona um livro todo verão para ler com os espectadores.

Mais recentemente, a cantora Dua Lipa anunciou aos fãs que também faria suas indicações mensais por meio da Service 95, plataforma multimídia que fundou em 2022. Emma Watson, Dolly Parton, Shonda Rhimes e Uzo Aduba também fizeram ou fazem parte da tendência.

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O caso de maior repercussão é o clube do livro da atriz Reese Whiterspoon. Desde 2017, ela seleciona mensalmente um livro centrado na história de uma mulher para discutir com os membros.

A participação no clube é gratuita, basta estar inscrito na newsletter do projeto e segui-lo nas redes. Ao final do mês, Reese promove um encontro virtual, que nem sempre conta com a sua presença, mas é geralmente mediado por um especialista e tem a participação da autora da obra selecionada.

Esse modelo é seguido pela maioria dos projetos do tipo nos Estados Unidos, apesar de muitos deles se manterem apenas nas redes sociais. Alguns têm parcerias com editoras ou até livrarias independentes, como é o caso do Belletrist, clube do livro da atriz Emma Roberts.

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O Reese’s Blook Club, clube do livro de Reese Whiterspoon, acumula mais de 2,6 milhões de seguidores no Instagram. Foto: Reese’s Blook Club/Divulgação

Colher de chá de Reese Witherspoon

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O Reese’s Blook Club (clube do livro da Reese, em português) ganhou destaque especial porque a artista também é a fundadora da produtora Hello Sunshine, que costuma transformar obras selecionados pelo clube em adaptações para o cinema e para a TV.

É o caso de Daisy Jones & The Six, livro lançado em 2019 pela autora norte-americana Taylor Jenkins Reid e que virou série no Prime Video em 2023. Os direitos da obra foram comprados pela produtora de Reese antes mesmo do lançamento, e ele logo se tornou um dos livros selecionados pelo clube da atriz.

Rapidamente, o livro chegou à lista de mais vendidos do jornal New York Times, onde figurou por 17 semanas. Antes da adaptação, mais de 1 milhão de cópias haviam sido vendidas no mundo. No Brasil, a história chegou pouco depois pela Paralela, selo da Companhia das Letras.

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Elenco da série 'Daisy jones & The Six' lendo um exemplar do livro que deu origem à produção. Foto: Reese's Book Club/Divulgação

Editoras de olho nos clubes

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A Paralela costuma monitorar os principais clubes do livro dos Estados Unidos, explica Quezia Cleto, editora do selo. Segundo ela, embora ainda seja difícil mensurar seu impacto direto nas vendas no Brasil, eles costumam explicar picos de venda no exterior.

“A plataforma grande dessas celebridades possibilita a atração de vários possíveis leitores de uma vez só, potencializando o que poderia ser uma indicação pontual ou até uma publicidade para um livro”, diz Quezia.

“Por outro lado, pode ser uma forma de ajudar quem tem vontade de ler mais a direcionar essa energia e esse foco, sabendo que cada mês haverá uma nova indicação”, completa.

Outro exemplo é o livro Indomável, de Glennon Doyle, que foi selecionado pelo Reese’s Book Club em abril de 2020 e, em outubro, foi publicado no Brasil pela editora HarperCollins.

Reese Whiterspoon com seu exemplar do livro 'Indomável', de Glennon Doyle. Foto: Reese's Book Club/Divulgação

“Nós já queríamos fazer a aquisição antes, mas a escolha para o clube acelerou nossa decisão. Por ser uma obra de não ficção bastante autoral, era uma publicação mais incerta porque dependia da conexão do leitor brasileiro com a história da autora”, explica Alice Mello, editora executiva da empresa.

Indomável acabou se tornando um dos nossos maiores sucessos de venda no gênero”, diz. Além dele, obras como Pimenta e mel (Bolu Babalola), A ilha das árvores perdidas (Elif Şafak), e A outra sra. Parrish (Liv Constantine) também foram selecionados pelo clube da atriz e publicados no Brasil pela HarperCollins.

Divulgação e credibilidade: clube de vantagens

Taila Lima, coordenadora de marketing da editora Intrínseca, pondera que entrar em um clube não é garantia automática de best-seller.

A editora publicou os livros Um lugar bem longe daqui, de Delia Owens, e Pequenos incêndios por toda parte, de Celeste Ng, que também foram escolhidos pelo clube de Reese. O primeiro ganhou filme em 2022, e o segundo virou minissérie estrelada pela própria atriz.

Para Taila, a escolha tem o poder de potencializar a divulgação e tornar a obra mais conhecida. “É algo que, em conjunto com uma boa campanha paralela de divulgação e manutenção, pode aumentar o burburinho e ajudar nas vendas”, explica.

Os clubes têm a função de “mostrar para um grande público a existência, a importância e o potencial de uma obra”, diz. O resultado é visto não só no possível aumento na venda, mas na propaganda por meio do “boca a boca”, explica.

Os clubes ainda ajudam a construir a credibilidade da história contada. Em tempos de disputa com as redes sociais e o streaming, eles são uma forma de convencer o leitor de que vale a pena “gastar” seu tempo com aquela trama.

“Existe também a promessa de uma proximidade - ler o mesmo livro que sua cantora, atriz ou apresentadora favorita é também entender quem é essa pessoa no privado, o que ela gosta, como ela vê o mundo. Mas apenas isso não sustenta a longo prazo. É preciso que a curadoria seja eficiente”, aponta.

Essa perspectiva é compartilhada por Quezia Cleto, que frisa como clubes e listas de indicações, como a feita anualmente por Barack Obama, trazem “destaque para temas e autores mais diversos, abrindo caminho para novas vozes”.

“É muito animador saber que, em um universo cada vez mais tecnológico, livros ainda estão tão presentes e que celebridades queiram não só incentivar a leitura como serem identificados como leitores e se conectarem com seu público a partir dessa identidade. Diz muito sobre o poder dos livros e é promissor para quem trabalha na área”, completa.

Famosos na liga de clubes brasileiros

No Brasil, os influenciadores literários são os principais responsáveis pela divulgação de livros na internet. Os clubes de Pedro Pacífico (conhecido como Bookster), Pam Gonçalves e Paola Aleksandra foram alguns dos citados pelas editoras à reportagem.

O movimento das celebridades, contudo, já tem começado por aqui também. É o caso da atriz Sophia Abrahão, que em 2019 criou o seu clube de leitura para dividir com os seguidores. Ela já compartilhava indicações nas redes sociais e, percebendo o interesse dos fãs, formalizou o projeto.

“Desde o início criamos um projeto sem fins lucrativos, no qual as pessoas se inscrevem e participam de forma gratuita, bem como eventuais sorteios dos títulos do mês e cupons de desconto”, diz a artista.

Todo mês, Sophia e sua equipe fazem uma curadoria de livros que podem interessar os participantes e lançam uma enquete para que eles escolham o título do mês. Em seguida, ela divulga um cronograma de leitura e promove a interação entre os inscritos por meio de um chat privado.

No final do mês, ela realiza uma live nas suas redes sociais para debater a obra. “Essa é a minha parte favorita. É muito interessante ver várias interpretações e discussões em cima da mesma leitura. É sempre muito enriquecedor”, comenta.

Sophia Abrahão criou clube do livre para incentivar a leitura entre seus seguidores. Na imagem, ela segura o livro 'A Biblioteca da Meia-Noite', de Matt Haig. Foto: Sophia Abrahão/Arquivo Pessoal

A apresentadora e advogada Gabriela Prioli fundou o seu próprio clube do livro em 2020. No ano seguinte, o historiador Leandro Karnal, com quem ela dividia o programa CNN Tonight, entrou no projeto.

Eles selecionam dez obras de ficção e não ficção para lerem ao longo do ano com os inscritos. Todo mês, os membros têm acesso à uma aula preparada pelos dois sobre o tema do livro escolhido.

Karnal e Gabi também oferecem uma live de debate sobre o título com a possível participação dos autores e de especialistas, além de acesso ao Instagram do grupo, onde inscritos podem discutir a obra duranta a leitura. As inscrições são limitadas e, em 2023, custaram R$ 687 (pelo ano todo).

“O clube do livro é meu refúgio”, diz a advogada. O projeto, para ela, é um espaço em que se sente acolhida e onde pode trocar ideias de forma respeitosa e enriquecer sua visão de mundo.

“É um lugar de aprofundamento, de fuga dessa superficialidade que parece reinar com um conteúdo pasteurizado e repetitivo que nos é encaminhado de forma automática”, aponta.

A apresentadora e advogada Gabriela Prioli divide um clube do livro com o historiador Leandro Karnal. Foto: Iude Richele/Divulgação

Tanto Gabriela quanto Sophia se animam com o possível impacto na vida dos leitores. “O feedback que recebo é unânime no sentido muito positivo daquela experiência”, diz a advogada. “As pessoas me falam: ‘eu encontrei a minha voz’”.

A atriz tem comentários parecidos: “São pessoas, como eu, que também não tinham disciplina com a leitura. E depois do clube, criaram esse hábito. Recebo depoimentos de pessoas que estão fazendo anotações enquanto leem os livros para a discussão final, que estão criando um senso mais crítico em relação a alguns temas”.

“Acredito firmemente na influência positiva que projetos como esse trazem para o país. O brasileiro não tem o hábito de ler, falta incentivo. Ter projetos que estimulem isso é de extrema importância”, completa Sophia.

Indicações de clubes do livro de celebridades

Dicas de livros selecionados: Uma mentira perfeita (Lisa Scottoline) e O legado de Chandler (Abdi Nazemian)

Dicas de livros selecionados: O olho mais azul (Toni Morrison) e O Estrangeiro (Albert Camus)

Dicas de livros selecionados: Em busca de mim (Viola Davis) e Um casamento americano (Tayari Jones)

Dicas de livros selecionados: O Rouxinol (Kristin Hannah) e A última coisa que ele me falou (Laura Dave)

Dicas de livros selecionados: A história de Shuggie Bain (Douglas Stuart)

Dicas de livros selecionados: Os Imortalistas (Chloe Benjamin) e Marlena (Julie Buntin)

Dicas de livros selecionados: A Metade Perdida (Brit Bennett) e Gótico Mexicano (Silvia Moreno-Garcia)

Dicas de livros selecionados: Filhos de sangue e osso (Tomi Adeyemi) e Amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã (Gabrielle Zevin)

Dicas de livros selecionados: Nos Meandros da Lei (Michael Connelly) e Fique Comigo (Harlan Coben)

Reese Whiterspoon também é a fundadora da produtora Hello Sunshine, que produz adaptações de livros escolhidos pelo clube do livro da atriz. Foto: Jodee Debes/Reese's Book Club/Divulgação

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Quando Oprah Winfrey lançou o seu clube do livro, em 1996, talvez não imaginasse que ele seguiria existindo três décadas depois, para além da TV. Todo mês, a apresentadora selecionava uma obra que era discutida ao vivo com os espectadores de seu talk-show.

Entre interrupções e mudanças, o projeto segue vivo em uma série disponível na Apple TV+, chamada Oprah’s Book Club, e através das redes sociais. Mas Oprah está longe de ser a única.

Na última década, surgiram muitos clubes do livros de personalidades famosas, com foco nas mídias sociais e nos encontros virtuais. Os círculos de leitores que eles formam são cada vez maiores e estão no alvo de editoras nacionais e internacionais.

A cantora inglesa Florence Welch, vocalista da banda Florence and the Machine, foi uma das primeiras a se aventurar no território que Oprah dominava. Ela criou o Between Two Books em 2012, onde compartilha indicações mensais com a comunidade online e recebe sugestões de artistas como Greta Gerwig, Fiona Apple e Sally Rooney.

A atriz Sarah Jessica Parker, estrela de Sex & The City, entrou na onda em 2022. O apresentador Jimmy Fallon, que comanda um dos talk-shows mais famosos dos Estados Unidos, seleciona um livro todo verão para ler com os espectadores.

Mais recentemente, a cantora Dua Lipa anunciou aos fãs que também faria suas indicações mensais por meio da Service 95, plataforma multimídia que fundou em 2022. Emma Watson, Dolly Parton, Shonda Rhimes e Uzo Aduba também fizeram ou fazem parte da tendência.

O caso de maior repercussão é o clube do livro da atriz Reese Whiterspoon. Desde 2017, ela seleciona mensalmente um livro centrado na história de uma mulher para discutir com os membros.

A participação no clube é gratuita, basta estar inscrito na newsletter do projeto e segui-lo nas redes. Ao final do mês, Reese promove um encontro virtual, que nem sempre conta com a sua presença, mas é geralmente mediado por um especialista e tem a participação da autora da obra selecionada.

Esse modelo é seguido pela maioria dos projetos do tipo nos Estados Unidos, apesar de muitos deles se manterem apenas nas redes sociais. Alguns têm parcerias com editoras ou até livrarias independentes, como é o caso do Belletrist, clube do livro da atriz Emma Roberts.

O Reese’s Blook Club, clube do livro de Reese Whiterspoon, acumula mais de 2,6 milhões de seguidores no Instagram. Foto: Reese’s Blook Club/Divulgação

Colher de chá de Reese Witherspoon

O Reese’s Blook Club (clube do livro da Reese, em português) ganhou destaque especial porque a artista também é a fundadora da produtora Hello Sunshine, que costuma transformar obras selecionados pelo clube em adaptações para o cinema e para a TV.

É o caso de Daisy Jones & The Six, livro lançado em 2019 pela autora norte-americana Taylor Jenkins Reid e que virou série no Prime Video em 2023. Os direitos da obra foram comprados pela produtora de Reese antes mesmo do lançamento, e ele logo se tornou um dos livros selecionados pelo clube da atriz.

Rapidamente, o livro chegou à lista de mais vendidos do jornal New York Times, onde figurou por 17 semanas. Antes da adaptação, mais de 1 milhão de cópias haviam sido vendidas no mundo. No Brasil, a história chegou pouco depois pela Paralela, selo da Companhia das Letras.

Elenco da série 'Daisy jones & The Six' lendo um exemplar do livro que deu origem à produção. Foto: Reese's Book Club/Divulgação

Editoras de olho nos clubes

A Paralela costuma monitorar os principais clubes do livro dos Estados Unidos, explica Quezia Cleto, editora do selo. Segundo ela, embora ainda seja difícil mensurar seu impacto direto nas vendas no Brasil, eles costumam explicar picos de venda no exterior.

“A plataforma grande dessas celebridades possibilita a atração de vários possíveis leitores de uma vez só, potencializando o que poderia ser uma indicação pontual ou até uma publicidade para um livro”, diz Quezia.

“Por outro lado, pode ser uma forma de ajudar quem tem vontade de ler mais a direcionar essa energia e esse foco, sabendo que cada mês haverá uma nova indicação”, completa.

Outro exemplo é o livro Indomável, de Glennon Doyle, que foi selecionado pelo Reese’s Book Club em abril de 2020 e, em outubro, foi publicado no Brasil pela editora HarperCollins.

Reese Whiterspoon com seu exemplar do livro 'Indomável', de Glennon Doyle. Foto: Reese's Book Club/Divulgação

“Nós já queríamos fazer a aquisição antes, mas a escolha para o clube acelerou nossa decisão. Por ser uma obra de não ficção bastante autoral, era uma publicação mais incerta porque dependia da conexão do leitor brasileiro com a história da autora”, explica Alice Mello, editora executiva da empresa.

Indomável acabou se tornando um dos nossos maiores sucessos de venda no gênero”, diz. Além dele, obras como Pimenta e mel (Bolu Babalola), A ilha das árvores perdidas (Elif Şafak), e A outra sra. Parrish (Liv Constantine) também foram selecionados pelo clube da atriz e publicados no Brasil pela HarperCollins.

Divulgação e credibilidade: clube de vantagens

Taila Lima, coordenadora de marketing da editora Intrínseca, pondera que entrar em um clube não é garantia automática de best-seller.

A editora publicou os livros Um lugar bem longe daqui, de Delia Owens, e Pequenos incêndios por toda parte, de Celeste Ng, que também foram escolhidos pelo clube de Reese. O primeiro ganhou filme em 2022, e o segundo virou minissérie estrelada pela própria atriz.

Para Taila, a escolha tem o poder de potencializar a divulgação e tornar a obra mais conhecida. “É algo que, em conjunto com uma boa campanha paralela de divulgação e manutenção, pode aumentar o burburinho e ajudar nas vendas”, explica.

Os clubes têm a função de “mostrar para um grande público a existência, a importância e o potencial de uma obra”, diz. O resultado é visto não só no possível aumento na venda, mas na propaganda por meio do “boca a boca”, explica.

Os clubes ainda ajudam a construir a credibilidade da história contada. Em tempos de disputa com as redes sociais e o streaming, eles são uma forma de convencer o leitor de que vale a pena “gastar” seu tempo com aquela trama.

“Existe também a promessa de uma proximidade - ler o mesmo livro que sua cantora, atriz ou apresentadora favorita é também entender quem é essa pessoa no privado, o que ela gosta, como ela vê o mundo. Mas apenas isso não sustenta a longo prazo. É preciso que a curadoria seja eficiente”, aponta.

Essa perspectiva é compartilhada por Quezia Cleto, que frisa como clubes e listas de indicações, como a feita anualmente por Barack Obama, trazem “destaque para temas e autores mais diversos, abrindo caminho para novas vozes”.

“É muito animador saber que, em um universo cada vez mais tecnológico, livros ainda estão tão presentes e que celebridades queiram não só incentivar a leitura como serem identificados como leitores e se conectarem com seu público a partir dessa identidade. Diz muito sobre o poder dos livros e é promissor para quem trabalha na área”, completa.

Famosos na liga de clubes brasileiros

No Brasil, os influenciadores literários são os principais responsáveis pela divulgação de livros na internet. Os clubes de Pedro Pacífico (conhecido como Bookster), Pam Gonçalves e Paola Aleksandra foram alguns dos citados pelas editoras à reportagem.

O movimento das celebridades, contudo, já tem começado por aqui também. É o caso da atriz Sophia Abrahão, que em 2019 criou o seu clube de leitura para dividir com os seguidores. Ela já compartilhava indicações nas redes sociais e, percebendo o interesse dos fãs, formalizou o projeto.

“Desde o início criamos um projeto sem fins lucrativos, no qual as pessoas se inscrevem e participam de forma gratuita, bem como eventuais sorteios dos títulos do mês e cupons de desconto”, diz a artista.

Todo mês, Sophia e sua equipe fazem uma curadoria de livros que podem interessar os participantes e lançam uma enquete para que eles escolham o título do mês. Em seguida, ela divulga um cronograma de leitura e promove a interação entre os inscritos por meio de um chat privado.

No final do mês, ela realiza uma live nas suas redes sociais para debater a obra. “Essa é a minha parte favorita. É muito interessante ver várias interpretações e discussões em cima da mesma leitura. É sempre muito enriquecedor”, comenta.

Sophia Abrahão criou clube do livre para incentivar a leitura entre seus seguidores. Na imagem, ela segura o livro 'A Biblioteca da Meia-Noite', de Matt Haig. Foto: Sophia Abrahão/Arquivo Pessoal

A apresentadora e advogada Gabriela Prioli fundou o seu próprio clube do livro em 2020. No ano seguinte, o historiador Leandro Karnal, com quem ela dividia o programa CNN Tonight, entrou no projeto.

Eles selecionam dez obras de ficção e não ficção para lerem ao longo do ano com os inscritos. Todo mês, os membros têm acesso à uma aula preparada pelos dois sobre o tema do livro escolhido.

Karnal e Gabi também oferecem uma live de debate sobre o título com a possível participação dos autores e de especialistas, além de acesso ao Instagram do grupo, onde inscritos podem discutir a obra duranta a leitura. As inscrições são limitadas e, em 2023, custaram R$ 687 (pelo ano todo).

“O clube do livro é meu refúgio”, diz a advogada. O projeto, para ela, é um espaço em que se sente acolhida e onde pode trocar ideias de forma respeitosa e enriquecer sua visão de mundo.

“É um lugar de aprofundamento, de fuga dessa superficialidade que parece reinar com um conteúdo pasteurizado e repetitivo que nos é encaminhado de forma automática”, aponta.

A apresentadora e advogada Gabriela Prioli divide um clube do livro com o historiador Leandro Karnal. Foto: Iude Richele/Divulgação

Tanto Gabriela quanto Sophia se animam com o possível impacto na vida dos leitores. “O feedback que recebo é unânime no sentido muito positivo daquela experiência”, diz a advogada. “As pessoas me falam: ‘eu encontrei a minha voz’”.

A atriz tem comentários parecidos: “São pessoas, como eu, que também não tinham disciplina com a leitura. E depois do clube, criaram esse hábito. Recebo depoimentos de pessoas que estão fazendo anotações enquanto leem os livros para a discussão final, que estão criando um senso mais crítico em relação a alguns temas”.

“Acredito firmemente na influência positiva que projetos como esse trazem para o país. O brasileiro não tem o hábito de ler, falta incentivo. Ter projetos que estimulem isso é de extrema importância”, completa Sophia.

Indicações de clubes do livro de celebridades

Dicas de livros selecionados: Uma mentira perfeita (Lisa Scottoline) e O legado de Chandler (Abdi Nazemian)

Dicas de livros selecionados: O olho mais azul (Toni Morrison) e O Estrangeiro (Albert Camus)

Dicas de livros selecionados: Em busca de mim (Viola Davis) e Um casamento americano (Tayari Jones)

Dicas de livros selecionados: O Rouxinol (Kristin Hannah) e A última coisa que ele me falou (Laura Dave)

Dicas de livros selecionados: A história de Shuggie Bain (Douglas Stuart)

Dicas de livros selecionados: Os Imortalistas (Chloe Benjamin) e Marlena (Julie Buntin)

Dicas de livros selecionados: A Metade Perdida (Brit Bennett) e Gótico Mexicano (Silvia Moreno-Garcia)

Dicas de livros selecionados: Filhos de sangue e osso (Tomi Adeyemi) e Amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã (Gabrielle Zevin)

Dicas de livros selecionados: Nos Meandros da Lei (Michael Connelly) e Fique Comigo (Harlan Coben)

Reese Whiterspoon também é a fundadora da produtora Hello Sunshine, que produz adaptações de livros escolhidos pelo clube do livro da atriz. Foto: Jodee Debes/Reese's Book Club/Divulgação

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Quando Oprah Winfrey lançou o seu clube do livro, em 1996, talvez não imaginasse que ele seguiria existindo três décadas depois, para além da TV. Todo mês, a apresentadora selecionava uma obra que era discutida ao vivo com os espectadores de seu talk-show.

Entre interrupções e mudanças, o projeto segue vivo em uma série disponível na Apple TV+, chamada Oprah’s Book Club, e através das redes sociais. Mas Oprah está longe de ser a única.

Na última década, surgiram muitos clubes do livros de personalidades famosas, com foco nas mídias sociais e nos encontros virtuais. Os círculos de leitores que eles formam são cada vez maiores e estão no alvo de editoras nacionais e internacionais.

A cantora inglesa Florence Welch, vocalista da banda Florence and the Machine, foi uma das primeiras a se aventurar no território que Oprah dominava. Ela criou o Between Two Books em 2012, onde compartilha indicações mensais com a comunidade online e recebe sugestões de artistas como Greta Gerwig, Fiona Apple e Sally Rooney.

A atriz Sarah Jessica Parker, estrela de Sex & The City, entrou na onda em 2022. O apresentador Jimmy Fallon, que comanda um dos talk-shows mais famosos dos Estados Unidos, seleciona um livro todo verão para ler com os espectadores.

Mais recentemente, a cantora Dua Lipa anunciou aos fãs que também faria suas indicações mensais por meio da Service 95, plataforma multimídia que fundou em 2022. Emma Watson, Dolly Parton, Shonda Rhimes e Uzo Aduba também fizeram ou fazem parte da tendência.

O caso de maior repercussão é o clube do livro da atriz Reese Whiterspoon. Desde 2017, ela seleciona mensalmente um livro centrado na história de uma mulher para discutir com os membros.

A participação no clube é gratuita, basta estar inscrito na newsletter do projeto e segui-lo nas redes. Ao final do mês, Reese promove um encontro virtual, que nem sempre conta com a sua presença, mas é geralmente mediado por um especialista e tem a participação da autora da obra selecionada.

Esse modelo é seguido pela maioria dos projetos do tipo nos Estados Unidos, apesar de muitos deles se manterem apenas nas redes sociais. Alguns têm parcerias com editoras ou até livrarias independentes, como é o caso do Belletrist, clube do livro da atriz Emma Roberts.

O Reese’s Blook Club, clube do livro de Reese Whiterspoon, acumula mais de 2,6 milhões de seguidores no Instagram. Foto: Reese’s Blook Club/Divulgação

Colher de chá de Reese Witherspoon

O Reese’s Blook Club (clube do livro da Reese, em português) ganhou destaque especial porque a artista também é a fundadora da produtora Hello Sunshine, que costuma transformar obras selecionados pelo clube em adaptações para o cinema e para a TV.

É o caso de Daisy Jones & The Six, livro lançado em 2019 pela autora norte-americana Taylor Jenkins Reid e que virou série no Prime Video em 2023. Os direitos da obra foram comprados pela produtora de Reese antes mesmo do lançamento, e ele logo se tornou um dos livros selecionados pelo clube da atriz.

Rapidamente, o livro chegou à lista de mais vendidos do jornal New York Times, onde figurou por 17 semanas. Antes da adaptação, mais de 1 milhão de cópias haviam sido vendidas no mundo. No Brasil, a história chegou pouco depois pela Paralela, selo da Companhia das Letras.

Elenco da série 'Daisy jones & The Six' lendo um exemplar do livro que deu origem à produção. Foto: Reese's Book Club/Divulgação

Editoras de olho nos clubes

A Paralela costuma monitorar os principais clubes do livro dos Estados Unidos, explica Quezia Cleto, editora do selo. Segundo ela, embora ainda seja difícil mensurar seu impacto direto nas vendas no Brasil, eles costumam explicar picos de venda no exterior.

“A plataforma grande dessas celebridades possibilita a atração de vários possíveis leitores de uma vez só, potencializando o que poderia ser uma indicação pontual ou até uma publicidade para um livro”, diz Quezia.

“Por outro lado, pode ser uma forma de ajudar quem tem vontade de ler mais a direcionar essa energia e esse foco, sabendo que cada mês haverá uma nova indicação”, completa.

Outro exemplo é o livro Indomável, de Glennon Doyle, que foi selecionado pelo Reese’s Book Club em abril de 2020 e, em outubro, foi publicado no Brasil pela editora HarperCollins.

Reese Whiterspoon com seu exemplar do livro 'Indomável', de Glennon Doyle. Foto: Reese's Book Club/Divulgação

“Nós já queríamos fazer a aquisição antes, mas a escolha para o clube acelerou nossa decisão. Por ser uma obra de não ficção bastante autoral, era uma publicação mais incerta porque dependia da conexão do leitor brasileiro com a história da autora”, explica Alice Mello, editora executiva da empresa.

Indomável acabou se tornando um dos nossos maiores sucessos de venda no gênero”, diz. Além dele, obras como Pimenta e mel (Bolu Babalola), A ilha das árvores perdidas (Elif Şafak), e A outra sra. Parrish (Liv Constantine) também foram selecionados pelo clube da atriz e publicados no Brasil pela HarperCollins.

Divulgação e credibilidade: clube de vantagens

Taila Lima, coordenadora de marketing da editora Intrínseca, pondera que entrar em um clube não é garantia automática de best-seller.

A editora publicou os livros Um lugar bem longe daqui, de Delia Owens, e Pequenos incêndios por toda parte, de Celeste Ng, que também foram escolhidos pelo clube de Reese. O primeiro ganhou filme em 2022, e o segundo virou minissérie estrelada pela própria atriz.

Para Taila, a escolha tem o poder de potencializar a divulgação e tornar a obra mais conhecida. “É algo que, em conjunto com uma boa campanha paralela de divulgação e manutenção, pode aumentar o burburinho e ajudar nas vendas”, explica.

Os clubes têm a função de “mostrar para um grande público a existência, a importância e o potencial de uma obra”, diz. O resultado é visto não só no possível aumento na venda, mas na propaganda por meio do “boca a boca”, explica.

Os clubes ainda ajudam a construir a credibilidade da história contada. Em tempos de disputa com as redes sociais e o streaming, eles são uma forma de convencer o leitor de que vale a pena “gastar” seu tempo com aquela trama.

“Existe também a promessa de uma proximidade - ler o mesmo livro que sua cantora, atriz ou apresentadora favorita é também entender quem é essa pessoa no privado, o que ela gosta, como ela vê o mundo. Mas apenas isso não sustenta a longo prazo. É preciso que a curadoria seja eficiente”, aponta.

Essa perspectiva é compartilhada por Quezia Cleto, que frisa como clubes e listas de indicações, como a feita anualmente por Barack Obama, trazem “destaque para temas e autores mais diversos, abrindo caminho para novas vozes”.

“É muito animador saber que, em um universo cada vez mais tecnológico, livros ainda estão tão presentes e que celebridades queiram não só incentivar a leitura como serem identificados como leitores e se conectarem com seu público a partir dessa identidade. Diz muito sobre o poder dos livros e é promissor para quem trabalha na área”, completa.

Famosos na liga de clubes brasileiros

No Brasil, os influenciadores literários são os principais responsáveis pela divulgação de livros na internet. Os clubes de Pedro Pacífico (conhecido como Bookster), Pam Gonçalves e Paola Aleksandra foram alguns dos citados pelas editoras à reportagem.

O movimento das celebridades, contudo, já tem começado por aqui também. É o caso da atriz Sophia Abrahão, que em 2019 criou o seu clube de leitura para dividir com os seguidores. Ela já compartilhava indicações nas redes sociais e, percebendo o interesse dos fãs, formalizou o projeto.

“Desde o início criamos um projeto sem fins lucrativos, no qual as pessoas se inscrevem e participam de forma gratuita, bem como eventuais sorteios dos títulos do mês e cupons de desconto”, diz a artista.

Todo mês, Sophia e sua equipe fazem uma curadoria de livros que podem interessar os participantes e lançam uma enquete para que eles escolham o título do mês. Em seguida, ela divulga um cronograma de leitura e promove a interação entre os inscritos por meio de um chat privado.

No final do mês, ela realiza uma live nas suas redes sociais para debater a obra. “Essa é a minha parte favorita. É muito interessante ver várias interpretações e discussões em cima da mesma leitura. É sempre muito enriquecedor”, comenta.

Sophia Abrahão criou clube do livre para incentivar a leitura entre seus seguidores. Na imagem, ela segura o livro 'A Biblioteca da Meia-Noite', de Matt Haig. Foto: Sophia Abrahão/Arquivo Pessoal

A apresentadora e advogada Gabriela Prioli fundou o seu próprio clube do livro em 2020. No ano seguinte, o historiador Leandro Karnal, com quem ela dividia o programa CNN Tonight, entrou no projeto.

Eles selecionam dez obras de ficção e não ficção para lerem ao longo do ano com os inscritos. Todo mês, os membros têm acesso à uma aula preparada pelos dois sobre o tema do livro escolhido.

Karnal e Gabi também oferecem uma live de debate sobre o título com a possível participação dos autores e de especialistas, além de acesso ao Instagram do grupo, onde inscritos podem discutir a obra duranta a leitura. As inscrições são limitadas e, em 2023, custaram R$ 687 (pelo ano todo).

“O clube do livro é meu refúgio”, diz a advogada. O projeto, para ela, é um espaço em que se sente acolhida e onde pode trocar ideias de forma respeitosa e enriquecer sua visão de mundo.

“É um lugar de aprofundamento, de fuga dessa superficialidade que parece reinar com um conteúdo pasteurizado e repetitivo que nos é encaminhado de forma automática”, aponta.

A apresentadora e advogada Gabriela Prioli divide um clube do livro com o historiador Leandro Karnal. Foto: Iude Richele/Divulgação

Tanto Gabriela quanto Sophia se animam com o possível impacto na vida dos leitores. “O feedback que recebo é unânime no sentido muito positivo daquela experiência”, diz a advogada. “As pessoas me falam: ‘eu encontrei a minha voz’”.

A atriz tem comentários parecidos: “São pessoas, como eu, que também não tinham disciplina com a leitura. E depois do clube, criaram esse hábito. Recebo depoimentos de pessoas que estão fazendo anotações enquanto leem os livros para a discussão final, que estão criando um senso mais crítico em relação a alguns temas”.

“Acredito firmemente na influência positiva que projetos como esse trazem para o país. O brasileiro não tem o hábito de ler, falta incentivo. Ter projetos que estimulem isso é de extrema importância”, completa Sophia.

Indicações de clubes do livro de celebridades

Dicas de livros selecionados: Uma mentira perfeita (Lisa Scottoline) e O legado de Chandler (Abdi Nazemian)

Dicas de livros selecionados: O olho mais azul (Toni Morrison) e O Estrangeiro (Albert Camus)

Dicas de livros selecionados: Em busca de mim (Viola Davis) e Um casamento americano (Tayari Jones)

Dicas de livros selecionados: O Rouxinol (Kristin Hannah) e A última coisa que ele me falou (Laura Dave)

Dicas de livros selecionados: A história de Shuggie Bain (Douglas Stuart)

Dicas de livros selecionados: Os Imortalistas (Chloe Benjamin) e Marlena (Julie Buntin)

Dicas de livros selecionados: A Metade Perdida (Brit Bennett) e Gótico Mexicano (Silvia Moreno-Garcia)

Dicas de livros selecionados: Filhos de sangue e osso (Tomi Adeyemi) e Amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã (Gabrielle Zevin)

Dicas de livros selecionados: Nos Meandros da Lei (Michael Connelly) e Fique Comigo (Harlan Coben)

Reese Whiterspoon também é a fundadora da produtora Hello Sunshine, que produz adaptações de livros escolhidos pelo clube do livro da atriz. Foto: Jodee Debes/Reese's Book Club/Divulgação

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

Quando Oprah Winfrey lançou o seu clube do livro, em 1996, talvez não imaginasse que ele seguiria existindo três décadas depois, para além da TV. Todo mês, a apresentadora selecionava uma obra que era discutida ao vivo com os espectadores de seu talk-show.

Entre interrupções e mudanças, o projeto segue vivo em uma série disponível na Apple TV+, chamada Oprah’s Book Club, e através das redes sociais. Mas Oprah está longe de ser a única.

Na última década, surgiram muitos clubes do livros de personalidades famosas, com foco nas mídias sociais e nos encontros virtuais. Os círculos de leitores que eles formam são cada vez maiores e estão no alvo de editoras nacionais e internacionais.

A cantora inglesa Florence Welch, vocalista da banda Florence and the Machine, foi uma das primeiras a se aventurar no território que Oprah dominava. Ela criou o Between Two Books em 2012, onde compartilha indicações mensais com a comunidade online e recebe sugestões de artistas como Greta Gerwig, Fiona Apple e Sally Rooney.

A atriz Sarah Jessica Parker, estrela de Sex & The City, entrou na onda em 2022. O apresentador Jimmy Fallon, que comanda um dos talk-shows mais famosos dos Estados Unidos, seleciona um livro todo verão para ler com os espectadores.

Mais recentemente, a cantora Dua Lipa anunciou aos fãs que também faria suas indicações mensais por meio da Service 95, plataforma multimídia que fundou em 2022. Emma Watson, Dolly Parton, Shonda Rhimes e Uzo Aduba também fizeram ou fazem parte da tendência.

O caso de maior repercussão é o clube do livro da atriz Reese Whiterspoon. Desde 2017, ela seleciona mensalmente um livro centrado na história de uma mulher para discutir com os membros.

A participação no clube é gratuita, basta estar inscrito na newsletter do projeto e segui-lo nas redes. Ao final do mês, Reese promove um encontro virtual, que nem sempre conta com a sua presença, mas é geralmente mediado por um especialista e tem a participação da autora da obra selecionada.

Esse modelo é seguido pela maioria dos projetos do tipo nos Estados Unidos, apesar de muitos deles se manterem apenas nas redes sociais. Alguns têm parcerias com editoras ou até livrarias independentes, como é o caso do Belletrist, clube do livro da atriz Emma Roberts.

O Reese’s Blook Club, clube do livro de Reese Whiterspoon, acumula mais de 2,6 milhões de seguidores no Instagram. Foto: Reese’s Blook Club/Divulgação

Colher de chá de Reese Witherspoon

O Reese’s Blook Club (clube do livro da Reese, em português) ganhou destaque especial porque a artista também é a fundadora da produtora Hello Sunshine, que costuma transformar obras selecionados pelo clube em adaptações para o cinema e para a TV.

É o caso de Daisy Jones & The Six, livro lançado em 2019 pela autora norte-americana Taylor Jenkins Reid e que virou série no Prime Video em 2023. Os direitos da obra foram comprados pela produtora de Reese antes mesmo do lançamento, e ele logo se tornou um dos livros selecionados pelo clube da atriz.

Rapidamente, o livro chegou à lista de mais vendidos do jornal New York Times, onde figurou por 17 semanas. Antes da adaptação, mais de 1 milhão de cópias haviam sido vendidas no mundo. No Brasil, a história chegou pouco depois pela Paralela, selo da Companhia das Letras.

Elenco da série 'Daisy jones & The Six' lendo um exemplar do livro que deu origem à produção. Foto: Reese's Book Club/Divulgação

Editoras de olho nos clubes

A Paralela costuma monitorar os principais clubes do livro dos Estados Unidos, explica Quezia Cleto, editora do selo. Segundo ela, embora ainda seja difícil mensurar seu impacto direto nas vendas no Brasil, eles costumam explicar picos de venda no exterior.

“A plataforma grande dessas celebridades possibilita a atração de vários possíveis leitores de uma vez só, potencializando o que poderia ser uma indicação pontual ou até uma publicidade para um livro”, diz Quezia.

“Por outro lado, pode ser uma forma de ajudar quem tem vontade de ler mais a direcionar essa energia e esse foco, sabendo que cada mês haverá uma nova indicação”, completa.

Outro exemplo é o livro Indomável, de Glennon Doyle, que foi selecionado pelo Reese’s Book Club em abril de 2020 e, em outubro, foi publicado no Brasil pela editora HarperCollins.

Reese Whiterspoon com seu exemplar do livro 'Indomável', de Glennon Doyle. Foto: Reese's Book Club/Divulgação

“Nós já queríamos fazer a aquisição antes, mas a escolha para o clube acelerou nossa decisão. Por ser uma obra de não ficção bastante autoral, era uma publicação mais incerta porque dependia da conexão do leitor brasileiro com a história da autora”, explica Alice Mello, editora executiva da empresa.

Indomável acabou se tornando um dos nossos maiores sucessos de venda no gênero”, diz. Além dele, obras como Pimenta e mel (Bolu Babalola), A ilha das árvores perdidas (Elif Şafak), e A outra sra. Parrish (Liv Constantine) também foram selecionados pelo clube da atriz e publicados no Brasil pela HarperCollins.

Divulgação e credibilidade: clube de vantagens

Taila Lima, coordenadora de marketing da editora Intrínseca, pondera que entrar em um clube não é garantia automática de best-seller.

A editora publicou os livros Um lugar bem longe daqui, de Delia Owens, e Pequenos incêndios por toda parte, de Celeste Ng, que também foram escolhidos pelo clube de Reese. O primeiro ganhou filme em 2022, e o segundo virou minissérie estrelada pela própria atriz.

Para Taila, a escolha tem o poder de potencializar a divulgação e tornar a obra mais conhecida. “É algo que, em conjunto com uma boa campanha paralela de divulgação e manutenção, pode aumentar o burburinho e ajudar nas vendas”, explica.

Os clubes têm a função de “mostrar para um grande público a existência, a importância e o potencial de uma obra”, diz. O resultado é visto não só no possível aumento na venda, mas na propaganda por meio do “boca a boca”, explica.

Os clubes ainda ajudam a construir a credibilidade da história contada. Em tempos de disputa com as redes sociais e o streaming, eles são uma forma de convencer o leitor de que vale a pena “gastar” seu tempo com aquela trama.

“Existe também a promessa de uma proximidade - ler o mesmo livro que sua cantora, atriz ou apresentadora favorita é também entender quem é essa pessoa no privado, o que ela gosta, como ela vê o mundo. Mas apenas isso não sustenta a longo prazo. É preciso que a curadoria seja eficiente”, aponta.

Essa perspectiva é compartilhada por Quezia Cleto, que frisa como clubes e listas de indicações, como a feita anualmente por Barack Obama, trazem “destaque para temas e autores mais diversos, abrindo caminho para novas vozes”.

“É muito animador saber que, em um universo cada vez mais tecnológico, livros ainda estão tão presentes e que celebridades queiram não só incentivar a leitura como serem identificados como leitores e se conectarem com seu público a partir dessa identidade. Diz muito sobre o poder dos livros e é promissor para quem trabalha na área”, completa.

Famosos na liga de clubes brasileiros

No Brasil, os influenciadores literários são os principais responsáveis pela divulgação de livros na internet. Os clubes de Pedro Pacífico (conhecido como Bookster), Pam Gonçalves e Paola Aleksandra foram alguns dos citados pelas editoras à reportagem.

O movimento das celebridades, contudo, já tem começado por aqui também. É o caso da atriz Sophia Abrahão, que em 2019 criou o seu clube de leitura para dividir com os seguidores. Ela já compartilhava indicações nas redes sociais e, percebendo o interesse dos fãs, formalizou o projeto.

“Desde o início criamos um projeto sem fins lucrativos, no qual as pessoas se inscrevem e participam de forma gratuita, bem como eventuais sorteios dos títulos do mês e cupons de desconto”, diz a artista.

Todo mês, Sophia e sua equipe fazem uma curadoria de livros que podem interessar os participantes e lançam uma enquete para que eles escolham o título do mês. Em seguida, ela divulga um cronograma de leitura e promove a interação entre os inscritos por meio de um chat privado.

No final do mês, ela realiza uma live nas suas redes sociais para debater a obra. “Essa é a minha parte favorita. É muito interessante ver várias interpretações e discussões em cima da mesma leitura. É sempre muito enriquecedor”, comenta.

Sophia Abrahão criou clube do livre para incentivar a leitura entre seus seguidores. Na imagem, ela segura o livro 'A Biblioteca da Meia-Noite', de Matt Haig. Foto: Sophia Abrahão/Arquivo Pessoal

A apresentadora e advogada Gabriela Prioli fundou o seu próprio clube do livro em 2020. No ano seguinte, o historiador Leandro Karnal, com quem ela dividia o programa CNN Tonight, entrou no projeto.

Eles selecionam dez obras de ficção e não ficção para lerem ao longo do ano com os inscritos. Todo mês, os membros têm acesso à uma aula preparada pelos dois sobre o tema do livro escolhido.

Karnal e Gabi também oferecem uma live de debate sobre o título com a possível participação dos autores e de especialistas, além de acesso ao Instagram do grupo, onde inscritos podem discutir a obra duranta a leitura. As inscrições são limitadas e, em 2023, custaram R$ 687 (pelo ano todo).

“O clube do livro é meu refúgio”, diz a advogada. O projeto, para ela, é um espaço em que se sente acolhida e onde pode trocar ideias de forma respeitosa e enriquecer sua visão de mundo.

“É um lugar de aprofundamento, de fuga dessa superficialidade que parece reinar com um conteúdo pasteurizado e repetitivo que nos é encaminhado de forma automática”, aponta.

A apresentadora e advogada Gabriela Prioli divide um clube do livro com o historiador Leandro Karnal. Foto: Iude Richele/Divulgação

Tanto Gabriela quanto Sophia se animam com o possível impacto na vida dos leitores. “O feedback que recebo é unânime no sentido muito positivo daquela experiência”, diz a advogada. “As pessoas me falam: ‘eu encontrei a minha voz’”.

A atriz tem comentários parecidos: “São pessoas, como eu, que também não tinham disciplina com a leitura. E depois do clube, criaram esse hábito. Recebo depoimentos de pessoas que estão fazendo anotações enquanto leem os livros para a discussão final, que estão criando um senso mais crítico em relação a alguns temas”.

“Acredito firmemente na influência positiva que projetos como esse trazem para o país. O brasileiro não tem o hábito de ler, falta incentivo. Ter projetos que estimulem isso é de extrema importância”, completa Sophia.

Indicações de clubes do livro de celebridades

Dicas de livros selecionados: Uma mentira perfeita (Lisa Scottoline) e O legado de Chandler (Abdi Nazemian)

Dicas de livros selecionados: O olho mais azul (Toni Morrison) e O Estrangeiro (Albert Camus)

Dicas de livros selecionados: Em busca de mim (Viola Davis) e Um casamento americano (Tayari Jones)

Dicas de livros selecionados: O Rouxinol (Kristin Hannah) e A última coisa que ele me falou (Laura Dave)

Dicas de livros selecionados: A história de Shuggie Bain (Douglas Stuart)

Dicas de livros selecionados: Os Imortalistas (Chloe Benjamin) e Marlena (Julie Buntin)

Dicas de livros selecionados: A Metade Perdida (Brit Bennett) e Gótico Mexicano (Silvia Moreno-Garcia)

Dicas de livros selecionados: Filhos de sangue e osso (Tomi Adeyemi) e Amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã (Gabrielle Zevin)

Dicas de livros selecionados: Nos Meandros da Lei (Michael Connelly) e Fique Comigo (Harlan Coben)

Reese Whiterspoon também é a fundadora da produtora Hello Sunshine, que produz adaptações de livros escolhidos pelo clube do livro da atriz. Foto: Jodee Debes/Reese's Book Club/Divulgação

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

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