Como montar um clube do livro com amigos ou família? Veja dicas e sugestões de especialistas


Se você quer ler em conjunto, mas não sabe por onde começar, confira recomendações de periodicidade, tópicos de discussão e até indicações de livros

Por Julia Queiroz
Atualização:

Ler costuma ser uma atividade solitária, mas não precisa ser. Na verdade, há quem diga que ter colegas para compartilhar impressões e discutir os temas de uma obra torna a experiência ainda melhor. Esse é um dos motivos pelos quais a oferta de clubes de leitura em São Paulo e outras cidades do Brasil é cada vez maior, mas nem todo mundo consegue seguir a periodicidade dos encontros ou acompanhar um grupo sempre.

Contudo, não é preciso unir 15 ou 20 pessoas para ter um clube - basta ter dois ou três amigos e familiares com vontade de fazer acontecer. É nesse momento que as dúvidas começam a surgir: por onde começar? Como organizar? Que títulos ler? Como conduzir uma conversa sobre a obra? Para responder a essas perguntas, o Estadão conversou com três pessoas experientes na arte dos clubes de leitura:

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  • Juliana Leuenroth, analista de marketing e uma das organizadoras do LeiaMulheres, clube que nasceu em 2015 e está espalhado pelo Brasil
  • Vivian Rio Stella, fundadora da VRS Academy, que realiza clube de leituras personalizados para empresas e instituições
  • Fernando Neres, livreiro e organizador dos clubes do livro da Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, da Livraria Caraíbas e do Barouche

Confira, a seguir, as perguntas e respostas, com recomendações e dicas dos especialistas.

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Como montar um clube do livro com amigos ou família? Organizadores dão dicas. Foto: Monkey Business /adobe.stock

Por que alguém deveria ter ou fazer parte de um clube de leitura?

Juliana: Acho que o principal motivo é o encontro com as pessoas. Muitas pessoas que leem são solitárias em seu hobby, não têm com quem conversar sobre os livros que gostou ou não de ler. Num clube, encontramos pessoas que têm a leitura como algo importante na vida também. E o hobby passa a ser compartilhado. Muitas amizades surgem daí. Além disso, acho que num clube aprendemos a ouvir e a construir nossas opiniões para transmitir ao outro dentro de um espaço acolhedor e respeitoso.

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Vivian: É uma maneira de criar ou manter relacionamento com comunidades associadas, além de ser um ambiente de troca de outros tipos de assuntos, que não são os “mais do mesmo” do dia a dia. Em relação a fazer parte de um clube de leitura, a grande vantagem é criar um hábito de leitura. Quando sobra tempo e quando você faz parte de um clube de leitura, você se organiza para ler até que o encontro presencial ou online aconteça e você tenha dado conta dessa leitura. Uma outra grande vantagem é ler aquilo que talvez você não escolhesse sozinho, ter acesso a percepções de outras pessoas e - uma coisa que é tão valiosa - ter companhia para conversar sobre aquele livro.

Fernando: O clube de leitura é um espaço democrático de discussão. Não existe um ponto de vista que não deva ser respeitado. E isso enriquece muito o debate e deixa tudo mais divertido. Esse é o melhor caminho para aprender mais seja sobre o livro ou sobre conviver com a diferença.

Qual é a melhor forma de organizar um clube do livro? Existe uma periodicidade ideal?

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Juliana: Acredito que mensalmente seja uma boa periodicidade, porque dá o tempo da leitura e ao mesmo tempo cria um compromisso fixo. Se o clube for aberto ao público, é importante também encontrar um lugar de fácil acesso. A partir daí, as outras coisas (os livros, principalmente) vão se encaixando.

Vivian: O ideal é perceber qual é o tempo factível para as pessoas lerem até que o encontro aconteça. Pode ser mensal, porque cria ritmo - é muito legal ser na última quinta-feira do mês ou na primeira terça-feira do mês, por exemplo. Então, identificar com o grupo de pessoas qual é o melhor dia da semana e aí fazer uma periodicidade mensal que vai se dando esse sentido de ritual. Ter um ritual é bem importante para o sucesso de um clube de livro. Tem alguns clientes nossos que fazem uma periodicidade mais longa, 45 dias, por exemplo, porque dá mais espaço e mais margem para as pessoas lerem em meio à correria do trabalho.

Fernando: Encontrar pessoas que têm a vontade de falar sobre o que sentiu. Vivemos cada vez mais isolados e encontrar esse público que quer sair desse isolamento e socializar, uma vez por mês é o tempo ideal.

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Uma das dificuldades que as pessoas relatam é manter uma constância na leitura e chegar à data combinada a tempo. Que conselho você daria para isso?

Juliana: Acho que ter esse compromisso mensal com o clube, sem adiar a data, ajuda muito a pessoa a visualizar como ela precisa colocar a leitura em sua rotina. Uma dica é pensar em livros não muito longos pra começar um clube, assim todo mundo consegue ler sem pressão. Afinal, temos que lembrar que a leitura é um hobby.

Vivian: A dificuldade da constância da leitura [diminui] quando se tem um clube de leitura, especialmente os que contam com um espaço de contato, por exemplo, um grupo no WhatsApp ou um Instagram para trocar ideias e partilhar como está sendo a leitura. O conselho que eu daria é criar esses momentos de trocas. Na VRS, nós ensinamos, por exemplo, a ver se faz sentido para você dividir o número de páginas por tempo disponível para chegar ao encontro tendo lido esse livro. Ler cinco páginas por dia ou dez minutos por dia. Falamos muito sobre o processo de leitura para que as pessoas se sintam instigadas a manter esse ritmo.

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Fernando: Da parte do curador, é entender que cada um tem um tempo diferente e o mundo é corrido, por isso escolha um livro curto. Do lado de quem está participando, você não precisa ler 100% para participar de uma discussão, o ritmo de leitura flui com o tempo e se não gostar da obra, não precisa ter receio de dizer, só saiba colocar seus pontos: “eu desisti pois o personagem…”

Um clube do livro não precisa ter 20 pessoas. Três já podem ter uma boa discussão. Foto: Viacheslav Yakobchuk/adobe.stock

Existe um tipo de livro ideal para discutir em um clube do livro?

Juliana: Acho que, para começar, pensar em livros mais curtos, como comentei, seja um bom chamariz. Pensar em livros que deem discussão também é importante, mas cada clube vai mostrando seu perfil, quais gêneros as pessoas vão preferir.

Vivian: Não tem um livro ideal, depende muito dos gostos daquele grupo. Tem gente que adora livro clássico, tem grupos que gostam de literatura contemporânea e tem pessoas que querem os livros que estão aí circulando nas grandes listas. Mas eu diria que o ideal para fazer sentido um clube de leitura existir é sair daquilo que é o óbvio, daquilo que já está nas prateleiras ou nas vitrines das livrarias, senão você pode não trazer tanta atratividade para esse clube.

Fernando: Não existe livro ideal, eu acredito que o livro é apenas um fio condutor para uma boa conversa. Podemos falar sobre os problemas de qualquer lugar do mundo. O livro é uma das expressões universais do homem e por isso sempre vai existir um conflito interno e isso vai refletir de alguma maneira nos participantes.

Como organizar tópicos de conversa e discussão após a leitura?

Juliana: Para começar a discussão, não tem como escapar do gostei ou não do livro. Discutir quais os principais pontos da história chamaram atenção. Observar quais os principais conflitos da história e dos personagens. Como os personagens são construídos…. A partir daí já dá muita conversa!

Vivian: Para organizar os tópicos da conversa, é muito importante o papel da mediação. A pessoa que organiza os encontros precisa ter essa capacidade de extrair das pessoas uma conversa que não seja uma grande palestra, senão não é clube de leitura. É importante ver quais são os temas que permeiam o livro, ter alguns trechos marcados e ter boas perguntas. São elas que movem os diálogos.

Fernando: Ter uma linha do tempo com os principais fatos. Buscar referências fora do texto. Fazer ligações com a atualidade. Lembrar de outros livros que falam sobre o assunto. Tentar elaborar perguntas sobre as atitudes dos personagens de maneira que coloque o leitor na situação.

Além do que foi contemplado acima, quais dicas você daria para quem quer organizar um clube com amigos ou família?

Juliana: Acho que a principal coisa é sempre lembrar que o clube deve ser um espaço de encontro e acolhedor para todos os participantes. Que é um hobby que pode ser compartilhado. E que para se fazer um bom clube de leitura, não é preciso um monte de gente participando, com 3 pessoas já se faz um clube e uma ótima conversa.

Vivian: Não deixar nem estruturado demais, nem solto demais. [Depois de montar um grupo, perguntar] qual é a data que a gente vai se encontrar periodicamente, quais são os temas que vocês gostam, o que que vocês já leram, para poder fazer uma boa curadoria. Vai escolhendo a cada mês um livro que vai ser colocado em destaque ou faz uma enquete com três livros, as pessoas votam e podem dar a opinião delas. É importante que a pessoa que organiza saiba que ela certamente vai ter um papel de gestão.

Fernando: Clube de leitura não é uma aula. É um espaço de troca. Ouvir o que o outro sente sobre o livro é muito importante. Todos podem discordar sempre respeitando a opinião do outro. E o mediador deve sair do local de o mais inteligente para o que mais vai aprender e descobrir sobre o livro.

Você poderia listar três títulos que já discutiu e recomendaria?

Juliana:

  • As Avós, de Doris Lessing (Companhia das Letras)
  • Kentukis, de Samantha Schweblin (Fósforo)
  • Kim Jiyoung, Nascida em 1982, de Cho Nam-Joo (Intrínseca)

Vivian:

  • Suite Tóquio, de Giovanna Madalosso (Todavia)
  • Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus (Ática)
  • O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway (Bertrand Brasil)

Fernando:

  • A Última Filha, de Fatima Daas (Bazar do Tempo)
  • Vergonha é um Sentimento Revolucionário, de Frederic Groos (Ubu)
  • Vento Vazio, de Marcela Dantés (Companhia das Letras)

Ler costuma ser uma atividade solitária, mas não precisa ser. Na verdade, há quem diga que ter colegas para compartilhar impressões e discutir os temas de uma obra torna a experiência ainda melhor. Esse é um dos motivos pelos quais a oferta de clubes de leitura em São Paulo e outras cidades do Brasil é cada vez maior, mas nem todo mundo consegue seguir a periodicidade dos encontros ou acompanhar um grupo sempre.

Contudo, não é preciso unir 15 ou 20 pessoas para ter um clube - basta ter dois ou três amigos e familiares com vontade de fazer acontecer. É nesse momento que as dúvidas começam a surgir: por onde começar? Como organizar? Que títulos ler? Como conduzir uma conversa sobre a obra? Para responder a essas perguntas, o Estadão conversou com três pessoas experientes na arte dos clubes de leitura:

  • Juliana Leuenroth, analista de marketing e uma das organizadoras do LeiaMulheres, clube que nasceu em 2015 e está espalhado pelo Brasil
  • Vivian Rio Stella, fundadora da VRS Academy, que realiza clube de leituras personalizados para empresas e instituições
  • Fernando Neres, livreiro e organizador dos clubes do livro da Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, da Livraria Caraíbas e do Barouche

Confira, a seguir, as perguntas e respostas, com recomendações e dicas dos especialistas.

Como montar um clube do livro com amigos ou família? Organizadores dão dicas. Foto: Monkey Business /adobe.stock

Por que alguém deveria ter ou fazer parte de um clube de leitura?

Juliana: Acho que o principal motivo é o encontro com as pessoas. Muitas pessoas que leem são solitárias em seu hobby, não têm com quem conversar sobre os livros que gostou ou não de ler. Num clube, encontramos pessoas que têm a leitura como algo importante na vida também. E o hobby passa a ser compartilhado. Muitas amizades surgem daí. Além disso, acho que num clube aprendemos a ouvir e a construir nossas opiniões para transmitir ao outro dentro de um espaço acolhedor e respeitoso.

Vivian: É uma maneira de criar ou manter relacionamento com comunidades associadas, além de ser um ambiente de troca de outros tipos de assuntos, que não são os “mais do mesmo” do dia a dia. Em relação a fazer parte de um clube de leitura, a grande vantagem é criar um hábito de leitura. Quando sobra tempo e quando você faz parte de um clube de leitura, você se organiza para ler até que o encontro presencial ou online aconteça e você tenha dado conta dessa leitura. Uma outra grande vantagem é ler aquilo que talvez você não escolhesse sozinho, ter acesso a percepções de outras pessoas e - uma coisa que é tão valiosa - ter companhia para conversar sobre aquele livro.

Fernando: O clube de leitura é um espaço democrático de discussão. Não existe um ponto de vista que não deva ser respeitado. E isso enriquece muito o debate e deixa tudo mais divertido. Esse é o melhor caminho para aprender mais seja sobre o livro ou sobre conviver com a diferença.

Qual é a melhor forma de organizar um clube do livro? Existe uma periodicidade ideal?

Juliana: Acredito que mensalmente seja uma boa periodicidade, porque dá o tempo da leitura e ao mesmo tempo cria um compromisso fixo. Se o clube for aberto ao público, é importante também encontrar um lugar de fácil acesso. A partir daí, as outras coisas (os livros, principalmente) vão se encaixando.

Vivian: O ideal é perceber qual é o tempo factível para as pessoas lerem até que o encontro aconteça. Pode ser mensal, porque cria ritmo - é muito legal ser na última quinta-feira do mês ou na primeira terça-feira do mês, por exemplo. Então, identificar com o grupo de pessoas qual é o melhor dia da semana e aí fazer uma periodicidade mensal que vai se dando esse sentido de ritual. Ter um ritual é bem importante para o sucesso de um clube de livro. Tem alguns clientes nossos que fazem uma periodicidade mais longa, 45 dias, por exemplo, porque dá mais espaço e mais margem para as pessoas lerem em meio à correria do trabalho.

Fernando: Encontrar pessoas que têm a vontade de falar sobre o que sentiu. Vivemos cada vez mais isolados e encontrar esse público que quer sair desse isolamento e socializar, uma vez por mês é o tempo ideal.

Uma das dificuldades que as pessoas relatam é manter uma constância na leitura e chegar à data combinada a tempo. Que conselho você daria para isso?

Juliana: Acho que ter esse compromisso mensal com o clube, sem adiar a data, ajuda muito a pessoa a visualizar como ela precisa colocar a leitura em sua rotina. Uma dica é pensar em livros não muito longos pra começar um clube, assim todo mundo consegue ler sem pressão. Afinal, temos que lembrar que a leitura é um hobby.

Vivian: A dificuldade da constância da leitura [diminui] quando se tem um clube de leitura, especialmente os que contam com um espaço de contato, por exemplo, um grupo no WhatsApp ou um Instagram para trocar ideias e partilhar como está sendo a leitura. O conselho que eu daria é criar esses momentos de trocas. Na VRS, nós ensinamos, por exemplo, a ver se faz sentido para você dividir o número de páginas por tempo disponível para chegar ao encontro tendo lido esse livro. Ler cinco páginas por dia ou dez minutos por dia. Falamos muito sobre o processo de leitura para que as pessoas se sintam instigadas a manter esse ritmo.

Fernando: Da parte do curador, é entender que cada um tem um tempo diferente e o mundo é corrido, por isso escolha um livro curto. Do lado de quem está participando, você não precisa ler 100% para participar de uma discussão, o ritmo de leitura flui com o tempo e se não gostar da obra, não precisa ter receio de dizer, só saiba colocar seus pontos: “eu desisti pois o personagem…”

Um clube do livro não precisa ter 20 pessoas. Três já podem ter uma boa discussão. Foto: Viacheslav Yakobchuk/adobe.stock

Existe um tipo de livro ideal para discutir em um clube do livro?

Juliana: Acho que, para começar, pensar em livros mais curtos, como comentei, seja um bom chamariz. Pensar em livros que deem discussão também é importante, mas cada clube vai mostrando seu perfil, quais gêneros as pessoas vão preferir.

Vivian: Não tem um livro ideal, depende muito dos gostos daquele grupo. Tem gente que adora livro clássico, tem grupos que gostam de literatura contemporânea e tem pessoas que querem os livros que estão aí circulando nas grandes listas. Mas eu diria que o ideal para fazer sentido um clube de leitura existir é sair daquilo que é o óbvio, daquilo que já está nas prateleiras ou nas vitrines das livrarias, senão você pode não trazer tanta atratividade para esse clube.

Fernando: Não existe livro ideal, eu acredito que o livro é apenas um fio condutor para uma boa conversa. Podemos falar sobre os problemas de qualquer lugar do mundo. O livro é uma das expressões universais do homem e por isso sempre vai existir um conflito interno e isso vai refletir de alguma maneira nos participantes.

Como organizar tópicos de conversa e discussão após a leitura?

Juliana: Para começar a discussão, não tem como escapar do gostei ou não do livro. Discutir quais os principais pontos da história chamaram atenção. Observar quais os principais conflitos da história e dos personagens. Como os personagens são construídos…. A partir daí já dá muita conversa!

Vivian: Para organizar os tópicos da conversa, é muito importante o papel da mediação. A pessoa que organiza os encontros precisa ter essa capacidade de extrair das pessoas uma conversa que não seja uma grande palestra, senão não é clube de leitura. É importante ver quais são os temas que permeiam o livro, ter alguns trechos marcados e ter boas perguntas. São elas que movem os diálogos.

Fernando: Ter uma linha do tempo com os principais fatos. Buscar referências fora do texto. Fazer ligações com a atualidade. Lembrar de outros livros que falam sobre o assunto. Tentar elaborar perguntas sobre as atitudes dos personagens de maneira que coloque o leitor na situação.

Além do que foi contemplado acima, quais dicas você daria para quem quer organizar um clube com amigos ou família?

Juliana: Acho que a principal coisa é sempre lembrar que o clube deve ser um espaço de encontro e acolhedor para todos os participantes. Que é um hobby que pode ser compartilhado. E que para se fazer um bom clube de leitura, não é preciso um monte de gente participando, com 3 pessoas já se faz um clube e uma ótima conversa.

Vivian: Não deixar nem estruturado demais, nem solto demais. [Depois de montar um grupo, perguntar] qual é a data que a gente vai se encontrar periodicamente, quais são os temas que vocês gostam, o que que vocês já leram, para poder fazer uma boa curadoria. Vai escolhendo a cada mês um livro que vai ser colocado em destaque ou faz uma enquete com três livros, as pessoas votam e podem dar a opinião delas. É importante que a pessoa que organiza saiba que ela certamente vai ter um papel de gestão.

Fernando: Clube de leitura não é uma aula. É um espaço de troca. Ouvir o que o outro sente sobre o livro é muito importante. Todos podem discordar sempre respeitando a opinião do outro. E o mediador deve sair do local de o mais inteligente para o que mais vai aprender e descobrir sobre o livro.

Você poderia listar três títulos que já discutiu e recomendaria?

Juliana:

  • As Avós, de Doris Lessing (Companhia das Letras)
  • Kentukis, de Samantha Schweblin (Fósforo)
  • Kim Jiyoung, Nascida em 1982, de Cho Nam-Joo (Intrínseca)

Vivian:

  • Suite Tóquio, de Giovanna Madalosso (Todavia)
  • Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus (Ática)
  • O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway (Bertrand Brasil)

Fernando:

  • A Última Filha, de Fatima Daas (Bazar do Tempo)
  • Vergonha é um Sentimento Revolucionário, de Frederic Groos (Ubu)
  • Vento Vazio, de Marcela Dantés (Companhia das Letras)

Ler costuma ser uma atividade solitária, mas não precisa ser. Na verdade, há quem diga que ter colegas para compartilhar impressões e discutir os temas de uma obra torna a experiência ainda melhor. Esse é um dos motivos pelos quais a oferta de clubes de leitura em São Paulo e outras cidades do Brasil é cada vez maior, mas nem todo mundo consegue seguir a periodicidade dos encontros ou acompanhar um grupo sempre.

Contudo, não é preciso unir 15 ou 20 pessoas para ter um clube - basta ter dois ou três amigos e familiares com vontade de fazer acontecer. É nesse momento que as dúvidas começam a surgir: por onde começar? Como organizar? Que títulos ler? Como conduzir uma conversa sobre a obra? Para responder a essas perguntas, o Estadão conversou com três pessoas experientes na arte dos clubes de leitura:

  • Juliana Leuenroth, analista de marketing e uma das organizadoras do LeiaMulheres, clube que nasceu em 2015 e está espalhado pelo Brasil
  • Vivian Rio Stella, fundadora da VRS Academy, que realiza clube de leituras personalizados para empresas e instituições
  • Fernando Neres, livreiro e organizador dos clubes do livro da Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, da Livraria Caraíbas e do Barouche

Confira, a seguir, as perguntas e respostas, com recomendações e dicas dos especialistas.

Como montar um clube do livro com amigos ou família? Organizadores dão dicas. Foto: Monkey Business /adobe.stock

Por que alguém deveria ter ou fazer parte de um clube de leitura?

Juliana: Acho que o principal motivo é o encontro com as pessoas. Muitas pessoas que leem são solitárias em seu hobby, não têm com quem conversar sobre os livros que gostou ou não de ler. Num clube, encontramos pessoas que têm a leitura como algo importante na vida também. E o hobby passa a ser compartilhado. Muitas amizades surgem daí. Além disso, acho que num clube aprendemos a ouvir e a construir nossas opiniões para transmitir ao outro dentro de um espaço acolhedor e respeitoso.

Vivian: É uma maneira de criar ou manter relacionamento com comunidades associadas, além de ser um ambiente de troca de outros tipos de assuntos, que não são os “mais do mesmo” do dia a dia. Em relação a fazer parte de um clube de leitura, a grande vantagem é criar um hábito de leitura. Quando sobra tempo e quando você faz parte de um clube de leitura, você se organiza para ler até que o encontro presencial ou online aconteça e você tenha dado conta dessa leitura. Uma outra grande vantagem é ler aquilo que talvez você não escolhesse sozinho, ter acesso a percepções de outras pessoas e - uma coisa que é tão valiosa - ter companhia para conversar sobre aquele livro.

Fernando: O clube de leitura é um espaço democrático de discussão. Não existe um ponto de vista que não deva ser respeitado. E isso enriquece muito o debate e deixa tudo mais divertido. Esse é o melhor caminho para aprender mais seja sobre o livro ou sobre conviver com a diferença.

Qual é a melhor forma de organizar um clube do livro? Existe uma periodicidade ideal?

Juliana: Acredito que mensalmente seja uma boa periodicidade, porque dá o tempo da leitura e ao mesmo tempo cria um compromisso fixo. Se o clube for aberto ao público, é importante também encontrar um lugar de fácil acesso. A partir daí, as outras coisas (os livros, principalmente) vão se encaixando.

Vivian: O ideal é perceber qual é o tempo factível para as pessoas lerem até que o encontro aconteça. Pode ser mensal, porque cria ritmo - é muito legal ser na última quinta-feira do mês ou na primeira terça-feira do mês, por exemplo. Então, identificar com o grupo de pessoas qual é o melhor dia da semana e aí fazer uma periodicidade mensal que vai se dando esse sentido de ritual. Ter um ritual é bem importante para o sucesso de um clube de livro. Tem alguns clientes nossos que fazem uma periodicidade mais longa, 45 dias, por exemplo, porque dá mais espaço e mais margem para as pessoas lerem em meio à correria do trabalho.

Fernando: Encontrar pessoas que têm a vontade de falar sobre o que sentiu. Vivemos cada vez mais isolados e encontrar esse público que quer sair desse isolamento e socializar, uma vez por mês é o tempo ideal.

Uma das dificuldades que as pessoas relatam é manter uma constância na leitura e chegar à data combinada a tempo. Que conselho você daria para isso?

Juliana: Acho que ter esse compromisso mensal com o clube, sem adiar a data, ajuda muito a pessoa a visualizar como ela precisa colocar a leitura em sua rotina. Uma dica é pensar em livros não muito longos pra começar um clube, assim todo mundo consegue ler sem pressão. Afinal, temos que lembrar que a leitura é um hobby.

Vivian: A dificuldade da constância da leitura [diminui] quando se tem um clube de leitura, especialmente os que contam com um espaço de contato, por exemplo, um grupo no WhatsApp ou um Instagram para trocar ideias e partilhar como está sendo a leitura. O conselho que eu daria é criar esses momentos de trocas. Na VRS, nós ensinamos, por exemplo, a ver se faz sentido para você dividir o número de páginas por tempo disponível para chegar ao encontro tendo lido esse livro. Ler cinco páginas por dia ou dez minutos por dia. Falamos muito sobre o processo de leitura para que as pessoas se sintam instigadas a manter esse ritmo.

Fernando: Da parte do curador, é entender que cada um tem um tempo diferente e o mundo é corrido, por isso escolha um livro curto. Do lado de quem está participando, você não precisa ler 100% para participar de uma discussão, o ritmo de leitura flui com o tempo e se não gostar da obra, não precisa ter receio de dizer, só saiba colocar seus pontos: “eu desisti pois o personagem…”

Um clube do livro não precisa ter 20 pessoas. Três já podem ter uma boa discussão. Foto: Viacheslav Yakobchuk/adobe.stock

Existe um tipo de livro ideal para discutir em um clube do livro?

Juliana: Acho que, para começar, pensar em livros mais curtos, como comentei, seja um bom chamariz. Pensar em livros que deem discussão também é importante, mas cada clube vai mostrando seu perfil, quais gêneros as pessoas vão preferir.

Vivian: Não tem um livro ideal, depende muito dos gostos daquele grupo. Tem gente que adora livro clássico, tem grupos que gostam de literatura contemporânea e tem pessoas que querem os livros que estão aí circulando nas grandes listas. Mas eu diria que o ideal para fazer sentido um clube de leitura existir é sair daquilo que é o óbvio, daquilo que já está nas prateleiras ou nas vitrines das livrarias, senão você pode não trazer tanta atratividade para esse clube.

Fernando: Não existe livro ideal, eu acredito que o livro é apenas um fio condutor para uma boa conversa. Podemos falar sobre os problemas de qualquer lugar do mundo. O livro é uma das expressões universais do homem e por isso sempre vai existir um conflito interno e isso vai refletir de alguma maneira nos participantes.

Como organizar tópicos de conversa e discussão após a leitura?

Juliana: Para começar a discussão, não tem como escapar do gostei ou não do livro. Discutir quais os principais pontos da história chamaram atenção. Observar quais os principais conflitos da história e dos personagens. Como os personagens são construídos…. A partir daí já dá muita conversa!

Vivian: Para organizar os tópicos da conversa, é muito importante o papel da mediação. A pessoa que organiza os encontros precisa ter essa capacidade de extrair das pessoas uma conversa que não seja uma grande palestra, senão não é clube de leitura. É importante ver quais são os temas que permeiam o livro, ter alguns trechos marcados e ter boas perguntas. São elas que movem os diálogos.

Fernando: Ter uma linha do tempo com os principais fatos. Buscar referências fora do texto. Fazer ligações com a atualidade. Lembrar de outros livros que falam sobre o assunto. Tentar elaborar perguntas sobre as atitudes dos personagens de maneira que coloque o leitor na situação.

Além do que foi contemplado acima, quais dicas você daria para quem quer organizar um clube com amigos ou família?

Juliana: Acho que a principal coisa é sempre lembrar que o clube deve ser um espaço de encontro e acolhedor para todos os participantes. Que é um hobby que pode ser compartilhado. E que para se fazer um bom clube de leitura, não é preciso um monte de gente participando, com 3 pessoas já se faz um clube e uma ótima conversa.

Vivian: Não deixar nem estruturado demais, nem solto demais. [Depois de montar um grupo, perguntar] qual é a data que a gente vai se encontrar periodicamente, quais são os temas que vocês gostam, o que que vocês já leram, para poder fazer uma boa curadoria. Vai escolhendo a cada mês um livro que vai ser colocado em destaque ou faz uma enquete com três livros, as pessoas votam e podem dar a opinião delas. É importante que a pessoa que organiza saiba que ela certamente vai ter um papel de gestão.

Fernando: Clube de leitura não é uma aula. É um espaço de troca. Ouvir o que o outro sente sobre o livro é muito importante. Todos podem discordar sempre respeitando a opinião do outro. E o mediador deve sair do local de o mais inteligente para o que mais vai aprender e descobrir sobre o livro.

Você poderia listar três títulos que já discutiu e recomendaria?

Juliana:

  • As Avós, de Doris Lessing (Companhia das Letras)
  • Kentukis, de Samantha Schweblin (Fósforo)
  • Kim Jiyoung, Nascida em 1982, de Cho Nam-Joo (Intrínseca)

Vivian:

  • Suite Tóquio, de Giovanna Madalosso (Todavia)
  • Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus (Ática)
  • O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway (Bertrand Brasil)

Fernando:

  • A Última Filha, de Fatima Daas (Bazar do Tempo)
  • Vergonha é um Sentimento Revolucionário, de Frederic Groos (Ubu)
  • Vento Vazio, de Marcela Dantés (Companhia das Letras)

Ler costuma ser uma atividade solitária, mas não precisa ser. Na verdade, há quem diga que ter colegas para compartilhar impressões e discutir os temas de uma obra torna a experiência ainda melhor. Esse é um dos motivos pelos quais a oferta de clubes de leitura em São Paulo e outras cidades do Brasil é cada vez maior, mas nem todo mundo consegue seguir a periodicidade dos encontros ou acompanhar um grupo sempre.

Contudo, não é preciso unir 15 ou 20 pessoas para ter um clube - basta ter dois ou três amigos e familiares com vontade de fazer acontecer. É nesse momento que as dúvidas começam a surgir: por onde começar? Como organizar? Que títulos ler? Como conduzir uma conversa sobre a obra? Para responder a essas perguntas, o Estadão conversou com três pessoas experientes na arte dos clubes de leitura:

  • Juliana Leuenroth, analista de marketing e uma das organizadoras do LeiaMulheres, clube que nasceu em 2015 e está espalhado pelo Brasil
  • Vivian Rio Stella, fundadora da VRS Academy, que realiza clube de leituras personalizados para empresas e instituições
  • Fernando Neres, livreiro e organizador dos clubes do livro da Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, da Livraria Caraíbas e do Barouche

Confira, a seguir, as perguntas e respostas, com recomendações e dicas dos especialistas.

Como montar um clube do livro com amigos ou família? Organizadores dão dicas. Foto: Monkey Business /adobe.stock

Por que alguém deveria ter ou fazer parte de um clube de leitura?

Juliana: Acho que o principal motivo é o encontro com as pessoas. Muitas pessoas que leem são solitárias em seu hobby, não têm com quem conversar sobre os livros que gostou ou não de ler. Num clube, encontramos pessoas que têm a leitura como algo importante na vida também. E o hobby passa a ser compartilhado. Muitas amizades surgem daí. Além disso, acho que num clube aprendemos a ouvir e a construir nossas opiniões para transmitir ao outro dentro de um espaço acolhedor e respeitoso.

Vivian: É uma maneira de criar ou manter relacionamento com comunidades associadas, além de ser um ambiente de troca de outros tipos de assuntos, que não são os “mais do mesmo” do dia a dia. Em relação a fazer parte de um clube de leitura, a grande vantagem é criar um hábito de leitura. Quando sobra tempo e quando você faz parte de um clube de leitura, você se organiza para ler até que o encontro presencial ou online aconteça e você tenha dado conta dessa leitura. Uma outra grande vantagem é ler aquilo que talvez você não escolhesse sozinho, ter acesso a percepções de outras pessoas e - uma coisa que é tão valiosa - ter companhia para conversar sobre aquele livro.

Fernando: O clube de leitura é um espaço democrático de discussão. Não existe um ponto de vista que não deva ser respeitado. E isso enriquece muito o debate e deixa tudo mais divertido. Esse é o melhor caminho para aprender mais seja sobre o livro ou sobre conviver com a diferença.

Qual é a melhor forma de organizar um clube do livro? Existe uma periodicidade ideal?

Juliana: Acredito que mensalmente seja uma boa periodicidade, porque dá o tempo da leitura e ao mesmo tempo cria um compromisso fixo. Se o clube for aberto ao público, é importante também encontrar um lugar de fácil acesso. A partir daí, as outras coisas (os livros, principalmente) vão se encaixando.

Vivian: O ideal é perceber qual é o tempo factível para as pessoas lerem até que o encontro aconteça. Pode ser mensal, porque cria ritmo - é muito legal ser na última quinta-feira do mês ou na primeira terça-feira do mês, por exemplo. Então, identificar com o grupo de pessoas qual é o melhor dia da semana e aí fazer uma periodicidade mensal que vai se dando esse sentido de ritual. Ter um ritual é bem importante para o sucesso de um clube de livro. Tem alguns clientes nossos que fazem uma periodicidade mais longa, 45 dias, por exemplo, porque dá mais espaço e mais margem para as pessoas lerem em meio à correria do trabalho.

Fernando: Encontrar pessoas que têm a vontade de falar sobre o que sentiu. Vivemos cada vez mais isolados e encontrar esse público que quer sair desse isolamento e socializar, uma vez por mês é o tempo ideal.

Uma das dificuldades que as pessoas relatam é manter uma constância na leitura e chegar à data combinada a tempo. Que conselho você daria para isso?

Juliana: Acho que ter esse compromisso mensal com o clube, sem adiar a data, ajuda muito a pessoa a visualizar como ela precisa colocar a leitura em sua rotina. Uma dica é pensar em livros não muito longos pra começar um clube, assim todo mundo consegue ler sem pressão. Afinal, temos que lembrar que a leitura é um hobby.

Vivian: A dificuldade da constância da leitura [diminui] quando se tem um clube de leitura, especialmente os que contam com um espaço de contato, por exemplo, um grupo no WhatsApp ou um Instagram para trocar ideias e partilhar como está sendo a leitura. O conselho que eu daria é criar esses momentos de trocas. Na VRS, nós ensinamos, por exemplo, a ver se faz sentido para você dividir o número de páginas por tempo disponível para chegar ao encontro tendo lido esse livro. Ler cinco páginas por dia ou dez minutos por dia. Falamos muito sobre o processo de leitura para que as pessoas se sintam instigadas a manter esse ritmo.

Fernando: Da parte do curador, é entender que cada um tem um tempo diferente e o mundo é corrido, por isso escolha um livro curto. Do lado de quem está participando, você não precisa ler 100% para participar de uma discussão, o ritmo de leitura flui com o tempo e se não gostar da obra, não precisa ter receio de dizer, só saiba colocar seus pontos: “eu desisti pois o personagem…”

Um clube do livro não precisa ter 20 pessoas. Três já podem ter uma boa discussão. Foto: Viacheslav Yakobchuk/adobe.stock

Existe um tipo de livro ideal para discutir em um clube do livro?

Juliana: Acho que, para começar, pensar em livros mais curtos, como comentei, seja um bom chamariz. Pensar em livros que deem discussão também é importante, mas cada clube vai mostrando seu perfil, quais gêneros as pessoas vão preferir.

Vivian: Não tem um livro ideal, depende muito dos gostos daquele grupo. Tem gente que adora livro clássico, tem grupos que gostam de literatura contemporânea e tem pessoas que querem os livros que estão aí circulando nas grandes listas. Mas eu diria que o ideal para fazer sentido um clube de leitura existir é sair daquilo que é o óbvio, daquilo que já está nas prateleiras ou nas vitrines das livrarias, senão você pode não trazer tanta atratividade para esse clube.

Fernando: Não existe livro ideal, eu acredito que o livro é apenas um fio condutor para uma boa conversa. Podemos falar sobre os problemas de qualquer lugar do mundo. O livro é uma das expressões universais do homem e por isso sempre vai existir um conflito interno e isso vai refletir de alguma maneira nos participantes.

Como organizar tópicos de conversa e discussão após a leitura?

Juliana: Para começar a discussão, não tem como escapar do gostei ou não do livro. Discutir quais os principais pontos da história chamaram atenção. Observar quais os principais conflitos da história e dos personagens. Como os personagens são construídos…. A partir daí já dá muita conversa!

Vivian: Para organizar os tópicos da conversa, é muito importante o papel da mediação. A pessoa que organiza os encontros precisa ter essa capacidade de extrair das pessoas uma conversa que não seja uma grande palestra, senão não é clube de leitura. É importante ver quais são os temas que permeiam o livro, ter alguns trechos marcados e ter boas perguntas. São elas que movem os diálogos.

Fernando: Ter uma linha do tempo com os principais fatos. Buscar referências fora do texto. Fazer ligações com a atualidade. Lembrar de outros livros que falam sobre o assunto. Tentar elaborar perguntas sobre as atitudes dos personagens de maneira que coloque o leitor na situação.

Além do que foi contemplado acima, quais dicas você daria para quem quer organizar um clube com amigos ou família?

Juliana: Acho que a principal coisa é sempre lembrar que o clube deve ser um espaço de encontro e acolhedor para todos os participantes. Que é um hobby que pode ser compartilhado. E que para se fazer um bom clube de leitura, não é preciso um monte de gente participando, com 3 pessoas já se faz um clube e uma ótima conversa.

Vivian: Não deixar nem estruturado demais, nem solto demais. [Depois de montar um grupo, perguntar] qual é a data que a gente vai se encontrar periodicamente, quais são os temas que vocês gostam, o que que vocês já leram, para poder fazer uma boa curadoria. Vai escolhendo a cada mês um livro que vai ser colocado em destaque ou faz uma enquete com três livros, as pessoas votam e podem dar a opinião delas. É importante que a pessoa que organiza saiba que ela certamente vai ter um papel de gestão.

Fernando: Clube de leitura não é uma aula. É um espaço de troca. Ouvir o que o outro sente sobre o livro é muito importante. Todos podem discordar sempre respeitando a opinião do outro. E o mediador deve sair do local de o mais inteligente para o que mais vai aprender e descobrir sobre o livro.

Você poderia listar três títulos que já discutiu e recomendaria?

Juliana:

  • As Avós, de Doris Lessing (Companhia das Letras)
  • Kentukis, de Samantha Schweblin (Fósforo)
  • Kim Jiyoung, Nascida em 1982, de Cho Nam-Joo (Intrínseca)

Vivian:

  • Suite Tóquio, de Giovanna Madalosso (Todavia)
  • Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus (Ática)
  • O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway (Bertrand Brasil)

Fernando:

  • A Última Filha, de Fatima Daas (Bazar do Tempo)
  • Vergonha é um Sentimento Revolucionário, de Frederic Groos (Ubu)
  • Vento Vazio, de Marcela Dantés (Companhia das Letras)
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