Como o Bookster organiza seus livros? Entramos na biblioteca de Pedro Pacífico; assista ao vídeo


‘Estadão’ explorou o acervo do advogado, que foi de anônimo nas redes sociais a um ‘influencer literário’. Metódico, ele explica como ordena seus exemplares, dá dicas do que ler e fala sobre seu primeiro livro, ‘Trinta segundos sem pensar no medo’

Por João Abel

“Faca de dois gumes” é uma expressão que define bem a relação entre livros e redes sociais. É fato que o uso excessivo delas subtrai um tempo que poderíamos gastar com leitura. Mas ao mesmo tempo uma geração de novos leitores é forjada a partir de influencers literários, que dão dicas do que ler e como ler. O advogado Pedro Pacífico, ou ‘Bookster’ para seus seguidores, decidiu seguir pelo segundo caminho.

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“A gente vê que fenômenos como o ‘BookTok’ [corrente de vídeos sobre literatura no TikTok] vêm gerando impactos nas vendas. Muitas vezes a pessoa acha que não gosta de ler, mas na verdade só está perdida nas escolhas de leitura”, avalia Pacífico. Ele recebeu a reportagem do Estadão em seu apartamento em São Paulo para mostrar detalhes de sua biblioteca pessoal, que já virou cenário e referência nos vídeos que grava para seus perfis.

“Eu comecei a me questionar: como é que as pessoas não falam sobre livros? Numa roda com amigos, a gente se acostuma a debater séries, filmes, mas ninguém fala sobre livros. Dessa inquietação veio a vontade de criar um perfil para tentar incentivar as pessoas mais próximas.”

Pedro Pacífico

Pacífico alcançou bem mais que apenas amigos ou conhecidos. Depois de um início ainda anônimo com a alcunha de ‘bookster’, ele perdeu a vergonha de conciliar a profissão formal com a vida de influenciador. São quase 700 mil seguidores entre Instagram, TikTok, YouTube e X. “Devo receber uma média de cinco livros por dia, que editoras e autores me mandam. Tento fazer uma triagem, do que fica e o que eu doo. Não consigo ler nem 1% do que eu recebo.”

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Biblioteca de Pedro Pacífico, no apartamento do autor em São Paulo Foto: @leosouza

Como organizar sua coleção de livros?

Quando Pedro Pacífico abre as portas do apartamento, o visitante dá de cara com sua enorme estante de livros, que toma um bom pedaço da sala. Mas como organizar uma quantidade tão grande de exemplares? “Não sou formado em biblioteconomia, nem tenho conhecimento técnico, mas sei que existem algumas possibilidades”, diz o Bookster. Ele menciona:

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  1. Por sobrenome do autor: É a forma como a biblioteca de Pacífico está configurada atualmente. Usa-se o sobrenome do autor, em ordem alfabética. Jorge Amado e Chimamanda Adichie, por exemplo, estão no canto mais alto da primeira estante, enquanto Luís Fernando Veríssimo e Virginia Woolf ficam lá no finalzinho de toda a sequência.
  2. Por temática, língua ou nacionalidade: “Quando eu morava com meus pais, eu separava a literatura brasileira dos autores estrangeiros. Mas no fim, aqui, eu preferi mesclar tudo.”
  3. Por editora: “Já cheguei a fazer assim”, diz Pacífico. “Como as editoras seguem, muitas vezes, um padrão gráfico, então fica mais estético na estante, mas não faz também muito sentido, porque vai ficar uma ‘mistureba’ total.”
  4. Por cores: Também é uma opção que privilegia a estética em detrimento da praticidade. “É terrível, porque você precisa saber a cor da lombada do livro na hora de achar. Como eu tenho muitos livros, tentei usar algo mais objetivo, um critério que seja mais fácil de encontrar o que preciso.”

Casa ‘literária’

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Além da própria biblioteca, os livros estão espalhados por toda a casa de Pedro Pacífico. No momento da nossa visita, ele tinha dois na mesa de cabeceira da cama, suas leituras mais recentes: Nove Histórias, de J.D. Salinger, e O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, de Haruki Murakami.

O advogado tem ainda duas obras do artista Arthur Grangeia, que aplica ilustrações e pinturas sobre livros abertos. Na mesa de centro da sala, uma das peças, envolvida por um acrílico, com uma obra de Elena Ferrante. E logo na entrada do apartamento, o outro trabalho, com 16 peças formadas por exemplares de Capitães de Areia. “É um dos meus xodós”, afirma Pacífico.

Capitães é um dos meus livros favoritos. Ainda na escola, me mostrou que a literatura pode ser uma atividade muito prazerosa. E que pode te ensinar sobre a vivências que estão muito longe das nossas, seja no tempo, seja por realidades sociais.”

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“A literatura me ajudou ao longo da vida em momentos muito importantes, ligados à descoberta da minha sexualidade, da minha autoaceitação.”

Pedro Pacífico

O lar de Pacífico ainda esconde outros ‘easter eggs’ literários como uma escultura inspirada na cachorra Baleia, de Vidas Secas, e outros livros que estão em categorias separadas. Uma estante menor, por exemplo, guarda dois boxes com as obras completas de Fiódor Dostoiévski e Machado de Assis. E ao lado, estão o que Pacífico chama de livros ‘souvenir’. “Em vez de trazer um imã ou chaveiro, eu trago um livro de cada país que eu visitei. Geralmente no idioma original. Aqui tem Egito, Grécia, Vietnã…”

Biblioteca de Pedro Pacífico, no apartamento do autor em São Paulo Foto: @leosouza
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O que o ‘bookster’ gosta de ler?

Acostumado às indicações literárias, o Bookster pinça algumas obras que valem a leitura, das quais destacamos quatro:

  • A casa dos espíritos, de Isabel Allende (1982)

Pacífico é um fã de realismo mágico, movimento do qual se evidenciam especialmente nomes latino-americanos como Jorge Luís Borges, Gabriel García Márquez e Júlio Cortázar, além da chilena Isabel Allende. “Esse livro é maravilhoso. O que eu mais gosto no realismo mágico é a dúvida do que é real e o que é fantasioso, mas sem precisar racionalizar o tempo todo. Só se deixar levar”, avalia Pacífico. Relembre entrevista dada por Isabel ao Estadão em 2022.

  • Adeus, China: o último bailarino de Mao, de Li Cunxin (2015)

O Bookster confessa que as biografias não são seu gênero favorito, mas que gostou muito da obra. “Conta a história do autor, que nasceu num vilarejo muito pobre na China e é escolhido para treinar numa companhia de dança do país. É um retrato histórico muito interessante do governo Mao Tsé-Tung e um grande choque cultural.”

  • Uma vida pequena, de Hanya Yanagihara (2015)

“Com certeza, o livro que mais me fez chorar na vida. Eu terminei em prantos”, confessa Pacífico. “É um livro repleto de acontecimentos trágicos, o que faz com que ele seja um pouco polêmico. Tem gente que reclama de uma tristeza excessiva no texto.”

Se for ler, prepare-se: é uma obra de quase 800 páginas que, segundo Pacífico, pode ter gatilhos para determinadas pessoas. Mas não se engane: a capa do livro, diferente do que muitos pensam, não mostra alguém chorando. É, na verdade, um registro de um orgasmo masculino, feito pelo fotógrafo Peter Hujar.

  • Não fossem as sílabas do sábado, de Mariana Salomão Carrara (2022)

Mariana é uma autora nacional que deveria ser mais conhecida, acredita Pacífico. “Tem uma escrita super poética e toca em temas muito atuais e muito sensíveis.” Da paulistana, ele ainda destaca Se deus me chamar, não vou e É sempre a hora da nossa morte amém.

De leitor a autor

A paixão pela leitura também levou Pacífico à escrita. Há um ano, ele lançou Trinta segundos sem pensar no medo: memórias de um leitor (editora Intrínseca). No livro, ele revisita fragmentos de sua vida, especialmente da infância e adolescência, e atravessa a história com dicas das leituras mais importantes que teve na construção da sua identidade.

Na página de dedicatória do livro, ele escreve: “ao meu padrinho e aos silenciados”. E durante nossa conversa, explica: “Aqui, eu escrevo muito sobre como foi lutar contra minha própria sexualidade e também trago a história do meu tio-avô, que é meu padrinho, e homem gay. Ele hoje tem 95 anos e nunca tinha falado sobre isso com a família até eu me assumir. Desde então, ele vem se abrindo cada vez mais e isso quebrou uma barreira dentro do nosso ambiente familiar.”

Pedro Pacífico Foto: Léo Souza/Estadão

Já a orelha do livro ficou sob a responsabilidade de Valter Hugo Mãe, de quem o Bookster diz ter ficado amigo. “Eu me apaixonei pela obra dele desde o começo. Meu perfil foi crescendo nas redes e o Valter percebeu que as pessoas vinham falar que estavam lendo os livros porque eu indiquei. E foi aí que ele procurou por ‘bookster’ e me mandou uma mensagem. Depois, nos conhecemos quando ele veio ao Brasil.” Na época da produção do livro, Pacífico diz ter feito o pedido do texto de orelha ao português numa mensagem ‘despretensiosa’ de WhatsApp, ao passo que ele prontamente respondeu: “Lógico. Eu ficaria muito puto se você chamasse outra pessoa.”

Depois da estreia, o ‘leitor-autor’ quer seguir escrevendo. Mas agora num terreno diferente. “Escrever ficção era algo que me amedrontava muito. Mas agora que escrevi esse primeiro, quem sabe. Estou com algumas ideias para um próximo livro, mas ainda bem embrionárias.”

Trinta segundos sem pensar no medo

  • Autor: Pedro Pacífico
  • Editora: Intrínseca (192 págs.; R$ 49,90 | E-book: R$ 24,90)

“Faca de dois gumes” é uma expressão que define bem a relação entre livros e redes sociais. É fato que o uso excessivo delas subtrai um tempo que poderíamos gastar com leitura. Mas ao mesmo tempo uma geração de novos leitores é forjada a partir de influencers literários, que dão dicas do que ler e como ler. O advogado Pedro Pacífico, ou ‘Bookster’ para seus seguidores, decidiu seguir pelo segundo caminho.

“A gente vê que fenômenos como o ‘BookTok’ [corrente de vídeos sobre literatura no TikTok] vêm gerando impactos nas vendas. Muitas vezes a pessoa acha que não gosta de ler, mas na verdade só está perdida nas escolhas de leitura”, avalia Pacífico. Ele recebeu a reportagem do Estadão em seu apartamento em São Paulo para mostrar detalhes de sua biblioteca pessoal, que já virou cenário e referência nos vídeos que grava para seus perfis.

“Eu comecei a me questionar: como é que as pessoas não falam sobre livros? Numa roda com amigos, a gente se acostuma a debater séries, filmes, mas ninguém fala sobre livros. Dessa inquietação veio a vontade de criar um perfil para tentar incentivar as pessoas mais próximas.”

Pedro Pacífico

Pacífico alcançou bem mais que apenas amigos ou conhecidos. Depois de um início ainda anônimo com a alcunha de ‘bookster’, ele perdeu a vergonha de conciliar a profissão formal com a vida de influenciador. São quase 700 mil seguidores entre Instagram, TikTok, YouTube e X. “Devo receber uma média de cinco livros por dia, que editoras e autores me mandam. Tento fazer uma triagem, do que fica e o que eu doo. Não consigo ler nem 1% do que eu recebo.”

Biblioteca de Pedro Pacífico, no apartamento do autor em São Paulo Foto: @leosouza

Como organizar sua coleção de livros?

Quando Pedro Pacífico abre as portas do apartamento, o visitante dá de cara com sua enorme estante de livros, que toma um bom pedaço da sala. Mas como organizar uma quantidade tão grande de exemplares? “Não sou formado em biblioteconomia, nem tenho conhecimento técnico, mas sei que existem algumas possibilidades”, diz o Bookster. Ele menciona:

  1. Por sobrenome do autor: É a forma como a biblioteca de Pacífico está configurada atualmente. Usa-se o sobrenome do autor, em ordem alfabética. Jorge Amado e Chimamanda Adichie, por exemplo, estão no canto mais alto da primeira estante, enquanto Luís Fernando Veríssimo e Virginia Woolf ficam lá no finalzinho de toda a sequência.
  2. Por temática, língua ou nacionalidade: “Quando eu morava com meus pais, eu separava a literatura brasileira dos autores estrangeiros. Mas no fim, aqui, eu preferi mesclar tudo.”
  3. Por editora: “Já cheguei a fazer assim”, diz Pacífico. “Como as editoras seguem, muitas vezes, um padrão gráfico, então fica mais estético na estante, mas não faz também muito sentido, porque vai ficar uma ‘mistureba’ total.”
  4. Por cores: Também é uma opção que privilegia a estética em detrimento da praticidade. “É terrível, porque você precisa saber a cor da lombada do livro na hora de achar. Como eu tenho muitos livros, tentei usar algo mais objetivo, um critério que seja mais fácil de encontrar o que preciso.”

Casa ‘literária’

Além da própria biblioteca, os livros estão espalhados por toda a casa de Pedro Pacífico. No momento da nossa visita, ele tinha dois na mesa de cabeceira da cama, suas leituras mais recentes: Nove Histórias, de J.D. Salinger, e O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, de Haruki Murakami.

O advogado tem ainda duas obras do artista Arthur Grangeia, que aplica ilustrações e pinturas sobre livros abertos. Na mesa de centro da sala, uma das peças, envolvida por um acrílico, com uma obra de Elena Ferrante. E logo na entrada do apartamento, o outro trabalho, com 16 peças formadas por exemplares de Capitães de Areia. “É um dos meus xodós”, afirma Pacífico.

Capitães é um dos meus livros favoritos. Ainda na escola, me mostrou que a literatura pode ser uma atividade muito prazerosa. E que pode te ensinar sobre a vivências que estão muito longe das nossas, seja no tempo, seja por realidades sociais.”

“A literatura me ajudou ao longo da vida em momentos muito importantes, ligados à descoberta da minha sexualidade, da minha autoaceitação.”

Pedro Pacífico

O lar de Pacífico ainda esconde outros ‘easter eggs’ literários como uma escultura inspirada na cachorra Baleia, de Vidas Secas, e outros livros que estão em categorias separadas. Uma estante menor, por exemplo, guarda dois boxes com as obras completas de Fiódor Dostoiévski e Machado de Assis. E ao lado, estão o que Pacífico chama de livros ‘souvenir’. “Em vez de trazer um imã ou chaveiro, eu trago um livro de cada país que eu visitei. Geralmente no idioma original. Aqui tem Egito, Grécia, Vietnã…”

Biblioteca de Pedro Pacífico, no apartamento do autor em São Paulo Foto: @leosouza

O que o ‘bookster’ gosta de ler?

Acostumado às indicações literárias, o Bookster pinça algumas obras que valem a leitura, das quais destacamos quatro:

  • A casa dos espíritos, de Isabel Allende (1982)

Pacífico é um fã de realismo mágico, movimento do qual se evidenciam especialmente nomes latino-americanos como Jorge Luís Borges, Gabriel García Márquez e Júlio Cortázar, além da chilena Isabel Allende. “Esse livro é maravilhoso. O que eu mais gosto no realismo mágico é a dúvida do que é real e o que é fantasioso, mas sem precisar racionalizar o tempo todo. Só se deixar levar”, avalia Pacífico. Relembre entrevista dada por Isabel ao Estadão em 2022.

  • Adeus, China: o último bailarino de Mao, de Li Cunxin (2015)

O Bookster confessa que as biografias não são seu gênero favorito, mas que gostou muito da obra. “Conta a história do autor, que nasceu num vilarejo muito pobre na China e é escolhido para treinar numa companhia de dança do país. É um retrato histórico muito interessante do governo Mao Tsé-Tung e um grande choque cultural.”

  • Uma vida pequena, de Hanya Yanagihara (2015)

“Com certeza, o livro que mais me fez chorar na vida. Eu terminei em prantos”, confessa Pacífico. “É um livro repleto de acontecimentos trágicos, o que faz com que ele seja um pouco polêmico. Tem gente que reclama de uma tristeza excessiva no texto.”

Se for ler, prepare-se: é uma obra de quase 800 páginas que, segundo Pacífico, pode ter gatilhos para determinadas pessoas. Mas não se engane: a capa do livro, diferente do que muitos pensam, não mostra alguém chorando. É, na verdade, um registro de um orgasmo masculino, feito pelo fotógrafo Peter Hujar.

  • Não fossem as sílabas do sábado, de Mariana Salomão Carrara (2022)

Mariana é uma autora nacional que deveria ser mais conhecida, acredita Pacífico. “Tem uma escrita super poética e toca em temas muito atuais e muito sensíveis.” Da paulistana, ele ainda destaca Se deus me chamar, não vou e É sempre a hora da nossa morte amém.

De leitor a autor

A paixão pela leitura também levou Pacífico à escrita. Há um ano, ele lançou Trinta segundos sem pensar no medo: memórias de um leitor (editora Intrínseca). No livro, ele revisita fragmentos de sua vida, especialmente da infância e adolescência, e atravessa a história com dicas das leituras mais importantes que teve na construção da sua identidade.

Na página de dedicatória do livro, ele escreve: “ao meu padrinho e aos silenciados”. E durante nossa conversa, explica: “Aqui, eu escrevo muito sobre como foi lutar contra minha própria sexualidade e também trago a história do meu tio-avô, que é meu padrinho, e homem gay. Ele hoje tem 95 anos e nunca tinha falado sobre isso com a família até eu me assumir. Desde então, ele vem se abrindo cada vez mais e isso quebrou uma barreira dentro do nosso ambiente familiar.”

Pedro Pacífico Foto: Léo Souza/Estadão

Já a orelha do livro ficou sob a responsabilidade de Valter Hugo Mãe, de quem o Bookster diz ter ficado amigo. “Eu me apaixonei pela obra dele desde o começo. Meu perfil foi crescendo nas redes e o Valter percebeu que as pessoas vinham falar que estavam lendo os livros porque eu indiquei. E foi aí que ele procurou por ‘bookster’ e me mandou uma mensagem. Depois, nos conhecemos quando ele veio ao Brasil.” Na época da produção do livro, Pacífico diz ter feito o pedido do texto de orelha ao português numa mensagem ‘despretensiosa’ de WhatsApp, ao passo que ele prontamente respondeu: “Lógico. Eu ficaria muito puto se você chamasse outra pessoa.”

Depois da estreia, o ‘leitor-autor’ quer seguir escrevendo. Mas agora num terreno diferente. “Escrever ficção era algo que me amedrontava muito. Mas agora que escrevi esse primeiro, quem sabe. Estou com algumas ideias para um próximo livro, mas ainda bem embrionárias.”

Trinta segundos sem pensar no medo

  • Autor: Pedro Pacífico
  • Editora: Intrínseca (192 págs.; R$ 49,90 | E-book: R$ 24,90)

“Faca de dois gumes” é uma expressão que define bem a relação entre livros e redes sociais. É fato que o uso excessivo delas subtrai um tempo que poderíamos gastar com leitura. Mas ao mesmo tempo uma geração de novos leitores é forjada a partir de influencers literários, que dão dicas do que ler e como ler. O advogado Pedro Pacífico, ou ‘Bookster’ para seus seguidores, decidiu seguir pelo segundo caminho.

“A gente vê que fenômenos como o ‘BookTok’ [corrente de vídeos sobre literatura no TikTok] vêm gerando impactos nas vendas. Muitas vezes a pessoa acha que não gosta de ler, mas na verdade só está perdida nas escolhas de leitura”, avalia Pacífico. Ele recebeu a reportagem do Estadão em seu apartamento em São Paulo para mostrar detalhes de sua biblioteca pessoal, que já virou cenário e referência nos vídeos que grava para seus perfis.

“Eu comecei a me questionar: como é que as pessoas não falam sobre livros? Numa roda com amigos, a gente se acostuma a debater séries, filmes, mas ninguém fala sobre livros. Dessa inquietação veio a vontade de criar um perfil para tentar incentivar as pessoas mais próximas.”

Pedro Pacífico

Pacífico alcançou bem mais que apenas amigos ou conhecidos. Depois de um início ainda anônimo com a alcunha de ‘bookster’, ele perdeu a vergonha de conciliar a profissão formal com a vida de influenciador. São quase 700 mil seguidores entre Instagram, TikTok, YouTube e X. “Devo receber uma média de cinco livros por dia, que editoras e autores me mandam. Tento fazer uma triagem, do que fica e o que eu doo. Não consigo ler nem 1% do que eu recebo.”

Biblioteca de Pedro Pacífico, no apartamento do autor em São Paulo Foto: @leosouza

Como organizar sua coleção de livros?

Quando Pedro Pacífico abre as portas do apartamento, o visitante dá de cara com sua enorme estante de livros, que toma um bom pedaço da sala. Mas como organizar uma quantidade tão grande de exemplares? “Não sou formado em biblioteconomia, nem tenho conhecimento técnico, mas sei que existem algumas possibilidades”, diz o Bookster. Ele menciona:

  1. Por sobrenome do autor: É a forma como a biblioteca de Pacífico está configurada atualmente. Usa-se o sobrenome do autor, em ordem alfabética. Jorge Amado e Chimamanda Adichie, por exemplo, estão no canto mais alto da primeira estante, enquanto Luís Fernando Veríssimo e Virginia Woolf ficam lá no finalzinho de toda a sequência.
  2. Por temática, língua ou nacionalidade: “Quando eu morava com meus pais, eu separava a literatura brasileira dos autores estrangeiros. Mas no fim, aqui, eu preferi mesclar tudo.”
  3. Por editora: “Já cheguei a fazer assim”, diz Pacífico. “Como as editoras seguem, muitas vezes, um padrão gráfico, então fica mais estético na estante, mas não faz também muito sentido, porque vai ficar uma ‘mistureba’ total.”
  4. Por cores: Também é uma opção que privilegia a estética em detrimento da praticidade. “É terrível, porque você precisa saber a cor da lombada do livro na hora de achar. Como eu tenho muitos livros, tentei usar algo mais objetivo, um critério que seja mais fácil de encontrar o que preciso.”

Casa ‘literária’

Além da própria biblioteca, os livros estão espalhados por toda a casa de Pedro Pacífico. No momento da nossa visita, ele tinha dois na mesa de cabeceira da cama, suas leituras mais recentes: Nove Histórias, de J.D. Salinger, e O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, de Haruki Murakami.

O advogado tem ainda duas obras do artista Arthur Grangeia, que aplica ilustrações e pinturas sobre livros abertos. Na mesa de centro da sala, uma das peças, envolvida por um acrílico, com uma obra de Elena Ferrante. E logo na entrada do apartamento, o outro trabalho, com 16 peças formadas por exemplares de Capitães de Areia. “É um dos meus xodós”, afirma Pacífico.

Capitães é um dos meus livros favoritos. Ainda na escola, me mostrou que a literatura pode ser uma atividade muito prazerosa. E que pode te ensinar sobre a vivências que estão muito longe das nossas, seja no tempo, seja por realidades sociais.”

“A literatura me ajudou ao longo da vida em momentos muito importantes, ligados à descoberta da minha sexualidade, da minha autoaceitação.”

Pedro Pacífico

O lar de Pacífico ainda esconde outros ‘easter eggs’ literários como uma escultura inspirada na cachorra Baleia, de Vidas Secas, e outros livros que estão em categorias separadas. Uma estante menor, por exemplo, guarda dois boxes com as obras completas de Fiódor Dostoiévski e Machado de Assis. E ao lado, estão o que Pacífico chama de livros ‘souvenir’. “Em vez de trazer um imã ou chaveiro, eu trago um livro de cada país que eu visitei. Geralmente no idioma original. Aqui tem Egito, Grécia, Vietnã…”

Biblioteca de Pedro Pacífico, no apartamento do autor em São Paulo Foto: @leosouza

O que o ‘bookster’ gosta de ler?

Acostumado às indicações literárias, o Bookster pinça algumas obras que valem a leitura, das quais destacamos quatro:

  • A casa dos espíritos, de Isabel Allende (1982)

Pacífico é um fã de realismo mágico, movimento do qual se evidenciam especialmente nomes latino-americanos como Jorge Luís Borges, Gabriel García Márquez e Júlio Cortázar, além da chilena Isabel Allende. “Esse livro é maravilhoso. O que eu mais gosto no realismo mágico é a dúvida do que é real e o que é fantasioso, mas sem precisar racionalizar o tempo todo. Só se deixar levar”, avalia Pacífico. Relembre entrevista dada por Isabel ao Estadão em 2022.

  • Adeus, China: o último bailarino de Mao, de Li Cunxin (2015)

O Bookster confessa que as biografias não são seu gênero favorito, mas que gostou muito da obra. “Conta a história do autor, que nasceu num vilarejo muito pobre na China e é escolhido para treinar numa companhia de dança do país. É um retrato histórico muito interessante do governo Mao Tsé-Tung e um grande choque cultural.”

  • Uma vida pequena, de Hanya Yanagihara (2015)

“Com certeza, o livro que mais me fez chorar na vida. Eu terminei em prantos”, confessa Pacífico. “É um livro repleto de acontecimentos trágicos, o que faz com que ele seja um pouco polêmico. Tem gente que reclama de uma tristeza excessiva no texto.”

Se for ler, prepare-se: é uma obra de quase 800 páginas que, segundo Pacífico, pode ter gatilhos para determinadas pessoas. Mas não se engane: a capa do livro, diferente do que muitos pensam, não mostra alguém chorando. É, na verdade, um registro de um orgasmo masculino, feito pelo fotógrafo Peter Hujar.

  • Não fossem as sílabas do sábado, de Mariana Salomão Carrara (2022)

Mariana é uma autora nacional que deveria ser mais conhecida, acredita Pacífico. “Tem uma escrita super poética e toca em temas muito atuais e muito sensíveis.” Da paulistana, ele ainda destaca Se deus me chamar, não vou e É sempre a hora da nossa morte amém.

De leitor a autor

A paixão pela leitura também levou Pacífico à escrita. Há um ano, ele lançou Trinta segundos sem pensar no medo: memórias de um leitor (editora Intrínseca). No livro, ele revisita fragmentos de sua vida, especialmente da infância e adolescência, e atravessa a história com dicas das leituras mais importantes que teve na construção da sua identidade.

Na página de dedicatória do livro, ele escreve: “ao meu padrinho e aos silenciados”. E durante nossa conversa, explica: “Aqui, eu escrevo muito sobre como foi lutar contra minha própria sexualidade e também trago a história do meu tio-avô, que é meu padrinho, e homem gay. Ele hoje tem 95 anos e nunca tinha falado sobre isso com a família até eu me assumir. Desde então, ele vem se abrindo cada vez mais e isso quebrou uma barreira dentro do nosso ambiente familiar.”

Pedro Pacífico Foto: Léo Souza/Estadão

Já a orelha do livro ficou sob a responsabilidade de Valter Hugo Mãe, de quem o Bookster diz ter ficado amigo. “Eu me apaixonei pela obra dele desde o começo. Meu perfil foi crescendo nas redes e o Valter percebeu que as pessoas vinham falar que estavam lendo os livros porque eu indiquei. E foi aí que ele procurou por ‘bookster’ e me mandou uma mensagem. Depois, nos conhecemos quando ele veio ao Brasil.” Na época da produção do livro, Pacífico diz ter feito o pedido do texto de orelha ao português numa mensagem ‘despretensiosa’ de WhatsApp, ao passo que ele prontamente respondeu: “Lógico. Eu ficaria muito puto se você chamasse outra pessoa.”

Depois da estreia, o ‘leitor-autor’ quer seguir escrevendo. Mas agora num terreno diferente. “Escrever ficção era algo que me amedrontava muito. Mas agora que escrevi esse primeiro, quem sabe. Estou com algumas ideias para um próximo livro, mas ainda bem embrionárias.”

Trinta segundos sem pensar no medo

  • Autor: Pedro Pacífico
  • Editora: Intrínseca (192 págs.; R$ 49,90 | E-book: R$ 24,90)

“Faca de dois gumes” é uma expressão que define bem a relação entre livros e redes sociais. É fato que o uso excessivo delas subtrai um tempo que poderíamos gastar com leitura. Mas ao mesmo tempo uma geração de novos leitores é forjada a partir de influencers literários, que dão dicas do que ler e como ler. O advogado Pedro Pacífico, ou ‘Bookster’ para seus seguidores, decidiu seguir pelo segundo caminho.

“A gente vê que fenômenos como o ‘BookTok’ [corrente de vídeos sobre literatura no TikTok] vêm gerando impactos nas vendas. Muitas vezes a pessoa acha que não gosta de ler, mas na verdade só está perdida nas escolhas de leitura”, avalia Pacífico. Ele recebeu a reportagem do Estadão em seu apartamento em São Paulo para mostrar detalhes de sua biblioteca pessoal, que já virou cenário e referência nos vídeos que grava para seus perfis.

“Eu comecei a me questionar: como é que as pessoas não falam sobre livros? Numa roda com amigos, a gente se acostuma a debater séries, filmes, mas ninguém fala sobre livros. Dessa inquietação veio a vontade de criar um perfil para tentar incentivar as pessoas mais próximas.”

Pedro Pacífico

Pacífico alcançou bem mais que apenas amigos ou conhecidos. Depois de um início ainda anônimo com a alcunha de ‘bookster’, ele perdeu a vergonha de conciliar a profissão formal com a vida de influenciador. São quase 700 mil seguidores entre Instagram, TikTok, YouTube e X. “Devo receber uma média de cinco livros por dia, que editoras e autores me mandam. Tento fazer uma triagem, do que fica e o que eu doo. Não consigo ler nem 1% do que eu recebo.”

Biblioteca de Pedro Pacífico, no apartamento do autor em São Paulo Foto: @leosouza

Como organizar sua coleção de livros?

Quando Pedro Pacífico abre as portas do apartamento, o visitante dá de cara com sua enorme estante de livros, que toma um bom pedaço da sala. Mas como organizar uma quantidade tão grande de exemplares? “Não sou formado em biblioteconomia, nem tenho conhecimento técnico, mas sei que existem algumas possibilidades”, diz o Bookster. Ele menciona:

  1. Por sobrenome do autor: É a forma como a biblioteca de Pacífico está configurada atualmente. Usa-se o sobrenome do autor, em ordem alfabética. Jorge Amado e Chimamanda Adichie, por exemplo, estão no canto mais alto da primeira estante, enquanto Luís Fernando Veríssimo e Virginia Woolf ficam lá no finalzinho de toda a sequência.
  2. Por temática, língua ou nacionalidade: “Quando eu morava com meus pais, eu separava a literatura brasileira dos autores estrangeiros. Mas no fim, aqui, eu preferi mesclar tudo.”
  3. Por editora: “Já cheguei a fazer assim”, diz Pacífico. “Como as editoras seguem, muitas vezes, um padrão gráfico, então fica mais estético na estante, mas não faz também muito sentido, porque vai ficar uma ‘mistureba’ total.”
  4. Por cores: Também é uma opção que privilegia a estética em detrimento da praticidade. “É terrível, porque você precisa saber a cor da lombada do livro na hora de achar. Como eu tenho muitos livros, tentei usar algo mais objetivo, um critério que seja mais fácil de encontrar o que preciso.”

Casa ‘literária’

Além da própria biblioteca, os livros estão espalhados por toda a casa de Pedro Pacífico. No momento da nossa visita, ele tinha dois na mesa de cabeceira da cama, suas leituras mais recentes: Nove Histórias, de J.D. Salinger, e O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, de Haruki Murakami.

O advogado tem ainda duas obras do artista Arthur Grangeia, que aplica ilustrações e pinturas sobre livros abertos. Na mesa de centro da sala, uma das peças, envolvida por um acrílico, com uma obra de Elena Ferrante. E logo na entrada do apartamento, o outro trabalho, com 16 peças formadas por exemplares de Capitães de Areia. “É um dos meus xodós”, afirma Pacífico.

Capitães é um dos meus livros favoritos. Ainda na escola, me mostrou que a literatura pode ser uma atividade muito prazerosa. E que pode te ensinar sobre a vivências que estão muito longe das nossas, seja no tempo, seja por realidades sociais.”

“A literatura me ajudou ao longo da vida em momentos muito importantes, ligados à descoberta da minha sexualidade, da minha autoaceitação.”

Pedro Pacífico

O lar de Pacífico ainda esconde outros ‘easter eggs’ literários como uma escultura inspirada na cachorra Baleia, de Vidas Secas, e outros livros que estão em categorias separadas. Uma estante menor, por exemplo, guarda dois boxes com as obras completas de Fiódor Dostoiévski e Machado de Assis. E ao lado, estão o que Pacífico chama de livros ‘souvenir’. “Em vez de trazer um imã ou chaveiro, eu trago um livro de cada país que eu visitei. Geralmente no idioma original. Aqui tem Egito, Grécia, Vietnã…”

Biblioteca de Pedro Pacífico, no apartamento do autor em São Paulo Foto: @leosouza

O que o ‘bookster’ gosta de ler?

Acostumado às indicações literárias, o Bookster pinça algumas obras que valem a leitura, das quais destacamos quatro:

  • A casa dos espíritos, de Isabel Allende (1982)

Pacífico é um fã de realismo mágico, movimento do qual se evidenciam especialmente nomes latino-americanos como Jorge Luís Borges, Gabriel García Márquez e Júlio Cortázar, além da chilena Isabel Allende. “Esse livro é maravilhoso. O que eu mais gosto no realismo mágico é a dúvida do que é real e o que é fantasioso, mas sem precisar racionalizar o tempo todo. Só se deixar levar”, avalia Pacífico. Relembre entrevista dada por Isabel ao Estadão em 2022.

  • Adeus, China: o último bailarino de Mao, de Li Cunxin (2015)

O Bookster confessa que as biografias não são seu gênero favorito, mas que gostou muito da obra. “Conta a história do autor, que nasceu num vilarejo muito pobre na China e é escolhido para treinar numa companhia de dança do país. É um retrato histórico muito interessante do governo Mao Tsé-Tung e um grande choque cultural.”

  • Uma vida pequena, de Hanya Yanagihara (2015)

“Com certeza, o livro que mais me fez chorar na vida. Eu terminei em prantos”, confessa Pacífico. “É um livro repleto de acontecimentos trágicos, o que faz com que ele seja um pouco polêmico. Tem gente que reclama de uma tristeza excessiva no texto.”

Se for ler, prepare-se: é uma obra de quase 800 páginas que, segundo Pacífico, pode ter gatilhos para determinadas pessoas. Mas não se engane: a capa do livro, diferente do que muitos pensam, não mostra alguém chorando. É, na verdade, um registro de um orgasmo masculino, feito pelo fotógrafo Peter Hujar.

  • Não fossem as sílabas do sábado, de Mariana Salomão Carrara (2022)

Mariana é uma autora nacional que deveria ser mais conhecida, acredita Pacífico. “Tem uma escrita super poética e toca em temas muito atuais e muito sensíveis.” Da paulistana, ele ainda destaca Se deus me chamar, não vou e É sempre a hora da nossa morte amém.

De leitor a autor

A paixão pela leitura também levou Pacífico à escrita. Há um ano, ele lançou Trinta segundos sem pensar no medo: memórias de um leitor (editora Intrínseca). No livro, ele revisita fragmentos de sua vida, especialmente da infância e adolescência, e atravessa a história com dicas das leituras mais importantes que teve na construção da sua identidade.

Na página de dedicatória do livro, ele escreve: “ao meu padrinho e aos silenciados”. E durante nossa conversa, explica: “Aqui, eu escrevo muito sobre como foi lutar contra minha própria sexualidade e também trago a história do meu tio-avô, que é meu padrinho, e homem gay. Ele hoje tem 95 anos e nunca tinha falado sobre isso com a família até eu me assumir. Desde então, ele vem se abrindo cada vez mais e isso quebrou uma barreira dentro do nosso ambiente familiar.”

Pedro Pacífico Foto: Léo Souza/Estadão

Já a orelha do livro ficou sob a responsabilidade de Valter Hugo Mãe, de quem o Bookster diz ter ficado amigo. “Eu me apaixonei pela obra dele desde o começo. Meu perfil foi crescendo nas redes e o Valter percebeu que as pessoas vinham falar que estavam lendo os livros porque eu indiquei. E foi aí que ele procurou por ‘bookster’ e me mandou uma mensagem. Depois, nos conhecemos quando ele veio ao Brasil.” Na época da produção do livro, Pacífico diz ter feito o pedido do texto de orelha ao português numa mensagem ‘despretensiosa’ de WhatsApp, ao passo que ele prontamente respondeu: “Lógico. Eu ficaria muito puto se você chamasse outra pessoa.”

Depois da estreia, o ‘leitor-autor’ quer seguir escrevendo. Mas agora num terreno diferente. “Escrever ficção era algo que me amedrontava muito. Mas agora que escrevi esse primeiro, quem sabe. Estou com algumas ideias para um próximo livro, mas ainda bem embrionárias.”

Trinta segundos sem pensar no medo

  • Autor: Pedro Pacífico
  • Editora: Intrínseca (192 págs.; R$ 49,90 | E-book: R$ 24,90)

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