Donizete Galvão tem sua poética de carne e osso lembrada em nova edição


Poema-livro ilustrado, que homenageia autor, sai agora com ampliação dos detalhes que o fazem literalmente antológico

Por Mariana Mandelli

Donizete Galvão, que faria 60 anos em 2015, talvez nunca tenha sido tão lido e comentado, pelo menos de maneira tão fecunda. Entre as publicações que vêm semeando sua poesia, há duas antologias: Ofícios do Tempo, um panorama poético organizado por Lindsey Rocha Lagni, pela editora Positivo, e Outras Ruminações, pela Dobra Editorial, que reúne 75 poetas brasileiros em torno de versos de Donizete. 

Outra publicação, com diferente enfoque, é uma edição especial do poema Escoiceados, com ilustrações do artista argentino Carlos Clémen, pela Casa de Virgínia, novo selo da editora Musa. O livro, que inaugura a coleção Um Poema, Um Livro, estava prestes a ser lançado quando Donizete morreu em 30 de janeiro de 2014. O caráter de homenagem, neste caso, vem por acréscimo. Transformado em “poema-livro”, com participação do próprio autor no projeto, Escoiceados (que originalmente abre o livro Ruminações, de 1999) pode ser lido agora numa ampliação dos detalhes que o fazem literalmente antológico, não por acaso presente nas duas coletâneas lançadas no ano passado.

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Em poucos versos por página, o leitor vê em destaque uma poética de “carne e osso” em seus aspectos fundamentais. Um excelente aporte para essa leitura verso a verso está no texto de Priscila Figueiredo que integra o volume. O ritmo breve e seco do poema, as figuras de linguagem que lhe dão vigor, a mistura de dor com ternura no enquadramento de uma cena de infância interiorana são alguns dos aspectos que Priscila aborda em sua análise. Trotando num burrico cinza malhado “com fama / de sistemático”, uma vez, pai e filho acabaram no chão. Na fábula de uma queda, a dimensão simbólica desses “escoiceados”, a quem o poeta dá voz a partir de uma vivência própria, revela-se com elementos mínimos. Interessante pensar no “sabor regionalista” que a autora da análise, também poeta e crítica, depreende do uso do termo “sistemático”, associando-o ao sul de Minas, terra natal de Donizete.

Com essa nova proposta de leitura em páginas ilustradas é possível flagrar na economia verbal do poeta sua concentração de meios, síntese de uma preocupação com o vigor da língua. Ruy Proença e Reynaldo Damazio, que assinam os textos de orelha e contracapa do livro, fazem a ponte entre o microcósmico e o panorâmico na poesia de Donizete: são eles também os organizadores, juntamente com Tarso de Melo, da coletânea Outras Ruminações, espécie de tributo coletivo a um poeta que sabia ser generoso no diálogo com seus contemporâneos.

MARIANA IANELLI É POETA E AUTORA DE O AMOR E DEPOIS, ENTRE OUTRAS OBRAS

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ESCOICEADOS

Autor: Donizete Galvão

Editora: Casa de Virgínia (32 págs., R$ 42)

Donizete Galvão, que faria 60 anos em 2015, talvez nunca tenha sido tão lido e comentado, pelo menos de maneira tão fecunda. Entre as publicações que vêm semeando sua poesia, há duas antologias: Ofícios do Tempo, um panorama poético organizado por Lindsey Rocha Lagni, pela editora Positivo, e Outras Ruminações, pela Dobra Editorial, que reúne 75 poetas brasileiros em torno de versos de Donizete. 

Outra publicação, com diferente enfoque, é uma edição especial do poema Escoiceados, com ilustrações do artista argentino Carlos Clémen, pela Casa de Virgínia, novo selo da editora Musa. O livro, que inaugura a coleção Um Poema, Um Livro, estava prestes a ser lançado quando Donizete morreu em 30 de janeiro de 2014. O caráter de homenagem, neste caso, vem por acréscimo. Transformado em “poema-livro”, com participação do próprio autor no projeto, Escoiceados (que originalmente abre o livro Ruminações, de 1999) pode ser lido agora numa ampliação dos detalhes que o fazem literalmente antológico, não por acaso presente nas duas coletâneas lançadas no ano passado.

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Em poucos versos por página, o leitor vê em destaque uma poética de “carne e osso” em seus aspectos fundamentais. Um excelente aporte para essa leitura verso a verso está no texto de Priscila Figueiredo que integra o volume. O ritmo breve e seco do poema, as figuras de linguagem que lhe dão vigor, a mistura de dor com ternura no enquadramento de uma cena de infância interiorana são alguns dos aspectos que Priscila aborda em sua análise. Trotando num burrico cinza malhado “com fama / de sistemático”, uma vez, pai e filho acabaram no chão. Na fábula de uma queda, a dimensão simbólica desses “escoiceados”, a quem o poeta dá voz a partir de uma vivência própria, revela-se com elementos mínimos. Interessante pensar no “sabor regionalista” que a autora da análise, também poeta e crítica, depreende do uso do termo “sistemático”, associando-o ao sul de Minas, terra natal de Donizete.

Com essa nova proposta de leitura em páginas ilustradas é possível flagrar na economia verbal do poeta sua concentração de meios, síntese de uma preocupação com o vigor da língua. Ruy Proença e Reynaldo Damazio, que assinam os textos de orelha e contracapa do livro, fazem a ponte entre o microcósmico e o panorâmico na poesia de Donizete: são eles também os organizadores, juntamente com Tarso de Melo, da coletânea Outras Ruminações, espécie de tributo coletivo a um poeta que sabia ser generoso no diálogo com seus contemporâneos.

MARIANA IANELLI É POETA E AUTORA DE O AMOR E DEPOIS, ENTRE OUTRAS OBRAS

ESCOICEADOS

Autor: Donizete Galvão

Editora: Casa de Virgínia (32 págs., R$ 42)

Donizete Galvão, que faria 60 anos em 2015, talvez nunca tenha sido tão lido e comentado, pelo menos de maneira tão fecunda. Entre as publicações que vêm semeando sua poesia, há duas antologias: Ofícios do Tempo, um panorama poético organizado por Lindsey Rocha Lagni, pela editora Positivo, e Outras Ruminações, pela Dobra Editorial, que reúne 75 poetas brasileiros em torno de versos de Donizete. 

Outra publicação, com diferente enfoque, é uma edição especial do poema Escoiceados, com ilustrações do artista argentino Carlos Clémen, pela Casa de Virgínia, novo selo da editora Musa. O livro, que inaugura a coleção Um Poema, Um Livro, estava prestes a ser lançado quando Donizete morreu em 30 de janeiro de 2014. O caráter de homenagem, neste caso, vem por acréscimo. Transformado em “poema-livro”, com participação do próprio autor no projeto, Escoiceados (que originalmente abre o livro Ruminações, de 1999) pode ser lido agora numa ampliação dos detalhes que o fazem literalmente antológico, não por acaso presente nas duas coletâneas lançadas no ano passado.

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Em poucos versos por página, o leitor vê em destaque uma poética de “carne e osso” em seus aspectos fundamentais. Um excelente aporte para essa leitura verso a verso está no texto de Priscila Figueiredo que integra o volume. O ritmo breve e seco do poema, as figuras de linguagem que lhe dão vigor, a mistura de dor com ternura no enquadramento de uma cena de infância interiorana são alguns dos aspectos que Priscila aborda em sua análise. Trotando num burrico cinza malhado “com fama / de sistemático”, uma vez, pai e filho acabaram no chão. Na fábula de uma queda, a dimensão simbólica desses “escoiceados”, a quem o poeta dá voz a partir de uma vivência própria, revela-se com elementos mínimos. Interessante pensar no “sabor regionalista” que a autora da análise, também poeta e crítica, depreende do uso do termo “sistemático”, associando-o ao sul de Minas, terra natal de Donizete.

Com essa nova proposta de leitura em páginas ilustradas é possível flagrar na economia verbal do poeta sua concentração de meios, síntese de uma preocupação com o vigor da língua. Ruy Proença e Reynaldo Damazio, que assinam os textos de orelha e contracapa do livro, fazem a ponte entre o microcósmico e o panorâmico na poesia de Donizete: são eles também os organizadores, juntamente com Tarso de Melo, da coletânea Outras Ruminações, espécie de tributo coletivo a um poeta que sabia ser generoso no diálogo com seus contemporâneos.

MARIANA IANELLI É POETA E AUTORA DE O AMOR E DEPOIS, ENTRE OUTRAS OBRAS

ESCOICEADOS

Autor: Donizete Galvão

Editora: Casa de Virgínia (32 págs., R$ 42)

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