Editora Record e Prêmio Sesc de Literatura encerram parceria após ‘divergências’; relembre o caso


Há 20 anos, a editora publicava os livros vencedores; no início do mês, ela já havia manifestado ‘extremo incômodo’ com o Sesc quando o ‘Estadão’ revelou que a leitura de um trecho de ‘Outono de Carne Estranha’, de Airton Souza desencadeou mal-estar entre os organizadores; entenda

Por Julia Queiroz
Atualização:

O Grupo Editorial Record e o Prêmio Sesc de Literatura encerraram a parceria após divergências com relação à edição de 2024. A editora já havia manifestado “extremo incômodo” no início de março, quando o Estadão revelou que indefinições, falta de diálogo, demissões e acusação de censura cercavam a tradicional premiação e colocavam em risco seu futuro.

A Record está junto com o Sesc desde a criação do prêmio literário, em 2003. Ela era responsável pela publicação dos livros vencedores. O comunicado foi feito pela editora ao Estadão nesta quinta, 21, depois de 20 anos de cooperação.

“Encerra-se um ciclo de 20 anos, do qual o grupo tem muito orgulho e que nos trouxe um elenco admirável de novas vozes brasileiras. Diante de divergências com relação a novos caminhos do prêmio, as duas partes decidiram interromper o seu acordo. Agradecemos ao Sesc pelos ótimos anos de parceria e desejamos sucesso à nova versão do prêmio”, diz o comunicado.

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Em nota ao Estadão, o Prêmio Sesc afirmou que a troca de editora era um processo já discutido pela equipe responsável pela premiação. A finalidade, conforme o comunicado, seria “buscar novos modelos de divulgação para as obras e autores”. Leia completo:

“A troca de editora é um processo que já vinha sendo discutido pela equipe responsável pelo Prêmio Sesc de Literatura com a finalidade de buscar novos modelos de divulgação para as obras e autores, o que se tornou ainda mais premente em função da inclusão da categoria Poesia, no edital de 2024.

Os livros premiados em 2024 serão editados pela editora Senac Rio, instituição que publica obras de referência em todas as suas áreas de atuação. A Editora tem um forte compromisso com a cultura, a educação e o desenvolvimento.”

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 Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O que é o Prêmio Sesc

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O Prêmio Sesc de Literatura reconhece o trabalho de autores estreantes nos gêneros romance e contos. Uma comissão externa lê os originais e escolhe o melhor nas duas categorias. Até 2023, o livro era lançado pela Record e o Sesc Nacional organiza um circuito pelas unidades da instituição, o que ajuda na divulgação da obra e no encontro entre autores e leitores. Desde que foi criado, já revelou nomes como Rafael Gallo, mais recente vencedor do Prêmio José Saramago, Luisa Geisler e André de Leones.

Lembre o caso

Segundo o Estadão apurou, tudo começou numa noite de celebração, quando o escritor Airton Souza subiu ao palco de um evento comemorativo dos 20 anos do prêmio na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, ao lado de outros escritores premiados, e leu um trecho de seu romance de estreia, o recém-premiado e publicado Outono de Carne Estranha.

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A obra conta a história de um relacionamento homoafetivo entre dois garimpeiros na Serra Pelada, no Pará, nos anos 1980. A partir do romance proibido, o autor narra a realidade do que foi o maior garimpo a céu aberto do mundo e mostra o preconceito e o poder do Estado no local.

Capa de 'Outono de carne estranha', vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2023, do escritor Airton Souza. Foto: Record/Divulgação

A leitura do trecho teria causado desconforto em dirigentes do Departamento Nacional do Sesc, que estavam na plateia. Enquanto o público ainda se preparava para deixar o local, funcionários teriam sido questionados sobre a decisão de fazer essa leitura em público. E o dia, que era para ter sido de festa, virou o que pessoas ligadas ao prêmio classificam como o início de seu fim.

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Depois da Flip, uma conversa interna avaliou transferir a gestão da premiação para o Polo Sociocultural Sesc Paraty e foi iniciado um estudo para reformular o edital. A mudança, segundo fontes ouvidas pelo Estadão, seria para que os organizadores tivessem mais controle do que seria premiado - evitando, assim, que livros como O Outono de Carne Estranha chegassem à final.

À frente do Prêmio Sesc desde sua criação, em 2003, Henrique Rodrigues, que organizou a programação da entidade na Flip, foi demitido assim que voltou de férias, em janeiro. Ele chegou a testemunhar as primeiras tentativas de mudar o prêmio e foi contra as alterações.

O Estadão apurou ainda que circulou uma correspondência oficial para todos as regionais do Sesc, que poderiam receber os premiados no Circuito dos Autores, alertando sobre conteúdo do livro Outono de Carne Estranha. Além disso, a realização do circuito também está incerta. Segundo a Record, o agendamento das viagens é feito entre janeiro e fevereiro, mas, até o início de março, os autores não haviam recebido nenhuma informação sobre a turnê.

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Em entrevista ao Estadão, publicada em 5 de março, Janaína Cunha, diretora de Programas Sociais do Departamento Nacional do Sesc, afirmou que a lisura do prêmio será mantida, e confirmou que o regulamento passava por revisão e discussão. ENTENDA NA ÍNTEGRA AQUI.

Edital de 2024

O edital de 2024 foi divulgado nesta quinta, 21. A partir de agora, os livros vencedores serão publicados pela Editora Senac Rio. As inscrições abrem na segunda-feira, 25 de março, e vão até o dia 22 de abril. Como informado anteriormente, agora a premiação adiciona a categoria poesia.

Segundo o edital, “as obras inscritas serão analisadas por comissões julgadoras, constituídas exclusivamente para esta finalidade, de diferentes regiões do país, compostas por escritores, especialistas em literatura, jornalistas e críticos literários, selecionados em curadoria realizada por profissionais do Sesc”.

A entidade afirma que o anonimato dos jurados e dos autores será mantido. Os vencedores receberão um prêmio em dinheiro no valor de R$ 30 mil e terão seus livros publicados com uma tiragem inicial mínima de 2 mil exemplares.

Outono de Carne Estranha

Alguns dias após a reportagem publicada pelo Estadão, o romance Outono de Carne Estranha entrou para a lista de livros mais vendidos da Amazon no Brasil. A obra chegou ao Top 11 da plataforma na categoria de romances históricos.

Airton, professor de história natural de Marabá, no Pará, define o romance como um livro de denúncia sobre o que aconteceu no garimpo de Serra Pelada. Para ele, a história incomodou porque “o País é extremamente racista, homofóbico e machista”.

“Você coloca isso em debate com um romance como esse e coloca em xeque essas visões de mundo problemáticas que são, em primeiro lugar, criminosas, que promovem violência e mortes de homossexuais, mulheres, jovens negros, pessoas pobres”, disse. Leia mais aqui.

Além de Outono de Carne Estranha, o livro Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti de 2021, também movimentou um debate nacional sobre censura. O livro, que foi selecionado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), foi recolhido de escolas do Paraná e do Goiás. Saiba mais.

O Grupo Editorial Record e o Prêmio Sesc de Literatura encerraram a parceria após divergências com relação à edição de 2024. A editora já havia manifestado “extremo incômodo” no início de março, quando o Estadão revelou que indefinições, falta de diálogo, demissões e acusação de censura cercavam a tradicional premiação e colocavam em risco seu futuro.

A Record está junto com o Sesc desde a criação do prêmio literário, em 2003. Ela era responsável pela publicação dos livros vencedores. O comunicado foi feito pela editora ao Estadão nesta quinta, 21, depois de 20 anos de cooperação.

“Encerra-se um ciclo de 20 anos, do qual o grupo tem muito orgulho e que nos trouxe um elenco admirável de novas vozes brasileiras. Diante de divergências com relação a novos caminhos do prêmio, as duas partes decidiram interromper o seu acordo. Agradecemos ao Sesc pelos ótimos anos de parceria e desejamos sucesso à nova versão do prêmio”, diz o comunicado.

Em nota ao Estadão, o Prêmio Sesc afirmou que a troca de editora era um processo já discutido pela equipe responsável pela premiação. A finalidade, conforme o comunicado, seria “buscar novos modelos de divulgação para as obras e autores”. Leia completo:

“A troca de editora é um processo que já vinha sendo discutido pela equipe responsável pelo Prêmio Sesc de Literatura com a finalidade de buscar novos modelos de divulgação para as obras e autores, o que se tornou ainda mais premente em função da inclusão da categoria Poesia, no edital de 2024.

Os livros premiados em 2024 serão editados pela editora Senac Rio, instituição que publica obras de referência em todas as suas áreas de atuação. A Editora tem um forte compromisso com a cultura, a educação e o desenvolvimento.”

 Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O que é o Prêmio Sesc

O Prêmio Sesc de Literatura reconhece o trabalho de autores estreantes nos gêneros romance e contos. Uma comissão externa lê os originais e escolhe o melhor nas duas categorias. Até 2023, o livro era lançado pela Record e o Sesc Nacional organiza um circuito pelas unidades da instituição, o que ajuda na divulgação da obra e no encontro entre autores e leitores. Desde que foi criado, já revelou nomes como Rafael Gallo, mais recente vencedor do Prêmio José Saramago, Luisa Geisler e André de Leones.

Lembre o caso

Segundo o Estadão apurou, tudo começou numa noite de celebração, quando o escritor Airton Souza subiu ao palco de um evento comemorativo dos 20 anos do prêmio na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, ao lado de outros escritores premiados, e leu um trecho de seu romance de estreia, o recém-premiado e publicado Outono de Carne Estranha.

A obra conta a história de um relacionamento homoafetivo entre dois garimpeiros na Serra Pelada, no Pará, nos anos 1980. A partir do romance proibido, o autor narra a realidade do que foi o maior garimpo a céu aberto do mundo e mostra o preconceito e o poder do Estado no local.

Capa de 'Outono de carne estranha', vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2023, do escritor Airton Souza. Foto: Record/Divulgação

A leitura do trecho teria causado desconforto em dirigentes do Departamento Nacional do Sesc, que estavam na plateia. Enquanto o público ainda se preparava para deixar o local, funcionários teriam sido questionados sobre a decisão de fazer essa leitura em público. E o dia, que era para ter sido de festa, virou o que pessoas ligadas ao prêmio classificam como o início de seu fim.

Depois da Flip, uma conversa interna avaliou transferir a gestão da premiação para o Polo Sociocultural Sesc Paraty e foi iniciado um estudo para reformular o edital. A mudança, segundo fontes ouvidas pelo Estadão, seria para que os organizadores tivessem mais controle do que seria premiado - evitando, assim, que livros como O Outono de Carne Estranha chegassem à final.

À frente do Prêmio Sesc desde sua criação, em 2003, Henrique Rodrigues, que organizou a programação da entidade na Flip, foi demitido assim que voltou de férias, em janeiro. Ele chegou a testemunhar as primeiras tentativas de mudar o prêmio e foi contra as alterações.

O Estadão apurou ainda que circulou uma correspondência oficial para todos as regionais do Sesc, que poderiam receber os premiados no Circuito dos Autores, alertando sobre conteúdo do livro Outono de Carne Estranha. Além disso, a realização do circuito também está incerta. Segundo a Record, o agendamento das viagens é feito entre janeiro e fevereiro, mas, até o início de março, os autores não haviam recebido nenhuma informação sobre a turnê.

Em entrevista ao Estadão, publicada em 5 de março, Janaína Cunha, diretora de Programas Sociais do Departamento Nacional do Sesc, afirmou que a lisura do prêmio será mantida, e confirmou que o regulamento passava por revisão e discussão. ENTENDA NA ÍNTEGRA AQUI.

Edital de 2024

O edital de 2024 foi divulgado nesta quinta, 21. A partir de agora, os livros vencedores serão publicados pela Editora Senac Rio. As inscrições abrem na segunda-feira, 25 de março, e vão até o dia 22 de abril. Como informado anteriormente, agora a premiação adiciona a categoria poesia.

Segundo o edital, “as obras inscritas serão analisadas por comissões julgadoras, constituídas exclusivamente para esta finalidade, de diferentes regiões do país, compostas por escritores, especialistas em literatura, jornalistas e críticos literários, selecionados em curadoria realizada por profissionais do Sesc”.

A entidade afirma que o anonimato dos jurados e dos autores será mantido. Os vencedores receberão um prêmio em dinheiro no valor de R$ 30 mil e terão seus livros publicados com uma tiragem inicial mínima de 2 mil exemplares.

Outono de Carne Estranha

Alguns dias após a reportagem publicada pelo Estadão, o romance Outono de Carne Estranha entrou para a lista de livros mais vendidos da Amazon no Brasil. A obra chegou ao Top 11 da plataforma na categoria de romances históricos.

Airton, professor de história natural de Marabá, no Pará, define o romance como um livro de denúncia sobre o que aconteceu no garimpo de Serra Pelada. Para ele, a história incomodou porque “o País é extremamente racista, homofóbico e machista”.

“Você coloca isso em debate com um romance como esse e coloca em xeque essas visões de mundo problemáticas que são, em primeiro lugar, criminosas, que promovem violência e mortes de homossexuais, mulheres, jovens negros, pessoas pobres”, disse. Leia mais aqui.

Além de Outono de Carne Estranha, o livro Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti de 2021, também movimentou um debate nacional sobre censura. O livro, que foi selecionado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), foi recolhido de escolas do Paraná e do Goiás. Saiba mais.

O Grupo Editorial Record e o Prêmio Sesc de Literatura encerraram a parceria após divergências com relação à edição de 2024. A editora já havia manifestado “extremo incômodo” no início de março, quando o Estadão revelou que indefinições, falta de diálogo, demissões e acusação de censura cercavam a tradicional premiação e colocavam em risco seu futuro.

A Record está junto com o Sesc desde a criação do prêmio literário, em 2003. Ela era responsável pela publicação dos livros vencedores. O comunicado foi feito pela editora ao Estadão nesta quinta, 21, depois de 20 anos de cooperação.

“Encerra-se um ciclo de 20 anos, do qual o grupo tem muito orgulho e que nos trouxe um elenco admirável de novas vozes brasileiras. Diante de divergências com relação a novos caminhos do prêmio, as duas partes decidiram interromper o seu acordo. Agradecemos ao Sesc pelos ótimos anos de parceria e desejamos sucesso à nova versão do prêmio”, diz o comunicado.

Em nota ao Estadão, o Prêmio Sesc afirmou que a troca de editora era um processo já discutido pela equipe responsável pela premiação. A finalidade, conforme o comunicado, seria “buscar novos modelos de divulgação para as obras e autores”. Leia completo:

“A troca de editora é um processo que já vinha sendo discutido pela equipe responsável pelo Prêmio Sesc de Literatura com a finalidade de buscar novos modelos de divulgação para as obras e autores, o que se tornou ainda mais premente em função da inclusão da categoria Poesia, no edital de 2024.

Os livros premiados em 2024 serão editados pela editora Senac Rio, instituição que publica obras de referência em todas as suas áreas de atuação. A Editora tem um forte compromisso com a cultura, a educação e o desenvolvimento.”

 Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O que é o Prêmio Sesc

O Prêmio Sesc de Literatura reconhece o trabalho de autores estreantes nos gêneros romance e contos. Uma comissão externa lê os originais e escolhe o melhor nas duas categorias. Até 2023, o livro era lançado pela Record e o Sesc Nacional organiza um circuito pelas unidades da instituição, o que ajuda na divulgação da obra e no encontro entre autores e leitores. Desde que foi criado, já revelou nomes como Rafael Gallo, mais recente vencedor do Prêmio José Saramago, Luisa Geisler e André de Leones.

Lembre o caso

Segundo o Estadão apurou, tudo começou numa noite de celebração, quando o escritor Airton Souza subiu ao palco de um evento comemorativo dos 20 anos do prêmio na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, ao lado de outros escritores premiados, e leu um trecho de seu romance de estreia, o recém-premiado e publicado Outono de Carne Estranha.

A obra conta a história de um relacionamento homoafetivo entre dois garimpeiros na Serra Pelada, no Pará, nos anos 1980. A partir do romance proibido, o autor narra a realidade do que foi o maior garimpo a céu aberto do mundo e mostra o preconceito e o poder do Estado no local.

Capa de 'Outono de carne estranha', vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2023, do escritor Airton Souza. Foto: Record/Divulgação

A leitura do trecho teria causado desconforto em dirigentes do Departamento Nacional do Sesc, que estavam na plateia. Enquanto o público ainda se preparava para deixar o local, funcionários teriam sido questionados sobre a decisão de fazer essa leitura em público. E o dia, que era para ter sido de festa, virou o que pessoas ligadas ao prêmio classificam como o início de seu fim.

Depois da Flip, uma conversa interna avaliou transferir a gestão da premiação para o Polo Sociocultural Sesc Paraty e foi iniciado um estudo para reformular o edital. A mudança, segundo fontes ouvidas pelo Estadão, seria para que os organizadores tivessem mais controle do que seria premiado - evitando, assim, que livros como O Outono de Carne Estranha chegassem à final.

À frente do Prêmio Sesc desde sua criação, em 2003, Henrique Rodrigues, que organizou a programação da entidade na Flip, foi demitido assim que voltou de férias, em janeiro. Ele chegou a testemunhar as primeiras tentativas de mudar o prêmio e foi contra as alterações.

O Estadão apurou ainda que circulou uma correspondência oficial para todos as regionais do Sesc, que poderiam receber os premiados no Circuito dos Autores, alertando sobre conteúdo do livro Outono de Carne Estranha. Além disso, a realização do circuito também está incerta. Segundo a Record, o agendamento das viagens é feito entre janeiro e fevereiro, mas, até o início de março, os autores não haviam recebido nenhuma informação sobre a turnê.

Em entrevista ao Estadão, publicada em 5 de março, Janaína Cunha, diretora de Programas Sociais do Departamento Nacional do Sesc, afirmou que a lisura do prêmio será mantida, e confirmou que o regulamento passava por revisão e discussão. ENTENDA NA ÍNTEGRA AQUI.

Edital de 2024

O edital de 2024 foi divulgado nesta quinta, 21. A partir de agora, os livros vencedores serão publicados pela Editora Senac Rio. As inscrições abrem na segunda-feira, 25 de março, e vão até o dia 22 de abril. Como informado anteriormente, agora a premiação adiciona a categoria poesia.

Segundo o edital, “as obras inscritas serão analisadas por comissões julgadoras, constituídas exclusivamente para esta finalidade, de diferentes regiões do país, compostas por escritores, especialistas em literatura, jornalistas e críticos literários, selecionados em curadoria realizada por profissionais do Sesc”.

A entidade afirma que o anonimato dos jurados e dos autores será mantido. Os vencedores receberão um prêmio em dinheiro no valor de R$ 30 mil e terão seus livros publicados com uma tiragem inicial mínima de 2 mil exemplares.

Outono de Carne Estranha

Alguns dias após a reportagem publicada pelo Estadão, o romance Outono de Carne Estranha entrou para a lista de livros mais vendidos da Amazon no Brasil. A obra chegou ao Top 11 da plataforma na categoria de romances históricos.

Airton, professor de história natural de Marabá, no Pará, define o romance como um livro de denúncia sobre o que aconteceu no garimpo de Serra Pelada. Para ele, a história incomodou porque “o País é extremamente racista, homofóbico e machista”.

“Você coloca isso em debate com um romance como esse e coloca em xeque essas visões de mundo problemáticas que são, em primeiro lugar, criminosas, que promovem violência e mortes de homossexuais, mulheres, jovens negros, pessoas pobres”, disse. Leia mais aqui.

Além de Outono de Carne Estranha, o livro Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti de 2021, também movimentou um debate nacional sobre censura. O livro, que foi selecionado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), foi recolhido de escolas do Paraná e do Goiás. Saiba mais.

O Grupo Editorial Record e o Prêmio Sesc de Literatura encerraram a parceria após divergências com relação à edição de 2024. A editora já havia manifestado “extremo incômodo” no início de março, quando o Estadão revelou que indefinições, falta de diálogo, demissões e acusação de censura cercavam a tradicional premiação e colocavam em risco seu futuro.

A Record está junto com o Sesc desde a criação do prêmio literário, em 2003. Ela era responsável pela publicação dos livros vencedores. O comunicado foi feito pela editora ao Estadão nesta quinta, 21, depois de 20 anos de cooperação.

“Encerra-se um ciclo de 20 anos, do qual o grupo tem muito orgulho e que nos trouxe um elenco admirável de novas vozes brasileiras. Diante de divergências com relação a novos caminhos do prêmio, as duas partes decidiram interromper o seu acordo. Agradecemos ao Sesc pelos ótimos anos de parceria e desejamos sucesso à nova versão do prêmio”, diz o comunicado.

Em nota ao Estadão, o Prêmio Sesc afirmou que a troca de editora era um processo já discutido pela equipe responsável pela premiação. A finalidade, conforme o comunicado, seria “buscar novos modelos de divulgação para as obras e autores”. Leia completo:

“A troca de editora é um processo que já vinha sendo discutido pela equipe responsável pelo Prêmio Sesc de Literatura com a finalidade de buscar novos modelos de divulgação para as obras e autores, o que se tornou ainda mais premente em função da inclusão da categoria Poesia, no edital de 2024.

Os livros premiados em 2024 serão editados pela editora Senac Rio, instituição que publica obras de referência em todas as suas áreas de atuação. A Editora tem um forte compromisso com a cultura, a educação e o desenvolvimento.”

 Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O que é o Prêmio Sesc

O Prêmio Sesc de Literatura reconhece o trabalho de autores estreantes nos gêneros romance e contos. Uma comissão externa lê os originais e escolhe o melhor nas duas categorias. Até 2023, o livro era lançado pela Record e o Sesc Nacional organiza um circuito pelas unidades da instituição, o que ajuda na divulgação da obra e no encontro entre autores e leitores. Desde que foi criado, já revelou nomes como Rafael Gallo, mais recente vencedor do Prêmio José Saramago, Luisa Geisler e André de Leones.

Lembre o caso

Segundo o Estadão apurou, tudo começou numa noite de celebração, quando o escritor Airton Souza subiu ao palco de um evento comemorativo dos 20 anos do prêmio na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, ao lado de outros escritores premiados, e leu um trecho de seu romance de estreia, o recém-premiado e publicado Outono de Carne Estranha.

A obra conta a história de um relacionamento homoafetivo entre dois garimpeiros na Serra Pelada, no Pará, nos anos 1980. A partir do romance proibido, o autor narra a realidade do que foi o maior garimpo a céu aberto do mundo e mostra o preconceito e o poder do Estado no local.

Capa de 'Outono de carne estranha', vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2023, do escritor Airton Souza. Foto: Record/Divulgação

A leitura do trecho teria causado desconforto em dirigentes do Departamento Nacional do Sesc, que estavam na plateia. Enquanto o público ainda se preparava para deixar o local, funcionários teriam sido questionados sobre a decisão de fazer essa leitura em público. E o dia, que era para ter sido de festa, virou o que pessoas ligadas ao prêmio classificam como o início de seu fim.

Depois da Flip, uma conversa interna avaliou transferir a gestão da premiação para o Polo Sociocultural Sesc Paraty e foi iniciado um estudo para reformular o edital. A mudança, segundo fontes ouvidas pelo Estadão, seria para que os organizadores tivessem mais controle do que seria premiado - evitando, assim, que livros como O Outono de Carne Estranha chegassem à final.

À frente do Prêmio Sesc desde sua criação, em 2003, Henrique Rodrigues, que organizou a programação da entidade na Flip, foi demitido assim que voltou de férias, em janeiro. Ele chegou a testemunhar as primeiras tentativas de mudar o prêmio e foi contra as alterações.

O Estadão apurou ainda que circulou uma correspondência oficial para todos as regionais do Sesc, que poderiam receber os premiados no Circuito dos Autores, alertando sobre conteúdo do livro Outono de Carne Estranha. Além disso, a realização do circuito também está incerta. Segundo a Record, o agendamento das viagens é feito entre janeiro e fevereiro, mas, até o início de março, os autores não haviam recebido nenhuma informação sobre a turnê.

Em entrevista ao Estadão, publicada em 5 de março, Janaína Cunha, diretora de Programas Sociais do Departamento Nacional do Sesc, afirmou que a lisura do prêmio será mantida, e confirmou que o regulamento passava por revisão e discussão. ENTENDA NA ÍNTEGRA AQUI.

Edital de 2024

O edital de 2024 foi divulgado nesta quinta, 21. A partir de agora, os livros vencedores serão publicados pela Editora Senac Rio. As inscrições abrem na segunda-feira, 25 de março, e vão até o dia 22 de abril. Como informado anteriormente, agora a premiação adiciona a categoria poesia.

Segundo o edital, “as obras inscritas serão analisadas por comissões julgadoras, constituídas exclusivamente para esta finalidade, de diferentes regiões do país, compostas por escritores, especialistas em literatura, jornalistas e críticos literários, selecionados em curadoria realizada por profissionais do Sesc”.

A entidade afirma que o anonimato dos jurados e dos autores será mantido. Os vencedores receberão um prêmio em dinheiro no valor de R$ 30 mil e terão seus livros publicados com uma tiragem inicial mínima de 2 mil exemplares.

Outono de Carne Estranha

Alguns dias após a reportagem publicada pelo Estadão, o romance Outono de Carne Estranha entrou para a lista de livros mais vendidos da Amazon no Brasil. A obra chegou ao Top 11 da plataforma na categoria de romances históricos.

Airton, professor de história natural de Marabá, no Pará, define o romance como um livro de denúncia sobre o que aconteceu no garimpo de Serra Pelada. Para ele, a história incomodou porque “o País é extremamente racista, homofóbico e machista”.

“Você coloca isso em debate com um romance como esse e coloca em xeque essas visões de mundo problemáticas que são, em primeiro lugar, criminosas, que promovem violência e mortes de homossexuais, mulheres, jovens negros, pessoas pobres”, disse. Leia mais aqui.

Além de Outono de Carne Estranha, o livro Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti de 2021, também movimentou um debate nacional sobre censura. O livro, que foi selecionado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), foi recolhido de escolas do Paraná e do Goiás. Saiba mais.

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