‘Encontrei realização nos momentos de solitude da escrita’, diz Beth Goulart, que lança livro


A atriz e escritora autografa ‘O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas’ em São Paulo, prepara volta de peça sobre Clarice Lispector para o ano que vem e fala de novos caminhos: ‘Muita gente pensa que a vida acaba aos 60′; veja vídeo

Por Dirceu Alves Jr

Em um de seus ensaios mais famosos, Um Teto Todo Seu, a inglesa Virginia Woolf (1882-1941) prega que toda mulher precisaria de um espaço físico próprio e silencioso para exercer a vocação da escrita. A atriz Beth Goulart, de 63 anos, faz da bagagem adquirida em cinco décadas de uma carreira consolidada no teatro, na televisão e no cinema o seu teto e celebra a efeméride de forma surpreendente. Em vez de empreender um projeto artístico, ela aprofunda a ligação com a literatura e põe em prática ideias capazes de se conectarem com um público diverso.

O livro O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas (Editora Planeta, 160 págs., R$ 59,90) será lançado na quarta, 27, às 19h, na Livraria da Travessa de Pinheiros, em São Paulo. No dia 3 de dezembro, a sessão de autógrafos tem vez na unidade da mesma livraria, no Leblon, no Rio de Janeiro.

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É a segunda investida literária de Beth. A primeira, Viver é uma Arte: Transformando a Dor em Palavras, publicada em 2022, veio ancorada em considerações pessoais e artísticas como tentativa de enfrentar o luto da morte de seus pais, o ator Paulo Goulart (1933-2014) e a atriz Nicette Bruno (1933-2020). “Mesmo na maturidade, a perda de pai e mãe nos joga no vazio e me levou a uma interiorização profunda.”

Goulart foi derrotado por um câncer depois de uma batalha de quatro anos que, dentro do possível, preparou a família para o inevitável. A repentina partida de Nicette Bruno, vítima da covid-19, entretanto, foi um soco difícil de ter a dor amenizada. “As perdas fortaleceram a minha voz e me ajudaram a entender quem sou e a lidar com minhas escolhas”, reconhece Beth, que encontrou um inesperado acolhimento nas redes sociais. “Eu me senti consolada quando comecei a falar e escrever sobre minha mãe naquele momento de perdas coletivas e vi que passamos por um processo para chegar a um propósito.”

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Em O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas, Beth amplia o leque de questões sem perder o foco motivacional para si e para os outros. Em 30 extos curtos, a autora fala da artista que aprende diariamente com o seu ofício, de eternos recomeços, da passagem do tempo, da mãe que vira avó, dos avanços da tecnologia e da importância de ressaltar a individualidade sem virar as costas ao coletivo.

A atriz Beth Goulart prepara-se para lançar novo livro, 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

A menina que escrevia diários traz à tona as referências literárias, como os poetas Rumi (1207-1273) e Cora Coralina (1889-1985) e os romancistas Guimarães Rosa (1908-1967) e Clarice Lispector (1920-1977), e compartilha a importância dos livros em sua trajetória. “Na minha adolescência, a leitura caminhou junto com a escrita como um exercício de autoconfiança, de voltar para dentro e buscar quem eu era ou poderia ser”, afirma.

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As primeiras práticas de Beth com a elaboração de texto se deram pela dramaturgia teatral. Em 2002, a atriz investigou a obra de Nelson Rodrigues para criar o solo Doroteia Minha e, sete anos depois, tomou coragem para escrever sobre a autora que a acompanha desde a mocidade em Simplesmente Eu, Clarice Lispector. “Clarice me acendeu as luzes para a importância de perceber que, no processo literário, o pensamento vem depois da elaboração do sentimento”, diz. “E acho que, ao mergulhar em Nelson e Clarice, me senti capaz de me aprofundar em mim mesma.”

O monólogo Simplesmente Eu, Clarice Lispector volta ao cartaz em 2025, depois de um hiato de uma década. Na montagem, supervisionada pelo diretor Amir Haddad, Beth costura a biografia da autora e quatro de suas personagens, Joana, do romance Perto do Coração Selvagem; Ana, do conto Amor; Lóri, do romance Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres; e uma mulher sem nome extraída do conto Perdoando Deus. “Tem toda uma geração que não teve a chance de ver este trabalho, e Clarice conversa fortemente com a juventude de hoje”, justifica.

Entre suas transformações, Beth reconhece a importância da descoberta a carreira de escritora aos 60 anos e, lúcida, encara com naturalidade as mudanças do mercado audiovisual e o fim dos longos contratos na televisão. “Eu sempre procurei rotas alternativas, idealizei meus projetos e fui me preparando para este momento que virou uma realidade”, observa.

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A atriz viveu a maior parte da carreira televisiva na Rede Globo, mas também passou pela Tupi, Manchete e Bandeirantes. Entre 2011 e 2021, esteve vinculada à Record e, hoje, questiona o quanto valeria a pena voltar à rotina de um estúdio de televisão. “Encontrei realização nos momentos de solitude da escrita, que é de onde nascem as ideias e se manifestam minhas escolhas mais profundas”, diz.

Além da literatura, a atriz explora um próspero território para palestras e criação de conteúdo, inclusive no terreno digital, e percebeu que é possível chegar a pessoas que não são mais tão fiéis às novelas. “Aprendi a lidar com as ondas do mercado e busco alternativas para me manter conectada ao público”, afirma. “Muita gente acha que a vida acabou aos 60, mas existe um grande número de interessados em ouvir o que temos a dizer neste mundo em que se vive cada vez mais e com maior qualidade.”

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Beth Goulart reflete sobre o luto e outras questões em 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

Neste processo de gratidão ao tempo, Beth fala de Maria Luiza, sua neta de 8 anos, filha do seu único filho, João Gabriel, de 42. Pare ela, ser avó é uma sensação de continuidade, uma conexão sutil e transparente, em que a função não é educar, mas usufruir de todos os momentos. “Meu filho deixa claro que a minha responsabilidade não é a de criar Maria Luiza, mas de estabelecer uma relação de afinidade que seja só nossa”, declara.

Beth se lembra de ter nutrido uma parceria forte com a avó materna, a atriz Eleonor Bruno (1913-2004), e que deve a ela boa parte da construção de sua identidade. “É curioso que minha mãe interferiu mais na minha formação como atriz e a minha avó me estimulou para a vida”, conta.

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Dando sequência a uma tradição familiar, Maria Luiza já estuda teatro e, para a surpresa da avó, puxou assunto outro dia sobre as tragédias gregas. “Só deixo bem claro para meu filho que o mundo está diferente e mais complexo”, ressalta. “É claro que vamos apoiá-la no caminho que for, mas precisamos criar oportunidades para que ela conheça de tudo um pouco antes de fazer uma escolha profissional.”

O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas

  • Autora: Beth Goulart
  • Editora: Planeta (160 págs.; R$ 59,90; R$ 39,90 o e-book
  • Lançamento: 27/11, 19h, na Livraria da Travessa (Rua dos Pinheiros, 513, Pinheiros). Sessão de autógrafos e debate com autora e o médico-gerontólogo Alexandre Kalache mediado pela jornalista Petria Chaves

Em um de seus ensaios mais famosos, Um Teto Todo Seu, a inglesa Virginia Woolf (1882-1941) prega que toda mulher precisaria de um espaço físico próprio e silencioso para exercer a vocação da escrita. A atriz Beth Goulart, de 63 anos, faz da bagagem adquirida em cinco décadas de uma carreira consolidada no teatro, na televisão e no cinema o seu teto e celebra a efeméride de forma surpreendente. Em vez de empreender um projeto artístico, ela aprofunda a ligação com a literatura e põe em prática ideias capazes de se conectarem com um público diverso.

O livro O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas (Editora Planeta, 160 págs., R$ 59,90) será lançado na quarta, 27, às 19h, na Livraria da Travessa de Pinheiros, em São Paulo. No dia 3 de dezembro, a sessão de autógrafos tem vez na unidade da mesma livraria, no Leblon, no Rio de Janeiro.

É a segunda investida literária de Beth. A primeira, Viver é uma Arte: Transformando a Dor em Palavras, publicada em 2022, veio ancorada em considerações pessoais e artísticas como tentativa de enfrentar o luto da morte de seus pais, o ator Paulo Goulart (1933-2014) e a atriz Nicette Bruno (1933-2020). “Mesmo na maturidade, a perda de pai e mãe nos joga no vazio e me levou a uma interiorização profunda.”

Goulart foi derrotado por um câncer depois de uma batalha de quatro anos que, dentro do possível, preparou a família para o inevitável. A repentina partida de Nicette Bruno, vítima da covid-19, entretanto, foi um soco difícil de ter a dor amenizada. “As perdas fortaleceram a minha voz e me ajudaram a entender quem sou e a lidar com minhas escolhas”, reconhece Beth, que encontrou um inesperado acolhimento nas redes sociais. “Eu me senti consolada quando comecei a falar e escrever sobre minha mãe naquele momento de perdas coletivas e vi que passamos por um processo para chegar a um propósito.”

Em O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas, Beth amplia o leque de questões sem perder o foco motivacional para si e para os outros. Em 30 extos curtos, a autora fala da artista que aprende diariamente com o seu ofício, de eternos recomeços, da passagem do tempo, da mãe que vira avó, dos avanços da tecnologia e da importância de ressaltar a individualidade sem virar as costas ao coletivo.

A atriz Beth Goulart prepara-se para lançar novo livro, 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

A menina que escrevia diários traz à tona as referências literárias, como os poetas Rumi (1207-1273) e Cora Coralina (1889-1985) e os romancistas Guimarães Rosa (1908-1967) e Clarice Lispector (1920-1977), e compartilha a importância dos livros em sua trajetória. “Na minha adolescência, a leitura caminhou junto com a escrita como um exercício de autoconfiança, de voltar para dentro e buscar quem eu era ou poderia ser”, afirma.

As primeiras práticas de Beth com a elaboração de texto se deram pela dramaturgia teatral. Em 2002, a atriz investigou a obra de Nelson Rodrigues para criar o solo Doroteia Minha e, sete anos depois, tomou coragem para escrever sobre a autora que a acompanha desde a mocidade em Simplesmente Eu, Clarice Lispector. “Clarice me acendeu as luzes para a importância de perceber que, no processo literário, o pensamento vem depois da elaboração do sentimento”, diz. “E acho que, ao mergulhar em Nelson e Clarice, me senti capaz de me aprofundar em mim mesma.”

O monólogo Simplesmente Eu, Clarice Lispector volta ao cartaz em 2025, depois de um hiato de uma década. Na montagem, supervisionada pelo diretor Amir Haddad, Beth costura a biografia da autora e quatro de suas personagens, Joana, do romance Perto do Coração Selvagem; Ana, do conto Amor; Lóri, do romance Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres; e uma mulher sem nome extraída do conto Perdoando Deus. “Tem toda uma geração que não teve a chance de ver este trabalho, e Clarice conversa fortemente com a juventude de hoje”, justifica.

Entre suas transformações, Beth reconhece a importância da descoberta a carreira de escritora aos 60 anos e, lúcida, encara com naturalidade as mudanças do mercado audiovisual e o fim dos longos contratos na televisão. “Eu sempre procurei rotas alternativas, idealizei meus projetos e fui me preparando para este momento que virou uma realidade”, observa.

A atriz viveu a maior parte da carreira televisiva na Rede Globo, mas também passou pela Tupi, Manchete e Bandeirantes. Entre 2011 e 2021, esteve vinculada à Record e, hoje, questiona o quanto valeria a pena voltar à rotina de um estúdio de televisão. “Encontrei realização nos momentos de solitude da escrita, que é de onde nascem as ideias e se manifestam minhas escolhas mais profundas”, diz.

Além da literatura, a atriz explora um próspero território para palestras e criação de conteúdo, inclusive no terreno digital, e percebeu que é possível chegar a pessoas que não são mais tão fiéis às novelas. “Aprendi a lidar com as ondas do mercado e busco alternativas para me manter conectada ao público”, afirma. “Muita gente acha que a vida acabou aos 60, mas existe um grande número de interessados em ouvir o que temos a dizer neste mundo em que se vive cada vez mais e com maior qualidade.”

Beth Goulart reflete sobre o luto e outras questões em 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

Neste processo de gratidão ao tempo, Beth fala de Maria Luiza, sua neta de 8 anos, filha do seu único filho, João Gabriel, de 42. Pare ela, ser avó é uma sensação de continuidade, uma conexão sutil e transparente, em que a função não é educar, mas usufruir de todos os momentos. “Meu filho deixa claro que a minha responsabilidade não é a de criar Maria Luiza, mas de estabelecer uma relação de afinidade que seja só nossa”, declara.

Beth se lembra de ter nutrido uma parceria forte com a avó materna, a atriz Eleonor Bruno (1913-2004), e que deve a ela boa parte da construção de sua identidade. “É curioso que minha mãe interferiu mais na minha formação como atriz e a minha avó me estimulou para a vida”, conta.

Dando sequência a uma tradição familiar, Maria Luiza já estuda teatro e, para a surpresa da avó, puxou assunto outro dia sobre as tragédias gregas. “Só deixo bem claro para meu filho que o mundo está diferente e mais complexo”, ressalta. “É claro que vamos apoiá-la no caminho que for, mas precisamos criar oportunidades para que ela conheça de tudo um pouco antes de fazer uma escolha profissional.”

O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas

  • Autora: Beth Goulart
  • Editora: Planeta (160 págs.; R$ 59,90; R$ 39,90 o e-book
  • Lançamento: 27/11, 19h, na Livraria da Travessa (Rua dos Pinheiros, 513, Pinheiros). Sessão de autógrafos e debate com autora e o médico-gerontólogo Alexandre Kalache mediado pela jornalista Petria Chaves

Em um de seus ensaios mais famosos, Um Teto Todo Seu, a inglesa Virginia Woolf (1882-1941) prega que toda mulher precisaria de um espaço físico próprio e silencioso para exercer a vocação da escrita. A atriz Beth Goulart, de 63 anos, faz da bagagem adquirida em cinco décadas de uma carreira consolidada no teatro, na televisão e no cinema o seu teto e celebra a efeméride de forma surpreendente. Em vez de empreender um projeto artístico, ela aprofunda a ligação com a literatura e põe em prática ideias capazes de se conectarem com um público diverso.

O livro O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas (Editora Planeta, 160 págs., R$ 59,90) será lançado na quarta, 27, às 19h, na Livraria da Travessa de Pinheiros, em São Paulo. No dia 3 de dezembro, a sessão de autógrafos tem vez na unidade da mesma livraria, no Leblon, no Rio de Janeiro.

É a segunda investida literária de Beth. A primeira, Viver é uma Arte: Transformando a Dor em Palavras, publicada em 2022, veio ancorada em considerações pessoais e artísticas como tentativa de enfrentar o luto da morte de seus pais, o ator Paulo Goulart (1933-2014) e a atriz Nicette Bruno (1933-2020). “Mesmo na maturidade, a perda de pai e mãe nos joga no vazio e me levou a uma interiorização profunda.”

Goulart foi derrotado por um câncer depois de uma batalha de quatro anos que, dentro do possível, preparou a família para o inevitável. A repentina partida de Nicette Bruno, vítima da covid-19, entretanto, foi um soco difícil de ter a dor amenizada. “As perdas fortaleceram a minha voz e me ajudaram a entender quem sou e a lidar com minhas escolhas”, reconhece Beth, que encontrou um inesperado acolhimento nas redes sociais. “Eu me senti consolada quando comecei a falar e escrever sobre minha mãe naquele momento de perdas coletivas e vi que passamos por um processo para chegar a um propósito.”

Em O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas, Beth amplia o leque de questões sem perder o foco motivacional para si e para os outros. Em 30 extos curtos, a autora fala da artista que aprende diariamente com o seu ofício, de eternos recomeços, da passagem do tempo, da mãe que vira avó, dos avanços da tecnologia e da importância de ressaltar a individualidade sem virar as costas ao coletivo.

A atriz Beth Goulart prepara-se para lançar novo livro, 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

A menina que escrevia diários traz à tona as referências literárias, como os poetas Rumi (1207-1273) e Cora Coralina (1889-1985) e os romancistas Guimarães Rosa (1908-1967) e Clarice Lispector (1920-1977), e compartilha a importância dos livros em sua trajetória. “Na minha adolescência, a leitura caminhou junto com a escrita como um exercício de autoconfiança, de voltar para dentro e buscar quem eu era ou poderia ser”, afirma.

As primeiras práticas de Beth com a elaboração de texto se deram pela dramaturgia teatral. Em 2002, a atriz investigou a obra de Nelson Rodrigues para criar o solo Doroteia Minha e, sete anos depois, tomou coragem para escrever sobre a autora que a acompanha desde a mocidade em Simplesmente Eu, Clarice Lispector. “Clarice me acendeu as luzes para a importância de perceber que, no processo literário, o pensamento vem depois da elaboração do sentimento”, diz. “E acho que, ao mergulhar em Nelson e Clarice, me senti capaz de me aprofundar em mim mesma.”

O monólogo Simplesmente Eu, Clarice Lispector volta ao cartaz em 2025, depois de um hiato de uma década. Na montagem, supervisionada pelo diretor Amir Haddad, Beth costura a biografia da autora e quatro de suas personagens, Joana, do romance Perto do Coração Selvagem; Ana, do conto Amor; Lóri, do romance Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres; e uma mulher sem nome extraída do conto Perdoando Deus. “Tem toda uma geração que não teve a chance de ver este trabalho, e Clarice conversa fortemente com a juventude de hoje”, justifica.

Entre suas transformações, Beth reconhece a importância da descoberta a carreira de escritora aos 60 anos e, lúcida, encara com naturalidade as mudanças do mercado audiovisual e o fim dos longos contratos na televisão. “Eu sempre procurei rotas alternativas, idealizei meus projetos e fui me preparando para este momento que virou uma realidade”, observa.

A atriz viveu a maior parte da carreira televisiva na Rede Globo, mas também passou pela Tupi, Manchete e Bandeirantes. Entre 2011 e 2021, esteve vinculada à Record e, hoje, questiona o quanto valeria a pena voltar à rotina de um estúdio de televisão. “Encontrei realização nos momentos de solitude da escrita, que é de onde nascem as ideias e se manifestam minhas escolhas mais profundas”, diz.

Além da literatura, a atriz explora um próspero território para palestras e criação de conteúdo, inclusive no terreno digital, e percebeu que é possível chegar a pessoas que não são mais tão fiéis às novelas. “Aprendi a lidar com as ondas do mercado e busco alternativas para me manter conectada ao público”, afirma. “Muita gente acha que a vida acabou aos 60, mas existe um grande número de interessados em ouvir o que temos a dizer neste mundo em que se vive cada vez mais e com maior qualidade.”

Beth Goulart reflete sobre o luto e outras questões em 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

Neste processo de gratidão ao tempo, Beth fala de Maria Luiza, sua neta de 8 anos, filha do seu único filho, João Gabriel, de 42. Pare ela, ser avó é uma sensação de continuidade, uma conexão sutil e transparente, em que a função não é educar, mas usufruir de todos os momentos. “Meu filho deixa claro que a minha responsabilidade não é a de criar Maria Luiza, mas de estabelecer uma relação de afinidade que seja só nossa”, declara.

Beth se lembra de ter nutrido uma parceria forte com a avó materna, a atriz Eleonor Bruno (1913-2004), e que deve a ela boa parte da construção de sua identidade. “É curioso que minha mãe interferiu mais na minha formação como atriz e a minha avó me estimulou para a vida”, conta.

Dando sequência a uma tradição familiar, Maria Luiza já estuda teatro e, para a surpresa da avó, puxou assunto outro dia sobre as tragédias gregas. “Só deixo bem claro para meu filho que o mundo está diferente e mais complexo”, ressalta. “É claro que vamos apoiá-la no caminho que for, mas precisamos criar oportunidades para que ela conheça de tudo um pouco antes de fazer uma escolha profissional.”

O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas

  • Autora: Beth Goulart
  • Editora: Planeta (160 págs.; R$ 59,90; R$ 39,90 o e-book
  • Lançamento: 27/11, 19h, na Livraria da Travessa (Rua dos Pinheiros, 513, Pinheiros). Sessão de autógrafos e debate com autora e o médico-gerontólogo Alexandre Kalache mediado pela jornalista Petria Chaves

Em um de seus ensaios mais famosos, Um Teto Todo Seu, a inglesa Virginia Woolf (1882-1941) prega que toda mulher precisaria de um espaço físico próprio e silencioso para exercer a vocação da escrita. A atriz Beth Goulart, de 63 anos, faz da bagagem adquirida em cinco décadas de uma carreira consolidada no teatro, na televisão e no cinema o seu teto e celebra a efeméride de forma surpreendente. Em vez de empreender um projeto artístico, ela aprofunda a ligação com a literatura e põe em prática ideias capazes de se conectarem com um público diverso.

O livro O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas (Editora Planeta, 160 págs., R$ 59,90) será lançado na quarta, 27, às 19h, na Livraria da Travessa de Pinheiros, em São Paulo. No dia 3 de dezembro, a sessão de autógrafos tem vez na unidade da mesma livraria, no Leblon, no Rio de Janeiro.

É a segunda investida literária de Beth. A primeira, Viver é uma Arte: Transformando a Dor em Palavras, publicada em 2022, veio ancorada em considerações pessoais e artísticas como tentativa de enfrentar o luto da morte de seus pais, o ator Paulo Goulart (1933-2014) e a atriz Nicette Bruno (1933-2020). “Mesmo na maturidade, a perda de pai e mãe nos joga no vazio e me levou a uma interiorização profunda.”

Goulart foi derrotado por um câncer depois de uma batalha de quatro anos que, dentro do possível, preparou a família para o inevitável. A repentina partida de Nicette Bruno, vítima da covid-19, entretanto, foi um soco difícil de ter a dor amenizada. “As perdas fortaleceram a minha voz e me ajudaram a entender quem sou e a lidar com minhas escolhas”, reconhece Beth, que encontrou um inesperado acolhimento nas redes sociais. “Eu me senti consolada quando comecei a falar e escrever sobre minha mãe naquele momento de perdas coletivas e vi que passamos por um processo para chegar a um propósito.”

Em O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas, Beth amplia o leque de questões sem perder o foco motivacional para si e para os outros. Em 30 extos curtos, a autora fala da artista que aprende diariamente com o seu ofício, de eternos recomeços, da passagem do tempo, da mãe que vira avó, dos avanços da tecnologia e da importância de ressaltar a individualidade sem virar as costas ao coletivo.

A atriz Beth Goulart prepara-se para lançar novo livro, 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

A menina que escrevia diários traz à tona as referências literárias, como os poetas Rumi (1207-1273) e Cora Coralina (1889-1985) e os romancistas Guimarães Rosa (1908-1967) e Clarice Lispector (1920-1977), e compartilha a importância dos livros em sua trajetória. “Na minha adolescência, a leitura caminhou junto com a escrita como um exercício de autoconfiança, de voltar para dentro e buscar quem eu era ou poderia ser”, afirma.

As primeiras práticas de Beth com a elaboração de texto se deram pela dramaturgia teatral. Em 2002, a atriz investigou a obra de Nelson Rodrigues para criar o solo Doroteia Minha e, sete anos depois, tomou coragem para escrever sobre a autora que a acompanha desde a mocidade em Simplesmente Eu, Clarice Lispector. “Clarice me acendeu as luzes para a importância de perceber que, no processo literário, o pensamento vem depois da elaboração do sentimento”, diz. “E acho que, ao mergulhar em Nelson e Clarice, me senti capaz de me aprofundar em mim mesma.”

O monólogo Simplesmente Eu, Clarice Lispector volta ao cartaz em 2025, depois de um hiato de uma década. Na montagem, supervisionada pelo diretor Amir Haddad, Beth costura a biografia da autora e quatro de suas personagens, Joana, do romance Perto do Coração Selvagem; Ana, do conto Amor; Lóri, do romance Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres; e uma mulher sem nome extraída do conto Perdoando Deus. “Tem toda uma geração que não teve a chance de ver este trabalho, e Clarice conversa fortemente com a juventude de hoje”, justifica.

Entre suas transformações, Beth reconhece a importância da descoberta a carreira de escritora aos 60 anos e, lúcida, encara com naturalidade as mudanças do mercado audiovisual e o fim dos longos contratos na televisão. “Eu sempre procurei rotas alternativas, idealizei meus projetos e fui me preparando para este momento que virou uma realidade”, observa.

A atriz viveu a maior parte da carreira televisiva na Rede Globo, mas também passou pela Tupi, Manchete e Bandeirantes. Entre 2011 e 2021, esteve vinculada à Record e, hoje, questiona o quanto valeria a pena voltar à rotina de um estúdio de televisão. “Encontrei realização nos momentos de solitude da escrita, que é de onde nascem as ideias e se manifestam minhas escolhas mais profundas”, diz.

Além da literatura, a atriz explora um próspero território para palestras e criação de conteúdo, inclusive no terreno digital, e percebeu que é possível chegar a pessoas que não são mais tão fiéis às novelas. “Aprendi a lidar com as ondas do mercado e busco alternativas para me manter conectada ao público”, afirma. “Muita gente acha que a vida acabou aos 60, mas existe um grande número de interessados em ouvir o que temos a dizer neste mundo em que se vive cada vez mais e com maior qualidade.”

Beth Goulart reflete sobre o luto e outras questões em 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

Neste processo de gratidão ao tempo, Beth fala de Maria Luiza, sua neta de 8 anos, filha do seu único filho, João Gabriel, de 42. Pare ela, ser avó é uma sensação de continuidade, uma conexão sutil e transparente, em que a função não é educar, mas usufruir de todos os momentos. “Meu filho deixa claro que a minha responsabilidade não é a de criar Maria Luiza, mas de estabelecer uma relação de afinidade que seja só nossa”, declara.

Beth se lembra de ter nutrido uma parceria forte com a avó materna, a atriz Eleonor Bruno (1913-2004), e que deve a ela boa parte da construção de sua identidade. “É curioso que minha mãe interferiu mais na minha formação como atriz e a minha avó me estimulou para a vida”, conta.

Dando sequência a uma tradição familiar, Maria Luiza já estuda teatro e, para a surpresa da avó, puxou assunto outro dia sobre as tragédias gregas. “Só deixo bem claro para meu filho que o mundo está diferente e mais complexo”, ressalta. “É claro que vamos apoiá-la no caminho que for, mas precisamos criar oportunidades para que ela conheça de tudo um pouco antes de fazer uma escolha profissional.”

O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas

  • Autora: Beth Goulart
  • Editora: Planeta (160 págs.; R$ 59,90; R$ 39,90 o e-book
  • Lançamento: 27/11, 19h, na Livraria da Travessa (Rua dos Pinheiros, 513, Pinheiros). Sessão de autógrafos e debate com autora e o médico-gerontólogo Alexandre Kalache mediado pela jornalista Petria Chaves

Em um de seus ensaios mais famosos, Um Teto Todo Seu, a inglesa Virginia Woolf (1882-1941) prega que toda mulher precisaria de um espaço físico próprio e silencioso para exercer a vocação da escrita. A atriz Beth Goulart, de 63 anos, faz da bagagem adquirida em cinco décadas de uma carreira consolidada no teatro, na televisão e no cinema o seu teto e celebra a efeméride de forma surpreendente. Em vez de empreender um projeto artístico, ela aprofunda a ligação com a literatura e põe em prática ideias capazes de se conectarem com um público diverso.

O livro O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas (Editora Planeta, 160 págs., R$ 59,90) será lançado na quarta, 27, às 19h, na Livraria da Travessa de Pinheiros, em São Paulo. No dia 3 de dezembro, a sessão de autógrafos tem vez na unidade da mesma livraria, no Leblon, no Rio de Janeiro.

É a segunda investida literária de Beth. A primeira, Viver é uma Arte: Transformando a Dor em Palavras, publicada em 2022, veio ancorada em considerações pessoais e artísticas como tentativa de enfrentar o luto da morte de seus pais, o ator Paulo Goulart (1933-2014) e a atriz Nicette Bruno (1933-2020). “Mesmo na maturidade, a perda de pai e mãe nos joga no vazio e me levou a uma interiorização profunda.”

Goulart foi derrotado por um câncer depois de uma batalha de quatro anos que, dentro do possível, preparou a família para o inevitável. A repentina partida de Nicette Bruno, vítima da covid-19, entretanto, foi um soco difícil de ter a dor amenizada. “As perdas fortaleceram a minha voz e me ajudaram a entender quem sou e a lidar com minhas escolhas”, reconhece Beth, que encontrou um inesperado acolhimento nas redes sociais. “Eu me senti consolada quando comecei a falar e escrever sobre minha mãe naquele momento de perdas coletivas e vi que passamos por um processo para chegar a um propósito.”

Em O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas, Beth amplia o leque de questões sem perder o foco motivacional para si e para os outros. Em 30 extos curtos, a autora fala da artista que aprende diariamente com o seu ofício, de eternos recomeços, da passagem do tempo, da mãe que vira avó, dos avanços da tecnologia e da importância de ressaltar a individualidade sem virar as costas ao coletivo.

A atriz Beth Goulart prepara-se para lançar novo livro, 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

A menina que escrevia diários traz à tona as referências literárias, como os poetas Rumi (1207-1273) e Cora Coralina (1889-1985) e os romancistas Guimarães Rosa (1908-1967) e Clarice Lispector (1920-1977), e compartilha a importância dos livros em sua trajetória. “Na minha adolescência, a leitura caminhou junto com a escrita como um exercício de autoconfiança, de voltar para dentro e buscar quem eu era ou poderia ser”, afirma.

As primeiras práticas de Beth com a elaboração de texto se deram pela dramaturgia teatral. Em 2002, a atriz investigou a obra de Nelson Rodrigues para criar o solo Doroteia Minha e, sete anos depois, tomou coragem para escrever sobre a autora que a acompanha desde a mocidade em Simplesmente Eu, Clarice Lispector. “Clarice me acendeu as luzes para a importância de perceber que, no processo literário, o pensamento vem depois da elaboração do sentimento”, diz. “E acho que, ao mergulhar em Nelson e Clarice, me senti capaz de me aprofundar em mim mesma.”

O monólogo Simplesmente Eu, Clarice Lispector volta ao cartaz em 2025, depois de um hiato de uma década. Na montagem, supervisionada pelo diretor Amir Haddad, Beth costura a biografia da autora e quatro de suas personagens, Joana, do romance Perto do Coração Selvagem; Ana, do conto Amor; Lóri, do romance Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres; e uma mulher sem nome extraída do conto Perdoando Deus. “Tem toda uma geração que não teve a chance de ver este trabalho, e Clarice conversa fortemente com a juventude de hoje”, justifica.

Entre suas transformações, Beth reconhece a importância da descoberta a carreira de escritora aos 60 anos e, lúcida, encara com naturalidade as mudanças do mercado audiovisual e o fim dos longos contratos na televisão. “Eu sempre procurei rotas alternativas, idealizei meus projetos e fui me preparando para este momento que virou uma realidade”, observa.

A atriz viveu a maior parte da carreira televisiva na Rede Globo, mas também passou pela Tupi, Manchete e Bandeirantes. Entre 2011 e 2021, esteve vinculada à Record e, hoje, questiona o quanto valeria a pena voltar à rotina de um estúdio de televisão. “Encontrei realização nos momentos de solitude da escrita, que é de onde nascem as ideias e se manifestam minhas escolhas mais profundas”, diz.

Além da literatura, a atriz explora um próspero território para palestras e criação de conteúdo, inclusive no terreno digital, e percebeu que é possível chegar a pessoas que não são mais tão fiéis às novelas. “Aprendi a lidar com as ondas do mercado e busco alternativas para me manter conectada ao público”, afirma. “Muita gente acha que a vida acabou aos 60, mas existe um grande número de interessados em ouvir o que temos a dizer neste mundo em que se vive cada vez mais e com maior qualidade.”

Beth Goulart reflete sobre o luto e outras questões em 'O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas' Foto: Felipe Rau/Estadão

Neste processo de gratidão ao tempo, Beth fala de Maria Luiza, sua neta de 8 anos, filha do seu único filho, João Gabriel, de 42. Pare ela, ser avó é uma sensação de continuidade, uma conexão sutil e transparente, em que a função não é educar, mas usufruir de todos os momentos. “Meu filho deixa claro que a minha responsabilidade não é a de criar Maria Luiza, mas de estabelecer uma relação de afinidade que seja só nossa”, declara.

Beth se lembra de ter nutrido uma parceria forte com a avó materna, a atriz Eleonor Bruno (1913-2004), e que deve a ela boa parte da construção de sua identidade. “É curioso que minha mãe interferiu mais na minha formação como atriz e a minha avó me estimulou para a vida”, conta.

Dando sequência a uma tradição familiar, Maria Luiza já estuda teatro e, para a surpresa da avó, puxou assunto outro dia sobre as tragédias gregas. “Só deixo bem claro para meu filho que o mundo está diferente e mais complexo”, ressalta. “É claro que vamos apoiá-la no caminho que for, mas precisamos criar oportunidades para que ela conheça de tudo um pouco antes de fazer uma escolha profissional.”

O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas

  • Autora: Beth Goulart
  • Editora: Planeta (160 págs.; R$ 59,90; R$ 39,90 o e-book
  • Lançamento: 27/11, 19h, na Livraria da Travessa (Rua dos Pinheiros, 513, Pinheiros). Sessão de autógrafos e debate com autora e o médico-gerontólogo Alexandre Kalache mediado pela jornalista Petria Chaves

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