Escritores brasileiros ainda não confiam na plataforma ChatGPT como auxílio para a escrita


Seis autores ouvidos pelo ‘Estadão’ não acreditam que ferramenta que gera textos possa substituir a criatividade humana na ficção

Por Ubiratan Brasil

O mundo da tecnologia acompanha, curioso, os novos sistemas alimentados por inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, ferramenta capaz de gerar textos coerentes sobre diversos assuntos - há quem use o ChatGPT para resolver tarefas complexas, como programar softwares, elaborar propostas de negócios e até escrever ficção. “Nesse terreno, porém, não vejo utilidade nenhuma em um robô”, contesta Cristóvão Tezza, autor do premiado O Filho Eterno. “Um texto literário verdadeiramente forte não será nunca resultado de uma conjugação mecânico-linguística de algoritmos, mas sim obra de uma pessoa, e é só por isso que pode ser forte e bom.”

O escritor Cristóvão Tezza, que testou a ferramenta e não a aprovou Foto: Editora Todavia

Tezza encabeça uma lista de autores consultados pelo Estadão sobre a eficiência do ChatGPT. Praticamente todos, embora impressionados pela precisão na produção, revisão e tradução de diferentes tipos de textos, não veem o ChatGPT como auxiliar no trabalho porque não é capaz (ainda) de suplantar a sensibilidade humana. “Os escritores literários não têm o que temer, pois o texto da ferramenta é frio, anódino. Pode até impactar o mercado de trabalho, mas não acredito que os escritores de literatura serão os mais atingidos”, aposta Rodrigo Lacerda, também editor executivo do Grupo Editorial Record.

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Ele testou a opção gratuita da ferramenta e ficou impressionado. “Vislumbro um uso mais útil para a pesquisa”, acredita. “Afinal, quando se busca uma resposta sobre um determinado assunto, o Google oferece toneladas de sites e páginas até esbarrar na resposta exata que você está querendo, enquanto no ChatGPT, ao se fazer uma pergunta precisa, a ferramenta te leva direto ao detalhe que se está buscando.”

O escritor Rodrigo Lacerda, também editor-executivo do Grupo Record Foto: Taba Benedicto / Estadão

Há quem utilize, porém, a ferramenta não apenas como fonte de pesquisa. “Testei o aplicativo recentemente para minha escrita”, conta Tobias Carvalho, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. “Eu estava em dúvida sobre como concluir uma cena e pedi algumas sugestões. Pelo que entendi, o GPT usa de uma enorme base de dados, alimentada pelas pessoas, e cria algo semelhante ao que a gente diria. Pode ser bem útil como desbloqueador criativo, mas só imagino que, passando um pouco dos limites com o software, o autor pode ficar tentado a plagiar ideias - o que é engraçado porque, afinal, a quem pertence uma ideia criada por IA?”

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O escritor de romances policiais Raphael Montes ainda não se interessou pelo ChatGPT Foto: Victor Prata Viera

Carvalho conta que acatou a sugestão oferecida pela ferramenta e a adaptou ao seu trabalho - algo, por ora, impensável para Raphael Montes, um dos principais autores de romance policial no Brasil. “Escrever literatura não tem nada a ver com enfileirar palavras”, observa. “A força da narrativa nasce da sugestão, do não-dito, das entrelinhas, das nuances dos personagens. Acho que a ferramenta não faz nada disso.”

Para a escritora e psicoterapeuta Natalia Timerman, autora de Copo Vazio, a questão é mais ampla e antiga. “Sabemos que, de muitas formas, mesmo antes do ChatGPT, o impacto já começou”, disse. “Nossa capacidade de concentração, raciocínio, interesses e até a nossa maneira de se relacionar já foram profundamente modificados pela internet, pelas redes sociais, pelos algoritmos. E isso interfere na nossa capacidade e no nosso jeito de ler e de escrever.”

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A escritora Natalia Timerman vê o problema do ChatGPT como algo mais complexo e antigo Foto: Renato Parada

E há quem tenha descoberto outra função para a ferramenta. “Sei que, muitas vezes, as respostas são imprecisas e até mesmo erradas - o que, particularmente, me diverte”, conta Veronica Stigger.

A escritora Veronica Stigger ainda não testou também o ChatGPT  Foto: Ed Viggiani / Estadão
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Teste reprovado

O Estadão testou o serviço oferecido pela ferramenta ChatGPT para comparar o resultado com a percepção dos escritores. E, de fato, o aplicativo não conseguiu reproduzir a essência dos autores selecionados.

Foi feito o seguinte pedido: escreva um texto sobre os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras como se fosse Rubem Fonseca, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector. No primeiro momento, a ferramenta se defendeu: “Como uma IA de linguagem, não posso falar por Rubem Fonseca ou presumir como ele abordaria um assunto específico. No entanto, posso oferecer algumas possíveis perspectivas com base em seu estilo e temas comuns em sua escrita”. Em seguida, o ChatGPT apresentou um breve resumo do estilo de Fonseca - o mesmo aconteceu nas solicitações à escrita à maneira de Drummond e Clarice.

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Já a escrita dos três textos pouco faz lembrar aqueles escritores. Autor de contos com um estilo ácido, ambíguo, seco, violento e bruto, Fonseca foi representado por texto argumentativo: “Não há dúvida de que vivemos em um país violento e desigual, onde a pobreza e a falta de oportunidades afetam milhões de pessoas. Mas isso não justifica a brutalidade que estamos testemunhando nas escolas brasileiras. Os jovens que atacam seus colegas e professores não são apenas vítimas da sociedade, eles são também agentes da violência, perpetuando o círculo vicioso que nos assola”.

Não menos distante está a poesia criada pelo ChatGPT à Drummond, cujos versos, além de sensíveis, são reflexivos: “A escola é o lugar onde sonhamos. / O lugar onde plantamos as sementes da sabedoria, / e onde buscamos crescer juntos, aprender juntos”.

Finalmente, a prosa intimista de Clarice se confunde com a de Fonseca: “Os professores são verdadeiros heróis que dedicam suas vidas a transmitir conhecimento, a estimular a criatividade e a formar cidadãos responsáveis. Mas como podemos exigir que eles cumpram essa nobre missão em meio ao medo e à insegurança?”.

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Confirma, assim, uma observação feita pelo escritor Tobias Carvalho: “Isso nos ajuda a discutir sobre o processo da criação”. Leia os textos na íntegra

O escritor Tobias Carvalho gostou de uma sugestão feita pelo ChatGPT  Foto: Valeria Gonçalvez / Estadão

Como Rubem Fonseca

O Brasil é um país violento. Infelizmente, a violência não escolhe local ou vítima, e temos assistido com crescente preocupação aos ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras. Essa é uma realidade brutal que não podemos ignorar.

Esses ataques não são um fenômeno novo. A violência nas escolas é uma consequência direta da desigualdade social e da falta de investimento em educação. Quando a educação não é valorizada, quando os professores são mal pagos e desrespeitados, quando as escolas estão em estado precário, é inevitável que ocorram atos de violência.

Os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras são uma manifestação da violência que permeia toda a sociedade. Nós vivemos em uma cultura que celebra a força bruta e a violência como formas de resolução de conflitos. E essa cultura é alimentada por um sistema que favorece os mais ricos e poderosos, deixando os mais pobres e vulneráveis à mercê da violência.

O escritor Autor Rubem Fonseca  Foto: Zeca Fonseca

A violência nas escolas é um problema complexo, que requer soluções igualmente complexas. Não há uma solução única ou fácil para esse problema. Mas uma coisa é certa: precisamos valorizar a educação. Precisamos investir em escolas e em professores, dando-lhes os recursos e o respeito que merecem. Precisamos ensinar nossos jovens que a violência não é a resposta, e que a resolução de conflitos deve ser feita de forma pacífica e justa.

Enquanto a violência continuar a ser uma realidade em nossa sociedade, infelizmente, os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras continuarão a acontecer. Mas se começarmos a valorizar a educação e a buscar soluções para a desigualdade social, podemos, aos poucos, mudar essa realidade. É hora de agir, antes que mais vidas sejam perdidas.

Como Clarice Lispector

Tudo é um grande mistério. As escolas, que deveriam ser o refúgio seguro para os estudantes e professores, agora se tornam palcos de violência e medo. É difícil compreender o que leva alguém a atacar um outro ser humano, especialmente aqueles que se dedicam a transmitir conhecimento e inspirar jovens mentes a buscar a sabedoria.

Eu me pergunto, o que está acontecendo com a nossa sociedade? O que está errado? Será que estamos perdendo nossa humanidade? Ou será que nunca a tivemos? É difícil para mim, uma escritora, explicar tanta brutalidade, tanta crueldade.

Os professores e alunos são o coração pulsante das escolas. São eles que mantêm a vida e a energia desses lugares, são eles que têm a coragem de enfrentar desafios diários e a dedicação de se doar para que outros possam aprender e crescer.

A escritora Clarice Lispector Foto: Acervo Clarice Lispector / Acervo IMS

E agora, o que podemos fazer? Devemos nos calar e aceitar essa realidade? Não! Devemos lutar! Devemos proteger nossos professores e alunos. Devemos nos unir como uma sociedade e exigir mudanças reais. Devemos nos perguntar o que podemos fazer individualmente para ajudar a mudar essa realidade.

A violência não tem lugar na educação. Devemos respeitar os professores e alunos, valorizar o conhecimento e a sabedoria que eles trazem para o mundo. Não podemos deixar que a violência e o medo prevaleçam. Temos que agir juntos e tornar nossas escolas um lugar de segurança e aprendizado.

Eu, Clarice Lispector, acredito que podemos mudar essa realidade. Devemos olhar para dentro de nós mesmos, procurar a verdadeira humanidade e agir com compaixão e respeito. Se cada um de nós fizer a sua parte, poderemos transformar nossas escolas em lugares de luz e esperança.

Como Carlos Drummond de Andrade

A escola é o lugar onde sonhamos.

O lugar onde plantamos as sementes da sabedoria,

e onde buscamos crescer juntos, aprender juntos.

Mas, infelizmente, esse sonho se tornou pesadelo.

A violência, a intolerância, a ignorância,

se espalharam pelas salas de aula,

destruindo vidas, destruindo sonhos.

O poeta Carlos Drummond de Andrade  Foto: Pedro Augusto Graña Drummond / Arquivo CDA

O que fazer diante disso?

Não há solução fácil, não há resposta pronta.

Mas podemos começar por compreender

que a violência não nasce do nada.

Ela é fruto de um mundo desigual, injusto,

onde muitos são deixados para trás,

onde o ódio e a indiferença crescem

como ervas daninhas em um terreno abandonado.

Por isso, não podemos apenas condenar os agressores,

mas também lutar por um mundo melhor,

onde todos tenham acesso à educação de qualidade,

onde a solidariedade e o respeito sejam valores inegociáveis.

Não podemos desistir do sonho da escola,

porque é ali que se constrói o futuro,

é ali que se semeia a esperança

de um mundo mais humano e mais justo.

Que possamos nos unir nessa luta,

para que a escola volte a ser o que sempre foi:

o lugar onde sonhamos, onde crescemos,

onde aprendemos a ser cidadãos melhores,

e onde plantamos as sementes do amor.

O mundo da tecnologia acompanha, curioso, os novos sistemas alimentados por inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, ferramenta capaz de gerar textos coerentes sobre diversos assuntos - há quem use o ChatGPT para resolver tarefas complexas, como programar softwares, elaborar propostas de negócios e até escrever ficção. “Nesse terreno, porém, não vejo utilidade nenhuma em um robô”, contesta Cristóvão Tezza, autor do premiado O Filho Eterno. “Um texto literário verdadeiramente forte não será nunca resultado de uma conjugação mecânico-linguística de algoritmos, mas sim obra de uma pessoa, e é só por isso que pode ser forte e bom.”

O escritor Cristóvão Tezza, que testou a ferramenta e não a aprovou Foto: Editora Todavia

Tezza encabeça uma lista de autores consultados pelo Estadão sobre a eficiência do ChatGPT. Praticamente todos, embora impressionados pela precisão na produção, revisão e tradução de diferentes tipos de textos, não veem o ChatGPT como auxiliar no trabalho porque não é capaz (ainda) de suplantar a sensibilidade humana. “Os escritores literários não têm o que temer, pois o texto da ferramenta é frio, anódino. Pode até impactar o mercado de trabalho, mas não acredito que os escritores de literatura serão os mais atingidos”, aposta Rodrigo Lacerda, também editor executivo do Grupo Editorial Record.

Ele testou a opção gratuita da ferramenta e ficou impressionado. “Vislumbro um uso mais útil para a pesquisa”, acredita. “Afinal, quando se busca uma resposta sobre um determinado assunto, o Google oferece toneladas de sites e páginas até esbarrar na resposta exata que você está querendo, enquanto no ChatGPT, ao se fazer uma pergunta precisa, a ferramenta te leva direto ao detalhe que se está buscando.”

O escritor Rodrigo Lacerda, também editor-executivo do Grupo Record Foto: Taba Benedicto / Estadão

Há quem utilize, porém, a ferramenta não apenas como fonte de pesquisa. “Testei o aplicativo recentemente para minha escrita”, conta Tobias Carvalho, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. “Eu estava em dúvida sobre como concluir uma cena e pedi algumas sugestões. Pelo que entendi, o GPT usa de uma enorme base de dados, alimentada pelas pessoas, e cria algo semelhante ao que a gente diria. Pode ser bem útil como desbloqueador criativo, mas só imagino que, passando um pouco dos limites com o software, o autor pode ficar tentado a plagiar ideias - o que é engraçado porque, afinal, a quem pertence uma ideia criada por IA?”

O escritor de romances policiais Raphael Montes ainda não se interessou pelo ChatGPT Foto: Victor Prata Viera

Carvalho conta que acatou a sugestão oferecida pela ferramenta e a adaptou ao seu trabalho - algo, por ora, impensável para Raphael Montes, um dos principais autores de romance policial no Brasil. “Escrever literatura não tem nada a ver com enfileirar palavras”, observa. “A força da narrativa nasce da sugestão, do não-dito, das entrelinhas, das nuances dos personagens. Acho que a ferramenta não faz nada disso.”

Para a escritora e psicoterapeuta Natalia Timerman, autora de Copo Vazio, a questão é mais ampla e antiga. “Sabemos que, de muitas formas, mesmo antes do ChatGPT, o impacto já começou”, disse. “Nossa capacidade de concentração, raciocínio, interesses e até a nossa maneira de se relacionar já foram profundamente modificados pela internet, pelas redes sociais, pelos algoritmos. E isso interfere na nossa capacidade e no nosso jeito de ler e de escrever.”

A escritora Natalia Timerman vê o problema do ChatGPT como algo mais complexo e antigo Foto: Renato Parada

E há quem tenha descoberto outra função para a ferramenta. “Sei que, muitas vezes, as respostas são imprecisas e até mesmo erradas - o que, particularmente, me diverte”, conta Veronica Stigger.

A escritora Veronica Stigger ainda não testou também o ChatGPT  Foto: Ed Viggiani / Estadão

Teste reprovado

O Estadão testou o serviço oferecido pela ferramenta ChatGPT para comparar o resultado com a percepção dos escritores. E, de fato, o aplicativo não conseguiu reproduzir a essência dos autores selecionados.

Foi feito o seguinte pedido: escreva um texto sobre os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras como se fosse Rubem Fonseca, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector. No primeiro momento, a ferramenta se defendeu: “Como uma IA de linguagem, não posso falar por Rubem Fonseca ou presumir como ele abordaria um assunto específico. No entanto, posso oferecer algumas possíveis perspectivas com base em seu estilo e temas comuns em sua escrita”. Em seguida, o ChatGPT apresentou um breve resumo do estilo de Fonseca - o mesmo aconteceu nas solicitações à escrita à maneira de Drummond e Clarice.

Já a escrita dos três textos pouco faz lembrar aqueles escritores. Autor de contos com um estilo ácido, ambíguo, seco, violento e bruto, Fonseca foi representado por texto argumentativo: “Não há dúvida de que vivemos em um país violento e desigual, onde a pobreza e a falta de oportunidades afetam milhões de pessoas. Mas isso não justifica a brutalidade que estamos testemunhando nas escolas brasileiras. Os jovens que atacam seus colegas e professores não são apenas vítimas da sociedade, eles são também agentes da violência, perpetuando o círculo vicioso que nos assola”.

Não menos distante está a poesia criada pelo ChatGPT à Drummond, cujos versos, além de sensíveis, são reflexivos: “A escola é o lugar onde sonhamos. / O lugar onde plantamos as sementes da sabedoria, / e onde buscamos crescer juntos, aprender juntos”.

Finalmente, a prosa intimista de Clarice se confunde com a de Fonseca: “Os professores são verdadeiros heróis que dedicam suas vidas a transmitir conhecimento, a estimular a criatividade e a formar cidadãos responsáveis. Mas como podemos exigir que eles cumpram essa nobre missão em meio ao medo e à insegurança?”.

Confirma, assim, uma observação feita pelo escritor Tobias Carvalho: “Isso nos ajuda a discutir sobre o processo da criação”. Leia os textos na íntegra

O escritor Tobias Carvalho gostou de uma sugestão feita pelo ChatGPT  Foto: Valeria Gonçalvez / Estadão

Como Rubem Fonseca

O Brasil é um país violento. Infelizmente, a violência não escolhe local ou vítima, e temos assistido com crescente preocupação aos ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras. Essa é uma realidade brutal que não podemos ignorar.

Esses ataques não são um fenômeno novo. A violência nas escolas é uma consequência direta da desigualdade social e da falta de investimento em educação. Quando a educação não é valorizada, quando os professores são mal pagos e desrespeitados, quando as escolas estão em estado precário, é inevitável que ocorram atos de violência.

Os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras são uma manifestação da violência que permeia toda a sociedade. Nós vivemos em uma cultura que celebra a força bruta e a violência como formas de resolução de conflitos. E essa cultura é alimentada por um sistema que favorece os mais ricos e poderosos, deixando os mais pobres e vulneráveis à mercê da violência.

O escritor Autor Rubem Fonseca  Foto: Zeca Fonseca

A violência nas escolas é um problema complexo, que requer soluções igualmente complexas. Não há uma solução única ou fácil para esse problema. Mas uma coisa é certa: precisamos valorizar a educação. Precisamos investir em escolas e em professores, dando-lhes os recursos e o respeito que merecem. Precisamos ensinar nossos jovens que a violência não é a resposta, e que a resolução de conflitos deve ser feita de forma pacífica e justa.

Enquanto a violência continuar a ser uma realidade em nossa sociedade, infelizmente, os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras continuarão a acontecer. Mas se começarmos a valorizar a educação e a buscar soluções para a desigualdade social, podemos, aos poucos, mudar essa realidade. É hora de agir, antes que mais vidas sejam perdidas.

Como Clarice Lispector

Tudo é um grande mistério. As escolas, que deveriam ser o refúgio seguro para os estudantes e professores, agora se tornam palcos de violência e medo. É difícil compreender o que leva alguém a atacar um outro ser humano, especialmente aqueles que se dedicam a transmitir conhecimento e inspirar jovens mentes a buscar a sabedoria.

Eu me pergunto, o que está acontecendo com a nossa sociedade? O que está errado? Será que estamos perdendo nossa humanidade? Ou será que nunca a tivemos? É difícil para mim, uma escritora, explicar tanta brutalidade, tanta crueldade.

Os professores e alunos são o coração pulsante das escolas. São eles que mantêm a vida e a energia desses lugares, são eles que têm a coragem de enfrentar desafios diários e a dedicação de se doar para que outros possam aprender e crescer.

A escritora Clarice Lispector Foto: Acervo Clarice Lispector / Acervo IMS

E agora, o que podemos fazer? Devemos nos calar e aceitar essa realidade? Não! Devemos lutar! Devemos proteger nossos professores e alunos. Devemos nos unir como uma sociedade e exigir mudanças reais. Devemos nos perguntar o que podemos fazer individualmente para ajudar a mudar essa realidade.

A violência não tem lugar na educação. Devemos respeitar os professores e alunos, valorizar o conhecimento e a sabedoria que eles trazem para o mundo. Não podemos deixar que a violência e o medo prevaleçam. Temos que agir juntos e tornar nossas escolas um lugar de segurança e aprendizado.

Eu, Clarice Lispector, acredito que podemos mudar essa realidade. Devemos olhar para dentro de nós mesmos, procurar a verdadeira humanidade e agir com compaixão e respeito. Se cada um de nós fizer a sua parte, poderemos transformar nossas escolas em lugares de luz e esperança.

Como Carlos Drummond de Andrade

A escola é o lugar onde sonhamos.

O lugar onde plantamos as sementes da sabedoria,

e onde buscamos crescer juntos, aprender juntos.

Mas, infelizmente, esse sonho se tornou pesadelo.

A violência, a intolerância, a ignorância,

se espalharam pelas salas de aula,

destruindo vidas, destruindo sonhos.

O poeta Carlos Drummond de Andrade  Foto: Pedro Augusto Graña Drummond / Arquivo CDA

O que fazer diante disso?

Não há solução fácil, não há resposta pronta.

Mas podemos começar por compreender

que a violência não nasce do nada.

Ela é fruto de um mundo desigual, injusto,

onde muitos são deixados para trás,

onde o ódio e a indiferença crescem

como ervas daninhas em um terreno abandonado.

Por isso, não podemos apenas condenar os agressores,

mas também lutar por um mundo melhor,

onde todos tenham acesso à educação de qualidade,

onde a solidariedade e o respeito sejam valores inegociáveis.

Não podemos desistir do sonho da escola,

porque é ali que se constrói o futuro,

é ali que se semeia a esperança

de um mundo mais humano e mais justo.

Que possamos nos unir nessa luta,

para que a escola volte a ser o que sempre foi:

o lugar onde sonhamos, onde crescemos,

onde aprendemos a ser cidadãos melhores,

e onde plantamos as sementes do amor.

O mundo da tecnologia acompanha, curioso, os novos sistemas alimentados por inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, ferramenta capaz de gerar textos coerentes sobre diversos assuntos - há quem use o ChatGPT para resolver tarefas complexas, como programar softwares, elaborar propostas de negócios e até escrever ficção. “Nesse terreno, porém, não vejo utilidade nenhuma em um robô”, contesta Cristóvão Tezza, autor do premiado O Filho Eterno. “Um texto literário verdadeiramente forte não será nunca resultado de uma conjugação mecânico-linguística de algoritmos, mas sim obra de uma pessoa, e é só por isso que pode ser forte e bom.”

O escritor Cristóvão Tezza, que testou a ferramenta e não a aprovou Foto: Editora Todavia

Tezza encabeça uma lista de autores consultados pelo Estadão sobre a eficiência do ChatGPT. Praticamente todos, embora impressionados pela precisão na produção, revisão e tradução de diferentes tipos de textos, não veem o ChatGPT como auxiliar no trabalho porque não é capaz (ainda) de suplantar a sensibilidade humana. “Os escritores literários não têm o que temer, pois o texto da ferramenta é frio, anódino. Pode até impactar o mercado de trabalho, mas não acredito que os escritores de literatura serão os mais atingidos”, aposta Rodrigo Lacerda, também editor executivo do Grupo Editorial Record.

Ele testou a opção gratuita da ferramenta e ficou impressionado. “Vislumbro um uso mais útil para a pesquisa”, acredita. “Afinal, quando se busca uma resposta sobre um determinado assunto, o Google oferece toneladas de sites e páginas até esbarrar na resposta exata que você está querendo, enquanto no ChatGPT, ao se fazer uma pergunta precisa, a ferramenta te leva direto ao detalhe que se está buscando.”

O escritor Rodrigo Lacerda, também editor-executivo do Grupo Record Foto: Taba Benedicto / Estadão

Há quem utilize, porém, a ferramenta não apenas como fonte de pesquisa. “Testei o aplicativo recentemente para minha escrita”, conta Tobias Carvalho, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. “Eu estava em dúvida sobre como concluir uma cena e pedi algumas sugestões. Pelo que entendi, o GPT usa de uma enorme base de dados, alimentada pelas pessoas, e cria algo semelhante ao que a gente diria. Pode ser bem útil como desbloqueador criativo, mas só imagino que, passando um pouco dos limites com o software, o autor pode ficar tentado a plagiar ideias - o que é engraçado porque, afinal, a quem pertence uma ideia criada por IA?”

O escritor de romances policiais Raphael Montes ainda não se interessou pelo ChatGPT Foto: Victor Prata Viera

Carvalho conta que acatou a sugestão oferecida pela ferramenta e a adaptou ao seu trabalho - algo, por ora, impensável para Raphael Montes, um dos principais autores de romance policial no Brasil. “Escrever literatura não tem nada a ver com enfileirar palavras”, observa. “A força da narrativa nasce da sugestão, do não-dito, das entrelinhas, das nuances dos personagens. Acho que a ferramenta não faz nada disso.”

Para a escritora e psicoterapeuta Natalia Timerman, autora de Copo Vazio, a questão é mais ampla e antiga. “Sabemos que, de muitas formas, mesmo antes do ChatGPT, o impacto já começou”, disse. “Nossa capacidade de concentração, raciocínio, interesses e até a nossa maneira de se relacionar já foram profundamente modificados pela internet, pelas redes sociais, pelos algoritmos. E isso interfere na nossa capacidade e no nosso jeito de ler e de escrever.”

A escritora Natalia Timerman vê o problema do ChatGPT como algo mais complexo e antigo Foto: Renato Parada

E há quem tenha descoberto outra função para a ferramenta. “Sei que, muitas vezes, as respostas são imprecisas e até mesmo erradas - o que, particularmente, me diverte”, conta Veronica Stigger.

A escritora Veronica Stigger ainda não testou também o ChatGPT  Foto: Ed Viggiani / Estadão

Teste reprovado

O Estadão testou o serviço oferecido pela ferramenta ChatGPT para comparar o resultado com a percepção dos escritores. E, de fato, o aplicativo não conseguiu reproduzir a essência dos autores selecionados.

Foi feito o seguinte pedido: escreva um texto sobre os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras como se fosse Rubem Fonseca, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector. No primeiro momento, a ferramenta se defendeu: “Como uma IA de linguagem, não posso falar por Rubem Fonseca ou presumir como ele abordaria um assunto específico. No entanto, posso oferecer algumas possíveis perspectivas com base em seu estilo e temas comuns em sua escrita”. Em seguida, o ChatGPT apresentou um breve resumo do estilo de Fonseca - o mesmo aconteceu nas solicitações à escrita à maneira de Drummond e Clarice.

Já a escrita dos três textos pouco faz lembrar aqueles escritores. Autor de contos com um estilo ácido, ambíguo, seco, violento e bruto, Fonseca foi representado por texto argumentativo: “Não há dúvida de que vivemos em um país violento e desigual, onde a pobreza e a falta de oportunidades afetam milhões de pessoas. Mas isso não justifica a brutalidade que estamos testemunhando nas escolas brasileiras. Os jovens que atacam seus colegas e professores não são apenas vítimas da sociedade, eles são também agentes da violência, perpetuando o círculo vicioso que nos assola”.

Não menos distante está a poesia criada pelo ChatGPT à Drummond, cujos versos, além de sensíveis, são reflexivos: “A escola é o lugar onde sonhamos. / O lugar onde plantamos as sementes da sabedoria, / e onde buscamos crescer juntos, aprender juntos”.

Finalmente, a prosa intimista de Clarice se confunde com a de Fonseca: “Os professores são verdadeiros heróis que dedicam suas vidas a transmitir conhecimento, a estimular a criatividade e a formar cidadãos responsáveis. Mas como podemos exigir que eles cumpram essa nobre missão em meio ao medo e à insegurança?”.

Confirma, assim, uma observação feita pelo escritor Tobias Carvalho: “Isso nos ajuda a discutir sobre o processo da criação”. Leia os textos na íntegra

O escritor Tobias Carvalho gostou de uma sugestão feita pelo ChatGPT  Foto: Valeria Gonçalvez / Estadão

Como Rubem Fonseca

O Brasil é um país violento. Infelizmente, a violência não escolhe local ou vítima, e temos assistido com crescente preocupação aos ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras. Essa é uma realidade brutal que não podemos ignorar.

Esses ataques não são um fenômeno novo. A violência nas escolas é uma consequência direta da desigualdade social e da falta de investimento em educação. Quando a educação não é valorizada, quando os professores são mal pagos e desrespeitados, quando as escolas estão em estado precário, é inevitável que ocorram atos de violência.

Os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras são uma manifestação da violência que permeia toda a sociedade. Nós vivemos em uma cultura que celebra a força bruta e a violência como formas de resolução de conflitos. E essa cultura é alimentada por um sistema que favorece os mais ricos e poderosos, deixando os mais pobres e vulneráveis à mercê da violência.

O escritor Autor Rubem Fonseca  Foto: Zeca Fonseca

A violência nas escolas é um problema complexo, que requer soluções igualmente complexas. Não há uma solução única ou fácil para esse problema. Mas uma coisa é certa: precisamos valorizar a educação. Precisamos investir em escolas e em professores, dando-lhes os recursos e o respeito que merecem. Precisamos ensinar nossos jovens que a violência não é a resposta, e que a resolução de conflitos deve ser feita de forma pacífica e justa.

Enquanto a violência continuar a ser uma realidade em nossa sociedade, infelizmente, os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras continuarão a acontecer. Mas se começarmos a valorizar a educação e a buscar soluções para a desigualdade social, podemos, aos poucos, mudar essa realidade. É hora de agir, antes que mais vidas sejam perdidas.

Como Clarice Lispector

Tudo é um grande mistério. As escolas, que deveriam ser o refúgio seguro para os estudantes e professores, agora se tornam palcos de violência e medo. É difícil compreender o que leva alguém a atacar um outro ser humano, especialmente aqueles que se dedicam a transmitir conhecimento e inspirar jovens mentes a buscar a sabedoria.

Eu me pergunto, o que está acontecendo com a nossa sociedade? O que está errado? Será que estamos perdendo nossa humanidade? Ou será que nunca a tivemos? É difícil para mim, uma escritora, explicar tanta brutalidade, tanta crueldade.

Os professores e alunos são o coração pulsante das escolas. São eles que mantêm a vida e a energia desses lugares, são eles que têm a coragem de enfrentar desafios diários e a dedicação de se doar para que outros possam aprender e crescer.

A escritora Clarice Lispector Foto: Acervo Clarice Lispector / Acervo IMS

E agora, o que podemos fazer? Devemos nos calar e aceitar essa realidade? Não! Devemos lutar! Devemos proteger nossos professores e alunos. Devemos nos unir como uma sociedade e exigir mudanças reais. Devemos nos perguntar o que podemos fazer individualmente para ajudar a mudar essa realidade.

A violência não tem lugar na educação. Devemos respeitar os professores e alunos, valorizar o conhecimento e a sabedoria que eles trazem para o mundo. Não podemos deixar que a violência e o medo prevaleçam. Temos que agir juntos e tornar nossas escolas um lugar de segurança e aprendizado.

Eu, Clarice Lispector, acredito que podemos mudar essa realidade. Devemos olhar para dentro de nós mesmos, procurar a verdadeira humanidade e agir com compaixão e respeito. Se cada um de nós fizer a sua parte, poderemos transformar nossas escolas em lugares de luz e esperança.

Como Carlos Drummond de Andrade

A escola é o lugar onde sonhamos.

O lugar onde plantamos as sementes da sabedoria,

e onde buscamos crescer juntos, aprender juntos.

Mas, infelizmente, esse sonho se tornou pesadelo.

A violência, a intolerância, a ignorância,

se espalharam pelas salas de aula,

destruindo vidas, destruindo sonhos.

O poeta Carlos Drummond de Andrade  Foto: Pedro Augusto Graña Drummond / Arquivo CDA

O que fazer diante disso?

Não há solução fácil, não há resposta pronta.

Mas podemos começar por compreender

que a violência não nasce do nada.

Ela é fruto de um mundo desigual, injusto,

onde muitos são deixados para trás,

onde o ódio e a indiferença crescem

como ervas daninhas em um terreno abandonado.

Por isso, não podemos apenas condenar os agressores,

mas também lutar por um mundo melhor,

onde todos tenham acesso à educação de qualidade,

onde a solidariedade e o respeito sejam valores inegociáveis.

Não podemos desistir do sonho da escola,

porque é ali que se constrói o futuro,

é ali que se semeia a esperança

de um mundo mais humano e mais justo.

Que possamos nos unir nessa luta,

para que a escola volte a ser o que sempre foi:

o lugar onde sonhamos, onde crescemos,

onde aprendemos a ser cidadãos melhores,

e onde plantamos as sementes do amor.

O mundo da tecnologia acompanha, curioso, os novos sistemas alimentados por inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, ferramenta capaz de gerar textos coerentes sobre diversos assuntos - há quem use o ChatGPT para resolver tarefas complexas, como programar softwares, elaborar propostas de negócios e até escrever ficção. “Nesse terreno, porém, não vejo utilidade nenhuma em um robô”, contesta Cristóvão Tezza, autor do premiado O Filho Eterno. “Um texto literário verdadeiramente forte não será nunca resultado de uma conjugação mecânico-linguística de algoritmos, mas sim obra de uma pessoa, e é só por isso que pode ser forte e bom.”

O escritor Cristóvão Tezza, que testou a ferramenta e não a aprovou Foto: Editora Todavia

Tezza encabeça uma lista de autores consultados pelo Estadão sobre a eficiência do ChatGPT. Praticamente todos, embora impressionados pela precisão na produção, revisão e tradução de diferentes tipos de textos, não veem o ChatGPT como auxiliar no trabalho porque não é capaz (ainda) de suplantar a sensibilidade humana. “Os escritores literários não têm o que temer, pois o texto da ferramenta é frio, anódino. Pode até impactar o mercado de trabalho, mas não acredito que os escritores de literatura serão os mais atingidos”, aposta Rodrigo Lacerda, também editor executivo do Grupo Editorial Record.

Ele testou a opção gratuita da ferramenta e ficou impressionado. “Vislumbro um uso mais útil para a pesquisa”, acredita. “Afinal, quando se busca uma resposta sobre um determinado assunto, o Google oferece toneladas de sites e páginas até esbarrar na resposta exata que você está querendo, enquanto no ChatGPT, ao se fazer uma pergunta precisa, a ferramenta te leva direto ao detalhe que se está buscando.”

O escritor Rodrigo Lacerda, também editor-executivo do Grupo Record Foto: Taba Benedicto / Estadão

Há quem utilize, porém, a ferramenta não apenas como fonte de pesquisa. “Testei o aplicativo recentemente para minha escrita”, conta Tobias Carvalho, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. “Eu estava em dúvida sobre como concluir uma cena e pedi algumas sugestões. Pelo que entendi, o GPT usa de uma enorme base de dados, alimentada pelas pessoas, e cria algo semelhante ao que a gente diria. Pode ser bem útil como desbloqueador criativo, mas só imagino que, passando um pouco dos limites com o software, o autor pode ficar tentado a plagiar ideias - o que é engraçado porque, afinal, a quem pertence uma ideia criada por IA?”

O escritor de romances policiais Raphael Montes ainda não se interessou pelo ChatGPT Foto: Victor Prata Viera

Carvalho conta que acatou a sugestão oferecida pela ferramenta e a adaptou ao seu trabalho - algo, por ora, impensável para Raphael Montes, um dos principais autores de romance policial no Brasil. “Escrever literatura não tem nada a ver com enfileirar palavras”, observa. “A força da narrativa nasce da sugestão, do não-dito, das entrelinhas, das nuances dos personagens. Acho que a ferramenta não faz nada disso.”

Para a escritora e psicoterapeuta Natalia Timerman, autora de Copo Vazio, a questão é mais ampla e antiga. “Sabemos que, de muitas formas, mesmo antes do ChatGPT, o impacto já começou”, disse. “Nossa capacidade de concentração, raciocínio, interesses e até a nossa maneira de se relacionar já foram profundamente modificados pela internet, pelas redes sociais, pelos algoritmos. E isso interfere na nossa capacidade e no nosso jeito de ler e de escrever.”

A escritora Natalia Timerman vê o problema do ChatGPT como algo mais complexo e antigo Foto: Renato Parada

E há quem tenha descoberto outra função para a ferramenta. “Sei que, muitas vezes, as respostas são imprecisas e até mesmo erradas - o que, particularmente, me diverte”, conta Veronica Stigger.

A escritora Veronica Stigger ainda não testou também o ChatGPT  Foto: Ed Viggiani / Estadão

Teste reprovado

O Estadão testou o serviço oferecido pela ferramenta ChatGPT para comparar o resultado com a percepção dos escritores. E, de fato, o aplicativo não conseguiu reproduzir a essência dos autores selecionados.

Foi feito o seguinte pedido: escreva um texto sobre os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras como se fosse Rubem Fonseca, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector. No primeiro momento, a ferramenta se defendeu: “Como uma IA de linguagem, não posso falar por Rubem Fonseca ou presumir como ele abordaria um assunto específico. No entanto, posso oferecer algumas possíveis perspectivas com base em seu estilo e temas comuns em sua escrita”. Em seguida, o ChatGPT apresentou um breve resumo do estilo de Fonseca - o mesmo aconteceu nas solicitações à escrita à maneira de Drummond e Clarice.

Já a escrita dos três textos pouco faz lembrar aqueles escritores. Autor de contos com um estilo ácido, ambíguo, seco, violento e bruto, Fonseca foi representado por texto argumentativo: “Não há dúvida de que vivemos em um país violento e desigual, onde a pobreza e a falta de oportunidades afetam milhões de pessoas. Mas isso não justifica a brutalidade que estamos testemunhando nas escolas brasileiras. Os jovens que atacam seus colegas e professores não são apenas vítimas da sociedade, eles são também agentes da violência, perpetuando o círculo vicioso que nos assola”.

Não menos distante está a poesia criada pelo ChatGPT à Drummond, cujos versos, além de sensíveis, são reflexivos: “A escola é o lugar onde sonhamos. / O lugar onde plantamos as sementes da sabedoria, / e onde buscamos crescer juntos, aprender juntos”.

Finalmente, a prosa intimista de Clarice se confunde com a de Fonseca: “Os professores são verdadeiros heróis que dedicam suas vidas a transmitir conhecimento, a estimular a criatividade e a formar cidadãos responsáveis. Mas como podemos exigir que eles cumpram essa nobre missão em meio ao medo e à insegurança?”.

Confirma, assim, uma observação feita pelo escritor Tobias Carvalho: “Isso nos ajuda a discutir sobre o processo da criação”. Leia os textos na íntegra

O escritor Tobias Carvalho gostou de uma sugestão feita pelo ChatGPT  Foto: Valeria Gonçalvez / Estadão

Como Rubem Fonseca

O Brasil é um país violento. Infelizmente, a violência não escolhe local ou vítima, e temos assistido com crescente preocupação aos ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras. Essa é uma realidade brutal que não podemos ignorar.

Esses ataques não são um fenômeno novo. A violência nas escolas é uma consequência direta da desigualdade social e da falta de investimento em educação. Quando a educação não é valorizada, quando os professores são mal pagos e desrespeitados, quando as escolas estão em estado precário, é inevitável que ocorram atos de violência.

Os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras são uma manifestação da violência que permeia toda a sociedade. Nós vivemos em uma cultura que celebra a força bruta e a violência como formas de resolução de conflitos. E essa cultura é alimentada por um sistema que favorece os mais ricos e poderosos, deixando os mais pobres e vulneráveis à mercê da violência.

O escritor Autor Rubem Fonseca  Foto: Zeca Fonseca

A violência nas escolas é um problema complexo, que requer soluções igualmente complexas. Não há uma solução única ou fácil para esse problema. Mas uma coisa é certa: precisamos valorizar a educação. Precisamos investir em escolas e em professores, dando-lhes os recursos e o respeito que merecem. Precisamos ensinar nossos jovens que a violência não é a resposta, e que a resolução de conflitos deve ser feita de forma pacífica e justa.

Enquanto a violência continuar a ser uma realidade em nossa sociedade, infelizmente, os ataques a professores e alunos nas escolas brasileiras continuarão a acontecer. Mas se começarmos a valorizar a educação e a buscar soluções para a desigualdade social, podemos, aos poucos, mudar essa realidade. É hora de agir, antes que mais vidas sejam perdidas.

Como Clarice Lispector

Tudo é um grande mistério. As escolas, que deveriam ser o refúgio seguro para os estudantes e professores, agora se tornam palcos de violência e medo. É difícil compreender o que leva alguém a atacar um outro ser humano, especialmente aqueles que se dedicam a transmitir conhecimento e inspirar jovens mentes a buscar a sabedoria.

Eu me pergunto, o que está acontecendo com a nossa sociedade? O que está errado? Será que estamos perdendo nossa humanidade? Ou será que nunca a tivemos? É difícil para mim, uma escritora, explicar tanta brutalidade, tanta crueldade.

Os professores e alunos são o coração pulsante das escolas. São eles que mantêm a vida e a energia desses lugares, são eles que têm a coragem de enfrentar desafios diários e a dedicação de se doar para que outros possam aprender e crescer.

A escritora Clarice Lispector Foto: Acervo Clarice Lispector / Acervo IMS

E agora, o que podemos fazer? Devemos nos calar e aceitar essa realidade? Não! Devemos lutar! Devemos proteger nossos professores e alunos. Devemos nos unir como uma sociedade e exigir mudanças reais. Devemos nos perguntar o que podemos fazer individualmente para ajudar a mudar essa realidade.

A violência não tem lugar na educação. Devemos respeitar os professores e alunos, valorizar o conhecimento e a sabedoria que eles trazem para o mundo. Não podemos deixar que a violência e o medo prevaleçam. Temos que agir juntos e tornar nossas escolas um lugar de segurança e aprendizado.

Eu, Clarice Lispector, acredito que podemos mudar essa realidade. Devemos olhar para dentro de nós mesmos, procurar a verdadeira humanidade e agir com compaixão e respeito. Se cada um de nós fizer a sua parte, poderemos transformar nossas escolas em lugares de luz e esperança.

Como Carlos Drummond de Andrade

A escola é o lugar onde sonhamos.

O lugar onde plantamos as sementes da sabedoria,

e onde buscamos crescer juntos, aprender juntos.

Mas, infelizmente, esse sonho se tornou pesadelo.

A violência, a intolerância, a ignorância,

se espalharam pelas salas de aula,

destruindo vidas, destruindo sonhos.

O poeta Carlos Drummond de Andrade  Foto: Pedro Augusto Graña Drummond / Arquivo CDA

O que fazer diante disso?

Não há solução fácil, não há resposta pronta.

Mas podemos começar por compreender

que a violência não nasce do nada.

Ela é fruto de um mundo desigual, injusto,

onde muitos são deixados para trás,

onde o ódio e a indiferença crescem

como ervas daninhas em um terreno abandonado.

Por isso, não podemos apenas condenar os agressores,

mas também lutar por um mundo melhor,

onde todos tenham acesso à educação de qualidade,

onde a solidariedade e o respeito sejam valores inegociáveis.

Não podemos desistir do sonho da escola,

porque é ali que se constrói o futuro,

é ali que se semeia a esperança

de um mundo mais humano e mais justo.

Que possamos nos unir nessa luta,

para que a escola volte a ser o que sempre foi:

o lugar onde sonhamos, onde crescemos,

onde aprendemos a ser cidadãos melhores,

e onde plantamos as sementes do amor.

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