Para o editor e escritor Jacó Guinsburg, a escrita não tem limitações ou fronteiras. “Há muito de ficção no campo do ensaio e, pior, muita coisa no campo da ciência é ficção”, brincou, em entrevista ao Estado em 2000. “Não pensamos por compartimentos estanques, nem mesmo quando pensamos uma fórmula algébrica; todas as escrituras são misturas de elementos, o problema está na escolha do que dar primazia”, completou. “A ficção caracteriza-se pelo primado do imaginário.”
É tal liberdade criativa que marca profundamente uma das principais editoras do País, a Perspectiva, criada há 50 anos e tema de uma série de homenagens neste sábado, 20, na Casa Guilherme de Almeida. São palestra, performance e mesa-redonda, e, além de Guinsburg, firme em suas determinações libertárias aos 94 anos, participarão o poeta Augusto de Campos, o editor Plínio Martins e a pesquisadora Berta Waldman, além de Gita Guinsburg, mulher e grande apoiadora do homenageado. No comando da Perspectiva, Jacó e Gita são responsáveis por lançamentos de títulos raros no mercado editorial, especialmente na área acadêmica. A coleção Debates, por exemplo, trouxe para a língua portuguesa obras de Umberto Eco, Roman Jakobson, Tzvetan Todorov, Fernand Braudel, José Augusto Seabra, Anatol Rosenfeld, Benedito Nunes, Affonso Ávila, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi e muitos outros. Nascido na Romênia, Jacó Guinsburg chegou ao Brasil aos 3 anos, em 1924. Trabalhou em diversas atividades até que, aos 29 anos, abriu sua primeira editora, a Rampa. Depois de um tempo, desfez a parceria com os irmãos Carlos e Edgar Ortiz e, após trabalhar na Difusão Europeia do Livro (Difel) e a colaborar para revistas e também para o Suplemento Literário do Estado, abriu a Perspectiva, em 1965. Logo, a editora se especializou em diversas áreas – artes, literatura, filosofia, linguística e ciências humanas –, tornando-se uma referência.