Fábio Porchat narra audiolivro de 'A Revolução dos Bichos', de George Orwell


'A gente consegue identificar muito fortemente o que acontece no Brasil hoje', afirma o comediante ao Estadão

Por Luisa Paiva
Atualização:

Qualquer semelhança no estilo do humor ácido de Fábio Porchat com as sátiras políticas de George Orwell não é mera coincidência. O trabalho do escritor, jornalista e ensaísta inglês influenciou fortemente a carreira de um dos principais humoristas brasileiros da atualidade. Não por acaso, o ator dá voz ao audiolivro A Revolução dos Bichos, lançado nesta sexta-feira, 23, pela Tocalivros e disponibilizado gratuitamente.

O comediante Fábio Porchat narrou o audiolivro de 'A Revolução dos Bichos', de George Orwell Foto: Tocalivros

A obra Animal Farm, traduzida para o português como A Revolução dos Bichos ou A Fazenda dos Animais, foi publicada no Reino Unido em 1945 e é considerada um dos melhores romances da língua inglesa. A sátira sobre a União Soviética socialista joga luz à corrupção e a ganância dos comandantes da revolução.  Em entrevista ao Estadão, Porchat revela que este é um dos seus livros de cabeceira, destaca a importância de gravar o romance em audiolivro e fazer a história chegar a mais pessoas. “Esse é um dos meus livros preferidos, eu já li ele umas dez vezes, mas fazia já alguns anos que eu não lia. É quase desesperador, nesse momento em que o Brasil se encontra, ler a Revolução dos Bichos, porque a gente consegue identificar muito fortemente o que acontece no Brasil hoje”, analisa o ator. Porchat conta que descobriu a potência da obra de George Orwell aos 19 anos e ficou muito impactado com o seu realismo e com a habilidade do autor de utilizar uma alegoria para expor a mediocridade humana e a busca pelo poder. Ao narrar o audiolivro, trabalho que foi feito em apenas dois dias, o humorista se emocionou algumas vezes.  “Eu nunca tinha lido em voz alta. É muito emocionante. Quando a gente lê a frase: ‘Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros’, é uma porrada muito grande, porque a realidade é essa. Se a gente for falar desse Brasil racista, homofóbico, machista, somos todos iguais onde? A gente está em um caminho muito errado, a gente precisa tentar aprender com os nossos erros e evoluir. O ser humano precisa evoluir mais rápido mentalmente do que está evoluindo tecnologicamente. O livro mostra isso de forma muita clara”, diz. “É aquela velha frase: ‘não são livros que mudam o mundo, mas livros mudam pessoas e pessoas mudam o mundo’. Acho que é por aí”, conclui.  Sua relação com o trabalho do escritor inglês teve uma forte influência no direcionamento dos seus roteiros. “Apesar de ser comediante, de fazer as pessoas rirem, eu tenho esse lado muito calcado na realidade. Sou uma pessoa muito prática, pragmática, não tenho crenças. Eu vejo o lado sombrio do mundo. No fim das contas, o humor e a sátira jogam uma luz sobre determinado assunto, fazem a gente pensar sobre aquilo. É claro que a gente ri, mas é quase um ‘rir pra não chorar’. A gente ri porque se identifica, porque sabe do que se trata. Então força a barra para a gente mudar.” Ator de cinema, teatro, televisão e esquetes para internet, Porchat conta como é interpretar o audiolivro, colocando suas emoções e seu entendimento daquele texto. “Eu pude fazer uma coisa que eu achei pertinente: como é um livro com alegoria, uma fazenda de animais, tem um quê de fábula, eu pude fazer uma narração com esse olhar de ‘estou contando uma historinha’. Não tem nenhuma entonação infantil, mas tem um jeito de contar a história como uma fábula, e você vai tomando uns sustos com as consequências daqueles porcos comandando a fazenda. É um livro curto, ainda tem essa vantagem, isso é ótimo para pegar um desprevenido”, brinca. O humorista encontrou em grandes nomes da dramaturgia sua inspiração para gravar o audiolivro: Paulo Autran lendo Carlos Drummond de Andrade e a Aracy Balabanian narrando os textos de Clarice Lispector. “É uma das coisas mais lindas que eu já ouvi na minha vida, é de uma delicadeza, de uma profundidade, de uma força, que só uma grande atriz como a Aracy poderia colocar ali. E uma pessoa que para mim é uma narradora de histórias é a Maria Bethânia. O show dela é uma performance, ela interpreta aqueles textos que são as músicas dela, com calma, com tranquilidade, com total entendimento de cada sílaba. Então são três referências que eu tenho para essa leitura.” Porchat revela qual outro audiolivro gostaria de gravar. “Eu adoraria ler O Processo, do Kafka, que eu acho incrível também. Eu amo realismo fantástico, e é um dos meus livros preferidos. Seria um bom próximo projeto.” A gravação de A Revolução dos Bichos foi feita com a tecnologia binaural, conhecida como áudio 3D, quando o som ocupa um espaço de 360 graus e os efeitos sonoros são sentidos de forma diferente em cada ouvido. O efeito faz o ouvinte se sentir mais dentro da história. Também participam do projeto os narradores Flávio Costa e Priscila Scholz, na voz dos animais. A versão fonográfica de A Revolução dos Bichos faz parte da Biblioteca Digital Tocalivros. Em parceria com a ONG Recode, a plataforma disponibiliza gratuitamente para 149 bibliotecas públicas o acervo digital da Tocalivros com mais de 2 mil audiolivros e 5 mil eBooks. “O que me encanta neste projeto, não só poder ler e poder levar esse livro o mais longe possível, é ele disponibilizar para as escolas estaduais de São Paulo, é muito legal”, afirma Porchat.

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Qualquer semelhança no estilo do humor ácido de Fábio Porchat com as sátiras políticas de George Orwell não é mera coincidência. O trabalho do escritor, jornalista e ensaísta inglês influenciou fortemente a carreira de um dos principais humoristas brasileiros da atualidade. Não por acaso, o ator dá voz ao audiolivro A Revolução dos Bichos, lançado nesta sexta-feira, 23, pela Tocalivros e disponibilizado gratuitamente.

O comediante Fábio Porchat narrou o audiolivro de 'A Revolução dos Bichos', de George Orwell Foto: Tocalivros

A obra Animal Farm, traduzida para o português como A Revolução dos Bichos ou A Fazenda dos Animais, foi publicada no Reino Unido em 1945 e é considerada um dos melhores romances da língua inglesa. A sátira sobre a União Soviética socialista joga luz à corrupção e a ganância dos comandantes da revolução.  Em entrevista ao Estadão, Porchat revela que este é um dos seus livros de cabeceira, destaca a importância de gravar o romance em audiolivro e fazer a história chegar a mais pessoas. “Esse é um dos meus livros preferidos, eu já li ele umas dez vezes, mas fazia já alguns anos que eu não lia. É quase desesperador, nesse momento em que o Brasil se encontra, ler a Revolução dos Bichos, porque a gente consegue identificar muito fortemente o que acontece no Brasil hoje”, analisa o ator. Porchat conta que descobriu a potência da obra de George Orwell aos 19 anos e ficou muito impactado com o seu realismo e com a habilidade do autor de utilizar uma alegoria para expor a mediocridade humana e a busca pelo poder. Ao narrar o audiolivro, trabalho que foi feito em apenas dois dias, o humorista se emocionou algumas vezes.  “Eu nunca tinha lido em voz alta. É muito emocionante. Quando a gente lê a frase: ‘Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros’, é uma porrada muito grande, porque a realidade é essa. Se a gente for falar desse Brasil racista, homofóbico, machista, somos todos iguais onde? A gente está em um caminho muito errado, a gente precisa tentar aprender com os nossos erros e evoluir. O ser humano precisa evoluir mais rápido mentalmente do que está evoluindo tecnologicamente. O livro mostra isso de forma muita clara”, diz. “É aquela velha frase: ‘não são livros que mudam o mundo, mas livros mudam pessoas e pessoas mudam o mundo’. Acho que é por aí”, conclui.  Sua relação com o trabalho do escritor inglês teve uma forte influência no direcionamento dos seus roteiros. “Apesar de ser comediante, de fazer as pessoas rirem, eu tenho esse lado muito calcado na realidade. Sou uma pessoa muito prática, pragmática, não tenho crenças. Eu vejo o lado sombrio do mundo. No fim das contas, o humor e a sátira jogam uma luz sobre determinado assunto, fazem a gente pensar sobre aquilo. É claro que a gente ri, mas é quase um ‘rir pra não chorar’. A gente ri porque se identifica, porque sabe do que se trata. Então força a barra para a gente mudar.” Ator de cinema, teatro, televisão e esquetes para internet, Porchat conta como é interpretar o audiolivro, colocando suas emoções e seu entendimento daquele texto. “Eu pude fazer uma coisa que eu achei pertinente: como é um livro com alegoria, uma fazenda de animais, tem um quê de fábula, eu pude fazer uma narração com esse olhar de ‘estou contando uma historinha’. Não tem nenhuma entonação infantil, mas tem um jeito de contar a história como uma fábula, e você vai tomando uns sustos com as consequências daqueles porcos comandando a fazenda. É um livro curto, ainda tem essa vantagem, isso é ótimo para pegar um desprevenido”, brinca. O humorista encontrou em grandes nomes da dramaturgia sua inspiração para gravar o audiolivro: Paulo Autran lendo Carlos Drummond de Andrade e a Aracy Balabanian narrando os textos de Clarice Lispector. “É uma das coisas mais lindas que eu já ouvi na minha vida, é de uma delicadeza, de uma profundidade, de uma força, que só uma grande atriz como a Aracy poderia colocar ali. E uma pessoa que para mim é uma narradora de histórias é a Maria Bethânia. O show dela é uma performance, ela interpreta aqueles textos que são as músicas dela, com calma, com tranquilidade, com total entendimento de cada sílaba. Então são três referências que eu tenho para essa leitura.” Porchat revela qual outro audiolivro gostaria de gravar. “Eu adoraria ler O Processo, do Kafka, que eu acho incrível também. Eu amo realismo fantástico, e é um dos meus livros preferidos. Seria um bom próximo projeto.” A gravação de A Revolução dos Bichos foi feita com a tecnologia binaural, conhecida como áudio 3D, quando o som ocupa um espaço de 360 graus e os efeitos sonoros são sentidos de forma diferente em cada ouvido. O efeito faz o ouvinte se sentir mais dentro da história. Também participam do projeto os narradores Flávio Costa e Priscila Scholz, na voz dos animais. A versão fonográfica de A Revolução dos Bichos faz parte da Biblioteca Digital Tocalivros. Em parceria com a ONG Recode, a plataforma disponibiliza gratuitamente para 149 bibliotecas públicas o acervo digital da Tocalivros com mais de 2 mil audiolivros e 5 mil eBooks. “O que me encanta neste projeto, não só poder ler e poder levar esse livro o mais longe possível, é ele disponibilizar para as escolas estaduais de São Paulo, é muito legal”, afirma Porchat.

Qualquer semelhança no estilo do humor ácido de Fábio Porchat com as sátiras políticas de George Orwell não é mera coincidência. O trabalho do escritor, jornalista e ensaísta inglês influenciou fortemente a carreira de um dos principais humoristas brasileiros da atualidade. Não por acaso, o ator dá voz ao audiolivro A Revolução dos Bichos, lançado nesta sexta-feira, 23, pela Tocalivros e disponibilizado gratuitamente.

O comediante Fábio Porchat narrou o audiolivro de 'A Revolução dos Bichos', de George Orwell Foto: Tocalivros

A obra Animal Farm, traduzida para o português como A Revolução dos Bichos ou A Fazenda dos Animais, foi publicada no Reino Unido em 1945 e é considerada um dos melhores romances da língua inglesa. A sátira sobre a União Soviética socialista joga luz à corrupção e a ganância dos comandantes da revolução.  Em entrevista ao Estadão, Porchat revela que este é um dos seus livros de cabeceira, destaca a importância de gravar o romance em audiolivro e fazer a história chegar a mais pessoas. “Esse é um dos meus livros preferidos, eu já li ele umas dez vezes, mas fazia já alguns anos que eu não lia. É quase desesperador, nesse momento em que o Brasil se encontra, ler a Revolução dos Bichos, porque a gente consegue identificar muito fortemente o que acontece no Brasil hoje”, analisa o ator. Porchat conta que descobriu a potência da obra de George Orwell aos 19 anos e ficou muito impactado com o seu realismo e com a habilidade do autor de utilizar uma alegoria para expor a mediocridade humana e a busca pelo poder. Ao narrar o audiolivro, trabalho que foi feito em apenas dois dias, o humorista se emocionou algumas vezes.  “Eu nunca tinha lido em voz alta. É muito emocionante. Quando a gente lê a frase: ‘Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros’, é uma porrada muito grande, porque a realidade é essa. Se a gente for falar desse Brasil racista, homofóbico, machista, somos todos iguais onde? A gente está em um caminho muito errado, a gente precisa tentar aprender com os nossos erros e evoluir. O ser humano precisa evoluir mais rápido mentalmente do que está evoluindo tecnologicamente. O livro mostra isso de forma muita clara”, diz. “É aquela velha frase: ‘não são livros que mudam o mundo, mas livros mudam pessoas e pessoas mudam o mundo’. Acho que é por aí”, conclui.  Sua relação com o trabalho do escritor inglês teve uma forte influência no direcionamento dos seus roteiros. “Apesar de ser comediante, de fazer as pessoas rirem, eu tenho esse lado muito calcado na realidade. Sou uma pessoa muito prática, pragmática, não tenho crenças. Eu vejo o lado sombrio do mundo. No fim das contas, o humor e a sátira jogam uma luz sobre determinado assunto, fazem a gente pensar sobre aquilo. É claro que a gente ri, mas é quase um ‘rir pra não chorar’. A gente ri porque se identifica, porque sabe do que se trata. Então força a barra para a gente mudar.” Ator de cinema, teatro, televisão e esquetes para internet, Porchat conta como é interpretar o audiolivro, colocando suas emoções e seu entendimento daquele texto. “Eu pude fazer uma coisa que eu achei pertinente: como é um livro com alegoria, uma fazenda de animais, tem um quê de fábula, eu pude fazer uma narração com esse olhar de ‘estou contando uma historinha’. Não tem nenhuma entonação infantil, mas tem um jeito de contar a história como uma fábula, e você vai tomando uns sustos com as consequências daqueles porcos comandando a fazenda. É um livro curto, ainda tem essa vantagem, isso é ótimo para pegar um desprevenido”, brinca. O humorista encontrou em grandes nomes da dramaturgia sua inspiração para gravar o audiolivro: Paulo Autran lendo Carlos Drummond de Andrade e a Aracy Balabanian narrando os textos de Clarice Lispector. “É uma das coisas mais lindas que eu já ouvi na minha vida, é de uma delicadeza, de uma profundidade, de uma força, que só uma grande atriz como a Aracy poderia colocar ali. E uma pessoa que para mim é uma narradora de histórias é a Maria Bethânia. O show dela é uma performance, ela interpreta aqueles textos que são as músicas dela, com calma, com tranquilidade, com total entendimento de cada sílaba. Então são três referências que eu tenho para essa leitura.” Porchat revela qual outro audiolivro gostaria de gravar. “Eu adoraria ler O Processo, do Kafka, que eu acho incrível também. Eu amo realismo fantástico, e é um dos meus livros preferidos. Seria um bom próximo projeto.” A gravação de A Revolução dos Bichos foi feita com a tecnologia binaural, conhecida como áudio 3D, quando o som ocupa um espaço de 360 graus e os efeitos sonoros são sentidos de forma diferente em cada ouvido. O efeito faz o ouvinte se sentir mais dentro da história. Também participam do projeto os narradores Flávio Costa e Priscila Scholz, na voz dos animais. A versão fonográfica de A Revolução dos Bichos faz parte da Biblioteca Digital Tocalivros. Em parceria com a ONG Recode, a plataforma disponibiliza gratuitamente para 149 bibliotecas públicas o acervo digital da Tocalivros com mais de 2 mil audiolivros e 5 mil eBooks. “O que me encanta neste projeto, não só poder ler e poder levar esse livro o mais longe possível, é ele disponibilizar para as escolas estaduais de São Paulo, é muito legal”, afirma Porchat.

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