'Falta de diálogo é o grande inimigo atual', diz Dan Brown


Em entrevista exclusiva, escritor americano fala sobre novo livro, ‘Origem’, e a relação entre religião e ciência

Por Maria Fernanda Rodrigues

ENVIADA ESPECIAL / FRANKFURT - Dan Brown escreveu o primeiro livro, The Giraffe, the Pig, and The Pants On Fire, aos cinco. Quis ser arquiteto, mas não sabia desenhar. Quis ser compositor, mas não era bom. Já adulto, voltou à literatura, sem muito sucesso, e a culpa, ele diz, é da editora de seus três primeiros títulos. Então, ele escreveu O Código Da Vinci e mudou de editora. E um novo mundo se abriu. Hoje, o autor americano ultrapassa os 200 milhões de exemplares vendidos. 

+ ‘Origem’, thriller divertido de Dan Brown, traz questões importantes e a correria habitual

Brown está em Frankfurt, onde começa o tour de lançamento de Origem (Arqueiro), o quinto livro protagonizado pelo simbologista Robert Langdon. Há a expectativa de que ele vá ao Brasil no início do ano. A ver. 

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Dan Brown na Feira do Livro de Frankfurt Foto: EFE/Ronald Wittek

Dan Brown escolheu a Espanha, o primeiro país que conheceu na adolescência, para situar 'Origem'. A história começa em Bilbao, onde um futurista milionário, Edmon Kirsch, convoca a comunidade científica para relevar um segredo que vai chacoalhar o mundo. Tudo começa a dar errado, e Robert Langdon, ex-professor de Kirsch, inicia sua corrida contra o tempo.

A ideia de Origem, Dan Brown conta, veio de uma música composta por seu irmão: Missa Charles Darwin. A melodia remete às músicas de igreja, mas a letra evoca as ideias de Darwin.

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Foram quatro anos de preparação e, entre as perguntas que o autor se fez, e procurou responder na obra, foi: “Deus vai sobreviver à ciência?”

Vai? “Sim, de alguma forma, porque precisamos, no nosso estado atual, de algum tipo de motorista, de um condutor, para quem possamos olhar e pensar: ‘ele está no comando’”, disse.

A literatura, para Dan Brown, que confessa não ler ficção (“gosto de aprender sobre o mundo real”), deve ter algo de instrutivo. E o que o desafia? “Escrever uma não ficção sobre essas questões é fácil. Escrever um thriller também. Juntar os dois é que é o desafio”, disse.

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O autor falou ao Estado, em entrevista exclusiva, um pouco antes de um encontro com quase dois mil leitores, sobre seu novo thriller, que mistura ação, religião e ciência.

Ecoando a pergunta de um dos personagens, o senhor acredita que é suficiente viver num universo cujas leis criam vidas espontaneamente? Ou prefere Deus? 

Eu poderia viver num mundo em que as leis da física criam vidas sem precisar de Deus e eu também poderia viver num mundo onde há um Deus.

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Foi uma criança religiosa. Ainda acredita em Deus?

Não acredito mais no Deus da minha infância. Não acredito mais que um homem tenha mandado seu filho morrer pelo meu pecado. Historicamente, isso pode ter acontecido, mas não vejo milagre aí.

Mas acredita que há algo além?

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Acho difícil não acreditar. Se olho para o céu, sinto que há algo maior que nós.

Outro importante personagem é uma inteligência artificial. Sem correr o risco de dar spoilers, o senhor compartilha do estranhamento de Langdon quanto a este ser?

Claro. Inteligência artificial é uma tecnologia incrível e poderosa. Mas é importante lembrar que, sempre que nossa espécie cria uma nova tecnologia, ela a transforma em uma arma. Aprendemos a usar o fogo para cozinhar e depois para destruir nossos vizinhos.

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Apesar das reviravoltas, há uma nota otimista na obra.

Sou otimista. Acho que há mais amor que ódio no mundo e que vamos continuar encontrando uma forma de evoluir como espécie.

Como seria um mundo sem Deus?

Talvez ele fosse um mundo mais pacífico. Olharíamos para o outro em busca de ajuda espiritual. Mas também poderia ser mais difícil. A religião é importante especialmente para pessoas enfrentando dificuldades – quem não tem o suficiente para comer ou quem está achando difícil viver. É preciso garantir que cada um tenha o apoio de que precisa. O perigo da religião é quando usamos metáforas de forma literal. Quando dizemos: ‘se você não acredita naquilo em que acredito, você é meu inimigo’. Aí ela fica perigosa.

Como alguém que lê história e é fanático por códigos, como ler o presente e que pistas ele nos dá sobre o futuro?

É um tempo de mudança e um tempo muito perturbador. A tecnologia está se desenvolvendo tanto que praticamente não conseguimos acompanhar. A situação política está mudando no mundo todo. Tudo muito rápido e de forma radical. É um tempo sem descanso, mas muito melhor do que o passado. O presente e o futuro são bons lugares para se viver.

Tem medo de alguma coisa?

Tenho medo de que nossas filosofias não avancem o suficiente para acompanhar a tecnologia e tenho receio de que não seremos intelectualmente maduros para usar de forma responsável as ferramentas poderosas que estamos criando. 

Quem é o inimigo?

A falta de diálogo. A crença de que temos as respostas, de que estamos absolutamente certos, e de que todos os que pensam diferente são o inimigo. 

Como mudar isso?

É difícil. Tomemos o argumento ciência X religião. As pessoas com a mente mais científica têm que aceitar que a religião faz bem para o mundo e que ela serve as pessoas. E pessoas que seguem uma religião precisam entender que os ateus também podem ser boas pessoas, que a religião não é sinônimo de moralidade, ou seja, que você pode ser moral e compassivo fora da religião. Isso ajudaria a preencher o abismo entre os dois.

Como gostaria de ser lembrado? Como uma pessoa de mente aberta, que pôde ouvir todos os pontos de vista, e aceitá-los.

Uma qualidade hoje. Hoje, não ouvimos. Só o que fazemos é falar. Todos gritam, ninguém escuta.

Este é um dos nossos maiores problemas. Este é o problema.

ENVIADA ESPECIAL / FRANKFURT - Dan Brown escreveu o primeiro livro, The Giraffe, the Pig, and The Pants On Fire, aos cinco. Quis ser arquiteto, mas não sabia desenhar. Quis ser compositor, mas não era bom. Já adulto, voltou à literatura, sem muito sucesso, e a culpa, ele diz, é da editora de seus três primeiros títulos. Então, ele escreveu O Código Da Vinci e mudou de editora. E um novo mundo se abriu. Hoje, o autor americano ultrapassa os 200 milhões de exemplares vendidos. 

+ ‘Origem’, thriller divertido de Dan Brown, traz questões importantes e a correria habitual

Brown está em Frankfurt, onde começa o tour de lançamento de Origem (Arqueiro), o quinto livro protagonizado pelo simbologista Robert Langdon. Há a expectativa de que ele vá ao Brasil no início do ano. A ver. 

Dan Brown na Feira do Livro de Frankfurt Foto: EFE/Ronald Wittek

Dan Brown escolheu a Espanha, o primeiro país que conheceu na adolescência, para situar 'Origem'. A história começa em Bilbao, onde um futurista milionário, Edmon Kirsch, convoca a comunidade científica para relevar um segredo que vai chacoalhar o mundo. Tudo começa a dar errado, e Robert Langdon, ex-professor de Kirsch, inicia sua corrida contra o tempo.

A ideia de Origem, Dan Brown conta, veio de uma música composta por seu irmão: Missa Charles Darwin. A melodia remete às músicas de igreja, mas a letra evoca as ideias de Darwin.

Foram quatro anos de preparação e, entre as perguntas que o autor se fez, e procurou responder na obra, foi: “Deus vai sobreviver à ciência?”

Vai? “Sim, de alguma forma, porque precisamos, no nosso estado atual, de algum tipo de motorista, de um condutor, para quem possamos olhar e pensar: ‘ele está no comando’”, disse.

A literatura, para Dan Brown, que confessa não ler ficção (“gosto de aprender sobre o mundo real”), deve ter algo de instrutivo. E o que o desafia? “Escrever uma não ficção sobre essas questões é fácil. Escrever um thriller também. Juntar os dois é que é o desafio”, disse.

O autor falou ao Estado, em entrevista exclusiva, um pouco antes de um encontro com quase dois mil leitores, sobre seu novo thriller, que mistura ação, religião e ciência.

Ecoando a pergunta de um dos personagens, o senhor acredita que é suficiente viver num universo cujas leis criam vidas espontaneamente? Ou prefere Deus? 

Eu poderia viver num mundo em que as leis da física criam vidas sem precisar de Deus e eu também poderia viver num mundo onde há um Deus.

Foi uma criança religiosa. Ainda acredita em Deus?

Não acredito mais no Deus da minha infância. Não acredito mais que um homem tenha mandado seu filho morrer pelo meu pecado. Historicamente, isso pode ter acontecido, mas não vejo milagre aí.

Mas acredita que há algo além?

Acho difícil não acreditar. Se olho para o céu, sinto que há algo maior que nós.

Outro importante personagem é uma inteligência artificial. Sem correr o risco de dar spoilers, o senhor compartilha do estranhamento de Langdon quanto a este ser?

Claro. Inteligência artificial é uma tecnologia incrível e poderosa. Mas é importante lembrar que, sempre que nossa espécie cria uma nova tecnologia, ela a transforma em uma arma. Aprendemos a usar o fogo para cozinhar e depois para destruir nossos vizinhos.

Apesar das reviravoltas, há uma nota otimista na obra.

Sou otimista. Acho que há mais amor que ódio no mundo e que vamos continuar encontrando uma forma de evoluir como espécie.

Como seria um mundo sem Deus?

Talvez ele fosse um mundo mais pacífico. Olharíamos para o outro em busca de ajuda espiritual. Mas também poderia ser mais difícil. A religião é importante especialmente para pessoas enfrentando dificuldades – quem não tem o suficiente para comer ou quem está achando difícil viver. É preciso garantir que cada um tenha o apoio de que precisa. O perigo da religião é quando usamos metáforas de forma literal. Quando dizemos: ‘se você não acredita naquilo em que acredito, você é meu inimigo’. Aí ela fica perigosa.

Como alguém que lê história e é fanático por códigos, como ler o presente e que pistas ele nos dá sobre o futuro?

É um tempo de mudança e um tempo muito perturbador. A tecnologia está se desenvolvendo tanto que praticamente não conseguimos acompanhar. A situação política está mudando no mundo todo. Tudo muito rápido e de forma radical. É um tempo sem descanso, mas muito melhor do que o passado. O presente e o futuro são bons lugares para se viver.

Tem medo de alguma coisa?

Tenho medo de que nossas filosofias não avancem o suficiente para acompanhar a tecnologia e tenho receio de que não seremos intelectualmente maduros para usar de forma responsável as ferramentas poderosas que estamos criando. 

Quem é o inimigo?

A falta de diálogo. A crença de que temos as respostas, de que estamos absolutamente certos, e de que todos os que pensam diferente são o inimigo. 

Como mudar isso?

É difícil. Tomemos o argumento ciência X religião. As pessoas com a mente mais científica têm que aceitar que a religião faz bem para o mundo e que ela serve as pessoas. E pessoas que seguem uma religião precisam entender que os ateus também podem ser boas pessoas, que a religião não é sinônimo de moralidade, ou seja, que você pode ser moral e compassivo fora da religião. Isso ajudaria a preencher o abismo entre os dois.

Como gostaria de ser lembrado? Como uma pessoa de mente aberta, que pôde ouvir todos os pontos de vista, e aceitá-los.

Uma qualidade hoje. Hoje, não ouvimos. Só o que fazemos é falar. Todos gritam, ninguém escuta.

Este é um dos nossos maiores problemas. Este é o problema.

ENVIADA ESPECIAL / FRANKFURT - Dan Brown escreveu o primeiro livro, The Giraffe, the Pig, and The Pants On Fire, aos cinco. Quis ser arquiteto, mas não sabia desenhar. Quis ser compositor, mas não era bom. Já adulto, voltou à literatura, sem muito sucesso, e a culpa, ele diz, é da editora de seus três primeiros títulos. Então, ele escreveu O Código Da Vinci e mudou de editora. E um novo mundo se abriu. Hoje, o autor americano ultrapassa os 200 milhões de exemplares vendidos. 

+ ‘Origem’, thriller divertido de Dan Brown, traz questões importantes e a correria habitual

Brown está em Frankfurt, onde começa o tour de lançamento de Origem (Arqueiro), o quinto livro protagonizado pelo simbologista Robert Langdon. Há a expectativa de que ele vá ao Brasil no início do ano. A ver. 

Dan Brown na Feira do Livro de Frankfurt Foto: EFE/Ronald Wittek

Dan Brown escolheu a Espanha, o primeiro país que conheceu na adolescência, para situar 'Origem'. A história começa em Bilbao, onde um futurista milionário, Edmon Kirsch, convoca a comunidade científica para relevar um segredo que vai chacoalhar o mundo. Tudo começa a dar errado, e Robert Langdon, ex-professor de Kirsch, inicia sua corrida contra o tempo.

A ideia de Origem, Dan Brown conta, veio de uma música composta por seu irmão: Missa Charles Darwin. A melodia remete às músicas de igreja, mas a letra evoca as ideias de Darwin.

Foram quatro anos de preparação e, entre as perguntas que o autor se fez, e procurou responder na obra, foi: “Deus vai sobreviver à ciência?”

Vai? “Sim, de alguma forma, porque precisamos, no nosso estado atual, de algum tipo de motorista, de um condutor, para quem possamos olhar e pensar: ‘ele está no comando’”, disse.

A literatura, para Dan Brown, que confessa não ler ficção (“gosto de aprender sobre o mundo real”), deve ter algo de instrutivo. E o que o desafia? “Escrever uma não ficção sobre essas questões é fácil. Escrever um thriller também. Juntar os dois é que é o desafio”, disse.

O autor falou ao Estado, em entrevista exclusiva, um pouco antes de um encontro com quase dois mil leitores, sobre seu novo thriller, que mistura ação, religião e ciência.

Ecoando a pergunta de um dos personagens, o senhor acredita que é suficiente viver num universo cujas leis criam vidas espontaneamente? Ou prefere Deus? 

Eu poderia viver num mundo em que as leis da física criam vidas sem precisar de Deus e eu também poderia viver num mundo onde há um Deus.

Foi uma criança religiosa. Ainda acredita em Deus?

Não acredito mais no Deus da minha infância. Não acredito mais que um homem tenha mandado seu filho morrer pelo meu pecado. Historicamente, isso pode ter acontecido, mas não vejo milagre aí.

Mas acredita que há algo além?

Acho difícil não acreditar. Se olho para o céu, sinto que há algo maior que nós.

Outro importante personagem é uma inteligência artificial. Sem correr o risco de dar spoilers, o senhor compartilha do estranhamento de Langdon quanto a este ser?

Claro. Inteligência artificial é uma tecnologia incrível e poderosa. Mas é importante lembrar que, sempre que nossa espécie cria uma nova tecnologia, ela a transforma em uma arma. Aprendemos a usar o fogo para cozinhar e depois para destruir nossos vizinhos.

Apesar das reviravoltas, há uma nota otimista na obra.

Sou otimista. Acho que há mais amor que ódio no mundo e que vamos continuar encontrando uma forma de evoluir como espécie.

Como seria um mundo sem Deus?

Talvez ele fosse um mundo mais pacífico. Olharíamos para o outro em busca de ajuda espiritual. Mas também poderia ser mais difícil. A religião é importante especialmente para pessoas enfrentando dificuldades – quem não tem o suficiente para comer ou quem está achando difícil viver. É preciso garantir que cada um tenha o apoio de que precisa. O perigo da religião é quando usamos metáforas de forma literal. Quando dizemos: ‘se você não acredita naquilo em que acredito, você é meu inimigo’. Aí ela fica perigosa.

Como alguém que lê história e é fanático por códigos, como ler o presente e que pistas ele nos dá sobre o futuro?

É um tempo de mudança e um tempo muito perturbador. A tecnologia está se desenvolvendo tanto que praticamente não conseguimos acompanhar. A situação política está mudando no mundo todo. Tudo muito rápido e de forma radical. É um tempo sem descanso, mas muito melhor do que o passado. O presente e o futuro são bons lugares para se viver.

Tem medo de alguma coisa?

Tenho medo de que nossas filosofias não avancem o suficiente para acompanhar a tecnologia e tenho receio de que não seremos intelectualmente maduros para usar de forma responsável as ferramentas poderosas que estamos criando. 

Quem é o inimigo?

A falta de diálogo. A crença de que temos as respostas, de que estamos absolutamente certos, e de que todos os que pensam diferente são o inimigo. 

Como mudar isso?

É difícil. Tomemos o argumento ciência X religião. As pessoas com a mente mais científica têm que aceitar que a religião faz bem para o mundo e que ela serve as pessoas. E pessoas que seguem uma religião precisam entender que os ateus também podem ser boas pessoas, que a religião não é sinônimo de moralidade, ou seja, que você pode ser moral e compassivo fora da religião. Isso ajudaria a preencher o abismo entre os dois.

Como gostaria de ser lembrado? Como uma pessoa de mente aberta, que pôde ouvir todos os pontos de vista, e aceitá-los.

Uma qualidade hoje. Hoje, não ouvimos. Só o que fazemos é falar. Todos gritam, ninguém escuta.

Este é um dos nossos maiores problemas. Este é o problema.

ENVIADA ESPECIAL / FRANKFURT - Dan Brown escreveu o primeiro livro, The Giraffe, the Pig, and The Pants On Fire, aos cinco. Quis ser arquiteto, mas não sabia desenhar. Quis ser compositor, mas não era bom. Já adulto, voltou à literatura, sem muito sucesso, e a culpa, ele diz, é da editora de seus três primeiros títulos. Então, ele escreveu O Código Da Vinci e mudou de editora. E um novo mundo se abriu. Hoje, o autor americano ultrapassa os 200 milhões de exemplares vendidos. 

+ ‘Origem’, thriller divertido de Dan Brown, traz questões importantes e a correria habitual

Brown está em Frankfurt, onde começa o tour de lançamento de Origem (Arqueiro), o quinto livro protagonizado pelo simbologista Robert Langdon. Há a expectativa de que ele vá ao Brasil no início do ano. A ver. 

Dan Brown na Feira do Livro de Frankfurt Foto: EFE/Ronald Wittek

Dan Brown escolheu a Espanha, o primeiro país que conheceu na adolescência, para situar 'Origem'. A história começa em Bilbao, onde um futurista milionário, Edmon Kirsch, convoca a comunidade científica para relevar um segredo que vai chacoalhar o mundo. Tudo começa a dar errado, e Robert Langdon, ex-professor de Kirsch, inicia sua corrida contra o tempo.

A ideia de Origem, Dan Brown conta, veio de uma música composta por seu irmão: Missa Charles Darwin. A melodia remete às músicas de igreja, mas a letra evoca as ideias de Darwin.

Foram quatro anos de preparação e, entre as perguntas que o autor se fez, e procurou responder na obra, foi: “Deus vai sobreviver à ciência?”

Vai? “Sim, de alguma forma, porque precisamos, no nosso estado atual, de algum tipo de motorista, de um condutor, para quem possamos olhar e pensar: ‘ele está no comando’”, disse.

A literatura, para Dan Brown, que confessa não ler ficção (“gosto de aprender sobre o mundo real”), deve ter algo de instrutivo. E o que o desafia? “Escrever uma não ficção sobre essas questões é fácil. Escrever um thriller também. Juntar os dois é que é o desafio”, disse.

O autor falou ao Estado, em entrevista exclusiva, um pouco antes de um encontro com quase dois mil leitores, sobre seu novo thriller, que mistura ação, religião e ciência.

Ecoando a pergunta de um dos personagens, o senhor acredita que é suficiente viver num universo cujas leis criam vidas espontaneamente? Ou prefere Deus? 

Eu poderia viver num mundo em que as leis da física criam vidas sem precisar de Deus e eu também poderia viver num mundo onde há um Deus.

Foi uma criança religiosa. Ainda acredita em Deus?

Não acredito mais no Deus da minha infância. Não acredito mais que um homem tenha mandado seu filho morrer pelo meu pecado. Historicamente, isso pode ter acontecido, mas não vejo milagre aí.

Mas acredita que há algo além?

Acho difícil não acreditar. Se olho para o céu, sinto que há algo maior que nós.

Outro importante personagem é uma inteligência artificial. Sem correr o risco de dar spoilers, o senhor compartilha do estranhamento de Langdon quanto a este ser?

Claro. Inteligência artificial é uma tecnologia incrível e poderosa. Mas é importante lembrar que, sempre que nossa espécie cria uma nova tecnologia, ela a transforma em uma arma. Aprendemos a usar o fogo para cozinhar e depois para destruir nossos vizinhos.

Apesar das reviravoltas, há uma nota otimista na obra.

Sou otimista. Acho que há mais amor que ódio no mundo e que vamos continuar encontrando uma forma de evoluir como espécie.

Como seria um mundo sem Deus?

Talvez ele fosse um mundo mais pacífico. Olharíamos para o outro em busca de ajuda espiritual. Mas também poderia ser mais difícil. A religião é importante especialmente para pessoas enfrentando dificuldades – quem não tem o suficiente para comer ou quem está achando difícil viver. É preciso garantir que cada um tenha o apoio de que precisa. O perigo da religião é quando usamos metáforas de forma literal. Quando dizemos: ‘se você não acredita naquilo em que acredito, você é meu inimigo’. Aí ela fica perigosa.

Como alguém que lê história e é fanático por códigos, como ler o presente e que pistas ele nos dá sobre o futuro?

É um tempo de mudança e um tempo muito perturbador. A tecnologia está se desenvolvendo tanto que praticamente não conseguimos acompanhar. A situação política está mudando no mundo todo. Tudo muito rápido e de forma radical. É um tempo sem descanso, mas muito melhor do que o passado. O presente e o futuro são bons lugares para se viver.

Tem medo de alguma coisa?

Tenho medo de que nossas filosofias não avancem o suficiente para acompanhar a tecnologia e tenho receio de que não seremos intelectualmente maduros para usar de forma responsável as ferramentas poderosas que estamos criando. 

Quem é o inimigo?

A falta de diálogo. A crença de que temos as respostas, de que estamos absolutamente certos, e de que todos os que pensam diferente são o inimigo. 

Como mudar isso?

É difícil. Tomemos o argumento ciência X religião. As pessoas com a mente mais científica têm que aceitar que a religião faz bem para o mundo e que ela serve as pessoas. E pessoas que seguem uma religião precisam entender que os ateus também podem ser boas pessoas, que a religião não é sinônimo de moralidade, ou seja, que você pode ser moral e compassivo fora da religião. Isso ajudaria a preencher o abismo entre os dois.

Como gostaria de ser lembrado? Como uma pessoa de mente aberta, que pôde ouvir todos os pontos de vista, e aceitá-los.

Uma qualidade hoje. Hoje, não ouvimos. Só o que fazemos é falar. Todos gritam, ninguém escuta.

Este é um dos nossos maiores problemas. Este é o problema.

ENVIADA ESPECIAL / FRANKFURT - Dan Brown escreveu o primeiro livro, The Giraffe, the Pig, and The Pants On Fire, aos cinco. Quis ser arquiteto, mas não sabia desenhar. Quis ser compositor, mas não era bom. Já adulto, voltou à literatura, sem muito sucesso, e a culpa, ele diz, é da editora de seus três primeiros títulos. Então, ele escreveu O Código Da Vinci e mudou de editora. E um novo mundo se abriu. Hoje, o autor americano ultrapassa os 200 milhões de exemplares vendidos. 

+ ‘Origem’, thriller divertido de Dan Brown, traz questões importantes e a correria habitual

Brown está em Frankfurt, onde começa o tour de lançamento de Origem (Arqueiro), o quinto livro protagonizado pelo simbologista Robert Langdon. Há a expectativa de que ele vá ao Brasil no início do ano. A ver. 

Dan Brown na Feira do Livro de Frankfurt Foto: EFE/Ronald Wittek

Dan Brown escolheu a Espanha, o primeiro país que conheceu na adolescência, para situar 'Origem'. A história começa em Bilbao, onde um futurista milionário, Edmon Kirsch, convoca a comunidade científica para relevar um segredo que vai chacoalhar o mundo. Tudo começa a dar errado, e Robert Langdon, ex-professor de Kirsch, inicia sua corrida contra o tempo.

A ideia de Origem, Dan Brown conta, veio de uma música composta por seu irmão: Missa Charles Darwin. A melodia remete às músicas de igreja, mas a letra evoca as ideias de Darwin.

Foram quatro anos de preparação e, entre as perguntas que o autor se fez, e procurou responder na obra, foi: “Deus vai sobreviver à ciência?”

Vai? “Sim, de alguma forma, porque precisamos, no nosso estado atual, de algum tipo de motorista, de um condutor, para quem possamos olhar e pensar: ‘ele está no comando’”, disse.

A literatura, para Dan Brown, que confessa não ler ficção (“gosto de aprender sobre o mundo real”), deve ter algo de instrutivo. E o que o desafia? “Escrever uma não ficção sobre essas questões é fácil. Escrever um thriller também. Juntar os dois é que é o desafio”, disse.

O autor falou ao Estado, em entrevista exclusiva, um pouco antes de um encontro com quase dois mil leitores, sobre seu novo thriller, que mistura ação, religião e ciência.

Ecoando a pergunta de um dos personagens, o senhor acredita que é suficiente viver num universo cujas leis criam vidas espontaneamente? Ou prefere Deus? 

Eu poderia viver num mundo em que as leis da física criam vidas sem precisar de Deus e eu também poderia viver num mundo onde há um Deus.

Foi uma criança religiosa. Ainda acredita em Deus?

Não acredito mais no Deus da minha infância. Não acredito mais que um homem tenha mandado seu filho morrer pelo meu pecado. Historicamente, isso pode ter acontecido, mas não vejo milagre aí.

Mas acredita que há algo além?

Acho difícil não acreditar. Se olho para o céu, sinto que há algo maior que nós.

Outro importante personagem é uma inteligência artificial. Sem correr o risco de dar spoilers, o senhor compartilha do estranhamento de Langdon quanto a este ser?

Claro. Inteligência artificial é uma tecnologia incrível e poderosa. Mas é importante lembrar que, sempre que nossa espécie cria uma nova tecnologia, ela a transforma em uma arma. Aprendemos a usar o fogo para cozinhar e depois para destruir nossos vizinhos.

Apesar das reviravoltas, há uma nota otimista na obra.

Sou otimista. Acho que há mais amor que ódio no mundo e que vamos continuar encontrando uma forma de evoluir como espécie.

Como seria um mundo sem Deus?

Talvez ele fosse um mundo mais pacífico. Olharíamos para o outro em busca de ajuda espiritual. Mas também poderia ser mais difícil. A religião é importante especialmente para pessoas enfrentando dificuldades – quem não tem o suficiente para comer ou quem está achando difícil viver. É preciso garantir que cada um tenha o apoio de que precisa. O perigo da religião é quando usamos metáforas de forma literal. Quando dizemos: ‘se você não acredita naquilo em que acredito, você é meu inimigo’. Aí ela fica perigosa.

Como alguém que lê história e é fanático por códigos, como ler o presente e que pistas ele nos dá sobre o futuro?

É um tempo de mudança e um tempo muito perturbador. A tecnologia está se desenvolvendo tanto que praticamente não conseguimos acompanhar. A situação política está mudando no mundo todo. Tudo muito rápido e de forma radical. É um tempo sem descanso, mas muito melhor do que o passado. O presente e o futuro são bons lugares para se viver.

Tem medo de alguma coisa?

Tenho medo de que nossas filosofias não avancem o suficiente para acompanhar a tecnologia e tenho receio de que não seremos intelectualmente maduros para usar de forma responsável as ferramentas poderosas que estamos criando. 

Quem é o inimigo?

A falta de diálogo. A crença de que temos as respostas, de que estamos absolutamente certos, e de que todos os que pensam diferente são o inimigo. 

Como mudar isso?

É difícil. Tomemos o argumento ciência X religião. As pessoas com a mente mais científica têm que aceitar que a religião faz bem para o mundo e que ela serve as pessoas. E pessoas que seguem uma religião precisam entender que os ateus também podem ser boas pessoas, que a religião não é sinônimo de moralidade, ou seja, que você pode ser moral e compassivo fora da religião. Isso ajudaria a preencher o abismo entre os dois.

Como gostaria de ser lembrado? Como uma pessoa de mente aberta, que pôde ouvir todos os pontos de vista, e aceitá-los.

Uma qualidade hoje. Hoje, não ouvimos. Só o que fazemos é falar. Todos gritam, ninguém escuta.

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