A escritora bielorrussa Svetlana Alexiévich, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015, admitiu, em entrevista publicada neste sábado, 5, que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, conta com apoio de grande parcela da população no país que dirige, no entanto, contestou como isso foi alcançado.
"Acho que Putin reflete a opinião dos russos médios, que vivem nos subúrbios, esses russos que não toleram a humilhação", disse a escritora ao jornal italiano Corriere della Sera, em resposta à questão sobre os 60% de apoio da população da Rússia ao presidente e à guerra.
"É certo que muita gente o apoia e diz que não sabemos de nada, que é tudo um acúmulo de notícias inventadas. Depois que fecharam a rádio Eco e a Dozhd TV, basicamente, só restou o jornal Novaya Gazeta. Então, ninguém na Rússia saberá a verdade, é um país fechado", completou Alexiévich.
De mãe ucraniana e pai bielorrusso, a escritora está exilada na Alemanha, devido ao envolvimento na oposição ao presidente de Belarus, Alexandr Lukashenko, um dos maiores aliados de Putin.
"Para meus livros, viajei muito pela Rússia, e muitos que escutei falavam de humilhação mais do que outra coisa. Ninguém tem medo. E como ficaram felizes quando puderam dizer que Putin os fez levantar de estarem ajoelhados diante do mundo. Temo que esse sentimento de 'imperialismo' está arraigado", explica.
Alexiévich explica que, quando a União Soviética foi desmantelada, em 1991, "nos alegramos de que tudo havia acontecido pacificamente", mas "subestimamos a morte do comunismo. Muito do que havia na época soviética, deixou uma marca".
Segundo a escritora, Putin se aproveita de uma maioria orgulhosa do conceito de "grande pátria" para realizar as ações.
"Se não sentisse intuitivamente esse apoio, não estaria fazendo o que está fazendo. Ao menos, de maneira tão insolente, atacando um país soberano e falando sobre ele com tanto ódio", lamentou.
Alexiévich, inclusive, acredita que Putin não parará na Ucrânia, "se conseguir vencer", mas demonstra esperança que "a Europa, que adotou uma postura unida, se pronuncie, e também os Estados Unidos".
"Acho que o mundo e, sobretudo, os políticos, devem achar formas de parar Putin. Mas, não sei quais são. Nas negociações, só pede a rendição da Ucrânia, e já aconteceu. Acho que o mundo inteiro deve ajudar a Ucrânia", afirmou a escritora.
"Apoio a formação de uma legião estrangeira, com milhares de pessoas, que ajudem no resgate e fornecimento de armas para a Ucrânia", concluiu.