'Guimarães Rosa me devolveu o chão', diz Mia Couto em São Paulo


No lançamento de 'Grande Sertão: Veredas', o escritor Mia Couto falou ainda sobre as tentativas de apagar a memória - da escravidão, do genocídio indígena, da ditadura militar brasileira -, e sobre o ciclone que devastou Moçambique

Por Maria Fernanda Rodrigues

Uma das principais vozes da literatura lusófona, o moçambicano Mia Couto considerou cancelar sua viagem ao Brasil, para o lançamento da nova edição de Grande Sertão: Veredas, depois que o ciclone Idai destruiu sua cidade natal, Beira – que ele visitou dias antes de embarcar para São Paulo. “Confirmei, lá, que eu estava órfão da minha infância”, disse o escritor para uma plateia que lotou o Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, na noite desta terça, 9. E a infância é algo caro a Mia Couto, e seria tema de seu próximo livro.

Mia Couto faz discurso politizado em lançamento de 'Grande Sertão: Veredas' Foto: Taba Benedicto

Mas um amigo o incentivou a vir e a trazer um abraço aos brasileiros. “E é isso que estou fazendo: trazendo um abraço solidário de Moçambique por Brumadinho, Mariana e pelo Rio de Janeiro. Um abraço à diversidade de sua gente, à integridade de sua história – essa história que tantas vezes já foi amputada das memórias da escravatura e do racismo, amputada do genocídio dos índios e da violência contra as mulheres. E que agora está na iminência de ser amputada mais uma vez apagando aquilo que é memória da ditadura”, disse Mia Couto logo no início de sua fala, que se seguiu política em outros momentos da noite. 

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A abertura do evento promovido pela Companhia das Letras contou com a leitura, por três integrantes do Grupo Miguilim, de Cordisburgo, de trechos da obra de Guimarães Rosa, um dos “mestres” de Mia Couto e influência também para outros escritores africanos, como o angolano Luandino Viera – que foi a primeira inspiração para Mia, e de quem ele ouviu certa vez: “Se quiser que a linguagem seja o personagem, vá à fonte. Mia começou a ler o autor por A Terceira Margem do Rio, e então se deparou com Grande Serão: Veredas. E confessou que teve dificuldade de entrar na obra num primeiro momento. Mas foi nela, ele disse, que encontrou o retrato mais fiel do Brasil e as “ligações perigosas” feitas pelo autor, que usou o regional para fazer um texto universal, que brincou com o pitoresco para fazer filosofia, que usou a fala popular para criar uma literatura inovadora.

“Meus amigos brasileiros me asseguram que esse texto poderia ter sido escrito nos tempos de hoje, com líderes populares sendo assassinados, com fazendeiros e madeireiros invadindo as terras indígenas, com as dificuldades do estado de direito fazer frente aos abusos que agora têm novos mandantes. Disparar 80 tiros sobre uma inocente família pode ser bem mais que um acidente. Pode ser uma manifestação de uma outra lei que se quer fazer à margem de toda a lei”, disse o escritor, e foi muito aplaudido.

O encontro com Guimarães Rosa mudou a escrita de Mia Couto, vencedor do Prêmio Camões, e o reencontro, agora, “devolveu o chão” para ele. 

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“Rosa me volta a ensinar que aquela minha cidade não era apenas um lugar, era uma entidade viva que me tinha contado histórias. Como o sertão de Rosa, a minha cidade é mais da palavra do que da terra, e os nossos lugares de afeto são sempre mais da linguagem do que da geografia.” 

Uma das principais vozes da literatura lusófona, o moçambicano Mia Couto considerou cancelar sua viagem ao Brasil, para o lançamento da nova edição de Grande Sertão: Veredas, depois que o ciclone Idai destruiu sua cidade natal, Beira – que ele visitou dias antes de embarcar para São Paulo. “Confirmei, lá, que eu estava órfão da minha infância”, disse o escritor para uma plateia que lotou o Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, na noite desta terça, 9. E a infância é algo caro a Mia Couto, e seria tema de seu próximo livro.

Mia Couto faz discurso politizado em lançamento de 'Grande Sertão: Veredas' Foto: Taba Benedicto

Mas um amigo o incentivou a vir e a trazer um abraço aos brasileiros. “E é isso que estou fazendo: trazendo um abraço solidário de Moçambique por Brumadinho, Mariana e pelo Rio de Janeiro. Um abraço à diversidade de sua gente, à integridade de sua história – essa história que tantas vezes já foi amputada das memórias da escravatura e do racismo, amputada do genocídio dos índios e da violência contra as mulheres. E que agora está na iminência de ser amputada mais uma vez apagando aquilo que é memória da ditadura”, disse Mia Couto logo no início de sua fala, que se seguiu política em outros momentos da noite. 

A abertura do evento promovido pela Companhia das Letras contou com a leitura, por três integrantes do Grupo Miguilim, de Cordisburgo, de trechos da obra de Guimarães Rosa, um dos “mestres” de Mia Couto e influência também para outros escritores africanos, como o angolano Luandino Viera – que foi a primeira inspiração para Mia, e de quem ele ouviu certa vez: “Se quiser que a linguagem seja o personagem, vá à fonte. Mia começou a ler o autor por A Terceira Margem do Rio, e então se deparou com Grande Serão: Veredas. E confessou que teve dificuldade de entrar na obra num primeiro momento. Mas foi nela, ele disse, que encontrou o retrato mais fiel do Brasil e as “ligações perigosas” feitas pelo autor, que usou o regional para fazer um texto universal, que brincou com o pitoresco para fazer filosofia, que usou a fala popular para criar uma literatura inovadora.

“Meus amigos brasileiros me asseguram que esse texto poderia ter sido escrito nos tempos de hoje, com líderes populares sendo assassinados, com fazendeiros e madeireiros invadindo as terras indígenas, com as dificuldades do estado de direito fazer frente aos abusos que agora têm novos mandantes. Disparar 80 tiros sobre uma inocente família pode ser bem mais que um acidente. Pode ser uma manifestação de uma outra lei que se quer fazer à margem de toda a lei”, disse o escritor, e foi muito aplaudido.

O encontro com Guimarães Rosa mudou a escrita de Mia Couto, vencedor do Prêmio Camões, e o reencontro, agora, “devolveu o chão” para ele. 

“Rosa me volta a ensinar que aquela minha cidade não era apenas um lugar, era uma entidade viva que me tinha contado histórias. Como o sertão de Rosa, a minha cidade é mais da palavra do que da terra, e os nossos lugares de afeto são sempre mais da linguagem do que da geografia.” 

Uma das principais vozes da literatura lusófona, o moçambicano Mia Couto considerou cancelar sua viagem ao Brasil, para o lançamento da nova edição de Grande Sertão: Veredas, depois que o ciclone Idai destruiu sua cidade natal, Beira – que ele visitou dias antes de embarcar para São Paulo. “Confirmei, lá, que eu estava órfão da minha infância”, disse o escritor para uma plateia que lotou o Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, na noite desta terça, 9. E a infância é algo caro a Mia Couto, e seria tema de seu próximo livro.

Mia Couto faz discurso politizado em lançamento de 'Grande Sertão: Veredas' Foto: Taba Benedicto

Mas um amigo o incentivou a vir e a trazer um abraço aos brasileiros. “E é isso que estou fazendo: trazendo um abraço solidário de Moçambique por Brumadinho, Mariana e pelo Rio de Janeiro. Um abraço à diversidade de sua gente, à integridade de sua história – essa história que tantas vezes já foi amputada das memórias da escravatura e do racismo, amputada do genocídio dos índios e da violência contra as mulheres. E que agora está na iminência de ser amputada mais uma vez apagando aquilo que é memória da ditadura”, disse Mia Couto logo no início de sua fala, que se seguiu política em outros momentos da noite. 

A abertura do evento promovido pela Companhia das Letras contou com a leitura, por três integrantes do Grupo Miguilim, de Cordisburgo, de trechos da obra de Guimarães Rosa, um dos “mestres” de Mia Couto e influência também para outros escritores africanos, como o angolano Luandino Viera – que foi a primeira inspiração para Mia, e de quem ele ouviu certa vez: “Se quiser que a linguagem seja o personagem, vá à fonte. Mia começou a ler o autor por A Terceira Margem do Rio, e então se deparou com Grande Serão: Veredas. E confessou que teve dificuldade de entrar na obra num primeiro momento. Mas foi nela, ele disse, que encontrou o retrato mais fiel do Brasil e as “ligações perigosas” feitas pelo autor, que usou o regional para fazer um texto universal, que brincou com o pitoresco para fazer filosofia, que usou a fala popular para criar uma literatura inovadora.

“Meus amigos brasileiros me asseguram que esse texto poderia ter sido escrito nos tempos de hoje, com líderes populares sendo assassinados, com fazendeiros e madeireiros invadindo as terras indígenas, com as dificuldades do estado de direito fazer frente aos abusos que agora têm novos mandantes. Disparar 80 tiros sobre uma inocente família pode ser bem mais que um acidente. Pode ser uma manifestação de uma outra lei que se quer fazer à margem de toda a lei”, disse o escritor, e foi muito aplaudido.

O encontro com Guimarães Rosa mudou a escrita de Mia Couto, vencedor do Prêmio Camões, e o reencontro, agora, “devolveu o chão” para ele. 

“Rosa me volta a ensinar que aquela minha cidade não era apenas um lugar, era uma entidade viva que me tinha contado histórias. Como o sertão de Rosa, a minha cidade é mais da palavra do que da terra, e os nossos lugares de afeto são sempre mais da linguagem do que da geografia.” 

Uma das principais vozes da literatura lusófona, o moçambicano Mia Couto considerou cancelar sua viagem ao Brasil, para o lançamento da nova edição de Grande Sertão: Veredas, depois que o ciclone Idai destruiu sua cidade natal, Beira – que ele visitou dias antes de embarcar para São Paulo. “Confirmei, lá, que eu estava órfão da minha infância”, disse o escritor para uma plateia que lotou o Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, na noite desta terça, 9. E a infância é algo caro a Mia Couto, e seria tema de seu próximo livro.

Mia Couto faz discurso politizado em lançamento de 'Grande Sertão: Veredas' Foto: Taba Benedicto

Mas um amigo o incentivou a vir e a trazer um abraço aos brasileiros. “E é isso que estou fazendo: trazendo um abraço solidário de Moçambique por Brumadinho, Mariana e pelo Rio de Janeiro. Um abraço à diversidade de sua gente, à integridade de sua história – essa história que tantas vezes já foi amputada das memórias da escravatura e do racismo, amputada do genocídio dos índios e da violência contra as mulheres. E que agora está na iminência de ser amputada mais uma vez apagando aquilo que é memória da ditadura”, disse Mia Couto logo no início de sua fala, que se seguiu política em outros momentos da noite. 

A abertura do evento promovido pela Companhia das Letras contou com a leitura, por três integrantes do Grupo Miguilim, de Cordisburgo, de trechos da obra de Guimarães Rosa, um dos “mestres” de Mia Couto e influência também para outros escritores africanos, como o angolano Luandino Viera – que foi a primeira inspiração para Mia, e de quem ele ouviu certa vez: “Se quiser que a linguagem seja o personagem, vá à fonte. Mia começou a ler o autor por A Terceira Margem do Rio, e então se deparou com Grande Serão: Veredas. E confessou que teve dificuldade de entrar na obra num primeiro momento. Mas foi nela, ele disse, que encontrou o retrato mais fiel do Brasil e as “ligações perigosas” feitas pelo autor, que usou o regional para fazer um texto universal, que brincou com o pitoresco para fazer filosofia, que usou a fala popular para criar uma literatura inovadora.

“Meus amigos brasileiros me asseguram que esse texto poderia ter sido escrito nos tempos de hoje, com líderes populares sendo assassinados, com fazendeiros e madeireiros invadindo as terras indígenas, com as dificuldades do estado de direito fazer frente aos abusos que agora têm novos mandantes. Disparar 80 tiros sobre uma inocente família pode ser bem mais que um acidente. Pode ser uma manifestação de uma outra lei que se quer fazer à margem de toda a lei”, disse o escritor, e foi muito aplaudido.

O encontro com Guimarães Rosa mudou a escrita de Mia Couto, vencedor do Prêmio Camões, e o reencontro, agora, “devolveu o chão” para ele. 

“Rosa me volta a ensinar que aquela minha cidade não era apenas um lugar, era uma entidade viva que me tinha contado histórias. Como o sertão de Rosa, a minha cidade é mais da palavra do que da terra, e os nossos lugares de afeto são sempre mais da linguagem do que da geografia.” 

Uma das principais vozes da literatura lusófona, o moçambicano Mia Couto considerou cancelar sua viagem ao Brasil, para o lançamento da nova edição de Grande Sertão: Veredas, depois que o ciclone Idai destruiu sua cidade natal, Beira – que ele visitou dias antes de embarcar para São Paulo. “Confirmei, lá, que eu estava órfão da minha infância”, disse o escritor para uma plateia que lotou o Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, na noite desta terça, 9. E a infância é algo caro a Mia Couto, e seria tema de seu próximo livro.

Mia Couto faz discurso politizado em lançamento de 'Grande Sertão: Veredas' Foto: Taba Benedicto

Mas um amigo o incentivou a vir e a trazer um abraço aos brasileiros. “E é isso que estou fazendo: trazendo um abraço solidário de Moçambique por Brumadinho, Mariana e pelo Rio de Janeiro. Um abraço à diversidade de sua gente, à integridade de sua história – essa história que tantas vezes já foi amputada das memórias da escravatura e do racismo, amputada do genocídio dos índios e da violência contra as mulheres. E que agora está na iminência de ser amputada mais uma vez apagando aquilo que é memória da ditadura”, disse Mia Couto logo no início de sua fala, que se seguiu política em outros momentos da noite. 

A abertura do evento promovido pela Companhia das Letras contou com a leitura, por três integrantes do Grupo Miguilim, de Cordisburgo, de trechos da obra de Guimarães Rosa, um dos “mestres” de Mia Couto e influência também para outros escritores africanos, como o angolano Luandino Viera – que foi a primeira inspiração para Mia, e de quem ele ouviu certa vez: “Se quiser que a linguagem seja o personagem, vá à fonte. Mia começou a ler o autor por A Terceira Margem do Rio, e então se deparou com Grande Serão: Veredas. E confessou que teve dificuldade de entrar na obra num primeiro momento. Mas foi nela, ele disse, que encontrou o retrato mais fiel do Brasil e as “ligações perigosas” feitas pelo autor, que usou o regional para fazer um texto universal, que brincou com o pitoresco para fazer filosofia, que usou a fala popular para criar uma literatura inovadora.

“Meus amigos brasileiros me asseguram que esse texto poderia ter sido escrito nos tempos de hoje, com líderes populares sendo assassinados, com fazendeiros e madeireiros invadindo as terras indígenas, com as dificuldades do estado de direito fazer frente aos abusos que agora têm novos mandantes. Disparar 80 tiros sobre uma inocente família pode ser bem mais que um acidente. Pode ser uma manifestação de uma outra lei que se quer fazer à margem de toda a lei”, disse o escritor, e foi muito aplaudido.

O encontro com Guimarães Rosa mudou a escrita de Mia Couto, vencedor do Prêmio Camões, e o reencontro, agora, “devolveu o chão” para ele. 

“Rosa me volta a ensinar que aquela minha cidade não era apenas um lugar, era uma entidade viva que me tinha contado histórias. Como o sertão de Rosa, a minha cidade é mais da palavra do que da terra, e os nossos lugares de afeto são sempre mais da linguagem do que da geografia.” 

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