Indiana Jones das bibliotecas: Jovem caçador de manuscritos perdidos reescreve lenda de Rei Artur


O italiano Emanuele Arioli participa da Bienal do Livro de SP para divulgar ‘Segurant, o Cavaleiro do Dragão’, resultado de dez anos de pesquisa que revelou um livro da Idade Média ignorado por sete séculos; ele lança ainda uma HQ e uma versão da história para crianças inspirada em cordel

Por Ubiratan Brasil
Atualização:
Foto: Autêntica/Divulgação
Entrevista com Emanuele ArioliEscritor

Aos 36 anos, o italiano Emanuele Arioli tem um perfil angelical e olhos azuis que agradam ao cinema - ele até atuou no filme France - Sob os Holofotes, do renomado cineasta francês Bruno Dumont. Mas bem que poderia reviver o célebre Indiana Jones, pois foi com sua dedicação de paleógrafo apaixonado pela Idade Média que ele conseguiu a devida atenção no ano passado, quando um rumoroso lançamento movimentou o mercado editorial francês: a publicação de seu livro Segurant, o Cavaleiro do Dragão, que o Grupo Autêntica acaba de lançar no Brasil - em três versões.

Trata-se do fruto de uma persistente pesquisa de dez anos para revelar um romance da Idade Média que era ignorado fazia sete séculos. Com isso, Arioli recuperou um personagem esquecido, Segurant, que seria mais um membro da távola redonda do Rei Artur, ao lado dos já notáveis Merlin, Lancelote, Tristão, Perceval e Gilead. E a descoberta aconteceu por acaso, quando o italiano pesquisava os manuscritos do século 12 de As Profecias de Merlin, coleção de previsões atribuídas ao famoso feiticeiro.

continua após a publicidade

De repente, ele se deparou com uma ilustração representando um cavaleiro com seu dragão. “O manuscrito estava incompleto, parava no meio de uma frase”, conta ele ao Estadão, em um português fluente. Com a curiosidade atiçada, Arioli iniciou uma busca ao estilo Indiana Jones por mais manuscritos. Sua aventura o levou a pesquisar bibliotecas na França, Itália, Grã-Bretanha, Alemanha, Bélgica e Estados Unidos. Em dez anos, desencavou 28 manuscritos que o permitiram recuperar o livro perdido.

Emanuele Arioli em documentário sobre sua pesquisa que resultou em 'Segurant, o Cavaleiro do Dragão'. Foto: Reprodução Zed pour Arte e Histoire TV/Divulgação

Retomou, assim, a história de Segurant, cavaleiro da corte do Rei Artur, condenado por uma fada a cultivar uma obsessão por um dragão quimérico. Ele se vê enfeitiçado e forçado a perseguir esse monstro. A obra comprova que Segurant não é apenas um personagem secundário no ciclo do Rei Artur, mas um herói por direito próprio.

continua após a publicidade

Apesar de ter sido um best-seller a partir do século 13, o romance desapareceu graças ao medo da ascensão reformista luterana. A Igreja Católica excluiu as histórias de cavaleiros, incluindo as de Segurant, então associada às profecias de Merlin, uma coleção logo considerada profana por trazer profecias, notícias políticas e dados sobre o fim do mundo.

“Por isso a busca foi difícil - eu procurava as aventuras de Segurant em manuscritos com títulos muito vagos, como As Aventuras do Rei Artur, O Graal, Os Cavaleiros da Távola Redonda. Tive de consultar todos eles. Segurant poderia estar potencialmente em todo lugar”, conta Arioli, que está no Brasil para o lançamento do romance, de uma versão em graphic novel e de uma versão infantojuvenil. No dia 12 de setembro, ele participa da Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Oportunidade para detalhar a tradução que ele mesmo fez para o português e como o cordel foi útil nesse trabalho, como ele contou por Zoom para o Estadão.

Qual era a emoção a cada nova descoberta?

continua após a publicidade

Encontrei o primeiro manuscrito em 2010, quando eu tinha 22 anos e ainda estudava na Sorbonne, em Paris. Lá, na Biblioteca do Arsenal, eu estava consultando um manuscrito intitulado As Profecias de Merlin. Na Idade Média, cada manuscrito é diferente, porque tem títulos gerais e, em um mesmo manuscrito, é possível encontrar mais de um texto. No meio daquele, que é bem conhecido, encontrei também As Aventuras de Segurant, o Cavaleiro do Dragão. O manuscrito estava incompleto, parava no meio de uma frase, então pensei: ‘onde posso encontrar os outros episódios dessa aventura? E, assim que comecei a pesquisar todos os manuscritos com ligações com a Lenda do Rei Artur, encontrei uma dificuldade porque os manuscritos têm títulos gerais e o que eu buscava podia se encontrar em qualquer documento. Os copistas faziam compilações de diferentes obras. Então essa foi a minha pesquisa e, a cada descoberta, era uma grande emoção. Fiz muitas viagens sem encontrar nada, mas achei 28 manuscritos e fragmentos. Estudei cada um para entender como funciona esse romance.

O italiano Emanuele Arioli pesquisou manuscritos do século 12 e 13 para seu livro 'Segurant, o Cavaleiro do Dragão'. Foto: Autêntica/Divulgação

Como é validar um documento histórico?

continua após a publicidade

Levou bastante tempo. Comecei em 2010, escrevi alguns artigos, tive uma tese aprovada, com discussão com vários professores, mas foi só em 2019 que consegui publicar três livros universitários: um explicando a reconstituição e dois com o texto em francês antigo, reconstruído a partir dos manuscritos. Essas três obras foram validadas por outros pares e inspiraram diversos artigos.

Como a literatura de cordel ajudou na sua versão em português?

O cordel foi decisivo em meu trabalho porque traz a espontaneidade da poesia popular que me ajudou a encontrar a linguagem mais adequada. No Brasil, há uma forte ligação com assuntos medievais, como a cavalhada, uma festa iniciada no século 17 e que teve origem nos torneios medievais. Também na literatura, como a publicação de A História do Imperador Carlos Magno e dos Dozes Pares da França, de Jerônimo Moreira de Carvalho, em 1728. A literatura da Idade Média tem forte influência da oralidade, ela nasce como uma reescrita de uma literatura oral. E, graças à imediatez do cordel, acredito que minha tradução em português é a que melhor conseguiu restituir essa oralidade.

continua após a publicidade

Como você aprendeu português?

Sou descendente de italianos que viveram em São Paulo. Minha família são italianos que emigraram para o Brasil e depois voltaram para a Itália. Há alguns anos, eu quis buscar pelas minhas raízes brasileiras, então comecei a aprender o português. Fiz contatos com universidades no Brasil e até fui professor visitante na UFRJ, do Rio.

Ilustração de Emiliano Tanzillo para a HQ 'O Cavaleiro do Dragão', de Emanuele Arioli Foto: Editora Nemo/Divulgação
continua após a publicidade

Segurant, o Cavaleiro do Dragão: O Romance Perdido da Távola Redonda

  • Autor: Emanuele Arioli
  • Editora: Vestígio (256 págs.; R$ 79,80 | E-book: R$ 55,90)

O Cavaleiro do Dragão (quadrinhos)

  • Autor: Emanuele Arioli e Emiliano Tanzillo
  • Tradução: Renata Silveira
  • Editora: Nemo (104 págs.; R$ 84,90 | E-book: R$ 59,90)

Segurant, o Cavaleiro do Dragão (infantojuvenil)

  • Autores: Emanuele Arioli, Emiliano Tanzillo, Alekos
  • Editora: Yellowfante (72 págs.; R$ 69,80 | E-book: R$ 48,90)

Emanuele Arioli na Bienal do Livro

O pesquisador participa do debate Arqueologia Medieval, no Salão de Ideias, com mediação de Tatiany Leite, nesta quinta, 12/9, às 18h. Antes, às 14h, ele autografa seus livros com em uma sessão no estande da Gutenberg (H28) com a presença de dois cavaleiros em cosplay.

Aos 36 anos, o italiano Emanuele Arioli tem um perfil angelical e olhos azuis que agradam ao cinema - ele até atuou no filme France - Sob os Holofotes, do renomado cineasta francês Bruno Dumont. Mas bem que poderia reviver o célebre Indiana Jones, pois foi com sua dedicação de paleógrafo apaixonado pela Idade Média que ele conseguiu a devida atenção no ano passado, quando um rumoroso lançamento movimentou o mercado editorial francês: a publicação de seu livro Segurant, o Cavaleiro do Dragão, que o Grupo Autêntica acaba de lançar no Brasil - em três versões.

Trata-se do fruto de uma persistente pesquisa de dez anos para revelar um romance da Idade Média que era ignorado fazia sete séculos. Com isso, Arioli recuperou um personagem esquecido, Segurant, que seria mais um membro da távola redonda do Rei Artur, ao lado dos já notáveis Merlin, Lancelote, Tristão, Perceval e Gilead. E a descoberta aconteceu por acaso, quando o italiano pesquisava os manuscritos do século 12 de As Profecias de Merlin, coleção de previsões atribuídas ao famoso feiticeiro.

De repente, ele se deparou com uma ilustração representando um cavaleiro com seu dragão. “O manuscrito estava incompleto, parava no meio de uma frase”, conta ele ao Estadão, em um português fluente. Com a curiosidade atiçada, Arioli iniciou uma busca ao estilo Indiana Jones por mais manuscritos. Sua aventura o levou a pesquisar bibliotecas na França, Itália, Grã-Bretanha, Alemanha, Bélgica e Estados Unidos. Em dez anos, desencavou 28 manuscritos que o permitiram recuperar o livro perdido.

Emanuele Arioli em documentário sobre sua pesquisa que resultou em 'Segurant, o Cavaleiro do Dragão'. Foto: Reprodução Zed pour Arte e Histoire TV/Divulgação

Retomou, assim, a história de Segurant, cavaleiro da corte do Rei Artur, condenado por uma fada a cultivar uma obsessão por um dragão quimérico. Ele se vê enfeitiçado e forçado a perseguir esse monstro. A obra comprova que Segurant não é apenas um personagem secundário no ciclo do Rei Artur, mas um herói por direito próprio.

Apesar de ter sido um best-seller a partir do século 13, o romance desapareceu graças ao medo da ascensão reformista luterana. A Igreja Católica excluiu as histórias de cavaleiros, incluindo as de Segurant, então associada às profecias de Merlin, uma coleção logo considerada profana por trazer profecias, notícias políticas e dados sobre o fim do mundo.

“Por isso a busca foi difícil - eu procurava as aventuras de Segurant em manuscritos com títulos muito vagos, como As Aventuras do Rei Artur, O Graal, Os Cavaleiros da Távola Redonda. Tive de consultar todos eles. Segurant poderia estar potencialmente em todo lugar”, conta Arioli, que está no Brasil para o lançamento do romance, de uma versão em graphic novel e de uma versão infantojuvenil. No dia 12 de setembro, ele participa da Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Oportunidade para detalhar a tradução que ele mesmo fez para o português e como o cordel foi útil nesse trabalho, como ele contou por Zoom para o Estadão.

Qual era a emoção a cada nova descoberta?

Encontrei o primeiro manuscrito em 2010, quando eu tinha 22 anos e ainda estudava na Sorbonne, em Paris. Lá, na Biblioteca do Arsenal, eu estava consultando um manuscrito intitulado As Profecias de Merlin. Na Idade Média, cada manuscrito é diferente, porque tem títulos gerais e, em um mesmo manuscrito, é possível encontrar mais de um texto. No meio daquele, que é bem conhecido, encontrei também As Aventuras de Segurant, o Cavaleiro do Dragão. O manuscrito estava incompleto, parava no meio de uma frase, então pensei: ‘onde posso encontrar os outros episódios dessa aventura? E, assim que comecei a pesquisar todos os manuscritos com ligações com a Lenda do Rei Artur, encontrei uma dificuldade porque os manuscritos têm títulos gerais e o que eu buscava podia se encontrar em qualquer documento. Os copistas faziam compilações de diferentes obras. Então essa foi a minha pesquisa e, a cada descoberta, era uma grande emoção. Fiz muitas viagens sem encontrar nada, mas achei 28 manuscritos e fragmentos. Estudei cada um para entender como funciona esse romance.

O italiano Emanuele Arioli pesquisou manuscritos do século 12 e 13 para seu livro 'Segurant, o Cavaleiro do Dragão'. Foto: Autêntica/Divulgação

Como é validar um documento histórico?

Levou bastante tempo. Comecei em 2010, escrevi alguns artigos, tive uma tese aprovada, com discussão com vários professores, mas foi só em 2019 que consegui publicar três livros universitários: um explicando a reconstituição e dois com o texto em francês antigo, reconstruído a partir dos manuscritos. Essas três obras foram validadas por outros pares e inspiraram diversos artigos.

Como a literatura de cordel ajudou na sua versão em português?

O cordel foi decisivo em meu trabalho porque traz a espontaneidade da poesia popular que me ajudou a encontrar a linguagem mais adequada. No Brasil, há uma forte ligação com assuntos medievais, como a cavalhada, uma festa iniciada no século 17 e que teve origem nos torneios medievais. Também na literatura, como a publicação de A História do Imperador Carlos Magno e dos Dozes Pares da França, de Jerônimo Moreira de Carvalho, em 1728. A literatura da Idade Média tem forte influência da oralidade, ela nasce como uma reescrita de uma literatura oral. E, graças à imediatez do cordel, acredito que minha tradução em português é a que melhor conseguiu restituir essa oralidade.

Como você aprendeu português?

Sou descendente de italianos que viveram em São Paulo. Minha família são italianos que emigraram para o Brasil e depois voltaram para a Itália. Há alguns anos, eu quis buscar pelas minhas raízes brasileiras, então comecei a aprender o português. Fiz contatos com universidades no Brasil e até fui professor visitante na UFRJ, do Rio.

Ilustração de Emiliano Tanzillo para a HQ 'O Cavaleiro do Dragão', de Emanuele Arioli Foto: Editora Nemo/Divulgação

Segurant, o Cavaleiro do Dragão: O Romance Perdido da Távola Redonda

  • Autor: Emanuele Arioli
  • Editora: Vestígio (256 págs.; R$ 79,80 | E-book: R$ 55,90)

O Cavaleiro do Dragão (quadrinhos)

  • Autor: Emanuele Arioli e Emiliano Tanzillo
  • Tradução: Renata Silveira
  • Editora: Nemo (104 págs.; R$ 84,90 | E-book: R$ 59,90)

Segurant, o Cavaleiro do Dragão (infantojuvenil)

  • Autores: Emanuele Arioli, Emiliano Tanzillo, Alekos
  • Editora: Yellowfante (72 págs.; R$ 69,80 | E-book: R$ 48,90)

Emanuele Arioli na Bienal do Livro

O pesquisador participa do debate Arqueologia Medieval, no Salão de Ideias, com mediação de Tatiany Leite, nesta quinta, 12/9, às 18h. Antes, às 14h, ele autografa seus livros com em uma sessão no estande da Gutenberg (H28) com a presença de dois cavaleiros em cosplay.

Aos 36 anos, o italiano Emanuele Arioli tem um perfil angelical e olhos azuis que agradam ao cinema - ele até atuou no filme France - Sob os Holofotes, do renomado cineasta francês Bruno Dumont. Mas bem que poderia reviver o célebre Indiana Jones, pois foi com sua dedicação de paleógrafo apaixonado pela Idade Média que ele conseguiu a devida atenção no ano passado, quando um rumoroso lançamento movimentou o mercado editorial francês: a publicação de seu livro Segurant, o Cavaleiro do Dragão, que o Grupo Autêntica acaba de lançar no Brasil - em três versões.

Trata-se do fruto de uma persistente pesquisa de dez anos para revelar um romance da Idade Média que era ignorado fazia sete séculos. Com isso, Arioli recuperou um personagem esquecido, Segurant, que seria mais um membro da távola redonda do Rei Artur, ao lado dos já notáveis Merlin, Lancelote, Tristão, Perceval e Gilead. E a descoberta aconteceu por acaso, quando o italiano pesquisava os manuscritos do século 12 de As Profecias de Merlin, coleção de previsões atribuídas ao famoso feiticeiro.

De repente, ele se deparou com uma ilustração representando um cavaleiro com seu dragão. “O manuscrito estava incompleto, parava no meio de uma frase”, conta ele ao Estadão, em um português fluente. Com a curiosidade atiçada, Arioli iniciou uma busca ao estilo Indiana Jones por mais manuscritos. Sua aventura o levou a pesquisar bibliotecas na França, Itália, Grã-Bretanha, Alemanha, Bélgica e Estados Unidos. Em dez anos, desencavou 28 manuscritos que o permitiram recuperar o livro perdido.

Emanuele Arioli em documentário sobre sua pesquisa que resultou em 'Segurant, o Cavaleiro do Dragão'. Foto: Reprodução Zed pour Arte e Histoire TV/Divulgação

Retomou, assim, a história de Segurant, cavaleiro da corte do Rei Artur, condenado por uma fada a cultivar uma obsessão por um dragão quimérico. Ele se vê enfeitiçado e forçado a perseguir esse monstro. A obra comprova que Segurant não é apenas um personagem secundário no ciclo do Rei Artur, mas um herói por direito próprio.

Apesar de ter sido um best-seller a partir do século 13, o romance desapareceu graças ao medo da ascensão reformista luterana. A Igreja Católica excluiu as histórias de cavaleiros, incluindo as de Segurant, então associada às profecias de Merlin, uma coleção logo considerada profana por trazer profecias, notícias políticas e dados sobre o fim do mundo.

“Por isso a busca foi difícil - eu procurava as aventuras de Segurant em manuscritos com títulos muito vagos, como As Aventuras do Rei Artur, O Graal, Os Cavaleiros da Távola Redonda. Tive de consultar todos eles. Segurant poderia estar potencialmente em todo lugar”, conta Arioli, que está no Brasil para o lançamento do romance, de uma versão em graphic novel e de uma versão infantojuvenil. No dia 12 de setembro, ele participa da Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Oportunidade para detalhar a tradução que ele mesmo fez para o português e como o cordel foi útil nesse trabalho, como ele contou por Zoom para o Estadão.

Qual era a emoção a cada nova descoberta?

Encontrei o primeiro manuscrito em 2010, quando eu tinha 22 anos e ainda estudava na Sorbonne, em Paris. Lá, na Biblioteca do Arsenal, eu estava consultando um manuscrito intitulado As Profecias de Merlin. Na Idade Média, cada manuscrito é diferente, porque tem títulos gerais e, em um mesmo manuscrito, é possível encontrar mais de um texto. No meio daquele, que é bem conhecido, encontrei também As Aventuras de Segurant, o Cavaleiro do Dragão. O manuscrito estava incompleto, parava no meio de uma frase, então pensei: ‘onde posso encontrar os outros episódios dessa aventura? E, assim que comecei a pesquisar todos os manuscritos com ligações com a Lenda do Rei Artur, encontrei uma dificuldade porque os manuscritos têm títulos gerais e o que eu buscava podia se encontrar em qualquer documento. Os copistas faziam compilações de diferentes obras. Então essa foi a minha pesquisa e, a cada descoberta, era uma grande emoção. Fiz muitas viagens sem encontrar nada, mas achei 28 manuscritos e fragmentos. Estudei cada um para entender como funciona esse romance.

O italiano Emanuele Arioli pesquisou manuscritos do século 12 e 13 para seu livro 'Segurant, o Cavaleiro do Dragão'. Foto: Autêntica/Divulgação

Como é validar um documento histórico?

Levou bastante tempo. Comecei em 2010, escrevi alguns artigos, tive uma tese aprovada, com discussão com vários professores, mas foi só em 2019 que consegui publicar três livros universitários: um explicando a reconstituição e dois com o texto em francês antigo, reconstruído a partir dos manuscritos. Essas três obras foram validadas por outros pares e inspiraram diversos artigos.

Como a literatura de cordel ajudou na sua versão em português?

O cordel foi decisivo em meu trabalho porque traz a espontaneidade da poesia popular que me ajudou a encontrar a linguagem mais adequada. No Brasil, há uma forte ligação com assuntos medievais, como a cavalhada, uma festa iniciada no século 17 e que teve origem nos torneios medievais. Também na literatura, como a publicação de A História do Imperador Carlos Magno e dos Dozes Pares da França, de Jerônimo Moreira de Carvalho, em 1728. A literatura da Idade Média tem forte influência da oralidade, ela nasce como uma reescrita de uma literatura oral. E, graças à imediatez do cordel, acredito que minha tradução em português é a que melhor conseguiu restituir essa oralidade.

Como você aprendeu português?

Sou descendente de italianos que viveram em São Paulo. Minha família são italianos que emigraram para o Brasil e depois voltaram para a Itália. Há alguns anos, eu quis buscar pelas minhas raízes brasileiras, então comecei a aprender o português. Fiz contatos com universidades no Brasil e até fui professor visitante na UFRJ, do Rio.

Ilustração de Emiliano Tanzillo para a HQ 'O Cavaleiro do Dragão', de Emanuele Arioli Foto: Editora Nemo/Divulgação

Segurant, o Cavaleiro do Dragão: O Romance Perdido da Távola Redonda

  • Autor: Emanuele Arioli
  • Editora: Vestígio (256 págs.; R$ 79,80 | E-book: R$ 55,90)

O Cavaleiro do Dragão (quadrinhos)

  • Autor: Emanuele Arioli e Emiliano Tanzillo
  • Tradução: Renata Silveira
  • Editora: Nemo (104 págs.; R$ 84,90 | E-book: R$ 59,90)

Segurant, o Cavaleiro do Dragão (infantojuvenil)

  • Autores: Emanuele Arioli, Emiliano Tanzillo, Alekos
  • Editora: Yellowfante (72 págs.; R$ 69,80 | E-book: R$ 48,90)

Emanuele Arioli na Bienal do Livro

O pesquisador participa do debate Arqueologia Medieval, no Salão de Ideias, com mediação de Tatiany Leite, nesta quinta, 12/9, às 18h. Antes, às 14h, ele autografa seus livros com em uma sessão no estande da Gutenberg (H28) com a presença de dois cavaleiros em cosplay.

Entrevista por Ubiratan Brasil

É jornalista que trabalha com cultura e esportes, mas apaixonado por musicais, na tela ou no palco, onde até o drama mais banal pode se transformar em um clássico

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.