José Mauro de Vasconcelos era o primeiro a dizer que não era intelectual. Ganhou uma bolsa para estudar na Espanha, mas não aguentou a vida acadêmica. Escrevia rapidamente, um livro podia sair numa questão de dias, mas em compensação passava anos ruminando ideias. E tinha de mergulhar no cenário de suas ficções.
Para escrever Arara Vermelha, se embrenhou no sertão puro – e o livro virou filme de Tom Payne. Para O Meu Pé de Laranja Lima, ruminou as próprias lembranças. Nascido no Rio, criou-se em Natal. Gostava de mar, de esportes, mas o amor pela leitura lhe impunha a solidão. Ler Graciliano Ramos, como ele fazia, ou conversar com uma árvore, como faz Zezé, preenchiam a necessidade de vida interior.
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O Meu Pé de Laranja Lima ficou dois anos na lista dos mais vendidos antes de ser filmado por Aurélio Teixeira, em 1970. A crítica bateu no sentimentalismo, considerado piegas, do autor, mas na França Claire Beaudewyns destacou, com o livro, a particular alquimia entre o mundo real e o imaginário. Corroteirista de Central do Brasil, o clássico de Walter Salles, Marcos Bernstein assinou a versão de 2012. Fez um filme rigoroso, buscando expressar justamente o compromisso do autor com a brasilidade.
A boa estampa levou José Mauro a ser ator, mas ele possuía algo mais, um talento genuíno, e recebeu prêmios importantes. Sacis, do Estadão, o Prêmio Governador do Estado, o Cidade de São Paulo. Com Walter Hugo Khouri, foram três filmes – Fronteiras do Inferno, Na Garganta do Diabo e A Ilha. O segundo é o melhor. O filme de época, bergmaniano, do diretor. Quatro fugitivos da guerra do Paraguai se refugiam numa fazenda. E despertam o desejo das mulheres – Odete Lara, Edla Van Steen. Acredite – José Mauro era bom ator.