Livro renegado mostra retorno de Virginia Woolf à vida e à escrita após colapso mental


‘O Diário de Asheham’, lançamento da Nós, revela produção diferente e experimental da escritora inglesa enquanto ela tenta recuperar a sanidade. Já outro livro, ‘Anon’, da Autêntica, reúne textos do fim da vida sobre a ideia de anonimato; conheça

Por Julia Queiroz
Atualização:

Já se passaram mais de 100 anos desde que Clarissa Dalloway saiu para comprar flores para a festa que daria em sua residência naquela quarta-feira de junho em Londres, mas o livro de Virginia Woolf (1882-1941) segue atual e ganhando destaque entre a comunidade literária, em especial no Brasil, onde a produção sobre a escritora cresce com pesquisas, publicações e traduções.

Mrs Dalloway, de 1925, é considerado uma das grandes obras do modernismo literário e o principal trabalho da escritora inglesa. É difícil pensar, então, que, apenas alguns anos antes de publicar o romance, Virginia Woolf sofreu um colapso mental tão intenso que a afastou completamente da escrita. Como a autora conseguiu voltar a si, retomar sua produção e escrever uma das maiores obras do século 20?

É possível encontrar pistas em O Diário de Asheham, livro por anos renegado e considerado inferior aos demais diários de Virginia. Publicado pela editora Nós e traduzido por Ana Carolina Mesquita, ele ajuda a explicar a sua reconstrução enquanto pessoa (e escritora) e a revelar novas nuances de sua produção literária.

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“Estamos acostumados com essa escrita da Virginia muito virtuosa, complexa. Neste diário, não: são períodos simples, de quatro linhas no máximo, falando do cotidiano. É muito diferente”, diz Ana Carolina, que vinha preparando o projeto desde 2017, quando foi pesquisadora visitante na Universidade de Columbia e na Berg Collection, em Nova York, e teve acesso aos manuscritos originais dos diários da escritora.

A escritora modernista britânica Virginia Woolf. Foto: Domínio Público
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As entradas do diário foram feitas entre 1917 e 1918, quando Virginia tinha cerca de 35 anos e passava, com o marido Leonard, férias e fins de semanas em Asheham, casa em Sussex, no interior da Inglaterra, lugar que foi essencial para a recuperação da escritora. “Ela escreveu isso logo depois de ter um grande colapso, a família dela achou que ela não ia voltar”, explica a tradutora.

Por volta de 1915, a autora chegou a ficar em coma. “Depois disso, ela teve o que a gente pode chamar talvez de um surto psicótico, uma esquizofrenia. Ela via e ouvia coisas, era muito agressiva com todos. Estava completamente fora de si e passa quase dois anos nesse estado. Já estavam dando ela como perdida”, continua Ana Carolina.

Aos poucos, contudo, Virginia começa a voltar a si, mas não sem um alerta dos médicos da época: ela deveria evitar tudo que a empolgasse, trouxesse qualquer tipo de excitação - e isso, claro, incluía escrever. “Quando ela finalmente retoma a escrita, é uma pessoa que está reaprendendo a ser um sujeito no mundo novamente, a ser uma escritora de novo”.

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O Diário de Asheham mostra essa reconexão de Virginia com o mundo físico e as coisas que, talvez, nós consideraríamos mais simples nele: “Dia perfeito; totalmente azul & sem nuvem ou vento, como que estável para sempre”, escreve ela em uma segunda-feira, 3 de setembro. Ela colhe cogumelos, repara como as andorinhas voam no céu, e vê beleza, embora nem sempre, em um dia de chuva.

O que revela o ‘O Diário de Asheham’?

Durante sua pesquisa, Ana Carolina descobriu que as 78 entradas do caderno haviam sido excluídas das publicações dos diários de Virginia. Ela acha que os registros em Asheham foram renegados por terem sido considerados supérfluos quando comparados a outras produções da escritora. “Eu acredito que ele foi excluído porque é muito diferente, não parece ser dela. Mas, ao mesmo tempo, quem a conhece vai ver que é muito ela”, afirma.

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Virginia Woolf por volta de 1917 em fotografia de Lady Ottoline Morrell Foto: National Portrait Gallery

A tradutora argumenta que o diário, para Virginia, era uma produção experimental: quando ela retorna a Londres, abre outro diário, mas deixa aquele em Asheham. Quando volta à casa de campo, segue anotando nele, no mesmo estilo. Enquanto o outro diário, o da cidade grande, segue sendo produzido de sua maneira mais tradicional, basicamente ao mesmo tempo. Há até dias em que ela anotou nos dois.

“Aquele ‘nada’ que ela observa, a natureza - uma flor, um inseto - é lenta. Parece que nada está acontecendo, mas muita coisa está. Ela exercita esse olhar. E, do meu ponto de vista, ela leva isso para as obras futuras. Logo em seguida, ela escreve [o conto] Kew Gardens, que é do ponto de vista de uma lesma. Ou seja, não pode ser coincidência, não?”, questiona Ana Carolina.

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'O Diário de Asheham', de Virginia Woolf e tradução de Ana Carolina Mesquisa, publicado pela editora Nós. Foto: Nós/Divulgação

Para ela, o livro revela algumas coisas. Em primeiro lugar, “essa disposição para arriscar, para tentar escrever de modos diferentes”, além de uma relação direta do experimento com suas obras mais consolidadas. “Os textos ecoam uns nos outros. Essa observação de natureza, no passar do tempo, aparece em Ao Farol, que é do ponto de vista do tempo de uma casa.”

Em segundo, do ponto de vista pessoal, mostra uma Virginia “aferrada à vontade de viver, que vai completamente contra o que ela ficou eternizada”. “É uma visão que eu vivo combatendo - dessa pessoa triste, muito amargurada, suicida. Quando as pessoas falavam sobre a Virginia em cartas, nos próprios diários dela ou nas cartas que ela escrevia, ela parecia ser uma pessoa muito engraçada. Uma pessoa com muita vontade de viver. Vemos isso em Asheham: ela se reconstruindo e esse desejo de se reconstruir pulsando ali naquelas páginas.”

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Uma nova edição dos diários de Virginia Woolf foi publicada em 2023 pela editora britânica Granta Books, desta vez incluindo as entradas de Asheham, mas o livro da Nós ainda é a única edição que traz o diário de campo de forma exclusiva.

Anon [era uma mulher...]

Outro livro que resgata uma produção pouco explorada da escritora inglesa também chega às livrarias em breve, no final de julho, pela Autêntica. Anon é uma coletânea de textos organizada e traduzida por Tomaz Tadeu, professor e tradutor que há anos se dedica a estudar a obra de Virginia Woolf.

Curiosamente, os principais textos deste livro - o que dá nome à obra e O Leitor - foram escritos pouco antes da morte da escritora, em 1941, quando ela sentia que estava prestes a ter outro colapso mental. “Apesar do caráter de rascunho, [eles] concentram algumas das ideias centrais de Virginia sobre a autoria, desenvolvidas no primeiro, e a leitura, esboçadas no segundo”, explica Tadeu.

Para o tradutor, estes textos são capazes de sintetizar duas faces de Virginia: a autora de ficção e a autora de ensaios de crítica literária. “Embora a importância de Anon, mulher ou homem, seja destacada no ensaio de mesmo nome, Virginia está longe de defender aí a ideia de que a autoria anônima seja destacada, louvada ou idealizada. Mais simplesmente, o anonimato, em sua narrativa em Anon, está na origem da arte da narrativa ou da poesia”, completa.

Capa de 'Anon', de Virginia Woolf e tradução e organização por Tomaz Tadeu, publicado pela Autêntica. Foto: Autêntica/Divulgação

Os dois ensaios são curtos e, por isso, são complementados por textos que conversam diretamente com a ideia de “anônimo”, conforme explica o organizador: “Dei-me conta, em algum momento, de que a autoria anônima, celebrada em Anon, ia de mãos dadas com o outro lado, o do “consumo”, ou seja, com a leitura. E Virginia tinha uma ideia fixa: a do leitor ou da leitora comum.”

Assim, ele decidiu incluir dois textos do primeiro volume do livro O Leitor Comum, uma coletânea de ensaios publicada originalmente em 1925, pouco antes de Mrs. Dalloway. Um deles é o texto homônimo e o segundo é Os Pastons e Chaucer.

“O primeiro deles é, obviamente uma definição breve do ‘leitor comum’. O segundo é sobre, de um lado, o escritor Geoffrey Chaucer (1340-1400) e, do outro, a família dos Pastons, em particular dos Pastons do século 15. Sem entrar em detalhes, o que importa é que o ensaio acaba com um dos Pastons ocupado na leitura de Chaucer: é o encontro do leitor comum com o autor, neste caso, nada anônimo”, explica.

A coletânea inclui também dois textos talvez mais conhecidos de Virginia: Anon Era Uma Mulher, presente em Um Teto Todo Seu, de 1929, e o conto O Diário da Sra. Joan Martyn. Este último, segundo Tadeu, “não tem uma relação direta com o leitmotiv do livro, mas algumas de suas passagens fazem lembrar as históricas recitações de Anon.”

Dalloway Day em São Paulo

O Diário de Asheham será lançado durante as comemorações do Dalloway Day, que ocorre nesta quarta-feira, 19 de junho. A data é uma celebração do livro de Virginia, de forma semelhante à que ocorre no Bloomsday - festa que honra o romance Ulisses, de James Joyce, lançado em 1922, e que já é consolidada há décadas ao redor do mundo.

Para a celebração, a Editora Nós promoverá um Chá das Cinco com uma conversa entre Ana Carolina Mesquita, a escritora Micheliny Verunschk e a editora Simone Paulino sobre os diários de Virginia Woolf. O evento ocorre na livraria Bibla, no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo (conheça mais sobre a livraria aqui) e também serve como lançamento do livro.

O Diário de Asheham

  • Autora: Virginia Woolf
  • Tradução: Ana Carolina Mesquita
  • Editora: Nós, 80 págs.; R$ 60 | E-book: R$ 42
  • Lançamento: 19/06, às 17h, na Bibla Livraria (Praça Prof.ᵃ Emília Barbosa Lima, 58)

Anon

  • Autora: Virginia Woolf
  • Organização e tradução: Tomaz Tadeu
  • Editora: Autêntica, 192 págs.; R$ 79,80 | E-book: R$ 55,90
  • Lançamento: 30/07

Já se passaram mais de 100 anos desde que Clarissa Dalloway saiu para comprar flores para a festa que daria em sua residência naquela quarta-feira de junho em Londres, mas o livro de Virginia Woolf (1882-1941) segue atual e ganhando destaque entre a comunidade literária, em especial no Brasil, onde a produção sobre a escritora cresce com pesquisas, publicações e traduções.

Mrs Dalloway, de 1925, é considerado uma das grandes obras do modernismo literário e o principal trabalho da escritora inglesa. É difícil pensar, então, que, apenas alguns anos antes de publicar o romance, Virginia Woolf sofreu um colapso mental tão intenso que a afastou completamente da escrita. Como a autora conseguiu voltar a si, retomar sua produção e escrever uma das maiores obras do século 20?

É possível encontrar pistas em O Diário de Asheham, livro por anos renegado e considerado inferior aos demais diários de Virginia. Publicado pela editora Nós e traduzido por Ana Carolina Mesquita, ele ajuda a explicar a sua reconstrução enquanto pessoa (e escritora) e a revelar novas nuances de sua produção literária.

“Estamos acostumados com essa escrita da Virginia muito virtuosa, complexa. Neste diário, não: são períodos simples, de quatro linhas no máximo, falando do cotidiano. É muito diferente”, diz Ana Carolina, que vinha preparando o projeto desde 2017, quando foi pesquisadora visitante na Universidade de Columbia e na Berg Collection, em Nova York, e teve acesso aos manuscritos originais dos diários da escritora.

A escritora modernista britânica Virginia Woolf. Foto: Domínio Público

As entradas do diário foram feitas entre 1917 e 1918, quando Virginia tinha cerca de 35 anos e passava, com o marido Leonard, férias e fins de semanas em Asheham, casa em Sussex, no interior da Inglaterra, lugar que foi essencial para a recuperação da escritora. “Ela escreveu isso logo depois de ter um grande colapso, a família dela achou que ela não ia voltar”, explica a tradutora.

Por volta de 1915, a autora chegou a ficar em coma. “Depois disso, ela teve o que a gente pode chamar talvez de um surto psicótico, uma esquizofrenia. Ela via e ouvia coisas, era muito agressiva com todos. Estava completamente fora de si e passa quase dois anos nesse estado. Já estavam dando ela como perdida”, continua Ana Carolina.

Aos poucos, contudo, Virginia começa a voltar a si, mas não sem um alerta dos médicos da época: ela deveria evitar tudo que a empolgasse, trouxesse qualquer tipo de excitação - e isso, claro, incluía escrever. “Quando ela finalmente retoma a escrita, é uma pessoa que está reaprendendo a ser um sujeito no mundo novamente, a ser uma escritora de novo”.

O Diário de Asheham mostra essa reconexão de Virginia com o mundo físico e as coisas que, talvez, nós consideraríamos mais simples nele: “Dia perfeito; totalmente azul & sem nuvem ou vento, como que estável para sempre”, escreve ela em uma segunda-feira, 3 de setembro. Ela colhe cogumelos, repara como as andorinhas voam no céu, e vê beleza, embora nem sempre, em um dia de chuva.

O que revela o ‘O Diário de Asheham’?

Durante sua pesquisa, Ana Carolina descobriu que as 78 entradas do caderno haviam sido excluídas das publicações dos diários de Virginia. Ela acha que os registros em Asheham foram renegados por terem sido considerados supérfluos quando comparados a outras produções da escritora. “Eu acredito que ele foi excluído porque é muito diferente, não parece ser dela. Mas, ao mesmo tempo, quem a conhece vai ver que é muito ela”, afirma.

Virginia Woolf por volta de 1917 em fotografia de Lady Ottoline Morrell Foto: National Portrait Gallery

A tradutora argumenta que o diário, para Virginia, era uma produção experimental: quando ela retorna a Londres, abre outro diário, mas deixa aquele em Asheham. Quando volta à casa de campo, segue anotando nele, no mesmo estilo. Enquanto o outro diário, o da cidade grande, segue sendo produzido de sua maneira mais tradicional, basicamente ao mesmo tempo. Há até dias em que ela anotou nos dois.

“Aquele ‘nada’ que ela observa, a natureza - uma flor, um inseto - é lenta. Parece que nada está acontecendo, mas muita coisa está. Ela exercita esse olhar. E, do meu ponto de vista, ela leva isso para as obras futuras. Logo em seguida, ela escreve [o conto] Kew Gardens, que é do ponto de vista de uma lesma. Ou seja, não pode ser coincidência, não?”, questiona Ana Carolina.

'O Diário de Asheham', de Virginia Woolf e tradução de Ana Carolina Mesquisa, publicado pela editora Nós. Foto: Nós/Divulgação

Para ela, o livro revela algumas coisas. Em primeiro lugar, “essa disposição para arriscar, para tentar escrever de modos diferentes”, além de uma relação direta do experimento com suas obras mais consolidadas. “Os textos ecoam uns nos outros. Essa observação de natureza, no passar do tempo, aparece em Ao Farol, que é do ponto de vista do tempo de uma casa.”

Em segundo, do ponto de vista pessoal, mostra uma Virginia “aferrada à vontade de viver, que vai completamente contra o que ela ficou eternizada”. “É uma visão que eu vivo combatendo - dessa pessoa triste, muito amargurada, suicida. Quando as pessoas falavam sobre a Virginia em cartas, nos próprios diários dela ou nas cartas que ela escrevia, ela parecia ser uma pessoa muito engraçada. Uma pessoa com muita vontade de viver. Vemos isso em Asheham: ela se reconstruindo e esse desejo de se reconstruir pulsando ali naquelas páginas.”

Uma nova edição dos diários de Virginia Woolf foi publicada em 2023 pela editora britânica Granta Books, desta vez incluindo as entradas de Asheham, mas o livro da Nós ainda é a única edição que traz o diário de campo de forma exclusiva.

Anon [era uma mulher...]

Outro livro que resgata uma produção pouco explorada da escritora inglesa também chega às livrarias em breve, no final de julho, pela Autêntica. Anon é uma coletânea de textos organizada e traduzida por Tomaz Tadeu, professor e tradutor que há anos se dedica a estudar a obra de Virginia Woolf.

Curiosamente, os principais textos deste livro - o que dá nome à obra e O Leitor - foram escritos pouco antes da morte da escritora, em 1941, quando ela sentia que estava prestes a ter outro colapso mental. “Apesar do caráter de rascunho, [eles] concentram algumas das ideias centrais de Virginia sobre a autoria, desenvolvidas no primeiro, e a leitura, esboçadas no segundo”, explica Tadeu.

Para o tradutor, estes textos são capazes de sintetizar duas faces de Virginia: a autora de ficção e a autora de ensaios de crítica literária. “Embora a importância de Anon, mulher ou homem, seja destacada no ensaio de mesmo nome, Virginia está longe de defender aí a ideia de que a autoria anônima seja destacada, louvada ou idealizada. Mais simplesmente, o anonimato, em sua narrativa em Anon, está na origem da arte da narrativa ou da poesia”, completa.

Capa de 'Anon', de Virginia Woolf e tradução e organização por Tomaz Tadeu, publicado pela Autêntica. Foto: Autêntica/Divulgação

Os dois ensaios são curtos e, por isso, são complementados por textos que conversam diretamente com a ideia de “anônimo”, conforme explica o organizador: “Dei-me conta, em algum momento, de que a autoria anônima, celebrada em Anon, ia de mãos dadas com o outro lado, o do “consumo”, ou seja, com a leitura. E Virginia tinha uma ideia fixa: a do leitor ou da leitora comum.”

Assim, ele decidiu incluir dois textos do primeiro volume do livro O Leitor Comum, uma coletânea de ensaios publicada originalmente em 1925, pouco antes de Mrs. Dalloway. Um deles é o texto homônimo e o segundo é Os Pastons e Chaucer.

“O primeiro deles é, obviamente uma definição breve do ‘leitor comum’. O segundo é sobre, de um lado, o escritor Geoffrey Chaucer (1340-1400) e, do outro, a família dos Pastons, em particular dos Pastons do século 15. Sem entrar em detalhes, o que importa é que o ensaio acaba com um dos Pastons ocupado na leitura de Chaucer: é o encontro do leitor comum com o autor, neste caso, nada anônimo”, explica.

A coletânea inclui também dois textos talvez mais conhecidos de Virginia: Anon Era Uma Mulher, presente em Um Teto Todo Seu, de 1929, e o conto O Diário da Sra. Joan Martyn. Este último, segundo Tadeu, “não tem uma relação direta com o leitmotiv do livro, mas algumas de suas passagens fazem lembrar as históricas recitações de Anon.”

Dalloway Day em São Paulo

O Diário de Asheham será lançado durante as comemorações do Dalloway Day, que ocorre nesta quarta-feira, 19 de junho. A data é uma celebração do livro de Virginia, de forma semelhante à que ocorre no Bloomsday - festa que honra o romance Ulisses, de James Joyce, lançado em 1922, e que já é consolidada há décadas ao redor do mundo.

Para a celebração, a Editora Nós promoverá um Chá das Cinco com uma conversa entre Ana Carolina Mesquita, a escritora Micheliny Verunschk e a editora Simone Paulino sobre os diários de Virginia Woolf. O evento ocorre na livraria Bibla, no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo (conheça mais sobre a livraria aqui) e também serve como lançamento do livro.

O Diário de Asheham

  • Autora: Virginia Woolf
  • Tradução: Ana Carolina Mesquita
  • Editora: Nós, 80 págs.; R$ 60 | E-book: R$ 42
  • Lançamento: 19/06, às 17h, na Bibla Livraria (Praça Prof.ᵃ Emília Barbosa Lima, 58)

Anon

  • Autora: Virginia Woolf
  • Organização e tradução: Tomaz Tadeu
  • Editora: Autêntica, 192 págs.; R$ 79,80 | E-book: R$ 55,90
  • Lançamento: 30/07

Já se passaram mais de 100 anos desde que Clarissa Dalloway saiu para comprar flores para a festa que daria em sua residência naquela quarta-feira de junho em Londres, mas o livro de Virginia Woolf (1882-1941) segue atual e ganhando destaque entre a comunidade literária, em especial no Brasil, onde a produção sobre a escritora cresce com pesquisas, publicações e traduções.

Mrs Dalloway, de 1925, é considerado uma das grandes obras do modernismo literário e o principal trabalho da escritora inglesa. É difícil pensar, então, que, apenas alguns anos antes de publicar o romance, Virginia Woolf sofreu um colapso mental tão intenso que a afastou completamente da escrita. Como a autora conseguiu voltar a si, retomar sua produção e escrever uma das maiores obras do século 20?

É possível encontrar pistas em O Diário de Asheham, livro por anos renegado e considerado inferior aos demais diários de Virginia. Publicado pela editora Nós e traduzido por Ana Carolina Mesquita, ele ajuda a explicar a sua reconstrução enquanto pessoa (e escritora) e a revelar novas nuances de sua produção literária.

“Estamos acostumados com essa escrita da Virginia muito virtuosa, complexa. Neste diário, não: são períodos simples, de quatro linhas no máximo, falando do cotidiano. É muito diferente”, diz Ana Carolina, que vinha preparando o projeto desde 2017, quando foi pesquisadora visitante na Universidade de Columbia e na Berg Collection, em Nova York, e teve acesso aos manuscritos originais dos diários da escritora.

A escritora modernista britânica Virginia Woolf. Foto: Domínio Público

As entradas do diário foram feitas entre 1917 e 1918, quando Virginia tinha cerca de 35 anos e passava, com o marido Leonard, férias e fins de semanas em Asheham, casa em Sussex, no interior da Inglaterra, lugar que foi essencial para a recuperação da escritora. “Ela escreveu isso logo depois de ter um grande colapso, a família dela achou que ela não ia voltar”, explica a tradutora.

Por volta de 1915, a autora chegou a ficar em coma. “Depois disso, ela teve o que a gente pode chamar talvez de um surto psicótico, uma esquizofrenia. Ela via e ouvia coisas, era muito agressiva com todos. Estava completamente fora de si e passa quase dois anos nesse estado. Já estavam dando ela como perdida”, continua Ana Carolina.

Aos poucos, contudo, Virginia começa a voltar a si, mas não sem um alerta dos médicos da época: ela deveria evitar tudo que a empolgasse, trouxesse qualquer tipo de excitação - e isso, claro, incluía escrever. “Quando ela finalmente retoma a escrita, é uma pessoa que está reaprendendo a ser um sujeito no mundo novamente, a ser uma escritora de novo”.

O Diário de Asheham mostra essa reconexão de Virginia com o mundo físico e as coisas que, talvez, nós consideraríamos mais simples nele: “Dia perfeito; totalmente azul & sem nuvem ou vento, como que estável para sempre”, escreve ela em uma segunda-feira, 3 de setembro. Ela colhe cogumelos, repara como as andorinhas voam no céu, e vê beleza, embora nem sempre, em um dia de chuva.

O que revela o ‘O Diário de Asheham’?

Durante sua pesquisa, Ana Carolina descobriu que as 78 entradas do caderno haviam sido excluídas das publicações dos diários de Virginia. Ela acha que os registros em Asheham foram renegados por terem sido considerados supérfluos quando comparados a outras produções da escritora. “Eu acredito que ele foi excluído porque é muito diferente, não parece ser dela. Mas, ao mesmo tempo, quem a conhece vai ver que é muito ela”, afirma.

Virginia Woolf por volta de 1917 em fotografia de Lady Ottoline Morrell Foto: National Portrait Gallery

A tradutora argumenta que o diário, para Virginia, era uma produção experimental: quando ela retorna a Londres, abre outro diário, mas deixa aquele em Asheham. Quando volta à casa de campo, segue anotando nele, no mesmo estilo. Enquanto o outro diário, o da cidade grande, segue sendo produzido de sua maneira mais tradicional, basicamente ao mesmo tempo. Há até dias em que ela anotou nos dois.

“Aquele ‘nada’ que ela observa, a natureza - uma flor, um inseto - é lenta. Parece que nada está acontecendo, mas muita coisa está. Ela exercita esse olhar. E, do meu ponto de vista, ela leva isso para as obras futuras. Logo em seguida, ela escreve [o conto] Kew Gardens, que é do ponto de vista de uma lesma. Ou seja, não pode ser coincidência, não?”, questiona Ana Carolina.

'O Diário de Asheham', de Virginia Woolf e tradução de Ana Carolina Mesquisa, publicado pela editora Nós. Foto: Nós/Divulgação

Para ela, o livro revela algumas coisas. Em primeiro lugar, “essa disposição para arriscar, para tentar escrever de modos diferentes”, além de uma relação direta do experimento com suas obras mais consolidadas. “Os textos ecoam uns nos outros. Essa observação de natureza, no passar do tempo, aparece em Ao Farol, que é do ponto de vista do tempo de uma casa.”

Em segundo, do ponto de vista pessoal, mostra uma Virginia “aferrada à vontade de viver, que vai completamente contra o que ela ficou eternizada”. “É uma visão que eu vivo combatendo - dessa pessoa triste, muito amargurada, suicida. Quando as pessoas falavam sobre a Virginia em cartas, nos próprios diários dela ou nas cartas que ela escrevia, ela parecia ser uma pessoa muito engraçada. Uma pessoa com muita vontade de viver. Vemos isso em Asheham: ela se reconstruindo e esse desejo de se reconstruir pulsando ali naquelas páginas.”

Uma nova edição dos diários de Virginia Woolf foi publicada em 2023 pela editora britânica Granta Books, desta vez incluindo as entradas de Asheham, mas o livro da Nós ainda é a única edição que traz o diário de campo de forma exclusiva.

Anon [era uma mulher...]

Outro livro que resgata uma produção pouco explorada da escritora inglesa também chega às livrarias em breve, no final de julho, pela Autêntica. Anon é uma coletânea de textos organizada e traduzida por Tomaz Tadeu, professor e tradutor que há anos se dedica a estudar a obra de Virginia Woolf.

Curiosamente, os principais textos deste livro - o que dá nome à obra e O Leitor - foram escritos pouco antes da morte da escritora, em 1941, quando ela sentia que estava prestes a ter outro colapso mental. “Apesar do caráter de rascunho, [eles] concentram algumas das ideias centrais de Virginia sobre a autoria, desenvolvidas no primeiro, e a leitura, esboçadas no segundo”, explica Tadeu.

Para o tradutor, estes textos são capazes de sintetizar duas faces de Virginia: a autora de ficção e a autora de ensaios de crítica literária. “Embora a importância de Anon, mulher ou homem, seja destacada no ensaio de mesmo nome, Virginia está longe de defender aí a ideia de que a autoria anônima seja destacada, louvada ou idealizada. Mais simplesmente, o anonimato, em sua narrativa em Anon, está na origem da arte da narrativa ou da poesia”, completa.

Capa de 'Anon', de Virginia Woolf e tradução e organização por Tomaz Tadeu, publicado pela Autêntica. Foto: Autêntica/Divulgação

Os dois ensaios são curtos e, por isso, são complementados por textos que conversam diretamente com a ideia de “anônimo”, conforme explica o organizador: “Dei-me conta, em algum momento, de que a autoria anônima, celebrada em Anon, ia de mãos dadas com o outro lado, o do “consumo”, ou seja, com a leitura. E Virginia tinha uma ideia fixa: a do leitor ou da leitora comum.”

Assim, ele decidiu incluir dois textos do primeiro volume do livro O Leitor Comum, uma coletânea de ensaios publicada originalmente em 1925, pouco antes de Mrs. Dalloway. Um deles é o texto homônimo e o segundo é Os Pastons e Chaucer.

“O primeiro deles é, obviamente uma definição breve do ‘leitor comum’. O segundo é sobre, de um lado, o escritor Geoffrey Chaucer (1340-1400) e, do outro, a família dos Pastons, em particular dos Pastons do século 15. Sem entrar em detalhes, o que importa é que o ensaio acaba com um dos Pastons ocupado na leitura de Chaucer: é o encontro do leitor comum com o autor, neste caso, nada anônimo”, explica.

A coletânea inclui também dois textos talvez mais conhecidos de Virginia: Anon Era Uma Mulher, presente em Um Teto Todo Seu, de 1929, e o conto O Diário da Sra. Joan Martyn. Este último, segundo Tadeu, “não tem uma relação direta com o leitmotiv do livro, mas algumas de suas passagens fazem lembrar as históricas recitações de Anon.”

Dalloway Day em São Paulo

O Diário de Asheham será lançado durante as comemorações do Dalloway Day, que ocorre nesta quarta-feira, 19 de junho. A data é uma celebração do livro de Virginia, de forma semelhante à que ocorre no Bloomsday - festa que honra o romance Ulisses, de James Joyce, lançado em 1922, e que já é consolidada há décadas ao redor do mundo.

Para a celebração, a Editora Nós promoverá um Chá das Cinco com uma conversa entre Ana Carolina Mesquita, a escritora Micheliny Verunschk e a editora Simone Paulino sobre os diários de Virginia Woolf. O evento ocorre na livraria Bibla, no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo (conheça mais sobre a livraria aqui) e também serve como lançamento do livro.

O Diário de Asheham

  • Autora: Virginia Woolf
  • Tradução: Ana Carolina Mesquita
  • Editora: Nós, 80 págs.; R$ 60 | E-book: R$ 42
  • Lançamento: 19/06, às 17h, na Bibla Livraria (Praça Prof.ᵃ Emília Barbosa Lima, 58)

Anon

  • Autora: Virginia Woolf
  • Organização e tradução: Tomaz Tadeu
  • Editora: Autêntica, 192 págs.; R$ 79,80 | E-book: R$ 55,90
  • Lançamento: 30/07

Já se passaram mais de 100 anos desde que Clarissa Dalloway saiu para comprar flores para a festa que daria em sua residência naquela quarta-feira de junho em Londres, mas o livro de Virginia Woolf (1882-1941) segue atual e ganhando destaque entre a comunidade literária, em especial no Brasil, onde a produção sobre a escritora cresce com pesquisas, publicações e traduções.

Mrs Dalloway, de 1925, é considerado uma das grandes obras do modernismo literário e o principal trabalho da escritora inglesa. É difícil pensar, então, que, apenas alguns anos antes de publicar o romance, Virginia Woolf sofreu um colapso mental tão intenso que a afastou completamente da escrita. Como a autora conseguiu voltar a si, retomar sua produção e escrever uma das maiores obras do século 20?

É possível encontrar pistas em O Diário de Asheham, livro por anos renegado e considerado inferior aos demais diários de Virginia. Publicado pela editora Nós e traduzido por Ana Carolina Mesquita, ele ajuda a explicar a sua reconstrução enquanto pessoa (e escritora) e a revelar novas nuances de sua produção literária.

“Estamos acostumados com essa escrita da Virginia muito virtuosa, complexa. Neste diário, não: são períodos simples, de quatro linhas no máximo, falando do cotidiano. É muito diferente”, diz Ana Carolina, que vinha preparando o projeto desde 2017, quando foi pesquisadora visitante na Universidade de Columbia e na Berg Collection, em Nova York, e teve acesso aos manuscritos originais dos diários da escritora.

A escritora modernista britânica Virginia Woolf. Foto: Domínio Público

As entradas do diário foram feitas entre 1917 e 1918, quando Virginia tinha cerca de 35 anos e passava, com o marido Leonard, férias e fins de semanas em Asheham, casa em Sussex, no interior da Inglaterra, lugar que foi essencial para a recuperação da escritora. “Ela escreveu isso logo depois de ter um grande colapso, a família dela achou que ela não ia voltar”, explica a tradutora.

Por volta de 1915, a autora chegou a ficar em coma. “Depois disso, ela teve o que a gente pode chamar talvez de um surto psicótico, uma esquizofrenia. Ela via e ouvia coisas, era muito agressiva com todos. Estava completamente fora de si e passa quase dois anos nesse estado. Já estavam dando ela como perdida”, continua Ana Carolina.

Aos poucos, contudo, Virginia começa a voltar a si, mas não sem um alerta dos médicos da época: ela deveria evitar tudo que a empolgasse, trouxesse qualquer tipo de excitação - e isso, claro, incluía escrever. “Quando ela finalmente retoma a escrita, é uma pessoa que está reaprendendo a ser um sujeito no mundo novamente, a ser uma escritora de novo”.

O Diário de Asheham mostra essa reconexão de Virginia com o mundo físico e as coisas que, talvez, nós consideraríamos mais simples nele: “Dia perfeito; totalmente azul & sem nuvem ou vento, como que estável para sempre”, escreve ela em uma segunda-feira, 3 de setembro. Ela colhe cogumelos, repara como as andorinhas voam no céu, e vê beleza, embora nem sempre, em um dia de chuva.

O que revela o ‘O Diário de Asheham’?

Durante sua pesquisa, Ana Carolina descobriu que as 78 entradas do caderno haviam sido excluídas das publicações dos diários de Virginia. Ela acha que os registros em Asheham foram renegados por terem sido considerados supérfluos quando comparados a outras produções da escritora. “Eu acredito que ele foi excluído porque é muito diferente, não parece ser dela. Mas, ao mesmo tempo, quem a conhece vai ver que é muito ela”, afirma.

Virginia Woolf por volta de 1917 em fotografia de Lady Ottoline Morrell Foto: National Portrait Gallery

A tradutora argumenta que o diário, para Virginia, era uma produção experimental: quando ela retorna a Londres, abre outro diário, mas deixa aquele em Asheham. Quando volta à casa de campo, segue anotando nele, no mesmo estilo. Enquanto o outro diário, o da cidade grande, segue sendo produzido de sua maneira mais tradicional, basicamente ao mesmo tempo. Há até dias em que ela anotou nos dois.

“Aquele ‘nada’ que ela observa, a natureza - uma flor, um inseto - é lenta. Parece que nada está acontecendo, mas muita coisa está. Ela exercita esse olhar. E, do meu ponto de vista, ela leva isso para as obras futuras. Logo em seguida, ela escreve [o conto] Kew Gardens, que é do ponto de vista de uma lesma. Ou seja, não pode ser coincidência, não?”, questiona Ana Carolina.

'O Diário de Asheham', de Virginia Woolf e tradução de Ana Carolina Mesquisa, publicado pela editora Nós. Foto: Nós/Divulgação

Para ela, o livro revela algumas coisas. Em primeiro lugar, “essa disposição para arriscar, para tentar escrever de modos diferentes”, além de uma relação direta do experimento com suas obras mais consolidadas. “Os textos ecoam uns nos outros. Essa observação de natureza, no passar do tempo, aparece em Ao Farol, que é do ponto de vista do tempo de uma casa.”

Em segundo, do ponto de vista pessoal, mostra uma Virginia “aferrada à vontade de viver, que vai completamente contra o que ela ficou eternizada”. “É uma visão que eu vivo combatendo - dessa pessoa triste, muito amargurada, suicida. Quando as pessoas falavam sobre a Virginia em cartas, nos próprios diários dela ou nas cartas que ela escrevia, ela parecia ser uma pessoa muito engraçada. Uma pessoa com muita vontade de viver. Vemos isso em Asheham: ela se reconstruindo e esse desejo de se reconstruir pulsando ali naquelas páginas.”

Uma nova edição dos diários de Virginia Woolf foi publicada em 2023 pela editora britânica Granta Books, desta vez incluindo as entradas de Asheham, mas o livro da Nós ainda é a única edição que traz o diário de campo de forma exclusiva.

Anon [era uma mulher...]

Outro livro que resgata uma produção pouco explorada da escritora inglesa também chega às livrarias em breve, no final de julho, pela Autêntica. Anon é uma coletânea de textos organizada e traduzida por Tomaz Tadeu, professor e tradutor que há anos se dedica a estudar a obra de Virginia Woolf.

Curiosamente, os principais textos deste livro - o que dá nome à obra e O Leitor - foram escritos pouco antes da morte da escritora, em 1941, quando ela sentia que estava prestes a ter outro colapso mental. “Apesar do caráter de rascunho, [eles] concentram algumas das ideias centrais de Virginia sobre a autoria, desenvolvidas no primeiro, e a leitura, esboçadas no segundo”, explica Tadeu.

Para o tradutor, estes textos são capazes de sintetizar duas faces de Virginia: a autora de ficção e a autora de ensaios de crítica literária. “Embora a importância de Anon, mulher ou homem, seja destacada no ensaio de mesmo nome, Virginia está longe de defender aí a ideia de que a autoria anônima seja destacada, louvada ou idealizada. Mais simplesmente, o anonimato, em sua narrativa em Anon, está na origem da arte da narrativa ou da poesia”, completa.

Capa de 'Anon', de Virginia Woolf e tradução e organização por Tomaz Tadeu, publicado pela Autêntica. Foto: Autêntica/Divulgação

Os dois ensaios são curtos e, por isso, são complementados por textos que conversam diretamente com a ideia de “anônimo”, conforme explica o organizador: “Dei-me conta, em algum momento, de que a autoria anônima, celebrada em Anon, ia de mãos dadas com o outro lado, o do “consumo”, ou seja, com a leitura. E Virginia tinha uma ideia fixa: a do leitor ou da leitora comum.”

Assim, ele decidiu incluir dois textos do primeiro volume do livro O Leitor Comum, uma coletânea de ensaios publicada originalmente em 1925, pouco antes de Mrs. Dalloway. Um deles é o texto homônimo e o segundo é Os Pastons e Chaucer.

“O primeiro deles é, obviamente uma definição breve do ‘leitor comum’. O segundo é sobre, de um lado, o escritor Geoffrey Chaucer (1340-1400) e, do outro, a família dos Pastons, em particular dos Pastons do século 15. Sem entrar em detalhes, o que importa é que o ensaio acaba com um dos Pastons ocupado na leitura de Chaucer: é o encontro do leitor comum com o autor, neste caso, nada anônimo”, explica.

A coletânea inclui também dois textos talvez mais conhecidos de Virginia: Anon Era Uma Mulher, presente em Um Teto Todo Seu, de 1929, e o conto O Diário da Sra. Joan Martyn. Este último, segundo Tadeu, “não tem uma relação direta com o leitmotiv do livro, mas algumas de suas passagens fazem lembrar as históricas recitações de Anon.”

Dalloway Day em São Paulo

O Diário de Asheham será lançado durante as comemorações do Dalloway Day, que ocorre nesta quarta-feira, 19 de junho. A data é uma celebração do livro de Virginia, de forma semelhante à que ocorre no Bloomsday - festa que honra o romance Ulisses, de James Joyce, lançado em 1922, e que já é consolidada há décadas ao redor do mundo.

Para a celebração, a Editora Nós promoverá um Chá das Cinco com uma conversa entre Ana Carolina Mesquita, a escritora Micheliny Verunschk e a editora Simone Paulino sobre os diários de Virginia Woolf. O evento ocorre na livraria Bibla, no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo (conheça mais sobre a livraria aqui) e também serve como lançamento do livro.

O Diário de Asheham

  • Autora: Virginia Woolf
  • Tradução: Ana Carolina Mesquita
  • Editora: Nós, 80 págs.; R$ 60 | E-book: R$ 42
  • Lançamento: 19/06, às 17h, na Bibla Livraria (Praça Prof.ᵃ Emília Barbosa Lima, 58)

Anon

  • Autora: Virginia Woolf
  • Organização e tradução: Tomaz Tadeu
  • Editora: Autêntica, 192 págs.; R$ 79,80 | E-book: R$ 55,90
  • Lançamento: 30/07

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