Livro reúne os contos de Luiz Lopes Coelho, precursor das histórias de crime no Brasil


Escritor de literatura policial revelou-se um mestre ao conectar com facilidade o leitor às suas histórias

Por Ubiratan Brasil

Um sequestro que obriga o pai da vítima a percorrer as ruas do centro de São Paulo; um misterioso retalhador de quadros que frequenta o bairro de Higienópolis; um assassinato ocorrido em um teatro paulistano – Luiz Lopes Coelho (1911-1975) utilizava a cidade como palco para seus contos criminais, histórias apontadas hoje como pioneiras na literatura policial brasileira. Advogado de figuras célebres como Oswald de Andrade e Flávio de Carvalho, homem de contagiante bom humor, ótimo contador de casos e ex-jogador do São Paulo (entre 1930 e 33), Coelho deixou três obras de contos que foram reunidas e lançadas agora pela editora Sesi-SP em um único volume.

Assim, Contos Reunidos traz as histórias de A Morte no Envelope, de 1957, sua estreia na literatura policial, além de O Homem Que Matava Quadros (1961) e seu canto de cisne, A Ideia de Matar Belina, de 1968. Trata-se de um punhado de contos que apresentam um precioso retrato da face oculta da sociedade, aquela que busca o silêncio como salvação para seus pecados. E, se Nelson Rodrigues sabia, como poucos, transformar histórias reais, que caçava nas páginas dos jornais, em armadilhas envolventes – ao ignorar detalhes desinteressantes, ele valorizava aqueles que atiçavam a sensibilidade (e, por que não?, a sexualidade) do leitor –, Luiz Lopes Coelho dava um passo adiante em sua escrita e expunha o crime.

O autor.Ele também trabalhouno MAM ena Fundação Bienal Foto: ARQUIVO ESTADAO
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O curioso é que, em seus contos, os assassinatos eram motivados em grande parte por paixões. E, se ao criminoso não faltava uma dose de humanidade, a vítima também não se isentava de uma parcela da culpa. 

Para o crítico literário Otto Maria Carpeaux, cujo texto analítico é destacado como posfácio na nova edição, Lopes Coelho reuniu em sua obra importantes aspectos do gênero policial, como atmosfera local e de época (a São Paulo de então), veracidade psicológica, técnica específica do romance policial, e um tipo humano e consistente de detetive. Ele preferia as histórias de crime de Coelho aos “contos aéreos” de Chekhov. “Algumas (das histórias do brasileiro), como Crime Mais Que Perfeito e Vovô Faz a Gente de Bobo, são mesmo bons contos, com ou sem adjetivo; e em quase todas elas se nota a veracidade psicológica; como velho advogado, o sr. Luis Lopes Coelho também conhece a força do Mal no mundo.”

O que praticamente une todas as histórias é a presença do delegado Leite, que soluciona os casos graças ao faro apurado para detalhes reveladores. Assim o descreve Coelho, no conto Do Êxtase ao Crime?: “Homem bonito, à beira dos cinquenta anos, com a cabeleira embranquecida, realçando a lisura da pele e o fulgor dos olhos. Um pouco desajeitado, exprimia-se de maneira clara, precisa, num contraste altamente simpático”. Mais adiante, prossegue: “É um homem tenaz. Para ele, o mistério é como farpa no dedo: incomoda, irrita, impacienta, enquanto não extraída”.

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Leite não é o herói típico dos romances policiais da década de 1940, que eram, por exemplo, aventureiros por excelência. É um ser mais reflexivo, sem ser um intelectual e sobretudo tem um mal-estar na vida, que o impulsiona a solucionar os crimes. Nada de psicologismo ou deduções feitas em bibliotecas fumacentas: o estilo é seco, frio, direto e a ação acontece nas delegacias, ruas e avenidas de São Paulo.

Especializado em Direito Comercial, devotando-se também ao Direito Fiscal, Lopes Coelho conhecia os atalhos da narrativa capazes de fisgar a atenção do leitor logo nas primeiras palavras. Um bom exemplo está no início de Correu Sangue na Estreia de ‘Volpone’: “Trauteando uma cançoneta napolitana, Amadeo Marini entrou na sala de trabalho. Quem diria que esse homem gordo, suave nas maneiras, de bochechas vermelhas e de olhos loquazes, seria assassinado dentro de vinte e quatro horas?”.

Ainda considerada um subgênero por muitos especialistas literários, a ficção policial é o que se pode chamar de um dos mais arcaicos tipos de literatura, com poesia (ritmos), o que pode ser considerado como uma produção mitológica. A escrita de suspense é, como os mitos, um conjunto de histórias cujo principal aspecto é o perigo, a maior ameaça contra a vida.

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O italiano Leonardo Sciascia, por exemplo, usava o suspense como veículo para falar sobre questões de identidade. Já outros autores acreditam que o romance, como é visto hoje, mesmo nas suas formas menos clássicas, deve muito ao policial, que sempre manteve a necessidade de categorias muito claras: personagens, investigação, demanda, conclusão.

Luiz Lopes Coelho foi mestre ao unir seus conhecimentos jurídicos e artísticos (foi diretor da Cinemateca Brasileira, além de membro consultivo da Fundação Bienal de São Paulo) para criar uma literatura que, objetivo maior, divertisse o leitor.

CONTOS REUNIDOS

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Autor: Luiz Lopes Coelho

Editora: Sesi-SP (408 págs., R$ 69)

Um sequestro que obriga o pai da vítima a percorrer as ruas do centro de São Paulo; um misterioso retalhador de quadros que frequenta o bairro de Higienópolis; um assassinato ocorrido em um teatro paulistano – Luiz Lopes Coelho (1911-1975) utilizava a cidade como palco para seus contos criminais, histórias apontadas hoje como pioneiras na literatura policial brasileira. Advogado de figuras célebres como Oswald de Andrade e Flávio de Carvalho, homem de contagiante bom humor, ótimo contador de casos e ex-jogador do São Paulo (entre 1930 e 33), Coelho deixou três obras de contos que foram reunidas e lançadas agora pela editora Sesi-SP em um único volume.

Assim, Contos Reunidos traz as histórias de A Morte no Envelope, de 1957, sua estreia na literatura policial, além de O Homem Que Matava Quadros (1961) e seu canto de cisne, A Ideia de Matar Belina, de 1968. Trata-se de um punhado de contos que apresentam um precioso retrato da face oculta da sociedade, aquela que busca o silêncio como salvação para seus pecados. E, se Nelson Rodrigues sabia, como poucos, transformar histórias reais, que caçava nas páginas dos jornais, em armadilhas envolventes – ao ignorar detalhes desinteressantes, ele valorizava aqueles que atiçavam a sensibilidade (e, por que não?, a sexualidade) do leitor –, Luiz Lopes Coelho dava um passo adiante em sua escrita e expunha o crime.

O autor.Ele também trabalhouno MAM ena Fundação Bienal Foto: ARQUIVO ESTADAO

O curioso é que, em seus contos, os assassinatos eram motivados em grande parte por paixões. E, se ao criminoso não faltava uma dose de humanidade, a vítima também não se isentava de uma parcela da culpa. 

Para o crítico literário Otto Maria Carpeaux, cujo texto analítico é destacado como posfácio na nova edição, Lopes Coelho reuniu em sua obra importantes aspectos do gênero policial, como atmosfera local e de época (a São Paulo de então), veracidade psicológica, técnica específica do romance policial, e um tipo humano e consistente de detetive. Ele preferia as histórias de crime de Coelho aos “contos aéreos” de Chekhov. “Algumas (das histórias do brasileiro), como Crime Mais Que Perfeito e Vovô Faz a Gente de Bobo, são mesmo bons contos, com ou sem adjetivo; e em quase todas elas se nota a veracidade psicológica; como velho advogado, o sr. Luis Lopes Coelho também conhece a força do Mal no mundo.”

O que praticamente une todas as histórias é a presença do delegado Leite, que soluciona os casos graças ao faro apurado para detalhes reveladores. Assim o descreve Coelho, no conto Do Êxtase ao Crime?: “Homem bonito, à beira dos cinquenta anos, com a cabeleira embranquecida, realçando a lisura da pele e o fulgor dos olhos. Um pouco desajeitado, exprimia-se de maneira clara, precisa, num contraste altamente simpático”. Mais adiante, prossegue: “É um homem tenaz. Para ele, o mistério é como farpa no dedo: incomoda, irrita, impacienta, enquanto não extraída”.

Leite não é o herói típico dos romances policiais da década de 1940, que eram, por exemplo, aventureiros por excelência. É um ser mais reflexivo, sem ser um intelectual e sobretudo tem um mal-estar na vida, que o impulsiona a solucionar os crimes. Nada de psicologismo ou deduções feitas em bibliotecas fumacentas: o estilo é seco, frio, direto e a ação acontece nas delegacias, ruas e avenidas de São Paulo.

Especializado em Direito Comercial, devotando-se também ao Direito Fiscal, Lopes Coelho conhecia os atalhos da narrativa capazes de fisgar a atenção do leitor logo nas primeiras palavras. Um bom exemplo está no início de Correu Sangue na Estreia de ‘Volpone’: “Trauteando uma cançoneta napolitana, Amadeo Marini entrou na sala de trabalho. Quem diria que esse homem gordo, suave nas maneiras, de bochechas vermelhas e de olhos loquazes, seria assassinado dentro de vinte e quatro horas?”.

Ainda considerada um subgênero por muitos especialistas literários, a ficção policial é o que se pode chamar de um dos mais arcaicos tipos de literatura, com poesia (ritmos), o que pode ser considerado como uma produção mitológica. A escrita de suspense é, como os mitos, um conjunto de histórias cujo principal aspecto é o perigo, a maior ameaça contra a vida.

O italiano Leonardo Sciascia, por exemplo, usava o suspense como veículo para falar sobre questões de identidade. Já outros autores acreditam que o romance, como é visto hoje, mesmo nas suas formas menos clássicas, deve muito ao policial, que sempre manteve a necessidade de categorias muito claras: personagens, investigação, demanda, conclusão.

Luiz Lopes Coelho foi mestre ao unir seus conhecimentos jurídicos e artísticos (foi diretor da Cinemateca Brasileira, além de membro consultivo da Fundação Bienal de São Paulo) para criar uma literatura que, objetivo maior, divertisse o leitor.

CONTOS REUNIDOS

Autor: Luiz Lopes Coelho

Editora: Sesi-SP (408 págs., R$ 69)

Um sequestro que obriga o pai da vítima a percorrer as ruas do centro de São Paulo; um misterioso retalhador de quadros que frequenta o bairro de Higienópolis; um assassinato ocorrido em um teatro paulistano – Luiz Lopes Coelho (1911-1975) utilizava a cidade como palco para seus contos criminais, histórias apontadas hoje como pioneiras na literatura policial brasileira. Advogado de figuras célebres como Oswald de Andrade e Flávio de Carvalho, homem de contagiante bom humor, ótimo contador de casos e ex-jogador do São Paulo (entre 1930 e 33), Coelho deixou três obras de contos que foram reunidas e lançadas agora pela editora Sesi-SP em um único volume.

Assim, Contos Reunidos traz as histórias de A Morte no Envelope, de 1957, sua estreia na literatura policial, além de O Homem Que Matava Quadros (1961) e seu canto de cisne, A Ideia de Matar Belina, de 1968. Trata-se de um punhado de contos que apresentam um precioso retrato da face oculta da sociedade, aquela que busca o silêncio como salvação para seus pecados. E, se Nelson Rodrigues sabia, como poucos, transformar histórias reais, que caçava nas páginas dos jornais, em armadilhas envolventes – ao ignorar detalhes desinteressantes, ele valorizava aqueles que atiçavam a sensibilidade (e, por que não?, a sexualidade) do leitor –, Luiz Lopes Coelho dava um passo adiante em sua escrita e expunha o crime.

O autor.Ele também trabalhouno MAM ena Fundação Bienal Foto: ARQUIVO ESTADAO

O curioso é que, em seus contos, os assassinatos eram motivados em grande parte por paixões. E, se ao criminoso não faltava uma dose de humanidade, a vítima também não se isentava de uma parcela da culpa. 

Para o crítico literário Otto Maria Carpeaux, cujo texto analítico é destacado como posfácio na nova edição, Lopes Coelho reuniu em sua obra importantes aspectos do gênero policial, como atmosfera local e de época (a São Paulo de então), veracidade psicológica, técnica específica do romance policial, e um tipo humano e consistente de detetive. Ele preferia as histórias de crime de Coelho aos “contos aéreos” de Chekhov. “Algumas (das histórias do brasileiro), como Crime Mais Que Perfeito e Vovô Faz a Gente de Bobo, são mesmo bons contos, com ou sem adjetivo; e em quase todas elas se nota a veracidade psicológica; como velho advogado, o sr. Luis Lopes Coelho também conhece a força do Mal no mundo.”

O que praticamente une todas as histórias é a presença do delegado Leite, que soluciona os casos graças ao faro apurado para detalhes reveladores. Assim o descreve Coelho, no conto Do Êxtase ao Crime?: “Homem bonito, à beira dos cinquenta anos, com a cabeleira embranquecida, realçando a lisura da pele e o fulgor dos olhos. Um pouco desajeitado, exprimia-se de maneira clara, precisa, num contraste altamente simpático”. Mais adiante, prossegue: “É um homem tenaz. Para ele, o mistério é como farpa no dedo: incomoda, irrita, impacienta, enquanto não extraída”.

Leite não é o herói típico dos romances policiais da década de 1940, que eram, por exemplo, aventureiros por excelência. É um ser mais reflexivo, sem ser um intelectual e sobretudo tem um mal-estar na vida, que o impulsiona a solucionar os crimes. Nada de psicologismo ou deduções feitas em bibliotecas fumacentas: o estilo é seco, frio, direto e a ação acontece nas delegacias, ruas e avenidas de São Paulo.

Especializado em Direito Comercial, devotando-se também ao Direito Fiscal, Lopes Coelho conhecia os atalhos da narrativa capazes de fisgar a atenção do leitor logo nas primeiras palavras. Um bom exemplo está no início de Correu Sangue na Estreia de ‘Volpone’: “Trauteando uma cançoneta napolitana, Amadeo Marini entrou na sala de trabalho. Quem diria que esse homem gordo, suave nas maneiras, de bochechas vermelhas e de olhos loquazes, seria assassinado dentro de vinte e quatro horas?”.

Ainda considerada um subgênero por muitos especialistas literários, a ficção policial é o que se pode chamar de um dos mais arcaicos tipos de literatura, com poesia (ritmos), o que pode ser considerado como uma produção mitológica. A escrita de suspense é, como os mitos, um conjunto de histórias cujo principal aspecto é o perigo, a maior ameaça contra a vida.

O italiano Leonardo Sciascia, por exemplo, usava o suspense como veículo para falar sobre questões de identidade. Já outros autores acreditam que o romance, como é visto hoje, mesmo nas suas formas menos clássicas, deve muito ao policial, que sempre manteve a necessidade de categorias muito claras: personagens, investigação, demanda, conclusão.

Luiz Lopes Coelho foi mestre ao unir seus conhecimentos jurídicos e artísticos (foi diretor da Cinemateca Brasileira, além de membro consultivo da Fundação Bienal de São Paulo) para criar uma literatura que, objetivo maior, divertisse o leitor.

CONTOS REUNIDOS

Autor: Luiz Lopes Coelho

Editora: Sesi-SP (408 págs., R$ 69)

Um sequestro que obriga o pai da vítima a percorrer as ruas do centro de São Paulo; um misterioso retalhador de quadros que frequenta o bairro de Higienópolis; um assassinato ocorrido em um teatro paulistano – Luiz Lopes Coelho (1911-1975) utilizava a cidade como palco para seus contos criminais, histórias apontadas hoje como pioneiras na literatura policial brasileira. Advogado de figuras célebres como Oswald de Andrade e Flávio de Carvalho, homem de contagiante bom humor, ótimo contador de casos e ex-jogador do São Paulo (entre 1930 e 33), Coelho deixou três obras de contos que foram reunidas e lançadas agora pela editora Sesi-SP em um único volume.

Assim, Contos Reunidos traz as histórias de A Morte no Envelope, de 1957, sua estreia na literatura policial, além de O Homem Que Matava Quadros (1961) e seu canto de cisne, A Ideia de Matar Belina, de 1968. Trata-se de um punhado de contos que apresentam um precioso retrato da face oculta da sociedade, aquela que busca o silêncio como salvação para seus pecados. E, se Nelson Rodrigues sabia, como poucos, transformar histórias reais, que caçava nas páginas dos jornais, em armadilhas envolventes – ao ignorar detalhes desinteressantes, ele valorizava aqueles que atiçavam a sensibilidade (e, por que não?, a sexualidade) do leitor –, Luiz Lopes Coelho dava um passo adiante em sua escrita e expunha o crime.

O autor.Ele também trabalhouno MAM ena Fundação Bienal Foto: ARQUIVO ESTADAO

O curioso é que, em seus contos, os assassinatos eram motivados em grande parte por paixões. E, se ao criminoso não faltava uma dose de humanidade, a vítima também não se isentava de uma parcela da culpa. 

Para o crítico literário Otto Maria Carpeaux, cujo texto analítico é destacado como posfácio na nova edição, Lopes Coelho reuniu em sua obra importantes aspectos do gênero policial, como atmosfera local e de época (a São Paulo de então), veracidade psicológica, técnica específica do romance policial, e um tipo humano e consistente de detetive. Ele preferia as histórias de crime de Coelho aos “contos aéreos” de Chekhov. “Algumas (das histórias do brasileiro), como Crime Mais Que Perfeito e Vovô Faz a Gente de Bobo, são mesmo bons contos, com ou sem adjetivo; e em quase todas elas se nota a veracidade psicológica; como velho advogado, o sr. Luis Lopes Coelho também conhece a força do Mal no mundo.”

O que praticamente une todas as histórias é a presença do delegado Leite, que soluciona os casos graças ao faro apurado para detalhes reveladores. Assim o descreve Coelho, no conto Do Êxtase ao Crime?: “Homem bonito, à beira dos cinquenta anos, com a cabeleira embranquecida, realçando a lisura da pele e o fulgor dos olhos. Um pouco desajeitado, exprimia-se de maneira clara, precisa, num contraste altamente simpático”. Mais adiante, prossegue: “É um homem tenaz. Para ele, o mistério é como farpa no dedo: incomoda, irrita, impacienta, enquanto não extraída”.

Leite não é o herói típico dos romances policiais da década de 1940, que eram, por exemplo, aventureiros por excelência. É um ser mais reflexivo, sem ser um intelectual e sobretudo tem um mal-estar na vida, que o impulsiona a solucionar os crimes. Nada de psicologismo ou deduções feitas em bibliotecas fumacentas: o estilo é seco, frio, direto e a ação acontece nas delegacias, ruas e avenidas de São Paulo.

Especializado em Direito Comercial, devotando-se também ao Direito Fiscal, Lopes Coelho conhecia os atalhos da narrativa capazes de fisgar a atenção do leitor logo nas primeiras palavras. Um bom exemplo está no início de Correu Sangue na Estreia de ‘Volpone’: “Trauteando uma cançoneta napolitana, Amadeo Marini entrou na sala de trabalho. Quem diria que esse homem gordo, suave nas maneiras, de bochechas vermelhas e de olhos loquazes, seria assassinado dentro de vinte e quatro horas?”.

Ainda considerada um subgênero por muitos especialistas literários, a ficção policial é o que se pode chamar de um dos mais arcaicos tipos de literatura, com poesia (ritmos), o que pode ser considerado como uma produção mitológica. A escrita de suspense é, como os mitos, um conjunto de histórias cujo principal aspecto é o perigo, a maior ameaça contra a vida.

O italiano Leonardo Sciascia, por exemplo, usava o suspense como veículo para falar sobre questões de identidade. Já outros autores acreditam que o romance, como é visto hoje, mesmo nas suas formas menos clássicas, deve muito ao policial, que sempre manteve a necessidade de categorias muito claras: personagens, investigação, demanda, conclusão.

Luiz Lopes Coelho foi mestre ao unir seus conhecimentos jurídicos e artísticos (foi diretor da Cinemateca Brasileira, além de membro consultivo da Fundação Bienal de São Paulo) para criar uma literatura que, objetivo maior, divertisse o leitor.

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Autor: Luiz Lopes Coelho

Editora: Sesi-SP (408 págs., R$ 69)

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