Livros póstumos: O que escritores gostariam que fizessem com seus inéditos e renegados?


Lançamento de ‘Em Agosto nos Vemos’, inédito de Gabriel García Márquez, levanta questão sobre a publicação de obras póstumas. Itamar Vieira Junior., Milton Hatoum, Ignácio de Loyola Brandão, Paula Fábrio e filha de Carolina Maria de Jesus contam o que pensam e advogado explica

Por Leonardo Neto
Atualização:

Nesta quarta-feira, 6, dia do aniversário de Gabriel García Márquez, chega a livrarias de todo o mundo o livro Em Agosto nos Vemos, romance póstumo do escritor morto há dez anos, em 2014. A obra foi traduzida para 40 idiomas e, no Brasil, sai pela Record, com tradução de Eric Nepomuceno.

O manuscrito original, de antes de 2003, foi resgatado pelos filhos do autor, Rodrigo e Gonzalo García Barcha. No prefácio, eles revelam que o pai chegou a dizer que o livro não era bom, mas explicam que ele não estava mais em condições de saúde para fazer tal julgamento.

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Cassiano Elek Machado, diretor do Grupo Editorial Record, defendeu a publicação do livro. “Ninguém pode duvidar de que Em Agosto nos Vemos é um legítimo livro do García Márquez”, disse. “Foi um tratamento muito respeitoso e honesto por parte dos filhos. O pai tinha, sim, terminado a obra, chegou a entregá-la à agente”. Conheça os detalhes da decisão de publicar a obra mais abaixo e leia a resenha aqui.

O lançamento levanta um debate sobre a publicação de obras póstumas anteriormente rejeitadas ou não finalizadas. O Estadão conversou os escritores Paula Fábrio, Itamar Vieira Junior, Milton Hatoum e Ignácio de Loyola Brandão e com Vera Eunice de Jesus, filha da escritora Carolina Maria de Jesus, para saber como eles enxergam a questão.

Livro póstumo de Gabriel García Márquez (ao centro) chega às livrarias nesta quarta, 6. Itamar Vieira Jr. (à esquerda) e Ignácio de Loyola Brandão (à direita) contam o que gostaria que fosse feito com seus livros inéditos ou rejeitados. Foto: Divulgação/Editora Mondrongo, L.M. Palomares, Agencia Literaria Carmen Balcells e Denise Andrade/Estadão
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Posthumus

O advogado Gustavo Martins de Almeida, especialista em direitos autorais, aponta que póstumo vem do latim post (após) humus (terra). Para o Direito, uma obra póstuma é aquela inédita publicada após a morte do autor.

Gustavo lembra ainda que a lei brasileira permite ao editor, em caso de falecimento ou impedimento do autor, contratar outra pessoa para terminar a obra. “É o caso recente, por exemplo, da biografia de Gilberto Braga, iniciada por Arthur Xexéo e finalizada por Maurício Stycer. Na impossibilidade de Xexéo – que morreu antes de colocar um ponto final na obra –, a editora chamou o também jornalista Stycer para finalizá-la. E, em casos como este, isso precisa estar claro para o leitor e, é importante também que esta possibilidade esteja prevista em contrato”, pontua Martins de Almeida.

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Para o especialista, embora García Márquez tenha rechaçado a obra ainda em vida, não deixou isso de forma expressa. Ao contrário, publicou partes da obra e a enviou para a sua agente. “Trazendo para um paralelo com as artes visuais: quantos esboços de quadros são vendidos depois da morte de seus autores? Eram para ser apenas estudos, que deveriam ir para o lixo, mas, por alguma razão, não foram. Se os artistas não quisessem que esses esboços viessem a público, deveriam rasgá-los e jogá-los fora”, diz o especialista em direitos autorais. Não foi o que aconteceu com Gabo e Em agosto nos vemos.

Paula Fábrio, ganhadora do Prêmio São Paulo de Literatura, diz que tem pensado muito no tratamento que gostaria que dessem à sua obra em caso de morte. “Não costumo deixar livros prontos na gaveta. Quando não gosto de um trabalho, apago todas as provas, não deixo rastros. Mas, se a morte me pegar de surpresa, antes que eu tenha tempo de jogar fora um livro ruim, desejo que a sorte fale por mim”, deixa registrado.

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A escritora Paula Fábrio, que já venceu o Prêmio São Paulo de Literatura Foto: Taba Benedicto/Estadão

A autora diz que pretende deixar orientações em caso de uma obra inacabada. “Pretendo deixar algumas coisas programadas. É provável que eu eleja algum escritor do meu círculo de amigos para terminar algum livro em andamento. Entretanto, se o livro for bom o suficiente, mesmo inacabado, caberá ao tutor das minhas obras publicar o livro no estado em que ele estiver”, completa.

Itamar Vieira Junior, autor do mega-seller Torto arado, não tem a mesma visão da sua colega Fábrio quando o assunto é delegar a outro escritor a missão de finalizar a sua obra. “Quanto a terminar um livro inacabado, aí é que não há meio termo. Se está inacabado e for terminado por outro autor, não se trata de uma obra coletiva, escrita a quatro mãos, trata-se de um Frankenstein”, declara o ganhador do Prêmio Jabuti.

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O escritor Itamar Vieira Jr., autor do fenômeno literário 'Torto Arado' Foto: Adenor Gondim/Divulgação

Ao ser questionado se, na hipótese de deixar uma obra inacabada, alguém teria o direito de terminar a escrita desta obra, Milton Hatoun disse: “Sim, a imaginação dos leitores e leitoras. A essas pessoas pacientes, devemos tudo. Bons leitores são a consciência vigilante e inventiva de uma obra literária. Eles e elas justificam a literatura”.

Em relação a obras finalizadas, mas não publicadas, o autor de Relato de um certo Oriente defende que seus herdeiros poderão publicá-las: “Por um motivo, talvez misterioso, um escritor não publica um manuscrito. Um herdeiro ou herdeira percebe que esse motivo nada tinha de misterioso e decide publicar o manuscrito. Não vejo qualquer problema nisso. Desconfio que um escritor, já no outro lado do espelho, tampouco ficará chateado. Salvo engano, mortos não são vaidosos, nem se envergonham de nada”, conclui o assunto.

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O escritor Milton Hatoun, autor de obras como 'Dois Irmãos' e 'Relato de um certo Oriente' Foto: Paulo Pinto/Estadão

Apesar de imortal pela Academia Brasileira de Letras, Ignácio de Loyola Brandão pensa na morte e diz que não pretende deixar obras póstumas. “Antes de morrer, procuraria destruir. Mas se não tivesse tempo, ficaria a olhar de algum ponto das galáxias a confusão”, diz. Exercendo uma modéstia que não lhe cabe, conclui: “Isso se eu tivesse alguma importância. Mas se não tivesse nenhuma importância, quem ia querer um livro meu depois de morto? Morto está, que fique morto, dirão”.

O escritor Ignácio de Loyola Brandão, membro da Academia Brasileira de Letras. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O caso Carolina Maria de Jesus

Outro caso emblemático é o de Carolina Maria de Jesus, que começou a ter as suas obras póstumas publicadas pela Companhia das Letras. Depois de republicar os dois tomos de Casa de alvenaria, a editora publicou o primeiro inédito – O escravo, lançado no fim de 2023.

O Estadão conversou com Vera Eunice de Jesus, filha da escritora. Vera diz que sua mãe deixou uma carta em que pedia que não deixasse a sua memória morrer. “Sei que um escritor nunca morre e, através da sua literatura, a sua memória se perpetua. Portanto, as obras inéditas devem ser publicadas”, defende a herdeira.

No caso de Carolina Maria de Jesus, o resgate é ainda mais complexo, como lembra a filha: “Carolina escreveu a vida toda. Sempre a vi escrevendo, em todos os momentos. Pegava qualquer papel que estivesse próximo e ali escrevia e escrevia de tudo: contos, poesia, provérbios, peças teatrais, anotações de diário, enfim, tudo o que lhe vinha à cabeça. [Resgatar a sua obra] não é um trabalho fácil”.

A escritora Carolina Maria de Jesus, que teve romance público publicado recentemente. Foto: Arquivo Nacional/Correio da Manhã/IMS

A complexidade é tanta que a Companhia das Letras constituiu um conselho composto exclusivamente por mulheres negras e encabeçado por Conceição Evaristo e pela própria Vera. O escravo foi considerado pelo conselho como o romance que estava mais bem acabado, com os textos mais legíveis e, portanto, mais fácil de ser publicado. A Companhia das Letras deve apresentar ao público outros livros da autora, como Dr. Silvio, Dr. Fausto, Rita e O diário de Marta.

A história de Em agosto nos vemos

A escrita original de Em agosto nos vemos se deu antes de 2003, ano em que o autor começou a trabalhar na redação final de Memórias de minhas putas tristes, seu último romance publicado em vida, há exatos 20 anos.

Em entrevistas, Gabo chegou a citar Em agosto nos vemos e a liberar trechos do romance para publicação em revistas especializadas. O próprio autor enviou o manuscrito a Carmen Balcells (1930-2015), a agente por trás do boom latino-americano que apresentou Gabo ao mundo.

No entanto, o livro não chegou a ser publicado. Primeiro porque o autor se dedicou ao lançamento de Memórias de minhas putas tristes e, depois, aos 40 anos de publicação de Cem anos de solidão, obra-prima do autor, celebrados em 2007.

Capa de 'Em agosto nos vemos', livro póstumo de Gabriel García Marquez. Foto: Record/Divulgação

Seguindo a linha do tempo, em 2010, Carmen Balcells chama o editor Cristóbal Pera em sua agência para ajudá-la a convencer Gabo a finalizar Em agosto nos vemos.

Cristóbal e Gabo se conheceram quase uma década antes, por intermédio da própria agente espanhola. O autor precisava de um editor para as suas memórias, substituindo Claudio López de Lamadrid, editor habitual de Gabo, que estava de férias. A partir daí, criou-se uma relação de amizade e confiança.

Ao procurar o autor para cobrar um fim para o livro, Pera teve uma prova da confiança de Gabo que leu, em voz alta, o último parágrafo de Em agosto nos vemos. Ali, na avaliação de Pera, estava claro que o livro estava finalizado, precisando apenas de alguns ajustes editoriais.

Este livro não presta

No entanto, pouco antes de morrer, Gabo chegou a manifestar que o livro não estava bom e, por isso, não deveria ser publicado. No prefácio, os filhos Rodrigo e Gonzalo García Barcha revelam que o pai chegou a dizer que o livro não prestava e que deveria ser destruído.

Ainda segundo a família, o autor rechaçou a obra em um momento muito singular. Gabo já tinha o diagnóstico de demência senil, revelado ao público em 2012 pelo seu irmão mais novo, Jaime García Márquez.

Contrariando o desejo do pai conhecido pelo seu perfeccionismo, os herdeiros em vez de destruir o manuscrito, resolveram guardá-lo. Ao revisitar a obra, perceberam que a mesma doença que não permitiu ao Nobel finalizar a obra também o impediu de perceber o valor de Em agosto nos vemos, que agora chega ao público.

Gonzalo Garcia Barcha, filho de Gabriel García Márquez, durante lançamento de 'Em agosto nos vemos', em Madrid, Espanha, em 5 de março de 2024. Foto: Violeta Santos Moura / REUTERS

Foi aí que os herdeiros recorreram a Cristóbal Pera para finalizar a obra deixada pelo pai. Segundo o editor, a sua tarefa foi semelhante a de um restaurador, diante de um trabalho de um grande mestre: não de mudar a obra, mas torná-la mais forte e consistente.

“Ninguém pode duvidar de que Em agosto nos vemos é um legítimo livro do García Márquez”, defende Cassiano Elek Machado, diretor do Grupo Editorial Record. “Foi um tratamento muito respeitoso e honesto por parte dos filhos. O pai tinha, sim, terminado a obra, chegou a entregá-la à agente. Posteriormente, ele ficou em dúvida. No entanto, os filhos resolveram seguir adiante de maneira cuidadosa, entendendo que o pai já não estava no seu melhor juízo para saber se aquilo estava bom ou não”, continua Elek Machado.

Os próprios herdeiros apontam que o livro apresentava pequenas inconsistências, fruto da doença que acometia García Márquez. “Foi jogado um olhar crítico em torno disso”, defende Elek Machado. “A publicação deste livro é um acontecimento histórico”, conclui o editor brasileiro.

Em 2006, García Márquez conduziu uma oficina de escrita criativa em Cuba. Lá estava a escritora brasileira Socorro Acioli, autora de A cabeça de santo. “Quando eu fiz a oficina com García Márquez, me lembro que ele comentou que Memórias de minhas putas tristes seria um livro maior e que ele tinha outro livro pronto. Honestamente, acho que ele gostaria de ver esse livro publicado agora”, diz a autora.

Nesta quarta-feira, 6, dia do aniversário de Gabriel García Márquez, chega a livrarias de todo o mundo o livro Em Agosto nos Vemos, romance póstumo do escritor morto há dez anos, em 2014. A obra foi traduzida para 40 idiomas e, no Brasil, sai pela Record, com tradução de Eric Nepomuceno.

O manuscrito original, de antes de 2003, foi resgatado pelos filhos do autor, Rodrigo e Gonzalo García Barcha. No prefácio, eles revelam que o pai chegou a dizer que o livro não era bom, mas explicam que ele não estava mais em condições de saúde para fazer tal julgamento.

Cassiano Elek Machado, diretor do Grupo Editorial Record, defendeu a publicação do livro. “Ninguém pode duvidar de que Em Agosto nos Vemos é um legítimo livro do García Márquez”, disse. “Foi um tratamento muito respeitoso e honesto por parte dos filhos. O pai tinha, sim, terminado a obra, chegou a entregá-la à agente”. Conheça os detalhes da decisão de publicar a obra mais abaixo e leia a resenha aqui.

O lançamento levanta um debate sobre a publicação de obras póstumas anteriormente rejeitadas ou não finalizadas. O Estadão conversou os escritores Paula Fábrio, Itamar Vieira Junior, Milton Hatoum e Ignácio de Loyola Brandão e com Vera Eunice de Jesus, filha da escritora Carolina Maria de Jesus, para saber como eles enxergam a questão.

Livro póstumo de Gabriel García Márquez (ao centro) chega às livrarias nesta quarta, 6. Itamar Vieira Jr. (à esquerda) e Ignácio de Loyola Brandão (à direita) contam o que gostaria que fosse feito com seus livros inéditos ou rejeitados. Foto: Divulgação/Editora Mondrongo, L.M. Palomares, Agencia Literaria Carmen Balcells e Denise Andrade/Estadão

Posthumus

O advogado Gustavo Martins de Almeida, especialista em direitos autorais, aponta que póstumo vem do latim post (após) humus (terra). Para o Direito, uma obra póstuma é aquela inédita publicada após a morte do autor.

Gustavo lembra ainda que a lei brasileira permite ao editor, em caso de falecimento ou impedimento do autor, contratar outra pessoa para terminar a obra. “É o caso recente, por exemplo, da biografia de Gilberto Braga, iniciada por Arthur Xexéo e finalizada por Maurício Stycer. Na impossibilidade de Xexéo – que morreu antes de colocar um ponto final na obra –, a editora chamou o também jornalista Stycer para finalizá-la. E, em casos como este, isso precisa estar claro para o leitor e, é importante também que esta possibilidade esteja prevista em contrato”, pontua Martins de Almeida.

Para o especialista, embora García Márquez tenha rechaçado a obra ainda em vida, não deixou isso de forma expressa. Ao contrário, publicou partes da obra e a enviou para a sua agente. “Trazendo para um paralelo com as artes visuais: quantos esboços de quadros são vendidos depois da morte de seus autores? Eram para ser apenas estudos, que deveriam ir para o lixo, mas, por alguma razão, não foram. Se os artistas não quisessem que esses esboços viessem a público, deveriam rasgá-los e jogá-los fora”, diz o especialista em direitos autorais. Não foi o que aconteceu com Gabo e Em agosto nos vemos.

Paula Fábrio, ganhadora do Prêmio São Paulo de Literatura, diz que tem pensado muito no tratamento que gostaria que dessem à sua obra em caso de morte. “Não costumo deixar livros prontos na gaveta. Quando não gosto de um trabalho, apago todas as provas, não deixo rastros. Mas, se a morte me pegar de surpresa, antes que eu tenha tempo de jogar fora um livro ruim, desejo que a sorte fale por mim”, deixa registrado.

A escritora Paula Fábrio, que já venceu o Prêmio São Paulo de Literatura Foto: Taba Benedicto/Estadão

A autora diz que pretende deixar orientações em caso de uma obra inacabada. “Pretendo deixar algumas coisas programadas. É provável que eu eleja algum escritor do meu círculo de amigos para terminar algum livro em andamento. Entretanto, se o livro for bom o suficiente, mesmo inacabado, caberá ao tutor das minhas obras publicar o livro no estado em que ele estiver”, completa.

Itamar Vieira Junior, autor do mega-seller Torto arado, não tem a mesma visão da sua colega Fábrio quando o assunto é delegar a outro escritor a missão de finalizar a sua obra. “Quanto a terminar um livro inacabado, aí é que não há meio termo. Se está inacabado e for terminado por outro autor, não se trata de uma obra coletiva, escrita a quatro mãos, trata-se de um Frankenstein”, declara o ganhador do Prêmio Jabuti.

O escritor Itamar Vieira Jr., autor do fenômeno literário 'Torto Arado' Foto: Adenor Gondim/Divulgação

Ao ser questionado se, na hipótese de deixar uma obra inacabada, alguém teria o direito de terminar a escrita desta obra, Milton Hatoun disse: “Sim, a imaginação dos leitores e leitoras. A essas pessoas pacientes, devemos tudo. Bons leitores são a consciência vigilante e inventiva de uma obra literária. Eles e elas justificam a literatura”.

Em relação a obras finalizadas, mas não publicadas, o autor de Relato de um certo Oriente defende que seus herdeiros poderão publicá-las: “Por um motivo, talvez misterioso, um escritor não publica um manuscrito. Um herdeiro ou herdeira percebe que esse motivo nada tinha de misterioso e decide publicar o manuscrito. Não vejo qualquer problema nisso. Desconfio que um escritor, já no outro lado do espelho, tampouco ficará chateado. Salvo engano, mortos não são vaidosos, nem se envergonham de nada”, conclui o assunto.

O escritor Milton Hatoun, autor de obras como 'Dois Irmãos' e 'Relato de um certo Oriente' Foto: Paulo Pinto/Estadão

Apesar de imortal pela Academia Brasileira de Letras, Ignácio de Loyola Brandão pensa na morte e diz que não pretende deixar obras póstumas. “Antes de morrer, procuraria destruir. Mas se não tivesse tempo, ficaria a olhar de algum ponto das galáxias a confusão”, diz. Exercendo uma modéstia que não lhe cabe, conclui: “Isso se eu tivesse alguma importância. Mas se não tivesse nenhuma importância, quem ia querer um livro meu depois de morto? Morto está, que fique morto, dirão”.

O escritor Ignácio de Loyola Brandão, membro da Academia Brasileira de Letras. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O caso Carolina Maria de Jesus

Outro caso emblemático é o de Carolina Maria de Jesus, que começou a ter as suas obras póstumas publicadas pela Companhia das Letras. Depois de republicar os dois tomos de Casa de alvenaria, a editora publicou o primeiro inédito – O escravo, lançado no fim de 2023.

O Estadão conversou com Vera Eunice de Jesus, filha da escritora. Vera diz que sua mãe deixou uma carta em que pedia que não deixasse a sua memória morrer. “Sei que um escritor nunca morre e, através da sua literatura, a sua memória se perpetua. Portanto, as obras inéditas devem ser publicadas”, defende a herdeira.

No caso de Carolina Maria de Jesus, o resgate é ainda mais complexo, como lembra a filha: “Carolina escreveu a vida toda. Sempre a vi escrevendo, em todos os momentos. Pegava qualquer papel que estivesse próximo e ali escrevia e escrevia de tudo: contos, poesia, provérbios, peças teatrais, anotações de diário, enfim, tudo o que lhe vinha à cabeça. [Resgatar a sua obra] não é um trabalho fácil”.

A escritora Carolina Maria de Jesus, que teve romance público publicado recentemente. Foto: Arquivo Nacional/Correio da Manhã/IMS

A complexidade é tanta que a Companhia das Letras constituiu um conselho composto exclusivamente por mulheres negras e encabeçado por Conceição Evaristo e pela própria Vera. O escravo foi considerado pelo conselho como o romance que estava mais bem acabado, com os textos mais legíveis e, portanto, mais fácil de ser publicado. A Companhia das Letras deve apresentar ao público outros livros da autora, como Dr. Silvio, Dr. Fausto, Rita e O diário de Marta.

A história de Em agosto nos vemos

A escrita original de Em agosto nos vemos se deu antes de 2003, ano em que o autor começou a trabalhar na redação final de Memórias de minhas putas tristes, seu último romance publicado em vida, há exatos 20 anos.

Em entrevistas, Gabo chegou a citar Em agosto nos vemos e a liberar trechos do romance para publicação em revistas especializadas. O próprio autor enviou o manuscrito a Carmen Balcells (1930-2015), a agente por trás do boom latino-americano que apresentou Gabo ao mundo.

No entanto, o livro não chegou a ser publicado. Primeiro porque o autor se dedicou ao lançamento de Memórias de minhas putas tristes e, depois, aos 40 anos de publicação de Cem anos de solidão, obra-prima do autor, celebrados em 2007.

Capa de 'Em agosto nos vemos', livro póstumo de Gabriel García Marquez. Foto: Record/Divulgação

Seguindo a linha do tempo, em 2010, Carmen Balcells chama o editor Cristóbal Pera em sua agência para ajudá-la a convencer Gabo a finalizar Em agosto nos vemos.

Cristóbal e Gabo se conheceram quase uma década antes, por intermédio da própria agente espanhola. O autor precisava de um editor para as suas memórias, substituindo Claudio López de Lamadrid, editor habitual de Gabo, que estava de férias. A partir daí, criou-se uma relação de amizade e confiança.

Ao procurar o autor para cobrar um fim para o livro, Pera teve uma prova da confiança de Gabo que leu, em voz alta, o último parágrafo de Em agosto nos vemos. Ali, na avaliação de Pera, estava claro que o livro estava finalizado, precisando apenas de alguns ajustes editoriais.

Este livro não presta

No entanto, pouco antes de morrer, Gabo chegou a manifestar que o livro não estava bom e, por isso, não deveria ser publicado. No prefácio, os filhos Rodrigo e Gonzalo García Barcha revelam que o pai chegou a dizer que o livro não prestava e que deveria ser destruído.

Ainda segundo a família, o autor rechaçou a obra em um momento muito singular. Gabo já tinha o diagnóstico de demência senil, revelado ao público em 2012 pelo seu irmão mais novo, Jaime García Márquez.

Contrariando o desejo do pai conhecido pelo seu perfeccionismo, os herdeiros em vez de destruir o manuscrito, resolveram guardá-lo. Ao revisitar a obra, perceberam que a mesma doença que não permitiu ao Nobel finalizar a obra também o impediu de perceber o valor de Em agosto nos vemos, que agora chega ao público.

Gonzalo Garcia Barcha, filho de Gabriel García Márquez, durante lançamento de 'Em agosto nos vemos', em Madrid, Espanha, em 5 de março de 2024. Foto: Violeta Santos Moura / REUTERS

Foi aí que os herdeiros recorreram a Cristóbal Pera para finalizar a obra deixada pelo pai. Segundo o editor, a sua tarefa foi semelhante a de um restaurador, diante de um trabalho de um grande mestre: não de mudar a obra, mas torná-la mais forte e consistente.

“Ninguém pode duvidar de que Em agosto nos vemos é um legítimo livro do García Márquez”, defende Cassiano Elek Machado, diretor do Grupo Editorial Record. “Foi um tratamento muito respeitoso e honesto por parte dos filhos. O pai tinha, sim, terminado a obra, chegou a entregá-la à agente. Posteriormente, ele ficou em dúvida. No entanto, os filhos resolveram seguir adiante de maneira cuidadosa, entendendo que o pai já não estava no seu melhor juízo para saber se aquilo estava bom ou não”, continua Elek Machado.

Os próprios herdeiros apontam que o livro apresentava pequenas inconsistências, fruto da doença que acometia García Márquez. “Foi jogado um olhar crítico em torno disso”, defende Elek Machado. “A publicação deste livro é um acontecimento histórico”, conclui o editor brasileiro.

Em 2006, García Márquez conduziu uma oficina de escrita criativa em Cuba. Lá estava a escritora brasileira Socorro Acioli, autora de A cabeça de santo. “Quando eu fiz a oficina com García Márquez, me lembro que ele comentou que Memórias de minhas putas tristes seria um livro maior e que ele tinha outro livro pronto. Honestamente, acho que ele gostaria de ver esse livro publicado agora”, diz a autora.

Nesta quarta-feira, 6, dia do aniversário de Gabriel García Márquez, chega a livrarias de todo o mundo o livro Em Agosto nos Vemos, romance póstumo do escritor morto há dez anos, em 2014. A obra foi traduzida para 40 idiomas e, no Brasil, sai pela Record, com tradução de Eric Nepomuceno.

O manuscrito original, de antes de 2003, foi resgatado pelos filhos do autor, Rodrigo e Gonzalo García Barcha. No prefácio, eles revelam que o pai chegou a dizer que o livro não era bom, mas explicam que ele não estava mais em condições de saúde para fazer tal julgamento.

Cassiano Elek Machado, diretor do Grupo Editorial Record, defendeu a publicação do livro. “Ninguém pode duvidar de que Em Agosto nos Vemos é um legítimo livro do García Márquez”, disse. “Foi um tratamento muito respeitoso e honesto por parte dos filhos. O pai tinha, sim, terminado a obra, chegou a entregá-la à agente”. Conheça os detalhes da decisão de publicar a obra mais abaixo e leia a resenha aqui.

O lançamento levanta um debate sobre a publicação de obras póstumas anteriormente rejeitadas ou não finalizadas. O Estadão conversou os escritores Paula Fábrio, Itamar Vieira Junior, Milton Hatoum e Ignácio de Loyola Brandão e com Vera Eunice de Jesus, filha da escritora Carolina Maria de Jesus, para saber como eles enxergam a questão.

Livro póstumo de Gabriel García Márquez (ao centro) chega às livrarias nesta quarta, 6. Itamar Vieira Jr. (à esquerda) e Ignácio de Loyola Brandão (à direita) contam o que gostaria que fosse feito com seus livros inéditos ou rejeitados. Foto: Divulgação/Editora Mondrongo, L.M. Palomares, Agencia Literaria Carmen Balcells e Denise Andrade/Estadão

Posthumus

O advogado Gustavo Martins de Almeida, especialista em direitos autorais, aponta que póstumo vem do latim post (após) humus (terra). Para o Direito, uma obra póstuma é aquela inédita publicada após a morte do autor.

Gustavo lembra ainda que a lei brasileira permite ao editor, em caso de falecimento ou impedimento do autor, contratar outra pessoa para terminar a obra. “É o caso recente, por exemplo, da biografia de Gilberto Braga, iniciada por Arthur Xexéo e finalizada por Maurício Stycer. Na impossibilidade de Xexéo – que morreu antes de colocar um ponto final na obra –, a editora chamou o também jornalista Stycer para finalizá-la. E, em casos como este, isso precisa estar claro para o leitor e, é importante também que esta possibilidade esteja prevista em contrato”, pontua Martins de Almeida.

Para o especialista, embora García Márquez tenha rechaçado a obra ainda em vida, não deixou isso de forma expressa. Ao contrário, publicou partes da obra e a enviou para a sua agente. “Trazendo para um paralelo com as artes visuais: quantos esboços de quadros são vendidos depois da morte de seus autores? Eram para ser apenas estudos, que deveriam ir para o lixo, mas, por alguma razão, não foram. Se os artistas não quisessem que esses esboços viessem a público, deveriam rasgá-los e jogá-los fora”, diz o especialista em direitos autorais. Não foi o que aconteceu com Gabo e Em agosto nos vemos.

Paula Fábrio, ganhadora do Prêmio São Paulo de Literatura, diz que tem pensado muito no tratamento que gostaria que dessem à sua obra em caso de morte. “Não costumo deixar livros prontos na gaveta. Quando não gosto de um trabalho, apago todas as provas, não deixo rastros. Mas, se a morte me pegar de surpresa, antes que eu tenha tempo de jogar fora um livro ruim, desejo que a sorte fale por mim”, deixa registrado.

A escritora Paula Fábrio, que já venceu o Prêmio São Paulo de Literatura Foto: Taba Benedicto/Estadão

A autora diz que pretende deixar orientações em caso de uma obra inacabada. “Pretendo deixar algumas coisas programadas. É provável que eu eleja algum escritor do meu círculo de amigos para terminar algum livro em andamento. Entretanto, se o livro for bom o suficiente, mesmo inacabado, caberá ao tutor das minhas obras publicar o livro no estado em que ele estiver”, completa.

Itamar Vieira Junior, autor do mega-seller Torto arado, não tem a mesma visão da sua colega Fábrio quando o assunto é delegar a outro escritor a missão de finalizar a sua obra. “Quanto a terminar um livro inacabado, aí é que não há meio termo. Se está inacabado e for terminado por outro autor, não se trata de uma obra coletiva, escrita a quatro mãos, trata-se de um Frankenstein”, declara o ganhador do Prêmio Jabuti.

O escritor Itamar Vieira Jr., autor do fenômeno literário 'Torto Arado' Foto: Adenor Gondim/Divulgação

Ao ser questionado se, na hipótese de deixar uma obra inacabada, alguém teria o direito de terminar a escrita desta obra, Milton Hatoun disse: “Sim, a imaginação dos leitores e leitoras. A essas pessoas pacientes, devemos tudo. Bons leitores são a consciência vigilante e inventiva de uma obra literária. Eles e elas justificam a literatura”.

Em relação a obras finalizadas, mas não publicadas, o autor de Relato de um certo Oriente defende que seus herdeiros poderão publicá-las: “Por um motivo, talvez misterioso, um escritor não publica um manuscrito. Um herdeiro ou herdeira percebe que esse motivo nada tinha de misterioso e decide publicar o manuscrito. Não vejo qualquer problema nisso. Desconfio que um escritor, já no outro lado do espelho, tampouco ficará chateado. Salvo engano, mortos não são vaidosos, nem se envergonham de nada”, conclui o assunto.

O escritor Milton Hatoun, autor de obras como 'Dois Irmãos' e 'Relato de um certo Oriente' Foto: Paulo Pinto/Estadão

Apesar de imortal pela Academia Brasileira de Letras, Ignácio de Loyola Brandão pensa na morte e diz que não pretende deixar obras póstumas. “Antes de morrer, procuraria destruir. Mas se não tivesse tempo, ficaria a olhar de algum ponto das galáxias a confusão”, diz. Exercendo uma modéstia que não lhe cabe, conclui: “Isso se eu tivesse alguma importância. Mas se não tivesse nenhuma importância, quem ia querer um livro meu depois de morto? Morto está, que fique morto, dirão”.

O escritor Ignácio de Loyola Brandão, membro da Academia Brasileira de Letras. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O caso Carolina Maria de Jesus

Outro caso emblemático é o de Carolina Maria de Jesus, que começou a ter as suas obras póstumas publicadas pela Companhia das Letras. Depois de republicar os dois tomos de Casa de alvenaria, a editora publicou o primeiro inédito – O escravo, lançado no fim de 2023.

O Estadão conversou com Vera Eunice de Jesus, filha da escritora. Vera diz que sua mãe deixou uma carta em que pedia que não deixasse a sua memória morrer. “Sei que um escritor nunca morre e, através da sua literatura, a sua memória se perpetua. Portanto, as obras inéditas devem ser publicadas”, defende a herdeira.

No caso de Carolina Maria de Jesus, o resgate é ainda mais complexo, como lembra a filha: “Carolina escreveu a vida toda. Sempre a vi escrevendo, em todos os momentos. Pegava qualquer papel que estivesse próximo e ali escrevia e escrevia de tudo: contos, poesia, provérbios, peças teatrais, anotações de diário, enfim, tudo o que lhe vinha à cabeça. [Resgatar a sua obra] não é um trabalho fácil”.

A escritora Carolina Maria de Jesus, que teve romance público publicado recentemente. Foto: Arquivo Nacional/Correio da Manhã/IMS

A complexidade é tanta que a Companhia das Letras constituiu um conselho composto exclusivamente por mulheres negras e encabeçado por Conceição Evaristo e pela própria Vera. O escravo foi considerado pelo conselho como o romance que estava mais bem acabado, com os textos mais legíveis e, portanto, mais fácil de ser publicado. A Companhia das Letras deve apresentar ao público outros livros da autora, como Dr. Silvio, Dr. Fausto, Rita e O diário de Marta.

A história de Em agosto nos vemos

A escrita original de Em agosto nos vemos se deu antes de 2003, ano em que o autor começou a trabalhar na redação final de Memórias de minhas putas tristes, seu último romance publicado em vida, há exatos 20 anos.

Em entrevistas, Gabo chegou a citar Em agosto nos vemos e a liberar trechos do romance para publicação em revistas especializadas. O próprio autor enviou o manuscrito a Carmen Balcells (1930-2015), a agente por trás do boom latino-americano que apresentou Gabo ao mundo.

No entanto, o livro não chegou a ser publicado. Primeiro porque o autor se dedicou ao lançamento de Memórias de minhas putas tristes e, depois, aos 40 anos de publicação de Cem anos de solidão, obra-prima do autor, celebrados em 2007.

Capa de 'Em agosto nos vemos', livro póstumo de Gabriel García Marquez. Foto: Record/Divulgação

Seguindo a linha do tempo, em 2010, Carmen Balcells chama o editor Cristóbal Pera em sua agência para ajudá-la a convencer Gabo a finalizar Em agosto nos vemos.

Cristóbal e Gabo se conheceram quase uma década antes, por intermédio da própria agente espanhola. O autor precisava de um editor para as suas memórias, substituindo Claudio López de Lamadrid, editor habitual de Gabo, que estava de férias. A partir daí, criou-se uma relação de amizade e confiança.

Ao procurar o autor para cobrar um fim para o livro, Pera teve uma prova da confiança de Gabo que leu, em voz alta, o último parágrafo de Em agosto nos vemos. Ali, na avaliação de Pera, estava claro que o livro estava finalizado, precisando apenas de alguns ajustes editoriais.

Este livro não presta

No entanto, pouco antes de morrer, Gabo chegou a manifestar que o livro não estava bom e, por isso, não deveria ser publicado. No prefácio, os filhos Rodrigo e Gonzalo García Barcha revelam que o pai chegou a dizer que o livro não prestava e que deveria ser destruído.

Ainda segundo a família, o autor rechaçou a obra em um momento muito singular. Gabo já tinha o diagnóstico de demência senil, revelado ao público em 2012 pelo seu irmão mais novo, Jaime García Márquez.

Contrariando o desejo do pai conhecido pelo seu perfeccionismo, os herdeiros em vez de destruir o manuscrito, resolveram guardá-lo. Ao revisitar a obra, perceberam que a mesma doença que não permitiu ao Nobel finalizar a obra também o impediu de perceber o valor de Em agosto nos vemos, que agora chega ao público.

Gonzalo Garcia Barcha, filho de Gabriel García Márquez, durante lançamento de 'Em agosto nos vemos', em Madrid, Espanha, em 5 de março de 2024. Foto: Violeta Santos Moura / REUTERS

Foi aí que os herdeiros recorreram a Cristóbal Pera para finalizar a obra deixada pelo pai. Segundo o editor, a sua tarefa foi semelhante a de um restaurador, diante de um trabalho de um grande mestre: não de mudar a obra, mas torná-la mais forte e consistente.

“Ninguém pode duvidar de que Em agosto nos vemos é um legítimo livro do García Márquez”, defende Cassiano Elek Machado, diretor do Grupo Editorial Record. “Foi um tratamento muito respeitoso e honesto por parte dos filhos. O pai tinha, sim, terminado a obra, chegou a entregá-la à agente. Posteriormente, ele ficou em dúvida. No entanto, os filhos resolveram seguir adiante de maneira cuidadosa, entendendo que o pai já não estava no seu melhor juízo para saber se aquilo estava bom ou não”, continua Elek Machado.

Os próprios herdeiros apontam que o livro apresentava pequenas inconsistências, fruto da doença que acometia García Márquez. “Foi jogado um olhar crítico em torno disso”, defende Elek Machado. “A publicação deste livro é um acontecimento histórico”, conclui o editor brasileiro.

Em 2006, García Márquez conduziu uma oficina de escrita criativa em Cuba. Lá estava a escritora brasileira Socorro Acioli, autora de A cabeça de santo. “Quando eu fiz a oficina com García Márquez, me lembro que ele comentou que Memórias de minhas putas tristes seria um livro maior e que ele tinha outro livro pronto. Honestamente, acho que ele gostaria de ver esse livro publicado agora”, diz a autora.

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