Foi cerca de um ano depois de levar ao palco – no espetáculo Processo de Conscerto do Desejo – os poemas de sua mãe, Maria Cecilia, que Matheus Nachtergaele resolveu publicar os textos dela. Compilados agora em um pequeno livro, que leva o nome de A Mariposa.
A publicação é um desejo antigo do ator que recebeu, aos 16 anos, textos avulsos de sua mãe, que cometeu suicídio quando Nachtergaele tinha apenas três meses. “Quando você perde a mãe ou o pai muito cedo, se sente merecedor de qualquer coisa”, afirmou o ator, em entrevista ao Estado. “Existia um baú na casa da minha avó, com vários objetos da minha mãe e eu tinha acesso livre a essas coisas. Mas, textos mesmo, só recebi do meu pai um pouco mais tarde. E, desde o primeiro momento, enxerguei a qualidade literária dela, mas mantive em âmbito íntimo, declamava para alguns amigos. Por uma questão de vida, mesmo a peça acabou vindo antes do livro, que eu tenho orgulho de mostrar agora”, conta.
O “livrinho”, como chama Matheus, contém os 28 poemas de Maria Cecilia mais um “poema-apresentação” do próprio ator, texto que também recita no começo do espetáculo.
A edição foi pensada de maneira especial e com forte caráter afetivo, sendo fiel à maneira como o ator recebeu os poemas de sua mãe pela primeira vez, de forma solta, sem encadernação: “Quando tive contato com essa poesia, eram textos soltos em uma pasta. Então, fiz questão de manter isso no livro. Os textos estão soltos para o leitor sentir isso também e perceber quem era Maria Cecilia”, explica
referenceIndagado sobre o porquê da publicação nesse momento – 4o anos depois de ter contato com os textos pela primeira vez, o ator afirma que só agora se sentiu seguro para realizar esse projeto: “Demorei para fazer porque acredito que temos, mesmo, que demorar para fazer as coisas. Poesia e arte requerem tempo. Agora, ofereço ao público os textos que são a minha formação e ainda dou à mamãe o livro que ela não teve tempo de fazer”, explica.
Matheus conta que, após a montagem da peça e a publicação do livro, sente ter cumprido uma missão e, ao mesmo tempo, ter alcançado o fim de um ciclo: “Estou na maior sinuca de bico da minha vida, acredito. Porque minha grande queixa termina aqui. Tenho que descobrir o que fazer daqui para frente. Fiz esse milagre que o ser humano faz, que é o de transformar a dor em beleza”, revela. “Eu celebro a minha dor, o processo de ter perdido a minha mãe muito cedo, todas as noites nesse espetáculo, transformando-a em dança, canção, poesia. Eu consegui fazer isso. Então, estou sentindo que, depois disso tudo, eu deveria estrear um Ariano Suassuna inédito. Rir um pouco da vida, porque chegar até aqui foi duro”, desabafa.A MARIPOSAEditora: Polvilho (33 lâminas; R$ 40)