Mia Couto diz que Brasil já foi mais feliz e que elites intelectuais discutem o sexo dos anjos


O escritor moçambicano lança na segunda, 16, em SP, 'O Bebedor de Horizontes', último livro de sua trilogia histórica e conta que escreve, agora, sobre sua infância e seu pai

Por Maria Fernanda Rodrigues

Mia Couto já disse que sua infância é um tempo que não terminou e que sua família e a casa foram, para ele, como uma pequena pátria numa época em que Moçambique vivia em guerra. No centro dessa imagem, desse tempo, está seu pai, a pessoa que lhe ensinou o valor da poesia. 

“Ele foi um homem que vivia feliz por construir um mundo paralelo, porque ele era capaz de sugerir uma história para um mundo que era feio e estava doente. Meu pai queria ensinar a procurar beleza nesse mundo em conflito. Estávamos em guerra, vivendo sob uma ditadura, e, apesar disso tudo, fomos felizes”, conta o escritor.

Vencedor do Prêmio Camões, Mia Couto se volta agora à uma história familiar Foto: Rafael Arbex/Estadão
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De passagem por São Paulo para o lançamento de O Bebedor de Horizontes, último volume da série As Areias do Imperador, Mia Couto conversou com o Estado na sede da editora Companhia das Letras e disse que agora que colocou um ponto final no projeto que mais lhe deu trabalho – e isso o deixa “aliviadíssimo” –, pode se dedicar a uma história mais autobiográfica. 

“É autobiográfica, mas não é sobre mim, é mais no sentido da minha infância, do meu lugar, da minha pequena cidade. E é, sobretudo, sobre o meu pai”, explica. 

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Depois dessa trilogia histórica, o leitor pode, então, esperar a volta de um Mia mais poético. “Vou me deixar invadir pela linguagem poética mais do que nunca, mais do que em qualquer outro livro. E este é um momento que só posso recuperar pela via de uma memória inventada”, diz. Portanto, uma ficção.

Mia tem 62 anos. Seu pai morreu há quatro anos, aos 89. Sua mãe, um ano depois, aos 94. Ele foi poeta, e tudo o que fez além da poesia era uma grande mentira, lembra. Ao contrário do filho, que é biólogo atuante, mas poderia viver de sua literatura, o pai não podia sustentar a casa com seus versos e foi jornalista, trabalhou em estação ferroviária e fez outras coisas. “A gente percebia que ele estava ali fazendo só uma representação.”

Mia Couto não tem pressa de terminar esse livro, que já tem cerca de 40 páginas escritas e deve ser lançado em 2019 ou depois. Por ora, divide esse mergulho no passado com a divulgação de seu novo livro.

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Na segunda-feira, 16, às 19 horas, ele estará no Teatro Porto Seguro para um bate-papo e leitura de trechos de O Bebedor de Horizontes. Haverá, ainda, um pocket show da moçambicana Lenna Bahule. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 40, dependendo do lugar, e quem for poderá comprar antecipadamente, junto com o ingresso e com 50% de desconto, um exemplar do livro autografado – Mia assinava pilhas e pilhas quando a reportagem chegou à editora. Pela manhã, às 10h30, ele estará ao vivo no Facebook da Companhia das Letras. Sua passagem por São Paulo inclui também conversas com leitores em escolas – a parte que ele mais gosta.

“É uma aprendizagem grande para percebermos como somos lidos, quais são as grandes interrogações desses meninos. Envelhecemos se perdemos esse contato. Antigamente, eu tinha medo de ir a escolas falar com meninos bem pequenos porque punham-se em contato com uma impotência minha. Desaprendemos a falar com as crianças”, diz.

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Há anos o escritor vem ao País para conversar sobre sua obra e, diz, muita coisa mudou. “Não é o mesmo país. Agora, como as posições se extremaram muito, tenho até receio de falar. Estamos naquele momento que se eu não disser aquilo que confirma o que o outro pensa, esse outro vai me classificar como antipático ou inimigo.” E vai além: “O que vejo é que havia um Brasil mais feliz, mais permissivo, mais tolerante. Podíamos dizer um disparate e as pessoas respondiam rindo. Agora ninguém tem vontade de rir”.

Trilogia. Mia Couto diz que quis escrever essa série de ficção histórica porque percebeu que havia coisas que aparentemente eram do passado, mas que são profundamente atuais – pelo menos, ele diz, no país em que vive. “Há dinâmicas sociais, fenômenos culturais e conflitos vividos na atualidade que só podem ser entendidos se fizermos esse recuo no tempo. Mas, no fundo, o que me interessa são as pessoas, as contradições, as esperanças, a violência, uma certa frustração perante a impotência de mudar o mundo, que são questões presentes nessa história e que permanecem vivas até agora.” 

+++ Mia Couto inicia trilogia em que reflete sobre a memória+++ Mia Couto lança segundo volume da trilogia 'As Areias do Imperador'

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A trama de As Areias do Imperador gira em torno de Ngungunyane – Gungunhana, para os portugueses e para o Mia garoto, que estudou em escola colonial quando ensinavam que aquele era um homem selvagem –, o último dos imperadores que governaram a metade sul de Moçambique no século 19. Derrotado pelas forças portuguesas em 1895, ele foi deportado para os Açores – a história de sua captura é contada neste derradeiro volume. 

A trilogia foi o maior desafio de sua carreira – mais por escrever uma prosa amarrada à realidade quando sua “alma é de poeta” do que pela pesquisa – que deu um trabalho e tanto. As fontes portuguesas estavam escritas, e foi mais fácil. Para ouvir as fontes moçambicanas, Mia teve que pôr o pé na estrada. “Elas vivem na oralidade e as informações foram transmitidas de geração para geração e com muitas versões porque este homem dominou diferentes povos e cada um desses povos tem uma visão”, explica. Mia Couto ficou feliz com o resultado e ganhou novos leitores em seu país.

Mia Couto, que estreou há 35 anos, é um dos principais nomes da literatura lusófona. Vencedor do Camões em 2013 e presença constante nas listas dos prêmios literários, o biólogo poderia se dedicar apenas à escrita se quisesse. “Mas não quero, não quero”, é taxativo. “Não quero olhar para um livro como alguma coisa que tenha essa relação comigo. A literatura é como se fosse uma ilha que quero construir, uma ilha que está fora dessa razão funcional.”

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'As elites intelectuais estão discutindo o sexo dos anjos’ Mia Couto observa com preocupação a onda conservadora que se espalha pelo mundo e sabe que uma hora ela chegará a Moçambique. “Ela navega nas redes sociais, nos noticiários que chamamos de noticiários do mundo, mas que são de um certo mundo. Vejo isso com muita preocupação porque há uma forte tendência de regimes conservadores, autoritários, pouco interessados em construir uma democracia, em ouvir o outro e a respeitar conquistas sociais”, comenta o escritor. 

Mas é preciso, ele diz, que os que se dizem não conservadores pensem por que isso aconteceu. “Em grande parte foi uma responsabilidade dos movimentos e partidos de esquerda que não souberam se repensar e se questionar. E a elite intelectual parece interessada em coisas que não são essenciais. Algumas dessas elites estão discutindo, para mim, diante da gravidade de outros assuntos, o sexo dos anjos. Por exemplo, a linguagem politicamente correta – se pode dizer mulato ou não. Ou se o uso do turbante é uma ofensa grave à cultura dos outros, como se houvesse cultura que é propriedade de alguém. Há coisas mais urgentes a serem debatidas.”

O BEBEDOR DE HORIZONTES Autor: Mia Couto Editora: Companhia das Letras (328 págs.; R$ 49,90) Lançamento: Com bate-papo e show de Lenna Bahule. Teatro Porto Seguro. R. Barão de Piracicaba, 740. 2ª (16), 19h. R$ 30 e R$ 40

Mia Couto já disse que sua infância é um tempo que não terminou e que sua família e a casa foram, para ele, como uma pequena pátria numa época em que Moçambique vivia em guerra. No centro dessa imagem, desse tempo, está seu pai, a pessoa que lhe ensinou o valor da poesia. 

“Ele foi um homem que vivia feliz por construir um mundo paralelo, porque ele era capaz de sugerir uma história para um mundo que era feio e estava doente. Meu pai queria ensinar a procurar beleza nesse mundo em conflito. Estávamos em guerra, vivendo sob uma ditadura, e, apesar disso tudo, fomos felizes”, conta o escritor.

Vencedor do Prêmio Camões, Mia Couto se volta agora à uma história familiar Foto: Rafael Arbex/Estadão

De passagem por São Paulo para o lançamento de O Bebedor de Horizontes, último volume da série As Areias do Imperador, Mia Couto conversou com o Estado na sede da editora Companhia das Letras e disse que agora que colocou um ponto final no projeto que mais lhe deu trabalho – e isso o deixa “aliviadíssimo” –, pode se dedicar a uma história mais autobiográfica. 

“É autobiográfica, mas não é sobre mim, é mais no sentido da minha infância, do meu lugar, da minha pequena cidade. E é, sobretudo, sobre o meu pai”, explica. 

+++ Babel: Blooks assume loja do Reserva Cultural e lança e-commerce

Depois dessa trilogia histórica, o leitor pode, então, esperar a volta de um Mia mais poético. “Vou me deixar invadir pela linguagem poética mais do que nunca, mais do que em qualquer outro livro. E este é um momento que só posso recuperar pela via de uma memória inventada”, diz. Portanto, uma ficção.

Mia tem 62 anos. Seu pai morreu há quatro anos, aos 89. Sua mãe, um ano depois, aos 94. Ele foi poeta, e tudo o que fez além da poesia era uma grande mentira, lembra. Ao contrário do filho, que é biólogo atuante, mas poderia viver de sua literatura, o pai não podia sustentar a casa com seus versos e foi jornalista, trabalhou em estação ferroviária e fez outras coisas. “A gente percebia que ele estava ali fazendo só uma representação.”

Mia Couto não tem pressa de terminar esse livro, que já tem cerca de 40 páginas escritas e deve ser lançado em 2019 ou depois. Por ora, divide esse mergulho no passado com a divulgação de seu novo livro.

+++ Mais escritores africanos concorrem ao Prêmio Oceanos 2018

Na segunda-feira, 16, às 19 horas, ele estará no Teatro Porto Seguro para um bate-papo e leitura de trechos de O Bebedor de Horizontes. Haverá, ainda, um pocket show da moçambicana Lenna Bahule. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 40, dependendo do lugar, e quem for poderá comprar antecipadamente, junto com o ingresso e com 50% de desconto, um exemplar do livro autografado – Mia assinava pilhas e pilhas quando a reportagem chegou à editora. Pela manhã, às 10h30, ele estará ao vivo no Facebook da Companhia das Letras. Sua passagem por São Paulo inclui também conversas com leitores em escolas – a parte que ele mais gosta.

“É uma aprendizagem grande para percebermos como somos lidos, quais são as grandes interrogações desses meninos. Envelhecemos se perdemos esse contato. Antigamente, eu tinha medo de ir a escolas falar com meninos bem pequenos porque punham-se em contato com uma impotência minha. Desaprendemos a falar com as crianças”, diz.

Há anos o escritor vem ao País para conversar sobre sua obra e, diz, muita coisa mudou. “Não é o mesmo país. Agora, como as posições se extremaram muito, tenho até receio de falar. Estamos naquele momento que se eu não disser aquilo que confirma o que o outro pensa, esse outro vai me classificar como antipático ou inimigo.” E vai além: “O que vejo é que havia um Brasil mais feliz, mais permissivo, mais tolerante. Podíamos dizer um disparate e as pessoas respondiam rindo. Agora ninguém tem vontade de rir”.

Trilogia. Mia Couto diz que quis escrever essa série de ficção histórica porque percebeu que havia coisas que aparentemente eram do passado, mas que são profundamente atuais – pelo menos, ele diz, no país em que vive. “Há dinâmicas sociais, fenômenos culturais e conflitos vividos na atualidade que só podem ser entendidos se fizermos esse recuo no tempo. Mas, no fundo, o que me interessa são as pessoas, as contradições, as esperanças, a violência, uma certa frustração perante a impotência de mudar o mundo, que são questões presentes nessa história e que permanecem vivas até agora.” 

+++ Mia Couto inicia trilogia em que reflete sobre a memória+++ Mia Couto lança segundo volume da trilogia 'As Areias do Imperador'

A trama de As Areias do Imperador gira em torno de Ngungunyane – Gungunhana, para os portugueses e para o Mia garoto, que estudou em escola colonial quando ensinavam que aquele era um homem selvagem –, o último dos imperadores que governaram a metade sul de Moçambique no século 19. Derrotado pelas forças portuguesas em 1895, ele foi deportado para os Açores – a história de sua captura é contada neste derradeiro volume. 

A trilogia foi o maior desafio de sua carreira – mais por escrever uma prosa amarrada à realidade quando sua “alma é de poeta” do que pela pesquisa – que deu um trabalho e tanto. As fontes portuguesas estavam escritas, e foi mais fácil. Para ouvir as fontes moçambicanas, Mia teve que pôr o pé na estrada. “Elas vivem na oralidade e as informações foram transmitidas de geração para geração e com muitas versões porque este homem dominou diferentes povos e cada um desses povos tem uma visão”, explica. Mia Couto ficou feliz com o resultado e ganhou novos leitores em seu país.

Mia Couto, que estreou há 35 anos, é um dos principais nomes da literatura lusófona. Vencedor do Camões em 2013 e presença constante nas listas dos prêmios literários, o biólogo poderia se dedicar apenas à escrita se quisesse. “Mas não quero, não quero”, é taxativo. “Não quero olhar para um livro como alguma coisa que tenha essa relação comigo. A literatura é como se fosse uma ilha que quero construir, uma ilha que está fora dessa razão funcional.”

'As elites intelectuais estão discutindo o sexo dos anjos’ Mia Couto observa com preocupação a onda conservadora que se espalha pelo mundo e sabe que uma hora ela chegará a Moçambique. “Ela navega nas redes sociais, nos noticiários que chamamos de noticiários do mundo, mas que são de um certo mundo. Vejo isso com muita preocupação porque há uma forte tendência de regimes conservadores, autoritários, pouco interessados em construir uma democracia, em ouvir o outro e a respeitar conquistas sociais”, comenta o escritor. 

Mas é preciso, ele diz, que os que se dizem não conservadores pensem por que isso aconteceu. “Em grande parte foi uma responsabilidade dos movimentos e partidos de esquerda que não souberam se repensar e se questionar. E a elite intelectual parece interessada em coisas que não são essenciais. Algumas dessas elites estão discutindo, para mim, diante da gravidade de outros assuntos, o sexo dos anjos. Por exemplo, a linguagem politicamente correta – se pode dizer mulato ou não. Ou se o uso do turbante é uma ofensa grave à cultura dos outros, como se houvesse cultura que é propriedade de alguém. Há coisas mais urgentes a serem debatidas.”

O BEBEDOR DE HORIZONTES Autor: Mia Couto Editora: Companhia das Letras (328 págs.; R$ 49,90) Lançamento: Com bate-papo e show de Lenna Bahule. Teatro Porto Seguro. R. Barão de Piracicaba, 740. 2ª (16), 19h. R$ 30 e R$ 40

Mia Couto já disse que sua infância é um tempo que não terminou e que sua família e a casa foram, para ele, como uma pequena pátria numa época em que Moçambique vivia em guerra. No centro dessa imagem, desse tempo, está seu pai, a pessoa que lhe ensinou o valor da poesia. 

“Ele foi um homem que vivia feliz por construir um mundo paralelo, porque ele era capaz de sugerir uma história para um mundo que era feio e estava doente. Meu pai queria ensinar a procurar beleza nesse mundo em conflito. Estávamos em guerra, vivendo sob uma ditadura, e, apesar disso tudo, fomos felizes”, conta o escritor.

Vencedor do Prêmio Camões, Mia Couto se volta agora à uma história familiar Foto: Rafael Arbex/Estadão

De passagem por São Paulo para o lançamento de O Bebedor de Horizontes, último volume da série As Areias do Imperador, Mia Couto conversou com o Estado na sede da editora Companhia das Letras e disse que agora que colocou um ponto final no projeto que mais lhe deu trabalho – e isso o deixa “aliviadíssimo” –, pode se dedicar a uma história mais autobiográfica. 

“É autobiográfica, mas não é sobre mim, é mais no sentido da minha infância, do meu lugar, da minha pequena cidade. E é, sobretudo, sobre o meu pai”, explica. 

+++ Babel: Blooks assume loja do Reserva Cultural e lança e-commerce

Depois dessa trilogia histórica, o leitor pode, então, esperar a volta de um Mia mais poético. “Vou me deixar invadir pela linguagem poética mais do que nunca, mais do que em qualquer outro livro. E este é um momento que só posso recuperar pela via de uma memória inventada”, diz. Portanto, uma ficção.

Mia tem 62 anos. Seu pai morreu há quatro anos, aos 89. Sua mãe, um ano depois, aos 94. Ele foi poeta, e tudo o que fez além da poesia era uma grande mentira, lembra. Ao contrário do filho, que é biólogo atuante, mas poderia viver de sua literatura, o pai não podia sustentar a casa com seus versos e foi jornalista, trabalhou em estação ferroviária e fez outras coisas. “A gente percebia que ele estava ali fazendo só uma representação.”

Mia Couto não tem pressa de terminar esse livro, que já tem cerca de 40 páginas escritas e deve ser lançado em 2019 ou depois. Por ora, divide esse mergulho no passado com a divulgação de seu novo livro.

+++ Mais escritores africanos concorrem ao Prêmio Oceanos 2018

Na segunda-feira, 16, às 19 horas, ele estará no Teatro Porto Seguro para um bate-papo e leitura de trechos de O Bebedor de Horizontes. Haverá, ainda, um pocket show da moçambicana Lenna Bahule. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 40, dependendo do lugar, e quem for poderá comprar antecipadamente, junto com o ingresso e com 50% de desconto, um exemplar do livro autografado – Mia assinava pilhas e pilhas quando a reportagem chegou à editora. Pela manhã, às 10h30, ele estará ao vivo no Facebook da Companhia das Letras. Sua passagem por São Paulo inclui também conversas com leitores em escolas – a parte que ele mais gosta.

“É uma aprendizagem grande para percebermos como somos lidos, quais são as grandes interrogações desses meninos. Envelhecemos se perdemos esse contato. Antigamente, eu tinha medo de ir a escolas falar com meninos bem pequenos porque punham-se em contato com uma impotência minha. Desaprendemos a falar com as crianças”, diz.

Há anos o escritor vem ao País para conversar sobre sua obra e, diz, muita coisa mudou. “Não é o mesmo país. Agora, como as posições se extremaram muito, tenho até receio de falar. Estamos naquele momento que se eu não disser aquilo que confirma o que o outro pensa, esse outro vai me classificar como antipático ou inimigo.” E vai além: “O que vejo é que havia um Brasil mais feliz, mais permissivo, mais tolerante. Podíamos dizer um disparate e as pessoas respondiam rindo. Agora ninguém tem vontade de rir”.

Trilogia. Mia Couto diz que quis escrever essa série de ficção histórica porque percebeu que havia coisas que aparentemente eram do passado, mas que são profundamente atuais – pelo menos, ele diz, no país em que vive. “Há dinâmicas sociais, fenômenos culturais e conflitos vividos na atualidade que só podem ser entendidos se fizermos esse recuo no tempo. Mas, no fundo, o que me interessa são as pessoas, as contradições, as esperanças, a violência, uma certa frustração perante a impotência de mudar o mundo, que são questões presentes nessa história e que permanecem vivas até agora.” 

+++ Mia Couto inicia trilogia em que reflete sobre a memória+++ Mia Couto lança segundo volume da trilogia 'As Areias do Imperador'

A trama de As Areias do Imperador gira em torno de Ngungunyane – Gungunhana, para os portugueses e para o Mia garoto, que estudou em escola colonial quando ensinavam que aquele era um homem selvagem –, o último dos imperadores que governaram a metade sul de Moçambique no século 19. Derrotado pelas forças portuguesas em 1895, ele foi deportado para os Açores – a história de sua captura é contada neste derradeiro volume. 

A trilogia foi o maior desafio de sua carreira – mais por escrever uma prosa amarrada à realidade quando sua “alma é de poeta” do que pela pesquisa – que deu um trabalho e tanto. As fontes portuguesas estavam escritas, e foi mais fácil. Para ouvir as fontes moçambicanas, Mia teve que pôr o pé na estrada. “Elas vivem na oralidade e as informações foram transmitidas de geração para geração e com muitas versões porque este homem dominou diferentes povos e cada um desses povos tem uma visão”, explica. Mia Couto ficou feliz com o resultado e ganhou novos leitores em seu país.

Mia Couto, que estreou há 35 anos, é um dos principais nomes da literatura lusófona. Vencedor do Camões em 2013 e presença constante nas listas dos prêmios literários, o biólogo poderia se dedicar apenas à escrita se quisesse. “Mas não quero, não quero”, é taxativo. “Não quero olhar para um livro como alguma coisa que tenha essa relação comigo. A literatura é como se fosse uma ilha que quero construir, uma ilha que está fora dessa razão funcional.”

'As elites intelectuais estão discutindo o sexo dos anjos’ Mia Couto observa com preocupação a onda conservadora que se espalha pelo mundo e sabe que uma hora ela chegará a Moçambique. “Ela navega nas redes sociais, nos noticiários que chamamos de noticiários do mundo, mas que são de um certo mundo. Vejo isso com muita preocupação porque há uma forte tendência de regimes conservadores, autoritários, pouco interessados em construir uma democracia, em ouvir o outro e a respeitar conquistas sociais”, comenta o escritor. 

Mas é preciso, ele diz, que os que se dizem não conservadores pensem por que isso aconteceu. “Em grande parte foi uma responsabilidade dos movimentos e partidos de esquerda que não souberam se repensar e se questionar. E a elite intelectual parece interessada em coisas que não são essenciais. Algumas dessas elites estão discutindo, para mim, diante da gravidade de outros assuntos, o sexo dos anjos. Por exemplo, a linguagem politicamente correta – se pode dizer mulato ou não. Ou se o uso do turbante é uma ofensa grave à cultura dos outros, como se houvesse cultura que é propriedade de alguém. Há coisas mais urgentes a serem debatidas.”

O BEBEDOR DE HORIZONTES Autor: Mia Couto Editora: Companhia das Letras (328 págs.; R$ 49,90) Lançamento: Com bate-papo e show de Lenna Bahule. Teatro Porto Seguro. R. Barão de Piracicaba, 740. 2ª (16), 19h. R$ 30 e R$ 40

Mia Couto já disse que sua infância é um tempo que não terminou e que sua família e a casa foram, para ele, como uma pequena pátria numa época em que Moçambique vivia em guerra. No centro dessa imagem, desse tempo, está seu pai, a pessoa que lhe ensinou o valor da poesia. 

“Ele foi um homem que vivia feliz por construir um mundo paralelo, porque ele era capaz de sugerir uma história para um mundo que era feio e estava doente. Meu pai queria ensinar a procurar beleza nesse mundo em conflito. Estávamos em guerra, vivendo sob uma ditadura, e, apesar disso tudo, fomos felizes”, conta o escritor.

Vencedor do Prêmio Camões, Mia Couto se volta agora à uma história familiar Foto: Rafael Arbex/Estadão

De passagem por São Paulo para o lançamento de O Bebedor de Horizontes, último volume da série As Areias do Imperador, Mia Couto conversou com o Estado na sede da editora Companhia das Letras e disse que agora que colocou um ponto final no projeto que mais lhe deu trabalho – e isso o deixa “aliviadíssimo” –, pode se dedicar a uma história mais autobiográfica. 

“É autobiográfica, mas não é sobre mim, é mais no sentido da minha infância, do meu lugar, da minha pequena cidade. E é, sobretudo, sobre o meu pai”, explica. 

+++ Babel: Blooks assume loja do Reserva Cultural e lança e-commerce

Depois dessa trilogia histórica, o leitor pode, então, esperar a volta de um Mia mais poético. “Vou me deixar invadir pela linguagem poética mais do que nunca, mais do que em qualquer outro livro. E este é um momento que só posso recuperar pela via de uma memória inventada”, diz. Portanto, uma ficção.

Mia tem 62 anos. Seu pai morreu há quatro anos, aos 89. Sua mãe, um ano depois, aos 94. Ele foi poeta, e tudo o que fez além da poesia era uma grande mentira, lembra. Ao contrário do filho, que é biólogo atuante, mas poderia viver de sua literatura, o pai não podia sustentar a casa com seus versos e foi jornalista, trabalhou em estação ferroviária e fez outras coisas. “A gente percebia que ele estava ali fazendo só uma representação.”

Mia Couto não tem pressa de terminar esse livro, que já tem cerca de 40 páginas escritas e deve ser lançado em 2019 ou depois. Por ora, divide esse mergulho no passado com a divulgação de seu novo livro.

+++ Mais escritores africanos concorrem ao Prêmio Oceanos 2018

Na segunda-feira, 16, às 19 horas, ele estará no Teatro Porto Seguro para um bate-papo e leitura de trechos de O Bebedor de Horizontes. Haverá, ainda, um pocket show da moçambicana Lenna Bahule. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 40, dependendo do lugar, e quem for poderá comprar antecipadamente, junto com o ingresso e com 50% de desconto, um exemplar do livro autografado – Mia assinava pilhas e pilhas quando a reportagem chegou à editora. Pela manhã, às 10h30, ele estará ao vivo no Facebook da Companhia das Letras. Sua passagem por São Paulo inclui também conversas com leitores em escolas – a parte que ele mais gosta.

“É uma aprendizagem grande para percebermos como somos lidos, quais são as grandes interrogações desses meninos. Envelhecemos se perdemos esse contato. Antigamente, eu tinha medo de ir a escolas falar com meninos bem pequenos porque punham-se em contato com uma impotência minha. Desaprendemos a falar com as crianças”, diz.

Há anos o escritor vem ao País para conversar sobre sua obra e, diz, muita coisa mudou. “Não é o mesmo país. Agora, como as posições se extremaram muito, tenho até receio de falar. Estamos naquele momento que se eu não disser aquilo que confirma o que o outro pensa, esse outro vai me classificar como antipático ou inimigo.” E vai além: “O que vejo é que havia um Brasil mais feliz, mais permissivo, mais tolerante. Podíamos dizer um disparate e as pessoas respondiam rindo. Agora ninguém tem vontade de rir”.

Trilogia. Mia Couto diz que quis escrever essa série de ficção histórica porque percebeu que havia coisas que aparentemente eram do passado, mas que são profundamente atuais – pelo menos, ele diz, no país em que vive. “Há dinâmicas sociais, fenômenos culturais e conflitos vividos na atualidade que só podem ser entendidos se fizermos esse recuo no tempo. Mas, no fundo, o que me interessa são as pessoas, as contradições, as esperanças, a violência, uma certa frustração perante a impotência de mudar o mundo, que são questões presentes nessa história e que permanecem vivas até agora.” 

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A trilogia foi o maior desafio de sua carreira – mais por escrever uma prosa amarrada à realidade quando sua “alma é de poeta” do que pela pesquisa – que deu um trabalho e tanto. As fontes portuguesas estavam escritas, e foi mais fácil. Para ouvir as fontes moçambicanas, Mia teve que pôr o pé na estrada. “Elas vivem na oralidade e as informações foram transmitidas de geração para geração e com muitas versões porque este homem dominou diferentes povos e cada um desses povos tem uma visão”, explica. Mia Couto ficou feliz com o resultado e ganhou novos leitores em seu país.

Mia Couto, que estreou há 35 anos, é um dos principais nomes da literatura lusófona. Vencedor do Camões em 2013 e presença constante nas listas dos prêmios literários, o biólogo poderia se dedicar apenas à escrita se quisesse. “Mas não quero, não quero”, é taxativo. “Não quero olhar para um livro como alguma coisa que tenha essa relação comigo. A literatura é como se fosse uma ilha que quero construir, uma ilha que está fora dessa razão funcional.”

'As elites intelectuais estão discutindo o sexo dos anjos’ Mia Couto observa com preocupação a onda conservadora que se espalha pelo mundo e sabe que uma hora ela chegará a Moçambique. “Ela navega nas redes sociais, nos noticiários que chamamos de noticiários do mundo, mas que são de um certo mundo. Vejo isso com muita preocupação porque há uma forte tendência de regimes conservadores, autoritários, pouco interessados em construir uma democracia, em ouvir o outro e a respeitar conquistas sociais”, comenta o escritor. 

Mas é preciso, ele diz, que os que se dizem não conservadores pensem por que isso aconteceu. “Em grande parte foi uma responsabilidade dos movimentos e partidos de esquerda que não souberam se repensar e se questionar. E a elite intelectual parece interessada em coisas que não são essenciais. Algumas dessas elites estão discutindo, para mim, diante da gravidade de outros assuntos, o sexo dos anjos. Por exemplo, a linguagem politicamente correta – se pode dizer mulato ou não. Ou se o uso do turbante é uma ofensa grave à cultura dos outros, como se houvesse cultura que é propriedade de alguém. Há coisas mais urgentes a serem debatidas.”

O BEBEDOR DE HORIZONTES Autor: Mia Couto Editora: Companhia das Letras (328 págs.; R$ 49,90) Lançamento: Com bate-papo e show de Lenna Bahule. Teatro Porto Seguro. R. Barão de Piracicaba, 740. 2ª (16), 19h. R$ 30 e R$ 40

Mia Couto já disse que sua infância é um tempo que não terminou e que sua família e a casa foram, para ele, como uma pequena pátria numa época em que Moçambique vivia em guerra. No centro dessa imagem, desse tempo, está seu pai, a pessoa que lhe ensinou o valor da poesia. 

“Ele foi um homem que vivia feliz por construir um mundo paralelo, porque ele era capaz de sugerir uma história para um mundo que era feio e estava doente. Meu pai queria ensinar a procurar beleza nesse mundo em conflito. Estávamos em guerra, vivendo sob uma ditadura, e, apesar disso tudo, fomos felizes”, conta o escritor.

Vencedor do Prêmio Camões, Mia Couto se volta agora à uma história familiar Foto: Rafael Arbex/Estadão

De passagem por São Paulo para o lançamento de O Bebedor de Horizontes, último volume da série As Areias do Imperador, Mia Couto conversou com o Estado na sede da editora Companhia das Letras e disse que agora que colocou um ponto final no projeto que mais lhe deu trabalho – e isso o deixa “aliviadíssimo” –, pode se dedicar a uma história mais autobiográfica. 

“É autobiográfica, mas não é sobre mim, é mais no sentido da minha infância, do meu lugar, da minha pequena cidade. E é, sobretudo, sobre o meu pai”, explica. 

+++ Babel: Blooks assume loja do Reserva Cultural e lança e-commerce

Depois dessa trilogia histórica, o leitor pode, então, esperar a volta de um Mia mais poético. “Vou me deixar invadir pela linguagem poética mais do que nunca, mais do que em qualquer outro livro. E este é um momento que só posso recuperar pela via de uma memória inventada”, diz. Portanto, uma ficção.

Mia tem 62 anos. Seu pai morreu há quatro anos, aos 89. Sua mãe, um ano depois, aos 94. Ele foi poeta, e tudo o que fez além da poesia era uma grande mentira, lembra. Ao contrário do filho, que é biólogo atuante, mas poderia viver de sua literatura, o pai não podia sustentar a casa com seus versos e foi jornalista, trabalhou em estação ferroviária e fez outras coisas. “A gente percebia que ele estava ali fazendo só uma representação.”

Mia Couto não tem pressa de terminar esse livro, que já tem cerca de 40 páginas escritas e deve ser lançado em 2019 ou depois. Por ora, divide esse mergulho no passado com a divulgação de seu novo livro.

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Na segunda-feira, 16, às 19 horas, ele estará no Teatro Porto Seguro para um bate-papo e leitura de trechos de O Bebedor de Horizontes. Haverá, ainda, um pocket show da moçambicana Lenna Bahule. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 40, dependendo do lugar, e quem for poderá comprar antecipadamente, junto com o ingresso e com 50% de desconto, um exemplar do livro autografado – Mia assinava pilhas e pilhas quando a reportagem chegou à editora. Pela manhã, às 10h30, ele estará ao vivo no Facebook da Companhia das Letras. Sua passagem por São Paulo inclui também conversas com leitores em escolas – a parte que ele mais gosta.

“É uma aprendizagem grande para percebermos como somos lidos, quais são as grandes interrogações desses meninos. Envelhecemos se perdemos esse contato. Antigamente, eu tinha medo de ir a escolas falar com meninos bem pequenos porque punham-se em contato com uma impotência minha. Desaprendemos a falar com as crianças”, diz.

Há anos o escritor vem ao País para conversar sobre sua obra e, diz, muita coisa mudou. “Não é o mesmo país. Agora, como as posições se extremaram muito, tenho até receio de falar. Estamos naquele momento que se eu não disser aquilo que confirma o que o outro pensa, esse outro vai me classificar como antipático ou inimigo.” E vai além: “O que vejo é que havia um Brasil mais feliz, mais permissivo, mais tolerante. Podíamos dizer um disparate e as pessoas respondiam rindo. Agora ninguém tem vontade de rir”.

Trilogia. Mia Couto diz que quis escrever essa série de ficção histórica porque percebeu que havia coisas que aparentemente eram do passado, mas que são profundamente atuais – pelo menos, ele diz, no país em que vive. “Há dinâmicas sociais, fenômenos culturais e conflitos vividos na atualidade que só podem ser entendidos se fizermos esse recuo no tempo. Mas, no fundo, o que me interessa são as pessoas, as contradições, as esperanças, a violência, uma certa frustração perante a impotência de mudar o mundo, que são questões presentes nessa história e que permanecem vivas até agora.” 

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A trama de As Areias do Imperador gira em torno de Ngungunyane – Gungunhana, para os portugueses e para o Mia garoto, que estudou em escola colonial quando ensinavam que aquele era um homem selvagem –, o último dos imperadores que governaram a metade sul de Moçambique no século 19. Derrotado pelas forças portuguesas em 1895, ele foi deportado para os Açores – a história de sua captura é contada neste derradeiro volume. 

A trilogia foi o maior desafio de sua carreira – mais por escrever uma prosa amarrada à realidade quando sua “alma é de poeta” do que pela pesquisa – que deu um trabalho e tanto. As fontes portuguesas estavam escritas, e foi mais fácil. Para ouvir as fontes moçambicanas, Mia teve que pôr o pé na estrada. “Elas vivem na oralidade e as informações foram transmitidas de geração para geração e com muitas versões porque este homem dominou diferentes povos e cada um desses povos tem uma visão”, explica. Mia Couto ficou feliz com o resultado e ganhou novos leitores em seu país.

Mia Couto, que estreou há 35 anos, é um dos principais nomes da literatura lusófona. Vencedor do Camões em 2013 e presença constante nas listas dos prêmios literários, o biólogo poderia se dedicar apenas à escrita se quisesse. “Mas não quero, não quero”, é taxativo. “Não quero olhar para um livro como alguma coisa que tenha essa relação comigo. A literatura é como se fosse uma ilha que quero construir, uma ilha que está fora dessa razão funcional.”

'As elites intelectuais estão discutindo o sexo dos anjos’ Mia Couto observa com preocupação a onda conservadora que se espalha pelo mundo e sabe que uma hora ela chegará a Moçambique. “Ela navega nas redes sociais, nos noticiários que chamamos de noticiários do mundo, mas que são de um certo mundo. Vejo isso com muita preocupação porque há uma forte tendência de regimes conservadores, autoritários, pouco interessados em construir uma democracia, em ouvir o outro e a respeitar conquistas sociais”, comenta o escritor. 

Mas é preciso, ele diz, que os que se dizem não conservadores pensem por que isso aconteceu. “Em grande parte foi uma responsabilidade dos movimentos e partidos de esquerda que não souberam se repensar e se questionar. E a elite intelectual parece interessada em coisas que não são essenciais. Algumas dessas elites estão discutindo, para mim, diante da gravidade de outros assuntos, o sexo dos anjos. Por exemplo, a linguagem politicamente correta – se pode dizer mulato ou não. Ou se o uso do turbante é uma ofensa grave à cultura dos outros, como se houvesse cultura que é propriedade de alguém. Há coisas mais urgentes a serem debatidas.”

O BEBEDOR DE HORIZONTES Autor: Mia Couto Editora: Companhia das Letras (328 págs.; R$ 49,90) Lançamento: Com bate-papo e show de Lenna Bahule. Teatro Porto Seguro. R. Barão de Piracicaba, 740. 2ª (16), 19h. R$ 30 e R$ 40

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