Novo livro de Natalia Ginzburg ensina como educar em tempos de barbárie


Em 'As Pequenas Virtudes', escritora fala da experiência com seus filhos e amigos mais próximos, como o poeta Cesare Pavese. Veja

Por Antonio Gonçalves Filho

Um dos principais nomes do neorrealismo italiano, a escritora Natalia Ginzburg (1916-1991) foi também tradutora de Proust e Flaubert, além de ter educado - bem - o historiador Carlo Ginzburg, seu filho, autor do clássico O Queijo e os Vermes. Se vale um conselho, comece seu livro As Pequenas Virtudes pelo ensaio que dá título à obra, em que revela como educar os filhos, ensinando a eles a indiferença ao dinheiro, a coragem, a franqueza, o amor à verdade e, principalmente, o desejo de ser e de saber, não o do sucesso. Como hoje se faz o contrário, não só o sistema educativo entrou em colapso como as grandes virtudes, resultando disso uma geração de gente mimada, egocêntrica, voluntariosa. Natalia foi Maria de Betânia no filme O Evangelho Segundo São Mateus, de Pasolini, o que diz muito sobre a escolha do cineasta italiano. Ninguém entendeu melhor o papel da irmã de Lázaro que ungiu e beijou os pés de Cristo num comovente gesto de humildade e amor ao próximo. Natalia Ginzburg, que não por acaso teve vários de seus livros adaptados para o cinema - entre eles o belo Caro Michele, por Mario Monicelli, em 1976 - sabia como adaptar a técnica da decupagem de cinema à narrativa literária, ligando planos por meio de cortes. 

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Assim, As Pequenas Virtudes, apesar de reunir ensaios escritos em diferentes épocas (de 1944 a 1962), conserva sua unidade narrativa de planos mesmo quando novos personagens entram em cena, além da própria família da escritora. Criada por pai e mãe judeus, intelectuais seculares, ela conviveu desde cedo com grandes nomes da literatura e das artes. Foi amiga de Montale, Calvino, Vittorini e do poeta Cesare Pavese, que descreve com notável senso de observação no ensaio Retrato de um Amigo, publicado em Roma em 1957. É um dos pontos altos de um livro pequeno, mas valioso, que fala de pessoas conhecidas, como Pavese. Ao lado dele, reconhece, todos os amigos se sentiam humilhados, porque não sabiam ser sóbrios como ele, escreve. Pavese tratava-os de modo áspero, assim como à família, mas era atencioso com pessoas que os amigos julgavam indignas de atenção. Matou-se num hotel nas proximidades da estação de Turim, em 1950, “como um forasteiro na cidade que lhe pertencia”. A morte é companheira inseparável nesses ensaios, desde o primeiro deles, Inverno em Abruzzo, de 1944. Nele, a autora narra o exílio interno dela e do marido, militantes antifascistas, em Abruzzo. O marido, Leone Ginzburg, morreria, vítima de tortura, nas prisões de Regina Coeli, em Roma, poucos meses depois de Natalia deixar o vilarejo. Natalia não tinha grande admiração pela Itália. Considerava o país “pronto a dobrar-se aos piores governos, onde tudo funciona mal”. Numa comparação com a Inglaterra, que admirava, a Itália é definida como um país onde reina a desordem, o cinismo, a incompetência, a confusão. Parece familiar?AS PEQUENAS VIRTUDESTradução: Maurício Santana DiasEditora: Cosac Naify (160 págs.,R$ 32,90)

Um dos principais nomes do neorrealismo italiano, a escritora Natalia Ginzburg (1916-1991) foi também tradutora de Proust e Flaubert, além de ter educado - bem - o historiador Carlo Ginzburg, seu filho, autor do clássico O Queijo e os Vermes. Se vale um conselho, comece seu livro As Pequenas Virtudes pelo ensaio que dá título à obra, em que revela como educar os filhos, ensinando a eles a indiferença ao dinheiro, a coragem, a franqueza, o amor à verdade e, principalmente, o desejo de ser e de saber, não o do sucesso. Como hoje se faz o contrário, não só o sistema educativo entrou em colapso como as grandes virtudes, resultando disso uma geração de gente mimada, egocêntrica, voluntariosa. Natalia foi Maria de Betânia no filme O Evangelho Segundo São Mateus, de Pasolini, o que diz muito sobre a escolha do cineasta italiano. Ninguém entendeu melhor o papel da irmã de Lázaro que ungiu e beijou os pés de Cristo num comovente gesto de humildade e amor ao próximo. Natalia Ginzburg, que não por acaso teve vários de seus livros adaptados para o cinema - entre eles o belo Caro Michele, por Mario Monicelli, em 1976 - sabia como adaptar a técnica da decupagem de cinema à narrativa literária, ligando planos por meio de cortes. 

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Assim, As Pequenas Virtudes, apesar de reunir ensaios escritos em diferentes épocas (de 1944 a 1962), conserva sua unidade narrativa de planos mesmo quando novos personagens entram em cena, além da própria família da escritora. Criada por pai e mãe judeus, intelectuais seculares, ela conviveu desde cedo com grandes nomes da literatura e das artes. Foi amiga de Montale, Calvino, Vittorini e do poeta Cesare Pavese, que descreve com notável senso de observação no ensaio Retrato de um Amigo, publicado em Roma em 1957. É um dos pontos altos de um livro pequeno, mas valioso, que fala de pessoas conhecidas, como Pavese. Ao lado dele, reconhece, todos os amigos se sentiam humilhados, porque não sabiam ser sóbrios como ele, escreve. Pavese tratava-os de modo áspero, assim como à família, mas era atencioso com pessoas que os amigos julgavam indignas de atenção. Matou-se num hotel nas proximidades da estação de Turim, em 1950, “como um forasteiro na cidade que lhe pertencia”. A morte é companheira inseparável nesses ensaios, desde o primeiro deles, Inverno em Abruzzo, de 1944. Nele, a autora narra o exílio interno dela e do marido, militantes antifascistas, em Abruzzo. O marido, Leone Ginzburg, morreria, vítima de tortura, nas prisões de Regina Coeli, em Roma, poucos meses depois de Natalia deixar o vilarejo. Natalia não tinha grande admiração pela Itália. Considerava o país “pronto a dobrar-se aos piores governos, onde tudo funciona mal”. Numa comparação com a Inglaterra, que admirava, a Itália é definida como um país onde reina a desordem, o cinismo, a incompetência, a confusão. Parece familiar?AS PEQUENAS VIRTUDESTradução: Maurício Santana DiasEditora: Cosac Naify (160 págs.,R$ 32,90)

Um dos principais nomes do neorrealismo italiano, a escritora Natalia Ginzburg (1916-1991) foi também tradutora de Proust e Flaubert, além de ter educado - bem - o historiador Carlo Ginzburg, seu filho, autor do clássico O Queijo e os Vermes. Se vale um conselho, comece seu livro As Pequenas Virtudes pelo ensaio que dá título à obra, em que revela como educar os filhos, ensinando a eles a indiferença ao dinheiro, a coragem, a franqueza, o amor à verdade e, principalmente, o desejo de ser e de saber, não o do sucesso. Como hoje se faz o contrário, não só o sistema educativo entrou em colapso como as grandes virtudes, resultando disso uma geração de gente mimada, egocêntrica, voluntariosa. Natalia foi Maria de Betânia no filme O Evangelho Segundo São Mateus, de Pasolini, o que diz muito sobre a escolha do cineasta italiano. Ninguém entendeu melhor o papel da irmã de Lázaro que ungiu e beijou os pés de Cristo num comovente gesto de humildade e amor ao próximo. Natalia Ginzburg, que não por acaso teve vários de seus livros adaptados para o cinema - entre eles o belo Caro Michele, por Mario Monicelli, em 1976 - sabia como adaptar a técnica da decupagem de cinema à narrativa literária, ligando planos por meio de cortes. 

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Assim, As Pequenas Virtudes, apesar de reunir ensaios escritos em diferentes épocas (de 1944 a 1962), conserva sua unidade narrativa de planos mesmo quando novos personagens entram em cena, além da própria família da escritora. Criada por pai e mãe judeus, intelectuais seculares, ela conviveu desde cedo com grandes nomes da literatura e das artes. Foi amiga de Montale, Calvino, Vittorini e do poeta Cesare Pavese, que descreve com notável senso de observação no ensaio Retrato de um Amigo, publicado em Roma em 1957. É um dos pontos altos de um livro pequeno, mas valioso, que fala de pessoas conhecidas, como Pavese. Ao lado dele, reconhece, todos os amigos se sentiam humilhados, porque não sabiam ser sóbrios como ele, escreve. Pavese tratava-os de modo áspero, assim como à família, mas era atencioso com pessoas que os amigos julgavam indignas de atenção. Matou-se num hotel nas proximidades da estação de Turim, em 1950, “como um forasteiro na cidade que lhe pertencia”. A morte é companheira inseparável nesses ensaios, desde o primeiro deles, Inverno em Abruzzo, de 1944. Nele, a autora narra o exílio interno dela e do marido, militantes antifascistas, em Abruzzo. O marido, Leone Ginzburg, morreria, vítima de tortura, nas prisões de Regina Coeli, em Roma, poucos meses depois de Natalia deixar o vilarejo. Natalia não tinha grande admiração pela Itália. Considerava o país “pronto a dobrar-se aos piores governos, onde tudo funciona mal”. Numa comparação com a Inglaterra, que admirava, a Itália é definida como um país onde reina a desordem, o cinismo, a incompetência, a confusão. Parece familiar?AS PEQUENAS VIRTUDESTradução: Maurício Santana DiasEditora: Cosac Naify (160 págs.,R$ 32,90)

Um dos principais nomes do neorrealismo italiano, a escritora Natalia Ginzburg (1916-1991) foi também tradutora de Proust e Flaubert, além de ter educado - bem - o historiador Carlo Ginzburg, seu filho, autor do clássico O Queijo e os Vermes. Se vale um conselho, comece seu livro As Pequenas Virtudes pelo ensaio que dá título à obra, em que revela como educar os filhos, ensinando a eles a indiferença ao dinheiro, a coragem, a franqueza, o amor à verdade e, principalmente, o desejo de ser e de saber, não o do sucesso. Como hoje se faz o contrário, não só o sistema educativo entrou em colapso como as grandes virtudes, resultando disso uma geração de gente mimada, egocêntrica, voluntariosa. Natalia foi Maria de Betânia no filme O Evangelho Segundo São Mateus, de Pasolini, o que diz muito sobre a escolha do cineasta italiano. Ninguém entendeu melhor o papel da irmã de Lázaro que ungiu e beijou os pés de Cristo num comovente gesto de humildade e amor ao próximo. Natalia Ginzburg, que não por acaso teve vários de seus livros adaptados para o cinema - entre eles o belo Caro Michele, por Mario Monicelli, em 1976 - sabia como adaptar a técnica da decupagem de cinema à narrativa literária, ligando planos por meio de cortes. 

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Assim, As Pequenas Virtudes, apesar de reunir ensaios escritos em diferentes épocas (de 1944 a 1962), conserva sua unidade narrativa de planos mesmo quando novos personagens entram em cena, além da própria família da escritora. Criada por pai e mãe judeus, intelectuais seculares, ela conviveu desde cedo com grandes nomes da literatura e das artes. Foi amiga de Montale, Calvino, Vittorini e do poeta Cesare Pavese, que descreve com notável senso de observação no ensaio Retrato de um Amigo, publicado em Roma em 1957. É um dos pontos altos de um livro pequeno, mas valioso, que fala de pessoas conhecidas, como Pavese. Ao lado dele, reconhece, todos os amigos se sentiam humilhados, porque não sabiam ser sóbrios como ele, escreve. Pavese tratava-os de modo áspero, assim como à família, mas era atencioso com pessoas que os amigos julgavam indignas de atenção. Matou-se num hotel nas proximidades da estação de Turim, em 1950, “como um forasteiro na cidade que lhe pertencia”. A morte é companheira inseparável nesses ensaios, desde o primeiro deles, Inverno em Abruzzo, de 1944. Nele, a autora narra o exílio interno dela e do marido, militantes antifascistas, em Abruzzo. O marido, Leone Ginzburg, morreria, vítima de tortura, nas prisões de Regina Coeli, em Roma, poucos meses depois de Natalia deixar o vilarejo. Natalia não tinha grande admiração pela Itália. Considerava o país “pronto a dobrar-se aos piores governos, onde tudo funciona mal”. Numa comparação com a Inglaterra, que admirava, a Itália é definida como um país onde reina a desordem, o cinismo, a incompetência, a confusão. Parece familiar?AS PEQUENAS VIRTUDESTradução: Maurício Santana DiasEditora: Cosac Naify (160 págs.,R$ 32,90)

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