Novo projeto coloca no palco obras poéticas de artistas como Lou Reed e Sylvia Plath


‘Sinapses Poéticas’, com Fausto Fawcett, Alice Ruiz e outros nomes, é misto de spoken word com reflexões e entrevistas; evento ocorre mensalmente no Centro da Terra, em São Paulo, com direção de Eduardo Beu

Por Guilherme Sobota

Foi a coleção de discos de poesia do produtor e curador Eduardo Beu que deu início ao projeto agora chamado Sinapses Poéticas: o espetáculo é um misto de spoken word com entrevistas e reflexões e vai reunir, no espaço cultural Centro da Terra, em São Paulo, poetas e pensadores contemporâneos com a obra de artistas de gerações anteriores. O primeiro encontro ocorre nesta quarta-feira, 27, com o escritor e performer carioca Fausto Fawcett e os trabalhos de Lou Reed

Na sequência de apresentações, sempre às últimas quartas-feiras do mês, sobem ao palco do espaço Lirinha (falando sobre Augusto dos Anjos, 24 de abril), Alice Ruiz com as obras de Florbela Espanca (29 de maio), João Paulo Cuenca e Werner Herzog (26 de junho), Ricardo Aleixo e Carlos Drummond de Andrade (31 de julho), Cida Moreira e Sylvia Plath (28 de agosto) e Paulo Scott com Jean Genet (25 de setembro).

Discos. Coleçãode poesia gravada inspirouo novo projeto Foto: Johnny Macedo
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O espetáculo cobra uma modalidade de “ingresso consciente: o público, consciente do trabalho envolvido para realização do espetáculo, e do valor que ele dá para vivenciar essa experiência, escolhe quanto acha adequado pagar pelo seu ingresso, de acordo com sua condição financeira”. O Centro da Terra fica em Perdizes.

“Quis fazer a fusão de declamação com reflexão, baseado nos discos que tenho”, explica Beu, produtor também dos Trovadores do Miocárdio, espetáculo de spoken word criado em 2012 e dono de uma coleção recente de LPs de poesia de nomes como Dylan Thomas, Robert Frost, Adalgisa Nery e Cassiano Ricardo. A estrutura da nova peça vai envolver os discos (com as gravações das declamações dos próprios autores, ou de intérpretes, em registros do século 20), e uma conversa com o convidado intercalada com declamações de textos do autor homenageado.

No caso desta quarta-feira, 27, Fausto Fawcett fala sobre Lou Reed. “Vamos fazer uma ponte entre a Nova York de uma boemia da década de 60 e 70, de uma situação de marginalidades, bandidagens, problemáticas urbanas, megalópole decadente, com a Copacabana dos anos 70 e 80”, explica o escritor, por telefone. “Isso como plataforma para fazer uma especulação sobre o que se tornaram essas marginalidades.” Para ele, as paisagens marginais mudaram muito no século 21, “substituídas por sustentabilidades e outras coisas”.

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“Isso passa pela autoajuda, vai até a preocupação com clima, tem um certo puritanismo (que não é o puritanismo óbvio, caricato, que conhecemos), disfarçado de discursos que são sim pertinentes, mas quando se fala de dilemas humanos, das ‘hamletices’, existe uma negação da negatividade. É uma propensão a não admitir fraquezas e imperfeições. Como se fôssemos fadados a alguma perfeição. O Lou Reed toca nisso, mas ele é também um grande observador da espécie. Classicamente, podemos chamar de função de um artista, ou seja, pegar o ser humano no contrapé, nas suas escuridões, e mesmo em certos júbilos inesperados. Juntar alegrias e felicidades patéticas, ele faz isso muito bem”, filosofa.

Ele próprio operador das margens, Fawcett diagnostica que a marginalidade deixou de ser explícita e de se manifestar na boemia underground. “Agora é algo mental, muito ligado às paranoias, aos medos e às depressões. Essas coisas se tornaram um grande Mad Max psiquiátrico. As pessoas não sabem onde estacionar seus egos, superegos e ids.”

Fawcett e Beu fazem o Trovadores do Miocárdio juntos há pelo menos seis anos, uma trajetória que consolidou o evento na cena rarefeita do spoken word em São Paulo (os encontros de Slam, que a cada dia ganham mais visibilidade, têm outras premissas, mais ligadas ao rap). “O grande problema é achar locais de residência fixa”, explica Beu. “É isso que cria público, encontrar um local que faça os eventos sem a preocupação imediata de retorno financeiro. É muito difícil formar público na área de literatura/poesia. Gosto de ficar na fronteira das artes cênicas, visuais, não ser apenas um spoken com luz fria e o cara falando. Gosto de envolver as pessoas no espetáculo.”

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SINAPSES POÉTICAS

Centro da Terra. R. Piracuama, 19, tel. 3675-1595. 4ª (27/3), 20h. Na última quarta de cada mês até setembro. Ingresso consciente 

Foi a coleção de discos de poesia do produtor e curador Eduardo Beu que deu início ao projeto agora chamado Sinapses Poéticas: o espetáculo é um misto de spoken word com entrevistas e reflexões e vai reunir, no espaço cultural Centro da Terra, em São Paulo, poetas e pensadores contemporâneos com a obra de artistas de gerações anteriores. O primeiro encontro ocorre nesta quarta-feira, 27, com o escritor e performer carioca Fausto Fawcett e os trabalhos de Lou Reed

Na sequência de apresentações, sempre às últimas quartas-feiras do mês, sobem ao palco do espaço Lirinha (falando sobre Augusto dos Anjos, 24 de abril), Alice Ruiz com as obras de Florbela Espanca (29 de maio), João Paulo Cuenca e Werner Herzog (26 de junho), Ricardo Aleixo e Carlos Drummond de Andrade (31 de julho), Cida Moreira e Sylvia Plath (28 de agosto) e Paulo Scott com Jean Genet (25 de setembro).

Discos. Coleçãode poesia gravada inspirouo novo projeto Foto: Johnny Macedo

O espetáculo cobra uma modalidade de “ingresso consciente: o público, consciente do trabalho envolvido para realização do espetáculo, e do valor que ele dá para vivenciar essa experiência, escolhe quanto acha adequado pagar pelo seu ingresso, de acordo com sua condição financeira”. O Centro da Terra fica em Perdizes.

“Quis fazer a fusão de declamação com reflexão, baseado nos discos que tenho”, explica Beu, produtor também dos Trovadores do Miocárdio, espetáculo de spoken word criado em 2012 e dono de uma coleção recente de LPs de poesia de nomes como Dylan Thomas, Robert Frost, Adalgisa Nery e Cassiano Ricardo. A estrutura da nova peça vai envolver os discos (com as gravações das declamações dos próprios autores, ou de intérpretes, em registros do século 20), e uma conversa com o convidado intercalada com declamações de textos do autor homenageado.

No caso desta quarta-feira, 27, Fausto Fawcett fala sobre Lou Reed. “Vamos fazer uma ponte entre a Nova York de uma boemia da década de 60 e 70, de uma situação de marginalidades, bandidagens, problemáticas urbanas, megalópole decadente, com a Copacabana dos anos 70 e 80”, explica o escritor, por telefone. “Isso como plataforma para fazer uma especulação sobre o que se tornaram essas marginalidades.” Para ele, as paisagens marginais mudaram muito no século 21, “substituídas por sustentabilidades e outras coisas”.

“Isso passa pela autoajuda, vai até a preocupação com clima, tem um certo puritanismo (que não é o puritanismo óbvio, caricato, que conhecemos), disfarçado de discursos que são sim pertinentes, mas quando se fala de dilemas humanos, das ‘hamletices’, existe uma negação da negatividade. É uma propensão a não admitir fraquezas e imperfeições. Como se fôssemos fadados a alguma perfeição. O Lou Reed toca nisso, mas ele é também um grande observador da espécie. Classicamente, podemos chamar de função de um artista, ou seja, pegar o ser humano no contrapé, nas suas escuridões, e mesmo em certos júbilos inesperados. Juntar alegrias e felicidades patéticas, ele faz isso muito bem”, filosofa.

Ele próprio operador das margens, Fawcett diagnostica que a marginalidade deixou de ser explícita e de se manifestar na boemia underground. “Agora é algo mental, muito ligado às paranoias, aos medos e às depressões. Essas coisas se tornaram um grande Mad Max psiquiátrico. As pessoas não sabem onde estacionar seus egos, superegos e ids.”

Fawcett e Beu fazem o Trovadores do Miocárdio juntos há pelo menos seis anos, uma trajetória que consolidou o evento na cena rarefeita do spoken word em São Paulo (os encontros de Slam, que a cada dia ganham mais visibilidade, têm outras premissas, mais ligadas ao rap). “O grande problema é achar locais de residência fixa”, explica Beu. “É isso que cria público, encontrar um local que faça os eventos sem a preocupação imediata de retorno financeiro. É muito difícil formar público na área de literatura/poesia. Gosto de ficar na fronteira das artes cênicas, visuais, não ser apenas um spoken com luz fria e o cara falando. Gosto de envolver as pessoas no espetáculo.”

SINAPSES POÉTICAS

Centro da Terra. R. Piracuama, 19, tel. 3675-1595. 4ª (27/3), 20h. Na última quarta de cada mês até setembro. Ingresso consciente 

Foi a coleção de discos de poesia do produtor e curador Eduardo Beu que deu início ao projeto agora chamado Sinapses Poéticas: o espetáculo é um misto de spoken word com entrevistas e reflexões e vai reunir, no espaço cultural Centro da Terra, em São Paulo, poetas e pensadores contemporâneos com a obra de artistas de gerações anteriores. O primeiro encontro ocorre nesta quarta-feira, 27, com o escritor e performer carioca Fausto Fawcett e os trabalhos de Lou Reed

Na sequência de apresentações, sempre às últimas quartas-feiras do mês, sobem ao palco do espaço Lirinha (falando sobre Augusto dos Anjos, 24 de abril), Alice Ruiz com as obras de Florbela Espanca (29 de maio), João Paulo Cuenca e Werner Herzog (26 de junho), Ricardo Aleixo e Carlos Drummond de Andrade (31 de julho), Cida Moreira e Sylvia Plath (28 de agosto) e Paulo Scott com Jean Genet (25 de setembro).

Discos. Coleçãode poesia gravada inspirouo novo projeto Foto: Johnny Macedo

O espetáculo cobra uma modalidade de “ingresso consciente: o público, consciente do trabalho envolvido para realização do espetáculo, e do valor que ele dá para vivenciar essa experiência, escolhe quanto acha adequado pagar pelo seu ingresso, de acordo com sua condição financeira”. O Centro da Terra fica em Perdizes.

“Quis fazer a fusão de declamação com reflexão, baseado nos discos que tenho”, explica Beu, produtor também dos Trovadores do Miocárdio, espetáculo de spoken word criado em 2012 e dono de uma coleção recente de LPs de poesia de nomes como Dylan Thomas, Robert Frost, Adalgisa Nery e Cassiano Ricardo. A estrutura da nova peça vai envolver os discos (com as gravações das declamações dos próprios autores, ou de intérpretes, em registros do século 20), e uma conversa com o convidado intercalada com declamações de textos do autor homenageado.

No caso desta quarta-feira, 27, Fausto Fawcett fala sobre Lou Reed. “Vamos fazer uma ponte entre a Nova York de uma boemia da década de 60 e 70, de uma situação de marginalidades, bandidagens, problemáticas urbanas, megalópole decadente, com a Copacabana dos anos 70 e 80”, explica o escritor, por telefone. “Isso como plataforma para fazer uma especulação sobre o que se tornaram essas marginalidades.” Para ele, as paisagens marginais mudaram muito no século 21, “substituídas por sustentabilidades e outras coisas”.

“Isso passa pela autoajuda, vai até a preocupação com clima, tem um certo puritanismo (que não é o puritanismo óbvio, caricato, que conhecemos), disfarçado de discursos que são sim pertinentes, mas quando se fala de dilemas humanos, das ‘hamletices’, existe uma negação da negatividade. É uma propensão a não admitir fraquezas e imperfeições. Como se fôssemos fadados a alguma perfeição. O Lou Reed toca nisso, mas ele é também um grande observador da espécie. Classicamente, podemos chamar de função de um artista, ou seja, pegar o ser humano no contrapé, nas suas escuridões, e mesmo em certos júbilos inesperados. Juntar alegrias e felicidades patéticas, ele faz isso muito bem”, filosofa.

Ele próprio operador das margens, Fawcett diagnostica que a marginalidade deixou de ser explícita e de se manifestar na boemia underground. “Agora é algo mental, muito ligado às paranoias, aos medos e às depressões. Essas coisas se tornaram um grande Mad Max psiquiátrico. As pessoas não sabem onde estacionar seus egos, superegos e ids.”

Fawcett e Beu fazem o Trovadores do Miocárdio juntos há pelo menos seis anos, uma trajetória que consolidou o evento na cena rarefeita do spoken word em São Paulo (os encontros de Slam, que a cada dia ganham mais visibilidade, têm outras premissas, mais ligadas ao rap). “O grande problema é achar locais de residência fixa”, explica Beu. “É isso que cria público, encontrar um local que faça os eventos sem a preocupação imediata de retorno financeiro. É muito difícil formar público na área de literatura/poesia. Gosto de ficar na fronteira das artes cênicas, visuais, não ser apenas um spoken com luz fria e o cara falando. Gosto de envolver as pessoas no espetáculo.”

SINAPSES POÉTICAS

Centro da Terra. R. Piracuama, 19, tel. 3675-1595. 4ª (27/3), 20h. Na última quarta de cada mês até setembro. Ingresso consciente 

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